“Cristo é o único Salvador do homem todo e de todos os homens” – Papa Francisco

[P.S.: Tradução oficial já disponível no site do Vaticano.]

[…]

Alguém me dizia: os cardeais são os padres do Santo Padre. Esta comunidade comunhão, esta amizade, esta proximidade nos fará bem a todos. E [foi] esta consciência e esta abertura mútua [que] nos facilitou a docilidade à ação do Espírito Santo. Ele, o Paráclito, é o supremo protagonista de toda iniciativa e manifestação de Fé. É curioso: faz-me pensar, isto. O Paráclito faz todas as diferenças da Igreja, e [por isso] parece ser um apóstolo de Babel. Por outro lado, contudo, é Ele que faz a unidade destas diferenças, não na “igualdade”, mas na harmonia. Eu lembro aquele Padre da Igreja que a O definia assim: “ipse harmonia est”. O Paráclito dá a cada um de nós carismas diversos e nos une nesta comunidade da Igreja – que adora o Pai, o Filho, e Ele, o Espírito Santo.

Partindo do autêntico afeto colegial que une o Colégio Cardinalício, exprimo a minha vontade de servir ao Evangelho com amor renovado, ajudando a Igreja a Se tornar cada vez mais – em Cristo e com Cristo – a vinha fecunda do Senhor. Estimulados também pela celebração do Ano da Fé, [que] todos nós, juntos, Pastores e fiéis, esforcemo-nos para responder fielmente à missão de sempre: levar Jesus Cristo ao homem e conduzir o homem ao encontro com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, [que está] verdadeiramente presente na Igreja e ao mesmo tempo em todo homem. Tal encontro conduz a leva a nos tornarmos homens novos no mistério da Graça, animando-nos com aquela alegria cristã que é o cêntuplo dado por Cristo àqueles que O acolhem na própria existência.

Como o Papa Bento XVI nos lembrou tantas vezes nos seus ensinamentos e, por último, com aquele seu gesto corajoso e humilde, é Cristo quem guia a Igreja por meio do Seu Espírito. O Espírito Santo é a Alma da Igreja com Sua força vivificante e unificante: de muitos faz um só corpo, o Corpo Místico de Cristo. Não nos entreguemos nunca ao pessimismo, àquela amargura que o diabo nos oferece todos os dias; não nos entreguemos ao pessimismo e ao desencorajamento: tenhamos a firme certeza de que o Espírito Santo concede à Igreja, com Seu sopro potente, a coragem de perseverar e também de buscar novos métodos de evangelização, a fim de levar o Evangelho até os confins da Terra (cf. At 1, 8). A verdade cristã é atraente e persuasiva porque responde à necessidade profunda da existência humana, anunciando de maneira convincente que Cristo é o único Salvador do homem todo e de todos os homens. Este anúncio permanece válido hoje como foi no início do Cristianismo, quando se operou a primeira grande expansão missionária do Evangelho.

Caros amigos, força! A metade de nós já somos de idade avançada: a velhice é – me agrada dizê-lo assim – a sede da sabedoria [sapienza] da vida. Os velhos têm a sabedoria de terem caminhado na vida, como o velho Simeão e a velha Ana no Templo. E foi exatamente aquela sabedoria que os fez reconhecerem Jesus. Transmitamos esta sabedoria aos jovens: como o bom vinho, que com os anos se torna ainda melhor, transmitamos aos jovens a sabedoria da vida. Vem-me à mente aquilo que um poeta alemão dizia sobre a velhice: “Es ist ruhig, das Alter, und fromm”: é o tempo da tranquilidade e da oração. E também de transmitir aos jovens esta sabedoria [saggezza]. Voltareis agora para vossas respectivas sedes, a fim de continuar o vosso ministério; [voltareis] enriquecidos pela experiência desses dias, assim repletos de Fé e de comunhão eclesial. Tal experiência única e incomparável nos permitiu compreender em profundidade toda a beleza da realidade eclesial, que é um reflexo do fulgor de Cristo Ressuscitado: [e] um dia veremos o belíssimo rosto de Cristo Ressuscitado!

À poderosa intercessão de Maria, nossa Mãe, Mãe da Igreja, confio o meu ministério e o vosso ministério. Que cada um de nós, sob o Seu olhar materno, possamos caminhar felizes e dóceis à voz do Seu Divino Filho: reforçando a Unidade, perseverando juntamente na oração e testemunhando a verdadeira Fé na presença contínua do Senhor. Com estes sentimentos – são sinceros! -, com estes sentimentos, transmito-vos de coração a Bênção Apostólica, que estendo aos vossos colaboradores e às pessoas confiadas à vossa cura pastoral.

Papa Francisco
Discurso aos cardeais, 15 de março de 2013

Veni, Sancte Spiritus!

É Pentecostes! Celebramos a vinda do Espírito Santo, o Consolador, a Força do Alto. Aquele que vem em auxílio às nossas fraquezas e que faz a Igreja nascente, abandonando o medo, sair para anunciar destemidamente o Evangelho.

É Pentecostes, festa do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo junto com a Virgem Maria. Ensinando-nos a importância de perseverar em união de orações. Ensinando-nos que Deus sempre cumpre as Suas promessas. E ensinando-nos também – por que não dizê-lo? – a importância de estarmos juntos d’Aquela que nos foi deixada como Mãe. Um dia o Espírito Santo A cobriu com Sua sombra e, no dia de hoje, mais uma vez o Espírito Santo desce precisamente onde Ela está.

É Pentecostes, e Aquele que um dia veio à Virgem Santíssima para dar Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo vem mais uma vez sobre Ela, para consolidar a Igreja no mundo. É d’Ela que nasce Cristo – cabeça da Igreja – e é junto a Ela que o restante do Corpo Místico de Cristo estava em oração no dia de hoje. É d’Ela, portanto, que nasce a Igreja, tanto por ser Ela a Mãe d’Aquele que é a Cabeça da Igreja quanto por Ela estar, mais uma vez, presente neste dia em que a edificação do Corpo de Cristo completa-se de maneira maravilhosa. Se o Espírito Santo é a alma da Igreja, certamente não pode pretender fazer parte desta Igreja quem se recusar a estar com Aquela que é a Esposa do Espírito Santo. Pentecostes nos ensina, mais uma vez, a importância de estarmos profundamente unidos Àquela sobre a Qual o Espírito Santo sempre vem.

Gosto particularmente da Sequência da Missa de hoje, que ponho logo abaixo – retirada do blog “Suma Teologica”, onde podem ser encontrados tanto um vídeo da música quanto uma sua tradução. Ainda mais em particular, gosto bastante de dois versos: “Veni, pater pauperum” e “Lava quod est sordidum”.

Pater Pauperum! O Pai dos Pobres. Afinal, “pobre” é aquele que nada tem – como somos todos nós, pobres de graça, pobres de virtudes, pobres de qualquer coisa que possa ser agradável a Deus – e “pai” é aquele que provê, que dá. Nós somos pobres, e é o Espírito Santo que, qual pai, dá-nos aquilo que de outra maneira não poderíamos obter. E, por não termos nada, terminamos pecando: acumulando sujeiras, imundícies… mas as quais é também o Espírito Santo que lava! A tradução para o português verte para “sujo” o termo latino; mas prefiro usar a tradução imediata de “sórdido” mesmo, que possui carga maior de malícia. Nós não temos nada, a não ser imundícies; e o Espírito Santo não apenas nos lava estas como também nos dá todo o resto…! A oração é perfeitamente adequada: Pai dos pobres, lava o que é sórdido! É uma súplica desesperada de quem sabe que só em Deus pode esperar. E o Altíssimo, em Sua magnificência, sempre nos concede ainda mais – muito mais! – do que ousamos pedir… Vinde, Espírito Santo! Manda do Céu um raio de Tua luz! É o pedido dos que não merecemos os Teus favores. É o pedido dos pobres que não temos a quem recorrer. É o pedido dos criminosos que não temos direito algum de Te suplicar nada. Vinde, e fazei maravilhas.

Um santo Pentecostes a todos!

* * *

VENI SANCTE SPIRITUS

Veni, Sancte Spiritus
et emitte caelitus
lucis tuae radium!

Veni, pater pauperum
veni, dator munerum
veni, lumen cordium.

Consolator optime
dulcis hospes animae
dulce refrigerium.

In labore requies
in aestu temperies
in fletu solatium.

O lux beatissima
reple cordis intima
tuorum fidelium.

Sine tuo numine
nihil est in homine
nihil est innoxium.

Lava quod est sordidum
riga quod est aridum
sana quod est saucium.

Flecte quod est rigidum
fove quod est frigidum
rege quod est devium.

Da tuis fidelibus
in te confidentibus
sacrum septenarium.

Da virtutis meritum
da salutis exitum
da perenne gaudium.

Amen, Alleluia.

RCC: a apologia necessária

Pediram-me os meus comentários sobre o vídeo do pe. Fortea aqui publicado recentemente (e, mais especificamente, sobre os assim chamados “dons carismáticos” da RCC). Trago-os à consideração.

Antes de mais nada, é preciso dizer ser verdade que há elogios dos Papas à Renovação Carismática. Nestes, no entanto, há pouca (ou nenhuma) menção específica aos carismas extraordinários. Vale lembrar que os “carismas”, na Doutrina Católica, não se confundem com os dons extraordinários pregados pela RCC. Ensinar é um “carisma”, a vocação à vida comunitária é um “carisma”, etc. Em poucas palavras: existem muitos “carismas” perfeitamente naturais e ordinários e, quanto a estes, não imagino haver nenhuma controvérsia. O problema são os “carismas” entendidos como dons sobrenaturais e (teoricamente) extraordinários.

A RCC me parece ser uma coisa bastante diversificada mundo afora. Em 2008 estive em Roma e fiquei hospedado na casa de uma família que fazia parte da Renovação Carismática; e juro que eu não teria percebido se isto não me tivesse sido contado expressamente. Creio (e aqui é apenas a minha impressão) que existe um “modus vivendi” carismático que é próprio do Brasil (e talvez – não sei – de outros países da América Latina), o qual infelizmente às vezes se confunde (muito) com o de um protestante pentecostal. E este “modus vivendi” não é, de nenhuma maneira, referendado por Roma.

Eu já vi os papas louvarem, por diversas vezes, muitas coisas na RCC que são sem sombra de dúvidas louváveis. A oração particular e em grupo, a tomada de consciência da própria vocação batismal, a devoção ao Espírito Santo, a Lectio Divina, etc. Estas coisas – repito – não me parecem ser objeto de controvérsias entre os católicos. Por outro lado, há um outro grupo de coisas (como a bagunça litúrgica e má formação doutrinal, o sentimentalismo exacerbado, etc.) que, ao contrário, não me parecem ser defendidas nem mesmo pelos carismáticos. Aqui, também há consenso. Onde há discordância parece ser quase exclusivamente com relação à existência e ao uso dos carismas extraordinários. Vamos, portanto, a eles.

Quanto aos carismas extraordinários, sinceramente, eu não lhes consigo dar crédito da maneira como eles são apresentados e praticados. Fiquemos tão-somente no (assim chamado) “dom de línguas”, que me parece ser o mais massificado e o mais controvertido. É um dom extraordinário ou ordinário? Se é extraordinário, por qual motivo acontece ordinariamente nas reuniões da RCC? Se é ordinário, por que foi que deixou de ser extraordinário e, depois de vinte séculos de Cristianismo, começou a aparecer em profusão exatamente em um dos momentos mais críticos da História da Igreja e – isto é o fundamental! – sem dar os frutos de conversão e santidade que seriam esperados? Afinal, no Pentecostes “original”, o Espírito Santo provocou conversões profundas e verdadeiras aos borbotões. Por qual motivo, agora, o “Novo Pentecostes” já existe há décadas e não vemos nada parecido com o que aconteceu em Jerusalém da primeira vez?

Mais: estes dons são sobrenaturais ou são naturais? Se são sobrenaturais, por que motivo eles parecem acontecer (de novo, fico somente no “dom de línguas”) de acordo com a vontade de quem reza, e não como um fenômeno espontâneo? Se são sobrenaturais, por qual motivo eles podem ser ensinados?

Se, ao contrário, forem naturais – e eu já vi alguém defender que a oração em línguas seria, na verdade, não “o dom das Línguas” do Espírito Santo da maneira como ele foi historicamente conhecido, e sim apenas uma “modalidade de oração” -, então é urgente parar de apresentá-los como se houvesse uma identidade entre eles os fenômenos relatados no Novo Testamento. E, ainda neste caso, caberia perguntar: que espécie de oração natural é esta onde ninguém sabe o que se está rezando [afinal, em sendo natural, é preciso abandonar a explicação de “língua dos anjos que Deus entende” (uma vez que isto seria claramente sobrenatural) e considerar que se estão apenas balbuciando sons sem significado algum], e por qual motivo isto deveria ser incentivado?

Enfim, as perguntas são muitas. É óbvio que, em teoria, Deus (que, afinal de contas, é Deus) poderia perfeitamente Se manifestar de forma extraordinária também nos dias de hoje, e não me parece nem mesmo ser possível excluir a priori que estas manifestações possam se tornar ordinárias. O que elas não podem, de nenhuma maneira, é serem irracionais e sem propósito. É a este ponto que, parece-me, a apologia dos carismáticos precisa se dirigir, caso acreditem sinceramente naquilo que pregam e estejam imbuídos de verdadeiro amor à Verdade, e não às próprias opiniões.

Há pessoas que defendem a veracidade dos dons (supostamente) presentes na Renovação Carismática? Sim, há. Mas não me consta que estas pessoas tenham alguma vez respondido a questionamentos como os que eu coloquei acima, que considero bastante justos e pertinentes. Sem uma explicação satisfatória sobre estes alegados dons, causa porventura alguma surpresa que eles sejam recebidos (no mínimo) com desconfiança por alguns católicos? Os que alegam possuírem dons extraordinários do Espírito Santo precisam responder em sua defesa e corrigirem as suas práticas naquilo que for necessário. Caso contrário, não poderão se surpreender com a estranheza e incredulidade que provocam em católicos não pertencentes à RCC.

Protestantes protestam contra a Virgem Mãe de Deus

A Serpente vomitou contra a Mulher um rio de água, para fazê-la submergir. A terra, porém, acudiu à Mulher, abrindo a boca para engolir o rio que o Dragão vomitara.

Este, então, se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência, aos que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus.

(Ap 12, 15-17)

Desde o início do mundo o Senhor pôs inimizade entre os descendentes da Mulher e os descendentes da Serpente. Há, portanto, uma batalha na História entre aqueles que são fiéis ao Deus Verdadeiro e aqueles que, ao contrário, servem a Satanás. Este exército do príncipe das Trevas conta, entre outros, com os batalhões daqueles que gostam de se dizer cristãos sem, no entanto, fazerem o que Nosso Senhor pede. E em poucas coisas os protestantes revelam tanto fazer a vontade de Satanás quanto no ódio que vomitam sobre a Bem-Aventurada Mãe de Deus.

O paralelismo entre as passagens bíblicas é claro. No Gênesis, diz o Altíssimo à Serpente: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn 3, 15a). No Apocalipse, vemos a Serpente que “se irritou contra a Mulher e foi fazer guerra ao resto de sua descendência” (Ap 12, 17a). E esta Mulher é a Virgem Santíssima, e os descendentes d’Ela – os filhos de Nossa Senhora – são “os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12, 17b).

Há porventura algum exagero em dizer que os protestantes fazem a vontade de Satanás? Não é vontade do Príncipe deste Mundo impedir que Nosso Senhor seja louvado e glorificado? E não é a própria Bíblia que nos ensina a louvar primeiro a Virgem Santíssima – “Bendita és tu entre as mulheres!” – para, em seguida, louvar a Nosso Senhor – “e bendito é o fruto do Teu ventre”? E não é o próprio Espírito Santo que, pela boca de Santa Isabel, chama a Virgem Santíssima de “Mãe do meu Senhor”? E não foi um próprio Anjo mensageiro do Altíssimo – portador de uma mensagem do próprio Deus, portanto – quem prostrou-se diante da Virgem Maria e A saudou, dizendo Ave, Gratia Plena – “Salve, cheia de Graça”?

Cheia de Graça! Havia porventura Graça no mundo antes do Verbo fazer-Se Carne? Era por acaso possível encontrar Graça quando o mundo ainda jazia sob o pecado? A religião judaica, com seus sacrifícios de touros e carneiros, acaso podia tirar pecados?

Como é então possível que o próprio Deus diga, por intermédio de um anjo, a uma Virgem que Ela era “cheia de Graça”? Quem é esta extraordinária Mulher que, no meio das trevas do pecado que envolviam o mundo inteiro, refulge repleta da Graça de Deus antes mesmo da Encarnação do Filho de Deus?

Esta Mulher é a Virgem Mãe de Deus, Santíssima e Imaculada desde a Sua Conceição, preparada com esmero pelo Todo-Poderoso para ser a Mãe do Seu Divino Filho. Esta Mulher é a criatura que Deus quis colocar acima de todas as criaturas. Esta é a Mulher para a Qual o Todo-Poderoso abriu uma exceção e, em previsão dos méritos de Cristo, permitiu que Ela não estivesse em nenhum instante sob a mácula do Pecado Original. Esta é, portanto, a Mulher em Quem havia Graça – e que era e sempre foi “cheia de Graça” – antes mesmo de Deus vir ao mundo.

É natural, portanto, que Satanás nutra um particular ódio por esta Mulher (a Quem a Tradição da Igreja sempre chamou, entre outros títulos, de “inimiga de todas as heresias” e também “Aquela que venceu sozinha todas as heresias do mundo inteiro”). E é portanto natural que os filhos dele, em obediência à vontade do seu pai, persigam esta Mulher e tomem parte na guerra que o Demônio trava contra os filhos de Deus e da Virgem Imaculada. E, entre as batalhas desta guerra, uma em particular ganhou uma triste notoriedade nos últimos dias.

Trata-se de uma “ação evangélica” no estado do Espírito Santo: Convenção Batista vai trazer Projeto Tenda da Esperança, que evangeliza em eventos de devoção à Maria, na festa de Nossa Senhora da Penha que se celebra no próximo dia 02 de maio. É extrema a petulância e terrível a agressão: como assim, “evangelizar”? Acaso os hereges batistas acham que a própria festa da Virgem Maria não é, por si só, evangelização suficiente? E por acaso os hereges vão colaborar com as festividades em honra da Mãe de Deus ou, ao contrário, vão envidar esforços para arrancar os católicos descuidados do regaço protetor da Virgem Maria, para levá-los aos galpões de suas seitas afastando-os, assim, da Igreja Verdadeira?

O que os hereges inimigos da Mãe de Deus estão fazendo em um evento que tem por objetivo honrar a Virgem Santíssima? Não pode ser senão para semear a cizânia entre o povo de Deus. Não pode ser senão para vomitar o seu ódio mal-disfarçado à Virgem Maria. Não pode ser senão para tentar obscurecer, com a fumaça de enxofre obtida nos quintos dos Infernos, a glória e o esplendor do cumprimento daquela profecia evangélica segundo a qual todas as gerações haverão de proclamar as bem-aventuranças de Maria Santíssima.

Rejeitamos esta “ação evangélica”, que é na verdade ação protestante mal-disfarçada e que, de evangélica, não tem nada. Rejeitamos esta “colaboração” dos nossos “irmãos separados” que, a pretexto de evangelizar, querem arrebanhar fiéis católicos para os seus erros e heresias. Rejeitamos este flagrante desrespeito à Fé Católica e Apostólica que os hereges inimigos da Igreja pretendem realizar na Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Por fim, gostaria de destacar as palavras do teólogo Vitor Nunes Rosa, que eu não conheço, mas que fez uma pequena (e, surpreendentemente, boa) análise do fato n’A Gazeta:

Uma denominação evangélica aproveitar a festa religiosa católica de Nossa Senhora da Penha para promover uma “campanha de evangelização” tem três aspectos fundamentais: primeiro, evidencia fragilidade dos promotores de tal empreendimento, pois estão aproveitando a extraordinária capacidade de mobilização da Igreja Católica; segundo, é uma atitude deselegante, que contraria os princípios cristãos do respeito ao próximo. Ora, a Igreja Católica está evangelizando, e a realização de algo com o intuito de retirar pessoas desse processo transcende as finalidades do anúncio do Evangelho, constituindo mais uma investida contra uma instituição religiosa e suas crenças do que uma ação cristã. Sugiro que tais forças sejam canalizadas em favor de pessoas sob o domínio das drogas, da prostituição e outras situações que afrontam a dignidade. Terceiro, destaco que há a questão constitucional que garante a liberdade de culto e a convivência pacífica entre os segmentos religiosos. Inserir-se no movimento da Festa da Penha dessa forma constitui manifesta afronta à liberdade de crença e de culto, além de caracterizar uma “guerra por fiéis”, algo totalmente indesejado no Estado Democrático de Direito e no contexto de busca da unidade dos cristãos.

Que o Deus Todo-Poderoso possa compadecer-Se destes que ofendem a Sua Mãe Santíssima e que, nisso, fazem a vontade de Satanás. E que a Virgem Mãe de Deus possa interceder por aqueles que vivem nas trevas do erro, reconduzindo-os à Verdadeira e Única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Só o Amor redime” – Bento XVI

Portanto, vale a pena deixar-se tocar pelo fogo do Espírito Santo! A dor que nos chega é necessária à nossa transformação. É a realidade da Cruz: não por acaso, na linguagem de Jesus, o “fogo” é sobretudo uma representação do mistério da Cruz, sem o qual não existe Cristianismo. Por isso, iluminados e confortados por estas palavras de vida, elevemos nossas invocações: vinde, Espírito Santo! Acendei em nós o fogo do Vosso amor! Saibamos que esta é uma oração audaciosa, com a qual pedimos ser tocados pelas chamas de Deus; mas saibamos sobretudo que estas chamas – e somente estas – têm o poder de nos salvar. Não queiramos, para defender a nossa vida, perder aquela Eterna que Deus nos quer doar. Nós temos necessidade do fogo do Espírito Santo, porque só o Amor redime. Amen!

Bento XVI
Cappella papale nella Solennità di Pentecoste – Omelia del Santo Padre Benedetto XVI
Domenica, 23 maggio 2010

A purificação da Igreja

Perguntaram, aqui no Deus lo Vult!, sobre a Igreja “sempre necessitada de purificação” da qual fala a Lumen Gentium. Eu já havia dito, no próprio post, que é necessário distinguir a Igreja em Si dos membros da Igreja. Falar que a Igreja precisa de purificação, portanto, só pode ser entendido como uma metonímia, onde “Igreja” está significando “os membros da Igreja”. Não vejo como possa ser possível um outro sentido para a expressão que preserve a ortodoxia.

Que a Igreja é Santa e Santificante em Si, julgo ser óbvio, e não vou me deter nesta demonstração. No entanto, a Igreja é uma sociedade, é composta por membros, dos quais nem todos são santos. Pode-se perfeitamente dizer que a Igreja é Santa não somente em Si, mas também em Seus membros santos. É neste sentido, portanto, e somente neste, que se pode dizer que a Igreja precisa de purificação: em Seus membros pecadores.

O princípio da não-contradição não diz, simplesmente, que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Diz que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo sob um mesmo aspecto, e isto faz toda a diferença. Não é sob o mesmo aspecto que a Igreja é Santa e “precisa de purificação”. A Igreja é Santa em Si. Precisa de purificação em Seus membros pecadores. São modos distintos. Não apenas não há contradição, como isto é um fato incontestável: os membros pecadores da Igreja fazem parte da Igreja e precisam de purificação.

Podem questionar a oportunidade da expressão. Mas é uma discussão infrutífera: não faz diferença, pois o ensino do Magistério deve ser acolhido no seu sentido católico, e não repudiado até que seja expresso da forma que julgarmos melhor. O que a assistência do Espírito Santo garante é a inexistência de erros, e não a mais perfeita formulação das Verdades. Posso concordar facilmente que o texto conciliar poderia ser escrito melhor; não posso concordar, de nenhuma maneira, que isso seja motivo para um leigo descartá-lo.

Até porque não há “invenção” alguma ao dizer que a Igreja precisa de purificação. Os seguintes trechos – os grifos são meus – são dos dois maiores doutores da Igreja, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, e estão ipsis litteris no “Memória e Reconciliação” da Comissão Teológica Internacional. Antes que mo digam, eu sei que a CTI não é Magistério. Mas não estou argumentando com textos da CTI, e sim com textos de dois doutores da Igreja citados pela CTI. Ei-los:

Observa St. Agostinho contra os pelagianos: “A Igreja no seu conjunto afirma: Perdoai-nos os nossos pecados! Ela, portanto, tem manchas e rugas. Mas, mediante a confissão as rugas são removidas, mediante a confissão as manchas são lavadas. A Igreja está em oração para ser purificada pela confissão, e enquanto os homens viverem na terra isto será assim” (25), E S. Tomás de Aquino precisa que a plenitude da santidade pertence ao tempo escatológico, enquanto a Igreja peregrinante não se deve enganar a si mesma afirmando ser sem pecado: “Que a Igreja seja gloriosa, sem mácula nem ruga, é o objectivo final para o qual tendemos em virtude da paixão de Cristo. Isto apenas existirá, no entanto, na pátria eterna, e não já na peregrinação; aqui […] enganar-nos-íamos se disséssemos não ter qualquer pecado” (26).

[…]

25. St. AGOSTINHO, Sermo 181,5,7: PL 38, 982.

26. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica III q.8 a.3 ad 2.

Memória e Reconciliação, 3.3

Em outro sentido, portanto, não há que se compreender o texto do Vaticano II. Que ninguém o faça; nem para pregar uma doutrina diferente da Doutrina Católica, e nem para instigar a desobediência no seio da Igreja e arrogar-se o direito de julgar o Magistério.