a/c CNBB: Sobre Moral Sexual e Campanha contra a AIDS

Sua Excelência Reverendíssima Dom Geraldo Lyrio Rocha,
Arcebispo de Mariana e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,

Sua Excelência Reverendíssima Dom Luiz Soares Vieira,
Arcebispo de Manaus e Vice-Presidente da CNBB,

Sua Excelência Reverendíssima Dom Dimas Lara Barbosa,
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e Secretário-Geral da CNBB,

Pax!

Foi recentemente noticiado na mídia que a CNBB lançou uma campanha para deter a AIDS – cf. Zero Hora -, iniciativa que é em si muito louvável e que merece aplausos. No entanto, e infelizmente, a mesma matéria insinua haver uma discrepância entre a Pastoral da DST/AIDS e os ensinamentos morais da Igreja Católica, coisa que é muito de se lamentar.

Na supracitada matéria, é possível ler que tal campanha “traz visibilidade a um setor do clero católico mais tolerante com o comportamento sexual dos fiéis do que o Vaticano”, a qual “é interpretada como uma tentativa da igreja de assumir uma postura mais ‘realista’ diante da epidemia e menos calcada nos preceitos morais que ainda condenam o uso de preservativos”. Pode-se ler ainda que “os religiosos que estão na ponta, atendendo diretamente às pessoas, são mais tolerantes do que o discurso oficial da igreja”, que o seu “discurso [é] mais moderado em comparação à tradicional aversão do Vaticano à camisinha” e que se valoriza “a decisão dos próprios fiéis em lugar de qualquer determinação clerical prévia”.

Queiram V. Exas. Revmas. atentar para a seriedade deste assunto: segundo noticia a mídia, existe uma pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que não se coaduna com os preceitos morais da Igreja Católica. São enormes o escândalo e a confusão do povo fiel que este tipo de comportamento pode provocar, se não for esclarecido com a veemência que a gravidade da situação exige.

Isto posto, pergunto:

1. O discurso da Pastoral da DST/AIDS da CNBB segue o discurso católico, ou é “mais moderado” do que este?

2. Caso seja “mais moderado”, é moralmente lícito incentivar (ainda que indiretamente) e/ou tolerar o uso do preservativo como um “mal menor” no combate à AIDS?

3. Ainda, caso seja “mais moderado”, é lícito a um organismo ligado à CNBB ser “mais moderado” do que a Igreja à qual ele, supostamente, serve?

4. Caso as supracitadas informações sejam falsas e a Pastoral da DST/AIDS esteja em perfeita sintonia com o ensino moral da Igreja Católica, a CNBB não vai publicar uma nota desmentindo as informações que estão sendo veiculadas na mídia secular?

Com os meus votos de estima e apreço,
e rezando pelos Sucessores dos Apóstolos nesta Terra de Santa Cruz,
subscrevo-me,
em Cristo,

Jorge Ferraz
Leigo Católico
Recife, PE

P.S.: Material Complementar: Los valores de la familia contra el sexo seguro, do Pontifício Conselho para a Família.

Vai ficar tudo por isso mesmo?

O Josias de Souza escreveu que o “Braço Agrário” da CNBB apóia o vandalismo no laranjal. Um herege protestante chamou a Igreja de hipócrita, fazendo esta constatação que nos envergonha: “Em situações de gravidade em território nacional como por exemplo, aumento da violência e a corrupção na política, a Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) costuma emitir nota, repudiando tais fatos. Entretanto, quando trata-se de violência promovida pelo MST, como a recente, onde milhares de pés de laranja foram criminosamente destruídos, após a invasão  de uma propriedade particular pelos pobres integrantes do MST, a CNBB omite-se”.

E vai ficar tudo por isso mesmo? Senhores bispos, os senhores irão simplesmente deixar que a Igreja seja escarnecida em público, associada a atos de vandalismo, acusada de hipocrisia, de conivência, de omissão?

Para variar, escrevi sobre o assunto a S.E.R. Dom Dimas Lara Barbosa, Secretário Geral da CNBB, e a S.E.R. Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da mesma. Para variar, não obtive nenhuma resposta. A mensagem que enviei segue abaixo. Se os bispos não respondem aos seus fiéis, a quem eles podem recorrer?

* * *

[Email enviado em 07 de outubro de 2009]

Sua Excelência Reverendíssima Dom Geraldo Lyrio Rocha,
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,

Sua Excelência Reverendíssima Dom Dimas Lara Barbosa,
Secretário Geral da supracitada Conferência,

Foi noticiado recentemente pela imprensa a ação de alguns integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na ocupação da fazenda Santo Henrique, no interior de São Paulo. Em um vídeo que pode inclusive ser visto na internet – cf. http://www1.folha.uol.com.br/folha/videocasts/ult10038u634176.shtml -, é mostrado um trator guiado por integrantes do MST destruindo uma plantação de laranjeiras.

Ao que me conste – posso estar enganado -, não é lícito, segundo a Moral Católica, ocupar uma fazenda produtiva (mesmo que a área seja “pública”) e destruir por conta própria, sem autorização judicial, as plantações de uma produtora legal de suco de laranja. No entanto, tomei conhecimento de uma nota da Comissão Pastoral da Terra protestando contra a divulgação destas cenas de barbárie e vandalismo, que pode ser encontrada no seguinte link:

http://www.cptnacional.org.br/?system=news&action=read&id=3414&eid=8

Isto posto, gostaria de fazer algumas perguntas (às quais, sinceramente, espero respostas):

1. Foi moralmente lícita a ação dos integrantes do MST na fazenda Santo Henrique?

2. Sendo a CPT parte da CNBB, devo concluir que a Conferência concorda com o teor da nota publicada por esta Comissão Pastoral?

3. A CNBB não vai publicar uma nota condenando os atos de barbárie e vandalismo perpetrados pelos integrantes do MST?

Renovando os meus votos de estima,
e rezando pelos Sucessores dos Apóstolos no Brasil,
subscrevo-me, em Cristo,
Jorge Ferraz
Leigo, Recife – PE

CNBB e MST

Mais escândalos. Não surpreende, mas angustia e machuca.

“A Imprensa falada e escrita noticiou amplamente nos últimos dias as cenas de vandalismo, barbárie, de integrantes do MST que invadiram a Empresa Cutrale, produtora legal de suco de laranja, destruindo criminosamente uma plantação de laranja da melhor qualidade e produtividade” – escreveu o professor Felipe Aquino no seu blog. O professor linka inclusive um vídeo disponível no site da Folha de São Paulo, que mostra um trator conduzido por integrantes do MST derrubando os pés de laranja.

Desgraçadamente, hoje é noticiado que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) criticou “a divulgação pela imprensa da ação de integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na ocupação da fazenda Santo Henrique, na divisa dos municípios de Iaras e Lençóis Paulista, em São Paulo”.

Até onde me consta, a CPT é uma pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, como pode ser visto no site da Conferência. Aliás, clicando-se no link da Pastoral da Terra que se encontra na página supracitada, chega-se a esta outra, onde se pode ler que a CPT foi “convocada pela memória subversiva do Evangelho” e busca “ser fiel ao Deus dos pobres”. Na minha catequese, aprendi que nem o Evangelho é “subversivo” e nem muito menos Deus faz distinção de pessoas. Qual é a fé da CPT? Obviamente não é a Fé Católica.

A Nota Pública da Comissão pode ser lida na íntegra aqui.

“Como entender, então, que ainda hoje, alguns padres, e até mesmo alguns bispos, apóiem esse nefasto movimento e suas ações depredadoras?”, pergunta o professor Felipe no seu blog acima linkado. “Que alguém nos responda”. Faço coro: que alguém nos responda! Já estamos cansados. Não agüentamos mais. Senhor, até quando?

Política e Coerência

A alegria durou pouco. Enquanto eu estava contente e parabenizava o sr. Luiz Bassuma por ele ter – finalmente! – abandonado o antro de imoralidade onde ele se encontrava, sou surpreendido com a notícia de que o ex-petista ingressou no Partido Verde.

O PT é abortista e puniu o deputado com suspensão por um ano, por causa de sua militância contra o aborto. O PV talvez não puna o deputado por sua militância, mas promove igualmente o aborto e o homossexualismo no seu programa, onde se pode ler:

4.1. (…) O poder público deve estimular a democratização dos meios de comunicação social, particularmente da mídia eletrônica. Cabe:

[…]

i) defender a liberdade sexual, no direito do cidadão dispor do seu próprio corpo e na noção de que qualquer maneira de amor é valida e respeitável;

[…]

7.1. (…) Constituem elementos para essa política [de reprodução humana]:

[…]

g) legalização da interrupção voluntária da gravidez com esforço permanente para redução cada vez maior da sua prática através de campanha educativa de mulheres e homens para evitar a gravidez indesejada.

Então quer dizer que o Luiz Bassuma, deputado pró-vida, larga um partido abortista para se filiar… a outro partido abortista?! Afinal de contas, qual é a dele?

Também enquanto isso, leio o discurso de filiação do Gabriel Chalita ao PSB. Obviamente, nenhuma palavra sobre a condenação da Igreja ao socialismo, mas ao contrário: diz o Chalita que acredita no “socialismo da Encíclica mais recente do Papa Bento XVI: caridade na verdade”. Seja lá o que isso signifique.

Também enquanto isso, como se não fosse o bastante, leio que a CNBB defende indicação de Toffoli para o STF. A Conferência dos Bispos Católicos! Um petista abortista e gayzista! Será possível que a CNBB não tenha percebido ainda a gritante contradição que há entre ser católico e defender o aborto? Será que os senhores bispos não percebem o tamanho do escândalo que estão causando? É estarrecedor! Até quando o episcopado brasileiro estará restrito à estirpe dos sucessores de Judas Iscariotes?

Que nossos bispos sejam católicos

Hoje, faz uma semana que a Comissão Nacional de Ética do PT puniu com suspensão dois deputados petistas pró-vida, pelo simples fato deles serem pública e veementemente contrários ao aborto.

Na sexta-feira última, 18 de setembro, enviei um curto email a S.E.R. Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, que provavelmente não chegou às mãos de Sua Excelência; o texto integral da mensagem é o que segue:

Sua Excelência Reverendíssima,
Dom Geraldo Lyrio Rocha,
Presidente da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil,

Pax!

Conceda-me V.E.R. a sua bênção.

Excelência, como foi amplamente noticiado pelos meios de comunicação, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores puniu ontem, por unanimidade, os deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, com suspensão dos seus direitos políticos por um ano e 90 dias respectivamente, por estes deputados serem publicamente contrários ao aborto.

Gostaria de saber se a CNBB não vai publicar uma nota de repúdio a esta gravíssima atitude do PT. Gostaria de saber se a CNBB não vai condenar publicamente e com veemência o PT, pelo fato do partido, não contente em ser a favor do aborto, proibir também os seus membros de se manifestarem contra este horrendo crime.

Recomendando-me às orações de V.E.R.,
subscrevo-me, em Cristo,
Jorge Ferraz

Não recebi, absolutamente, resposta alguma. Acabei de entrar na seção de notícias do site da CNBB e não encontrei a menor menção à atitude gritantemente imoral do Partido dos Trabalhadores, que vitimou na semana passada dois deputados pelo simples fato deles serem contrários ao aborto.

A última notícia pertinente, de ontem à tarde, intitulada “Presidência da CNBB atende à imprensa”, dizia que “[a] crise do Estado e a Reforma Política foram um dos temas da reunião ordinária do Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB”, e também que “[o]utro assunto discutido pelos bispos foi o projeto que libera o funcionamento dos bingos e das máquinas caça-níqueis”. Sobre a suspensão dos pró-vida, não há uma única linha. Obviamente, há algum problema aqui que precisa com urgência ser sanado.

Senhores bispos, data maxima venia, nós não somos palhaços, nem acredito que sejamos aberrações abjetas, únicas dignas dentre todos os homens de desprezo. Somos católicos que nos esforçamos por sermos fiéis à Igreja, e que queremos sinceramente – e rezamos por isso – enxergar nos nossos bispos legítimos sucessores dos Apóstolos, guardiões zelosos da Fé Católica e Apostólica. Somos católicos que só desejam que a Conferência Episcopal possa, finalmente, tomar vergonha na cara e passar a trabalhar pela Igreja de Nosso Senhor, e não contra Ela. Não julgo estarmos pedindo nada de impossível, excepcional ou exótico. Queremos apenas que nossos bispos sejam católicos e, como tais, se comportem. Isso não pode ser pedir demais.

Diferentemente das outras vezes em que tentei – improficuamente – entrar em contato de modo privado com quem julgo ser responsável pela Conferência Episcopal, este texto é público, e envidarei todos os esforços para que ele chegue ao conhecimento de todos a quem possa interessar. Já não dá mais para ficar calado.

Resposta do pe. Fábio de Melo

Leiam a resposta que o pe. Fábio de Melo enviou à Carta Aberta escrita pelo Gustavo Souza, após aquela entrevista em Jô Soares que provocou escândalo entre os católicos. O texto é grande e eu não vou reproduzir; leiam na íntegra lá. Apenas destaco algumas frases soltas escritas pelo Reverendíssimo sacerdote (recomendando enfaticamente que as leiam na íntegra do texto, para que eu não cometa o erro de descontextualizar o pensamento do pe. Fábio):

[A] Teologia nos ensina que a Plenitude da Revelação é Cristo, mas esta plenitude não significa esgotamento da verdade.  Os desdobramentos desta verdade estão em todos os lugares do mundo. Deus continua se revelando. Plenitude não significa finalização. […] Deus continua se revelando ao mundo. O limite da Revelação é a inteligência humana.

A linguagem metafórica não é mentirosa. Sou professor universitário e ensinei Antropologia Teológica. É uma clareza que não posso perder de vista. Ao falar da condição adâmica nós precisamos pensar na humanidade como um todo. Não temos a certidão de nascimento de Adão. O que temos é a fé de que Deus criou a humanidade.

[A] fé não é um conjunto de certezas, meu caro. Não temos provas concretas para muitos aspectos da fé que professamos. Se as tivéssemos não precisaríamos ter fé. Acreditamos no que não vemos.

O mito não é uma mentira, mas também não precisa ser verdade, diz ele. O importante é a fé que ele sugere. O importante é reconhecer que ele está a serviço de uma verdade superior, porque não cabe no tempo. […] O mesmo não se dá com as nossas convicções religiosas?

[S]ua visão soteriológica é muito estreita. Salvar almas, somente? Essa visão compartimentada do ser humano é herética. Precisamos salvar a totalidade do humano, meu caro. Esqueceu o postulado fundamental da Antropologia cristã? Somos corpo e alma. Unidade.

Minha roupa de padre não me garante muita coisa. O sacerdócio que o povo espera de mim não está no hábito que ostento, mas na sinceridade que preciso ter diante do meu compromisso assumido. Zelo para que Deus não seja transformado numa caricatura qualquer.

Cuidado com as generalizações. Você tem combatido as CEBS. Cuidado. Há muita gente honesta nestes movimentos. Eu as conheço. Vi de perto o trabalho frutuoso, espiritual, humano, salvação total acontecendo em muitos lugares deste grande Brasil. Vi nomes sendo citados de forma banal, irresponsável. Irmã Doroty morreu defendendo o evangelho, meu filho. Gostando você, ou não, ela é foi uma mulher comprometida com as causas de Jesus. É muito triste ver o nome dela citado no seu espaço, como se fosse uma “mulher qualquer”. Chico Mendes foi um homem que defendeu questões nobres. Só por isso já merece o nosso respeito. Frei Beto é um homem fabuloso. Já fez muita gente se aproximar de Deus, por meio de sua inteligência e sabedoria aguçada.

P.S.: Neste Ano Sacerdotal, rezemos pela santificação do clero. E roguemos insistentemente ao Senhor da Messe, para que Ele nos mande sempre santos sacerdotes.

Os ateus. A lei seca. Calvino

– O pessoal da UNA é engraçado. Após eu ter atacado ontem aqui um artigo nonsense sobre a nova encíclica do Papa, fui twittado pelo @UNABr, numa mensagem que, curiosamente, eles apagaram agora, e dizia alguma coisa como “não é a primeira vez que o católico fanático @jorgeferraz critica a UNA com argumentos sem sentido”.

Prontamente respondi-lhes dizendo que tampouco era a primeira vez que a UNA publicava coisas sem sentido para atacar a Igreja. Mandaram-me ler o editorial do blog, dizendo que só atacavam a Igreja “qdo ela dá motivo pra isso”. Respondi: “quando Ela não dá motivo, vocês simplesmente inventam, como foi o caso das duas vezes em que citei a UNA”. Disseram que a “ICAR n tem moral p falar de etica” e mandaram-me ver o documentário que eles tinham postado: trata-se de velharia (aqui, em texto, na BBC) já devidamente refutada há muito tempo (aqui, aqui e aqui), coisa que respondi incontinenti. Para minha surpresa, disseram-me ser “óbvio q o vaticano iria acusar o documentario de falseabilidade”, como se não fosse muito mais óbvio que anti-clericais sem senso moral iriam inventar calúnias contra a Igreja: a defesa d’Ela é simplesmente descartada por ser “da Igreja”, ao passo em que o documentário comprovadamente calunioso é tomado como verdade absoluta, talvez por ser da infalível BBC.

Respondi, em tom irônico: Vai ver, quem tem moral para falar de Ética são os paladinos da UNA, né, os seus textos cheios de “coesão e coerência”… Acho que foi a gota d’água. Em um surto de humildade megalomaníaca, recebi a resposta: “Sim, sou muito mais ético do que qqer padre.  E típico dos religiosos, vc ja começou com as ofensas. Olhe-se no espelho”. E, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, recebo a sentença: “Em três posts, o fanático católico @jorgeferraz já demonstrou ser um TROLL com ofensas, N alimento trolls. Bloqueado”.

Agora, é engraçado. O pessoal despeja porcaria na internet, em público, e fica melindrado quando eu chamo a coisa pelo nome e mostro o nível do anti-clericalismo tupiniquim. O pessoal me twitta e dá xilique quando eu respondo. Vai entender…

* * *

– Entre Milão e Turim, um padre italiano teve a sua carteira de motorista retida porque não passou no bafômetro. “Ele testou positivo para 0,8 grama de álcool por litro de sangue, enquanto o permitido pela legislação italiana é de 0,5”. O padre havia celebrado quatro missas. No ano passado, falei contra a “Lei Seca” brasileira aqui no Deus lo Vult!, citando inclusive o exemplo dos sacerdotes que precisavam tomar o Sangue de Cristo no altar da Santa Missa. Parece que não é só nesta Terra de Santa Cruz que os padres precisam correr riscos no cumprimento de suas obrigações ministeriais.

* * *

Via Gustavo Souza: L’Osservatore Romano e Calvino. O jornal oficioso do Vaticano está ficando cada vez pior! É o péssimo artigo do mons. Fisichella lançando confusão entre o movimento pró-vida mundial, são as loas ao presidente abortista dos Estados Unidos da América e, agora, como se não bastasse, decide L’Osservatore publicar panegíricos a um heresiarca!

O texto original, publicado na última sexta-feira, está disponível aqui. Até pensei em traduzi-lo, mas me faltou estômago. Após ler que o protestante francês não suportava, nas igrejas católicas,  as “immagini troppo venerate, reliquie dubbie, nelle quali vedeva non senza ragione una ricaduta nell’idolatria” e que “[l]’organizzazione calvinista è una creazione geniale”, achei melhor deixar para lá. Talvez já esteja mais do que na hora de enviarmos protestos sérios ao Osservatore Romano.

Declaração da Arquidiocese de Miami

Fonte: Arquidiocese de Miami, 28 de Maio de 2009.

DECLARAÇÃO

de Dom John C. Favalora, Arcebispo de Miami,
sobre a Separação do Padre Alberto Cutié da Igreja Católica Romana
Miami • 28 de Maio de 2009

Sinto-me sinceramente decepcionado com o anúncio feito nesta tarde pelo Padre Alberto Cutié de que ele se une à Igreja Episcopal.

De acordo com nosso direito canônico, com esta ação, o Padre Cutié se separa a si mesmo da comunhão da Igreja Católica Romana (cânon 1364, 1) ao professar fé e morais errôneas, e recusar a submissão ao Santo Padre (cânon 751). Também se separa do exercício das ordens sagradas como sacerdote (cânones 1041 e 1044, 1), deixa de ter as faculdades da Arquidiocese de Miami para celebrar os sacramentos, e tampouco pode pregar ou ensinar sobre a fé e a moral católicas (cânon 1336, 1). Suas ações podem levá-lo a ser separado do estado clerical.

Isto significa que o Padre Cutié se destitui a si mesmo da completa comunhão com a Igreja Católica e, portanto, perde seus direitos como clérigo. Os católicos romanos não podem solicitar a administração dos sacramentos ao Padre Cutié. Qualquer tentativa de sua parte para administrar os sacramentos seria ilícita. Qualquer Missa que celebre seria válida, porém ilícita, pois não reúne os requisitos para que um católico cumpra com sua obrigação. O Padre Cutié não pode oficiar matrimônios válidos de católicos romanos na Arquidiocese de Miami, ou em qualquer outro lugar.

O Padre Cutié ainda se acha obrigado por sua promessa de viver uma vida célibe, que ele asumiu com absoluta liberdade na ordenação. Somente o Santo Padre pode dispensá-lo de tal obrigação.

Aos fiéis católicos da paróquia Saint Francis de Sales, Rádio Paz, e a toda a Arquidiocese de Miami, volto a dizer-lhes que as ações do Padre Cutié não podem ser justificadas apesar de suas boas obras como sacerdote (declaração de 5 de Maio de 2009). Isto cobra maior veracidade à luz das declarações de hoje. O Padre Cutié terá abandonado a Igreja Católica, os terá abandonado aos senhores, porém eu lhes reitero que a Igreja Católica jamais os abandonará. A Arquidiocese de Miami está aqui para os senhores.

As ações do Padre Cutié causaram grande escândalo dentro da Igreja Católica, causaram dano à Arquidiocese de Miami—especialmente a nossos sacerdotes—e criaram uma divisão dentro da comunidade ecumênica e a comunidade em geral. O anúncio do dia de hoje só intensifica tais feridas.

Quando o Padre Cutié se reuniu comigo no dia 5 de Maio, solicitou, e lhe concedi, uma licença do ministério sacerdotal. Devido a isso, ele não podia continuar como administrador da paróquia Saint Francis de Sales ou como diretor geral da Rádio Paz. Pelo bem da Igreja, e com o fim de evitar um frenesi nos meios de comunicação, optei por não lhe impor publicamente uma penalidade eclesiástica, ainda que suas ações a justificassem. Desde aquela reunião, não voltei a saber do Padre Cutié, e ele também não solicitou reunir-se comigo. Ou nunca me disse que estava considerando unir-se à Igreja Episcopal.

Também devo expressar minha sincera decepção pela maneira com que o Bispo Leo Frade, da Diocese Episcopal do Sudeste da Flórida, tratou essa situação. O Bispo Frade nunca falou comigo sobre sua posição ante tão delicado assunto, ou sobre as ações que considerava. Só ouvi dele através dos meios de comunicação locais. Isso representa um sério retrocesso nas relacões ecumênicas e a cooperação entre nós. A Arquidiocese de Miami nunca fez alarde público quando, por razões doutrinais, os sacerdotes episcopais se uniram à Igreja Católica e buscaram ser ordenados. De fato, fazê-lo violaria os principios da Igreja Católica sobre as relações ecumênicas. Lamento que o Bispo Frade não me concedesse, nem à comunidade católica, a mesma cortesia e respeito.

Durante meus quase 50 anos de sacerdócio, preguei com frequência sobre a parábola do Filho Pródigo, que na realidade deveria chamar-se a parábola do Pai Misericordioso (São Lucas, XV, 11-32). A história que nosso Senhor fez há tanto tempo, poderia ser aplicada a nossas discussões nesta tarde.

Um pai tinha dois filhos. Um deles tomou sua herança antecipadamente e deixou o lar, gastando o dinheiro como quis. O pai esperou com paciência pelo regresso de seu filho pródigo que, depois de dar-se conta do erro cometido, se arrependeu e regressou ao lar. À sua chegada, o pai o abraçou com amor e o chamou seu filho. Oro para que o Padre Cutié “se arrependa” (São Lucas XV,17) e regresse à  casa paterna. A Igreja Católica busca a conversão e a salvação dos pecadores, não sua condenação. Essa é minha posição ante o Padre Cutié.

Entretanto, não podemos esquecer que havia dois filhos na história do Senhor. O outro filho, que nunca abandonou o lar, sentiu raiva ante as boas vindas que o pai deu a seu irmão pecador. A todos os fiéis católicos lhes digo o que o pai expressou a seu segundo filho: “tú estás sempre comigo e todo o que é meu é teu; porém havia que fazer festa e alegrar-se, visto que teu irmão estava morto e voltou à vida” (São Lucas XV, 31-32).

Nesta formosa parábola, Jesus nos ensina que Deus é um pai amoroso e misericordioso. Cada um experimentou esse amor, cada um necessita desse perdão, pois todos somos pecadores. Se nosso irmão regressa ao lar, celebremos com o Pai.

Para concluir, elogio e presto homenagem aos sacerdotes da Arquidiocese de Miami, e a todos os sacerdotes que vivem e cumprem com fidelidade sua promessa do celibato. Por sua fidelidade a tal promessa, refletem com maior clareza para o mundo a Cristo cuja entrega absoluta de si mesmo ao Pai foi o amor puro e casto por seus irmãos e irmãs. Nestes tempos de tanta preocupação pelo sexo, o dom do celibato representa ainda mais um sinal do Reino de Deus de onde, como dizem as Escrituras, não há “matrimônio nem dar-se em matrimônio” (São Mateus, XXII, 30). Exorto a todos os católicos a apoiar e a orar por nossos dedicados sacerdotes.

Monsenhor John C. Favalora
Arcebispo de Miami

FONTE: Montfort.

A Irlanda e a difamação (ou “A endemia abusiva irlandesa”)

Um amigo falou-me de manhã sobre a Irlanda. Disse que tinha visto a reportagem do Jornal Nacional de ontem à noite, sobre os casos de abusos infantis lá ocorridos. Questionou a forma como a notícia fora apresentada no horário nobre da Globo, e trouxe a notícia reproduzida pela Folha de São Paulo (que encontrei online no Diário do Noroeste) sobre o mesmo assunto. Permito-me reproduzir aqui em linhas gerais os seus principais questionamentos, salientando que não assisti ao Jornal Nacional e pedindo a quem o fez que possa confirmar ou negar as seguintes informações:

1. O período ao longo do qual ocorreram os abusos foi superior a 60 anos (da década de 30 até os anos 90), coisa que não teria ficado claro nas reportagens televisivas.

2. Tampouco havia ficado claro na televisão que não se tratavam de escolas “normais”, e sim de espécies de “reformatórios”.

3. Os abusos não eram de natureza exclusivamente sexual, coisa que – mais uma vez – não fora deixada clara na Globo.

Passo, agora, aos meus comentários.

Prato cheio para os inimigos da Igreja de todas as matizes! Uma endemia de maus tratos infantis e de abusos sexuais de crianças perpetrados por padres e freiras, ao longo de seis décadas! Sim, é doloroso, e ninguém o nega. É revoltante, sem sombra de dúvidas. No entanto, são também revoltantes as atitudes de uma certa mídia sensacionalista e descomprometida com a exatidão dos fatos, manipulando as tragédias alheias para semear o ódio e a revolta contra a Igreja de Nosso Senhor.

Repito que os inimigos da Igreja não conseguirão jamais ter uma idéia da dimensão da gravidade dos erros dos sacerdotes do Deus Altíssimo. Lembro-me de que um padre meu amigo mostrava-me, outro dia, um antigo livrinho de meditações para sacerdotes, e a parte que ele lia falava exatamente sobre isso. Citando de memória, era alguma coisa como “repara naquelas atitudes que nos outros são apenas pequenas falhas mas, em ti, são pecados gravíssimos”. Ora, se as pequenas coisas – que podem ser feitas pelas pessoas “normais” sem que isso lhes acarrete grande culpas – mancham gravemente os sacerdotes, quanto mais não os mancharão aquelas coisas que até mesmo entre pessoas sem fé são gravíssimas?

A pedofilia entre os sacerdotes é uma coisa gravíssima, e os não-católicos não têm dimensão do quanto o é. Mas não encontro justificativa para que se manipulem os fatos a ponto de que eles pareçam piores do que já são. Tomo a manchete da notícia para ilustrar o que eu digo: Irlanda teve “abuso endêmico” cometido por padres e freiras, diz comissão. Note-se que a reportagem não traz números (a não ser 200 instituições que teriam recebido 30.000 pessoas durante as seis décadas e meia). Note-se também que há um “detalhe” citado bem en passant na reportagem, que diz que “[q]uando autoridades [do Estado] eram alertadas sobre os problemas, ‘mantinham-se em silêncio'”. Por que motivo a manchete não é alguma coisa como “Governo Irlandês acoberta durante sessenta anos casos de pedofilia”? Note-se também que a reportagem critica os superiores eclesiásticos que transferiam os acusados para outros locais, mas não diz qual seria a outra alternativa já que o Estado, segundo a mesmíssima reportagem, “mantinha-se em silêncio” quando era acionado. Note-se ainda que a reportagem não cita as situações dos outros reformatórios que não eram administrados pelas ordens religiosas, para que seja possível uma comparação.

Enfim, há tanta coisa a ser notada, mas não vou continuar. Para os católicos não importa tanto, porque nada disso tira a gravidade dos fatos e o mal provocado a toda a Igreja por estes membros do clero; nada disso justifica os maus procedimentos de sacerdotes do Deus Altíssimo ou de religiosos consagrados à via da perfeição. Nada justifica. Choremos aos pés da Virgem pelas iniqüidades dos sacerdotes do Seu Filho. Ofereçamos a Deus orações e mortificações em reparação pelos pecados do clero. Que Ele tenha misericórdia de nós todos, e digne-Se conceder-nos santos sacerdotes.

Encerrando a tarde

– A retratação do presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Zollitsch, veio na semana passada; Sua Excelência havia negado nada menos que o dogma da Redenção! A história ficou meio solta no ar: afinal, o que aconteceu? Distorceram as palavras do Arcebispo de Freiburg? Sua Excelência expressou-se mal? O presidente da Conferência Episcopal levou um “duro” de Roma? Registre-se, no entanto, que ele – ao contrário de tantos! – ao menos afirmou claramente a doutrina ortodoxa após a má repercussão.  A notícia saiu também em Sector Católico.

(1) Obama fala do aborto e é vaiado; (2) Obama abafa protestos com tolerância em Notre Dame; (3) Obama discursa em Notre Dame [fotos]; (4) Discurso de Obama é interrompido por manifestantes antiaborto; (5) Obama pede diálogo em discussão sobre aborto. Muito bonito, mas acontece que não há tolerância nem diálogo possíveis quando se está falando em assassinar crianças. Aliás, que “diálogo” e que “tolerância” tiveram com o pe. Norman, não?

El cardenal de Bolonia ordena a sus sacerdotes que distribuyan la Sagrada Comunión en la boca a los fieles: mais uma do Sector Católico, e uma muito boa notícia. Quem dera esta Terra de Santa Cruz pudesse contar com cardeais assim! Rezemos pelo clero.