Calendário de penitências quaresmais

Já estamos atrasados, porque a Quaresma já começou desde ontem. Há muito que fazer. Achei muito interessante a idéia de uma amiga, a Tamyres, de organizar um pequeno calendário com pequenos propósitos a serem cumpridos em cada um dos dias da Quaresma – cada um, pois não há tempo a perder.

Segue o que ela preparou. Logicamente, é totalmente pessoal e subjetivo, e vai aqui somente à guisa de exemplo.

17 de Fevereiro – Quarta 18 de Fevereiro – Quinta 19 de Fevereiro – Sexta 20 de Fevereiro  – Sábado 21 de Fevereiro – Domingo
Farei o Jejum conforme manda a Santa Mãe Igreja Aceitarei as dificuldades desse dia sem murmurar Farei Jejum pela Igreja e darei de comer a alguém Rezarei o terço pela conversão dos pecadores Assistirei a Santa Missa com devoção
22 de Fevereiro – Segunda 23 de Fevereiro – Terça 24 de Fevereiro – Quarta 25 de Fevereiro – Quinta 26 de Fevereiro – Sexta
Darei atenção a uma pessoa idosa ou doente da família Leitura orante da 1ª leitura do dia Isaias 55,10-11 Farei penitência pela conversão dos pecadores Irei a uma Igreja rezar diante do sacrário Farei um bom exame de consciência e procurarei a confissão. Dia de jejum
27 de Fevereiro – Sábado 28 de Fevereiro – Domingo 01 de Março – Segunda 02 de Março – Terça 03 de Março – Quarta
Rezarei o terço por aqueles que me ofenderam ou que me perseguem Farei esforço para mudar meu semblante Tentarei me aproximar daqueles que n me agradam Servirei aos de casa com alegria Farei a leitura orante do evangelho do dia
04 de Março – Quinta 05 de Março – Sexta 06 de Março- Sábado 07 de Março – Domingo 08 de Março – Segunda
Deixarei de comprar algo para mim e usarei o dinheiro para ajudar alguém Farei também jejum da língua e só falarei bem das pessoas Se não me confessei, buscarei a confissão Irei à santa Missa e ajudarei de forma material minha paróquia Rezarei o terço pela Igreja e por todos os cristãos perseguidos

Aproveito o ensejo para deixar mais exemplos de coisas – simples, corriqueiras – que podem nos ajudar a melhor nos prepararmos, durante este tempo quaresmal, para a celebração da Semana Santa.

  • Desligar a televisão
  • Desligar o MSN
  • Desligar o som do carro na volta pra casa, e aproveitar o silêncio para meditar os novíssimos
  • Cortar o refrigerante do almoço
  • Deixar de comer doces
  • Não consumir bebidas alcóolicas
  • Não ir à boate, à festa, ao cinema
  • Fazer uma hora de silêncio durante o trabalho
  • Não tomar o analgésico para a dor de cabeça
  • Visitar um hospital
  • Deixar de fazer o comentário espirituoso que iria provocar gargalhadas
  • Sorrir mais, gargalhar menos
  • Falar sobre a importância da penitência durante a Quaresma
  • Trocar a coca-cola gelada, no calor, por um copo d’água
  • Visitar parentes que não se vê há tempos
  • Rezar (pelo menos) um terço a mais
  • Calçar o sapato desconfortável
  • Dar de comer a quem tem fome
  • Lavar os pratos, a roupa, o banheiro, no lugar de alguém
  • Ler um livro piedoso
  • Em suma, reclamar menos, rezar mais

Sobre o dízimo

Na minha paróquia tem “Pastoral do Dízimo”. E uma senhora veio certa feita falar comigo, porque ela estava confusa: aprendera que tinha que pagar o dízimo. Desde há muito tempo, pagava-o na forma de cestas básicas, quer distribuídas na capela da vila, quer entregues pessoalmente a pessoas necessitadas. No entanto, ouviu alguém da Pastoral dizer que isso que ela fazia não era dízimo, e ficou com problemas de consciência; afinal de contas, estava ou não estava cumprindo o preceito da Igreja?

A supracitada pastoral, preciso confessar, não me agrada. Tecnicamente, sim, a coleta da missa é diferente do dízimo, que é diferente das espórtulas, que é diferente das esmolas. No entanto, o mandamento da Igreja não diz simplesmente “pagar o dízimo”, e sim pagá-lo segundo o costume, o que faz toda a diferença. E, desde não sei quando – é assim desde que eu me entendo por gente -, no Brasil o costume de oferecer dinheiro durante o Ofertório da Santa Missa é muito mais difundido do que o de ser dizimista “cadastrado”.

Lembro-me de ter lido, em alguma edição da Pergunte & Responderemos (não a tenho à mão agora para procurar), Dom Estêvão falar [algo como] que o incentivo no Brasil ao pagamento do Dízimo na forma, p.ex., das pastorais do Dízimo, intentava exatamente mudar o costume brasileiro: abandonar a coleta da Santa Missa e os emolumentos, e deixar apenas o dízimo. E eu tenho ressalvas contra estas tentativas de se mudarem os costumes “de cima pra baixo”.

Obviamente, qualquer um pode ser dizimista regular strictu sensu (conheço muitos bons católicos que são). Podem também arranjar outras formas de socorrerem às necessidades materiais da Igreja, entre as quais tem lugar de destaque a própria coleta da Missa – conheço também muitos bons católicos que preferem fazer assim. Até entendo que se deseje difundir a prática – em si, santa – do dízimo regular, mas discordo da forma como vejo isso ser feito algumas vezes.

Primeiro porque não vejo necessidade de uma pastoral para isso. Segundo, porque sei por experiência que é muito complicado pastoralmente “separar”, para um fiel simples, a doação voluntária de um (inexistente) pagamento obrigatório. Terceiro, porque ser dizimista regular não é a única maneira de se cumprir o quinto mandamento da Igreja – aliás, o Papa Bento XVI, no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, deu-lhe uma redação diferente: Contribuir para as necessidades materiais da Igreja, segundo as possibilidades.

Ninguém precisa ser “mais católico do que o Papa”. Incentive-se, mas não se imponha. Catequize-se verdadeiramente, ao invés de apelar para (falsos) argumentos de autoridade. E, acima de tudo, respeite-se a justa liberdade dos filhos de Deus. Porque, na minha opinião, agir de outra maneira não pode jamais redundar em benefícios para a Igreja de Nosso Senhor.