“A presença real de Cristo na Eucaristia, provada pela Escritura”

Veio a lume no final da semana passada a tradução para o português de uma importante obra de apologética católica: o primeiro volume do livro do Card. Wiseman (+1865), “A presença real de Cristo na Eucaristia, provada pela Escritura”.

Trata-se de um conjunto de oito preleções sobre a Santíssima Eucaristia, das quais o presente volume apresenta as quatro primeiras — que têm por objeto o discurso do Pão da Vida (Jo VI). O método empregado por Sua Eminência é bastante peculiar: partindo da análise bíblico-literária, demonstra o apologeta, para além de qualquer dúvida razoável, que desta passagem não é possível extrair outra coisa que não seja a pura e cristalina Doutrina Católica sobre a Presença Real de Nosso Senhor na Eucaristia.

É o que deflui da estrutura do texto. É o que se depreende da reação dos judeus. É o que exige a resposta de Cristo aos que O interpelaram. Tudo na perícope aponta, conduz, arrasta ao dogma católico da Presença Real. A leitura destas conferências do Card. Wiseman empresta a este argumento as cores da boa oratória e a cogência da sã retórica, fazendo resplandecer a verdade da Fé Católica em todo o seu fulgor. Trata-se de leitura utilíssima e muito proveitosa, que muito me apraz estar agora disponível ao público de língua portuguesa.

Agradeça-se sobremaneira ao responsável pela tradução, o caríssimo Felipe Coelho. Foi ele quem me encaminhou o texto na sexta-feira passada, e aliás preciso pedir perdão pela demora em o apresentar aqui, no Deus lo Vult!: ao tradutor, por não ter aberto o seu email no instante mesmo em que o recebi, e aos leitores deste blog, que ficaram privados da leitura das lições do Card. Wiseman durante o final de semana. Faço votos de que as possam apreciar agora. Não deixem de rezar ao menos uma Ave-Maria pelo Felipe, a fim de que Nosso Senhor lhe recompense a faina apologética e o inspire a continuar produzindo bons materiais em defesa da Fé Católica e Apostólica.

O livro se encontra disponível para download gratuito no Internet Archive. Pode ser baixado pela imagem acima ou pelo link abaixo. Que, por intermédio dele, os católicos possamos amar mais e melhor a Nosso Senhor verdadeiramente presente na Eucaristia; e que os que ainda não crêem n’Ele possam enfim encontrá-Lo, nas páginas das Escrituras Sagradas, tal e qual a Igreja O apresenta em seus sacrários, escondido sob a espécie d’Aquele Pão que contém todo o sabor.

https://archive.org/details/Wiseman-EucaristiaProvadaPelaEscritura

A apatia dos católicos clama aos Céus vingança

As redes sociais divulgaram recentemente um vídeo, ao que parece feito em uma paróquia de Fortaleza, durante uma Missa, onde se vê um homem entrar na fila de comunhão, pegar a Eucaristia, jogá-La no chão e A pisotear. Muitas pessoas apontaram corretamente aquilo que é mais grave nas imagens: mais do que a profanação cometida pelo demônio em forma de velho, o que verdadeiramente choca e estarrece é a completa indiferença com a qual todos os presentes parecem encarar a situação.

Não se vê ninguém tomado da justa indignação que uma situação dessas exigiria. Não se vê ninguém procurando impedir o velho — visivelmente alterado — de entrar na fila da comunhão em primeiro lugar; não se vê ninguém reagindo quando ele, teatralmente, de forma macabra, cospe a sagrada partícula no chão. Não se vê ninguém esboçando a mais mínima reação quando ele dá as costas e vai embora — lançando imprecações inaudíveis no vídeo, imagino eu. E, mais assustador, não se vê a menor perturbação no processo maquinal de continuar distribuindo a Sagrada Eucaristia. O sacerdote permanece impassível enquanto a “ministra” tenta, sem sucesso, administrar a comunhão diretamente na boca do velho possesso; depois da profanação consumada, o padre desce do altar com vagar e normalidade. Limpa o chão por alguns instantes. Após, retorna, e a distribuição da Eucaristia prossegue como se nada houvesse acontecido.

São imagens verdadeiramente angustiantes, diante das quais é imperioso lembrar dois “pequenos” pontos. Primeiro: com a consagração do Pão e do Vinho, durante a Santa Missa, ocorre o fenômeno da transubstanciação, por virtude do qual as espécies consagradas não são mais pão e vinho, mas se tornam, real e substancialmente, o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em cada minúscula partícula da Eucaristia está presente Cristo inteiro, com Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Ou seja, o que está ali, jogado no chão, pisoteado e cuspido, é literalmente o Deus Todo-Poderoso, o Criador dos Céus e da Terra.

Não se trata de um símbolo nem de uma metáfora, não é força de expressão. É exatamente isto: aquele pedaço de pão é Deus. Seria já uma coisa grave, por exemplo, alguém pegar um objeto do culto católico — uma imagem, um crucifixo — e o deitar no chão; seria ofensivo e provocaria por si só um enorme mal-estar. Imagine-se alguém que entrasse na igreja revirando os bancos, quebrando as imagens dos santos, arrancando as toalhas do altar, chutando as velas e as flores: ofenderia a sensibilidade católica, sem dúvidas, e seria muito improvável que os fiéis permanecessem inertes diante de semelhante espetáculo iconoclasta.

O que se fez, no entanto, foi muito pior. Foi infinitamente pior. O demônio se voltou não contra um objeto dedicado ao culto de Deus, mas contra o próprio Deus. Ele não vilipendiou o templo, as imagens sacras ou os paramentos: foi muito além e jogou ao chão Aquele para cujo culto os paramentos foram tecidos, cuspiu n’Aquele para cuja glória as imagens sacras foram confeccionadas, pisou sobre Aquele para cuja honra o templo foi edificado. Não à toa existe uma excomunhão latae sententiae específica para quem profana a Santíssima Eucaristia: quem destrói as igrejas volta-se indiretamente contra Deus, mas quem profana as Sagradas Espécies ofende direta e substancialmente a Deus em Si mesmo.

E isso nos leva ao segundo ponto: há algo de muito, muito errado na nossa catequese. Quando os católicos ficam indiferentes diante de alguém que pisa e cospe na Eucaristia no meio de uma Missa é preciso reconhecer que estamos diante de um problema pastoral muito sério — e é legítimo até nos perguntarmos se ainda se crê realmente na presença real e substancial de Nosso Senhor sob o pão e o vinho consagrados.

Porque, afinal de contas, as nossas ações são um reflexo das nossas convicções. Quem acredita que somente Deus é digno de adoração não toma parte na incensação do Caesar ainda que ameaçado com o Amphitheatrum Flavium. Quem segue a lei de Moisés guarda o repouso sabático ainda sob a vigilância dos familiares do Santo Ofício. Quem acha errado matar animais para se alimentar não come nem jujuba depois que descobre que elas são feitas de pele de porco. Ora, se tudo isso é assim, como é possível que alguém que acredite na Presença Real possa agir com indiferença diante de uma profanação eucarística gravíssima como a que é mostrada no vídeo?

As reações mostradas na filmagem não são condizentes com pessoas que sabem que a Eucaristia é — não “simboliza”, não “representa”, mas verdadeiramente é — o próprio Deus. Não tem cabimento as pessoas, sabendo que a comunhão eucarística deve ser recebida com a dignidade que convém ao Todo-Poderoso, não se incomodarem com um sujeito sem camisa tumultuando a fila de comunhão. Não tem lógica a pessoa saber que está diante de Nosso Senhor e continuar agindo normalmente quando Ele é jogado no chão. Se fosse um animal o agredido pelo velho — se ele chutasse um cão sarnento, digamos — a reação dos circunstantes seria (muito!) mais enérgica. Como, então, ele cospe em Deus e ninguém faz nada?

A profanação ofende, sem dúvidas, mas os inimigos de Deus existirão sempre: é de se esperar que os incréus persigam a Religião, que os ímpios se levantem contra as coisas santas. Que os inimigos de Deus O ofendam não é algo propriamente espantoso: o que é de pasmar é que os pretensos amigos de Deus não façam nada! A apatia dos católicos clama aos Céus vingança mais alto que a profanação do velho endemoniado. Se nem os próprios católicos preocupam-se em respeitar as coisas sagradas, como é possível esperar que as respeitem os inimigos de Deus?

Quatro anos de um dos Papas mais odiados da história

Hoje é um dia importante. Quatro anos atrás, numa quarta-feira, celebrávamos a fumata bianca expelida pela chaminé da Capela Sistina e pouco tempo depois, ansiosos, ouvíamos pela TV secular o secular anúncio do Habemus Papam. Era o (então desconhecido) cardeal Jorge Maria Bergoglio, qui sibi nomen imposuit Franciscum.

Quatro anos após o fato, olhando em retrospectiva, creio que se pode dizer — ao contrário do que parece à primeira vista — que estamos diante de um dos Papas mais odiados da história da Igreja. Sim, é certo que a mídia anticatólica, os católicos progressistas e os não-católicos enaltecem [aquilo que acreditam ser] o Papa Francisco; no entanto, só o enaltecem naquilo que não é católico. A condescendência com o homossexualismo. A ordenação de mulheres. A comunhão dos adúlteros. O louvor ao socialismo. O indiferentismo religioso. Et cetera, et cetera. Ora, não se pode dizer que seja realmente movido por amor quem tanto se esmera para divulgar uma imagem tão desabonadora assim de outrem!

Os inimigos da Igreja falam muito do Papa Francisco, é verdade, e falam dele em tom laudatório, é verdade também; mas o que elogiam no Papa são qualidades que envergonham e ofendem qualquer fiel. O Papa não é amado por ser católico, mas precisamente o contrário: quem diz amar o Papa — ao menos quem o diz com espalhafato, nas redes sociais e na mídia anticlerical, quem diz amar Francisco quando até ontem odiava Bento XVI — só o faz por acreditar ver no Papa características que contradizem certos aspectos, digamos, pouco populares da Fé Católica. Por que “amam” o Papa Francisco? Porque ele não acha que todo mundo precise ser católico, porque ele acredita que baste a cada um fazer o que acredita ser certo, porque ele acha que a Igreja não deve se meter no casamento gay, e porque aliás ele acredita que os gays devem ser incluídos na Igreja, porque é a favor dos padres casados e da ordenação de mulheres, porque quer acolher os divorciados recasados, porque é contra a cúria vaticana, contra Temer, contra Trump… Em suma, por que “amam” o Papa Franciso? Por tudo e qualquer coisa, exceto aquilo que faz um papa — qualquer Papa — ser o líder máximo da religião católica.

Estas pessoas não amam realmente o Papa Francisco. E não o amam por uma razão dupla: primeiro que não se afeiçoam ao Papa de verdade, senão a uma sua caricatura grotesca; segundo porque atribuem a ele características que são desabonadoras e difamatórias para qualquer católico. Não é portanto verdade que os anticlericais tenham passado a amar o Papa: os anticlericais continuam odiando o Papa. Apenas o fazem agora por outro meio.

Em contrapartida, muitos dos católicos — o resquício de católicos de verdade, conscientes do que significa o Catolicismo e da crise pela qual atravessa a Igreja — debandaram tristemente para o ódio escancarado e a perseguição aberta ao Soberano Pontífice. Engolem da maneira mais acrítica possível as maiores barbaridades que os inimigos da Igreja dizem a respeito do Papa: dão mais crédito ao burburinho do mundo que à oração de Nosso Senhor para que a Fé de Pedro não desfalecesse. Acreditam em tudo o que se diz de depreciativo sobre o Papa Francisco, e o divulgam e alardeiam, contribuindo assim para o fortalecimento da má fama de Sua Santidade. Eis porque o atual Pontífice é um dos mais odiados de todos os tempos: porque aos odiadores tradicionais — que o continuam odiando — somaram-se multidões de católicos que, fazendo coro aos anticlericais, vêem no Papa mais o Anticristo que o Cristo-na-Terra.

Bento XVI era odiado pelo mundo, mas amado por parte significativa dos católicos tradicionais. Francisco continua odiado pelo mundo e é também odiado por grande parte destes católicos que — com toda a razão — opõem-se à mundanização do Catolicismo mas enxergam no Papa mais um inimigo que um aliado. No final das contas, quem é que ama o Papa Francisco pelo que ele é, e não pelo que [acredita que] ele representa? Quase ninguém. É o mais solitário e abandonado dos Papas!

E não se justifique o próprio ódio sob a alegação de que o Papa não ajuda a desfazer a imagem errada que têm dele. São Valentino também é um dos santos menos amados do mundo, apesar de milhões de pessoas celebrarem alegremente o Valentine’s Day a cada 14 de fevereiro. São Francisco de Assis também é um dos santos mais impopulares da história, a despeito de a “Oração de São Francisco” ser mais conhecida que o Hino Nacional. Não é privilégio do Papa Francisco ter uma imagem pública destoante da que se espera de um católico de verdade.

Além disso, o esforço exigido para desfazer o senso comum é hercúleo e não pode ser exigido de ninguém — muito menos de um Papa, aliás, a quem absolutamente ninguém pode ditar a melhor forma de governar a Igreja. Se Sua Santidade poderia ser mais claro e não o é, disto ele haverá de prestar contas ao Altíssimo e não aos leigos católicos da internet sedizente tradicionalista. Eventuais defeitos dos superiores não elidem o dever de submissão dos subordinados, e nem muitíssimo menos justificam a falta de respeito cada vez mais generalizada que se tem tristemente observado nos últimos quatro anos.

Finalmente, para vender a sua imagem do Papa-que-não-é-católico, os inimigos da Igreja praticam o cherry-picking mais descarado. Jamais divulgam aquilo que o Papa diz e faz de católico, mas conferem grande alarde a tudo que se possa mal interpretar. Um exemplo entre muitos, os que defendem a comunhão dos adúlteros dizem que isto é um ato de «misericórdia» pastoral, com o qual a Igreja deve temperar a «justiça» inflexível das normas canônicas. Mas o Papa Francisco, há menos de um mês, comentando o Evangelho de S. Mateus, deu-nos esta belíssima lição:

“Jesus não responde se é lícito [para um marido repudiar a própria mulher] ou não; não entra na lógica casuística deles. Porque eles pensavam na fé somente em termos de ‘pode’ ou ‘não pode’, até onde se pode, até onde não se pode. É a lógica da casuística: Jesus não entra nisso. E faz uma pergunta: ‘Mas o que Moisés vos ordenou? O que está na vossa lei?’. E eles explicam a permissão que Moisés deu de repudiar a mulher, e são eles a cair na própria armadilha. Porque Jesus os qualifica como ‘duros de coração’: ‘Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento’, e diz a verdade. Sem casuística. Sem permissões. A verdade.”

[…]

“(…)Depois, uma pessoa de mentalidade casuística pode se perguntar: ‘Mas o que é mais importante em Deus? Justiça ou misericórdia?’. Este também é um pensamento doente… o que é mais importante? Não são duas: é somente uma, uma só coisa. Em Deus, justiça é misericórdia e misericórdia é justiça. Que o Senhor nos ajude a entender esta estrada, que não é fácil, mas nos fará felizes, a nós, e fará felizes muitas pessoas”.

Tradução: Canção Nova

Não existe oposição entre misericórdia e justiça! A misericórdia verdadeira não pode senão ser justa, e a justiça verdadeira é ela própria misericordiosa. A idéia de conferir sacramentos de vivos a pecadores formais sob a justificativa da misericórdia, portanto, é uma falsa idéia, é «um pensamento doente». Que duro golpe nos divorcistas! Quem, no entanto, dos “admiradores” do Papa Francisco, prestou atenção a esta homilia, preocupou-se em divulgar este ensinamento…?

Faz quatro anos que o nome «Francisco» ecoou a partir da sacada da Basílica de São Pedro. E, infelizmente, parece que temos bem pouco a comemorar na efeméride. Hoje, mais até do que naquele (já longínquo) ano de 2005, «[a] Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados» (Via-Sacra no Coliseu, IX Estação). Que o Altíssimo Se compadeça de nós e, volvendo o olhar para o nosso sofrimento, levante-Se — o quanto antes! — para pôr fim às nossas tribulações.

V. Oremus pro Pontifice nostro Francisco.

R. Dominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius.

Oremus. Deus, omnium fidelium pastor et rector,famulum tuum Franciscum, quem pastorem Ecclesiae tuae praeesse voluisti, propitius respice: da ei, quaesumus, verbo et exemplo, quibus praeest, proficere: ut ad vitam, una cum grege sibi credito, perveniat sempiternam.

Per Christum, Dominum nostrum.
Amen.

Desde quando a perfeição não é para todos?

Divulgou-se ontem que o Papa Francisco enfim responderia formalmente às questões dos cardeais sobre a Amoris Laetitia, e que o faria através de um livreto escrito pelo cardeal Francesco Coccopalmerio — prefeito do Pontifício Conselho para a interpretação dos textos canônicos. O Rorate Caeli, onde vi a nota ontem, atualizou hoje a postagem informando que o cardeal não compareceu à apresentação da obra; e mais importante, durante o evento foi informado que o livro não é uma resposta [formal] às dubia, mas compõe-se tão-somente de reflexões pastorais privadas da lavra do cardeal.

Ainda bem, porque o trecho do livro divulgado pela mídia tradicionalista simplesmente não é católico. Em curtas palavras, fala que os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia devem ser conferidos àqueles que os pedirem, ainda que vivam em situação grave de pecado, independente de qualquer outra coisa a não ser o “desejo sincero de se aproximar dos sacramentos após um apropriado período de discernimento”. Não há nenhuma referência às condições excepcionais da Amoris Laetitia (verdadeira ausência de pecado formal, sacramentos como meio para a superação da situação objetiva de pecado, cuidado pastoral para que não haja escândalos e nenhuma margem para que se julguem diminuídas as exigências do Evangelho); ao contrário, quem lê o trecho fica com a sensação de que a Doutrina Católica foi substituída pelo subjetivismo mais esquizofrênico — como se fosse a coisa mais prosaica e ordinária do mundo alguém ter, ao mesmo tempo, um “desejo sincero” pelos Sacramentos e uma vontade irredutível de continuar vivendo em contradição com a Graça significada e atualizada por estes mesmos Sacramentos que com sinceridade se deseja receber.

Em situações normais, é de todo evidente que quem rejeita as exigências do Evangelho não tem (e nem pode ter) sinceridade no seu desejo pelos Sacramentos, e do mesmo modo o querer sinceramente a graça de Deus necessariamente inclui o querer viver de maneira reta e agradável aos olhos d’Ele. Em situações normais, quem quer de verdade os Sacramentos instituídos por Cristo quer também as condições estabelecidas pelo mesmo Cristo para se ter acesso a estes Sacramentos: afinal, quem quer o fim, quer os meios. Não há (e aliás nem pode haver) nenhuma revolução na Doutrina Católica e nem muito menos nos pressupostos metafísicos básicos da realidade. A coerência ainda é um valor que se deve sempre ter em conta em qualquer faceta da vida humana.

Mas o pior é a parte final do parágrafo. De acordo com o opúsculo, a Eucaristia deveria ser conferida para os adúlteros porque “a perfeição absoluta é um dom precioso, mas que não está ao alcance de todo mundo” (no original italiano, la perfezione assoluta è un dono prezioso ma che non può arrivare a tutti). A sentença é tão absurda que não chega nem a ser crível, e é legítimo indagar se o cardeal escreveu mesmo esse disparate ou, tendo de fato escrito, se acredita realmente no que escreveu.

Em primeiro lugar, e mais grave, reservar a prática dos atos conjugais para o interior do Matrimônio sacramental não é, sob nenhuma circunstância, “a perfeição absoluta”! Ao contrário, é o básico do início de qualquer vida moral minimamente digna deste nome. É um dos Mandamentos, é um ditame da Lei Natural que está ao alcance até mesmo dos pagãos! Quando foi que o mero cumprimento dos preceitos negativos diretos do Decálogo se transformou na “perfeição absoluta”? Desde quando a observância dos Mandamentos não é para todo mundo? Afinal de contas, somos católicos ou hereges cátaros?

Os Mandamentos são para todos sim, mesmo para o índio politeísta e canibal no meio do mato, ainda para o sarraceno crescido entre os explosivos do ISIS, mesmo para o católico que tenha «grande dificuldade em compreender «os valores inerentes à norma» católica» ou que se encontre «em condições concretas que não lhe permitem agir de maneira diferente e tomar outras decisões sem uma nova culpa»! Ninguém é positivamente chamado a adorar demônios, assassinar inocentes ou adulterar. Se certos condicionamentos são capazes de mitigar a imputabilidade subjetiva por semelhantes práticas, não é menos verdade que elas não deixam jamais de ser um mal — e o homem é sempre capaz do bem. Não existe ninguém a cujo alcance o bem não esteja! A observância dos Mandamentos pode chegar a todos sim, é lógico e evidente que pode. Somos todos seres humanos criados para Deus — para o bem portanto.

Mas há ainda uma outra questão que torna infelicíssima a colocação do cardeal Coccopalmerio: será mesmo que se pode dizer que a «perfeição absoluta» não está ao alcance de todos? E quanto àquele «estote vos perfecti sicut et Pater vester cælestis perfectus est» de Nosso Senhor no Sermão da Montanha (cf. Mt V, 48)? Porventura Cristo não falou para todos?

Dizer que a perfeição não está ao alcance de todos contraria também a doutrina do Concílio Vaticano II. De fato, o capítulo V da Constituição Dogmática sobre a Igreja abre-se assim:

A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito ao único Santo», amou a Igreja como esposa, entregou-Se por ela, para a santificar (cfr. Ef. 5, 25-26) e uniu-a a Si como Seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para glória de. Deus. Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3; cfr. Ef. 1,4). Esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta, e deve manifestar-se, nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo; aparece dum modo especial na prática dos conselhos chamados evangélicos. A prática destes conselhos, abraçada sob a moção do Espírito Santo por muitos cristãos, quer privadamente quer nas condições ou estados aprovados pela Igreja, leva e deve levar ao mundo um admirável testemunho e exemplo desta santidade.

Lumen Gentium, 39. Grifos meus.

Por fim, a idéia de que a santidade possa não estar ao alcance de alguém é estranha também ao Papa Francisco: «a santidade não é uma prerrogativa só de alguns: é um dom oferecido a todos, sem excluir ninguém, e por isso constitui o cunho distintivo de cada cristão» (Audiência Geral de 19 de novembro de 2014).

Em conclusão: não existem pessoas que não sejam chamadas às exigências do Evangelho, não há hipótese em que uma situação objetiva de pecado seja a realização da vontade de Deus, não há ninguém para quem a prática das virtudes seja uma perfeição absoluta que esteja fora do seu alcance. De tudo o que se tem escrito no bojo da Amoris Laetitia, o obscurecimento desta verdade básica (talvez um dos pontos centrais do Cristianismo) é provavelmente o mais de se lamentar.

Os contrastes da Quinta-Feira Santa

“Será que vai ter Gloria”? Eu me perguntava enquanto o coral entoava o Kyrie da Missa de hoje, Missa da Quinta-Feira Santa celebrada segundo as rubricas de 1962. Era a primeira vez que eu assistia ao Sagrado Tríduo celebrado na Forma Extraordinária do Rito Romano. A Missa do Lava-Pés, a Nova, sei-lo bem, tem Glória sim; o último Glória antes do da Vigília Pascal.

Lembro-me deste Glória em específico por conta da Paróquia da Torre: é apenas após ele que os instrumentos, todos, emudecem, e os cânticos populares serão conduzidos pela voz dos cantores somente — até a Missa de Aleluia. A mudança do barulho para a sobriedade é notória; o contraste chega a ser chocante. Já o disse outras vezes, creio, que a música litúrgica não é lá o ponto forte daquela paróquia querida, onde me crismei e onde fui por anos catequista: mas, de todas as celebrações do ano, as da Semana Santa — mais especificamente as do Tríduo Santo — eram primorosas. Era o Glória que marcava tudo: era a passagem da alegria para a tristeza, dos Ramos para o Tríduo, da Ceia para a Paixão.

Hoje, ao final do Kyrie, o padre imóvel diante do altar, o órgão entoa as notas conhecidas: vai ter Gloria sim. Esboço um sorriso e comento de lado: “faz já uns dois meses…!”. Porque na Missa Tridentina o Hino de Louvor cessa bem antes da Quaresma, já na Septuagesima. Nem me lembro direito de quando fora a última vez que o havia ouvido. E hoje ele foi mais uma vez entoado, como primícias do que há-de vir no Sábado Santo, como o último suspiro de alegria antes do horror da Sexta-Feira Santa. Gloria in Excelsis Deo, enche toda a nave da Igreja, e parece que os anjos estão, de novo, como naquela Noite Feliz de dezembro, anunciando a Redenção que é a mesma coisa que a Encarnação. O que cantaram antes pode ser cantado hoje também e em toda Missa onde o mesmo mistério se celebra: et in terra pax hominibus bonae voluntatis. É o último grito de júbilo! Após, tudo cessa. Após, o silêncio. Após começa a Paixão.

ubicaritas

É uma das Missas de que mais gosto, esta da Quinta-Feira Santa. O Evangelho, com aquele início extraordinário onde Cristo, cum dilexisset suos qui erant in mundo[,] in finem dilexit eos (cf. Jo XIII, 1). Logo após o mandato, com o sacerdote — estola atravessada, à diácono, detalhe que só hoje percebi — lavando os pés aos fiéis. O Santo Sacrifício, pela última vez celebrado antes da gloriosa Vigília Pascal: e quando Cristo é elevado à adoração dos fiéis por sobre a cabeça do sacerdote, em vão se espera o toque da sineta de todas as Missas. Os sinos não mais dobram: Cristo elevado da terra, hoje, não recebe mais que a batida seca e abafada da matraca.

E ao final o Traslado.

O Sacrário aberto, os vasos sobre o altar, o sacerdote devidamente paramentado, de pluvial e umeral, a cruz processional — coberta — e os candelabros, o incenso elevando-se maviosamente pela igreja: passa a procissão pela nave central, e os fiéis vão-lhe atrás. Canta-se o Pange lingua, e é por volta de seis e meia da noite, a Igreja no centro da cidade: as pessoas param à porta para olhar. Os passos lentos da procissão e o canto, ritmado apenas pelo barulho rude da matraca de tempos em tempos, e todos aqueles acólitos de batina e sobrepeliz, e todas aquelas mulheres de véu, e a cena toda adquire contornos fantasiosos — parece vinda de muito longe, saída de muito distante no tempo, e é isso o que atrai tanto o olhar dos transeuntes.

Sim, é uma cena de um outro tempo: de há quase dois milênios atrás, em uma outra noite de lua cheia, quando um Homem ceou com Seus discípulos, e depois se retirou para o monte para rezar, e depois foi entregue por um de Seus amigos, e julgado às pressas, no meio da noite e, preso, passou a noite no cárcere. É este drama que hoje se repete ou, melhor, que na Sagrada Liturgia se faz hoje presente: são os contrastes da Quinta-Feira Santa! A Páscoa ritual celebrada. A Eucaristia instituída. O Horto. A Agonia. O Beijo. As correntes, os bofetões, as escarradas. Os julgamentos. A Prisão. E tudo isso expresso em uma celebração única, que começa com um Gloria e termina com um altar vazio. Um Gloria, explosão de alegria que há dois meses não era ouvido; o sacrário aberto e vazio, tristeza que os nossos templos não comportavam desde o ano passado.

Cristo Sacramentado na sacristia, no pequeno Altar da Reposição onde aguardará a Vigília do Sábado Santo. E o altar principal cerimonialmente desnudado, com as toalhas cuidadosamente dobradas e retiradas, enquanto o coral entoa o divisérunt sibi vestiménta mea. Não há bênção, não há despedida, não há nada; as pessoas levantam-se desordenadamente e apenas pouco a pouco deixam a igreja. Fica no ar um desconforto, uma sensação de que as coisas, por algum motivo, não estão terminadas. E de fato não estão. O Tríduo Santo está apenas iniciado. Diferente de todas as outras, esta Liturgia se prolonga para além do tempo normal da cerimônia e se arrasta por três dias. Somente no Sábado de Aleluia ela estará consumada. Até lá teremos muito o que viver.

Ainda os pecados e a comunhão sacramental

Na minha postagem anterior, demonstrei como era descabido ignorar a diferença entre a união com Deus alcançada pela alma em oração daquela proporcionada como efeito objetivo dos Sacramentos, em particular da comunhão eucarística. A oportunidade é propícia para um esclarecimento.

Alguém poderia observar que a graça dos Sacramentos é de fato objetiva, mas os seus efeitos em quem os recebe depende em grande medida das disposições interiores e subjetivas com as quais ele é recebido. Em linguagem teológica, importa não se esquecer de que os Sacramentos operam ex opere operato, mas só são aproveitados ex opere operantis. Os termos latinos são ruins de traduzir e fáceis de confundir, mas o sentido deles é bastante claro: por um lado, os Sacramentos validamente ministrados produzem, efetivamente, a Graça que lhes é própria, independente de quem os ministra ou quem os recebe (ex opere operato). Assim, a Santíssima Eucaristia é de fato o Corpo de Cristo, ainda que o padre seja um pecador degenerado ou que o povo duvide da realidade da transubstanciação. Por outro lado, as graças produzidas no fiel pela recepção da Santíssima Eucaristia (v.g. o perdão dos pecados veniais, o aumento da Graça Santificante, etc.) só se realizam na medida das boas disposições de sua alma (ex opere operantis), e destarte podem ser maiores ou menores dependendo de como se A recebe.

Para ilustrar essa verdade, imaginemos uma Missa celebrada por um padre impenitente e na qual comunga um fiel piedoso. Para ficar ainda mais claro, imaginemos que se trata de uma Missa à qual só estão presentes duas pessoas, o padre que a celebra e o fiel que a assiste. O padre pronuncia as palavras da Consagração sobre a hóstia: ali, a partir daquele instante, Cristo está real e substancialmente presente. Na hora da comunhão, a hóstia é partida em duas; uma parte recebe o padre, a outra recebe o fiel.

Uma só foi a Hóstia Consagrada, e cada um dos dois – padre e fiel – receberam o mesmíssimo Corpo de Cristo; que diferença, contudo, entre os efeitos que essa comunhão produz num e noutro! O fiel piedoso, que está em estado de graça e se aproxima devotamente da comunhão eucarística, aumenta a sua união com Cristo e recebe do Altíssimo maravilhosos frutos espirituais. O padre impenitente, em pecado não-confessado e sequer arrependido, comete um horrível sacrilégio e – nos dizeres de São Paulo – “come e bebe a própria condenação”. Esta tão grande diferença entre um e outro só é possível justamente por conta da realidade da presença substancial de Cristo sob as espécies consagradas. Os efeitos ex opere operantis dos Sacramentos dependem por completo da sua eficácia ex opere operato.

Voltando à comunhão espiritual, alguém pode dizer que um fiel pode alcançar com ela maiores graças do que outro obtém da comunhão eucarística. Ora, mas isso é óbvio e evidente. É claro que alguém pode receber maior fruto espiritual fazendo a comunhão de desejo do que comungando de fato o Santíssimo Corpo de Cristo, principalmente se estiver em pecado mortal. Nesse caso, aliás, muito ao invés de receber os frutos da comunhão eucarística, o fiel cometeria um gravíssimo pecado se ousasse se aproximar indignamente do Corpo de Deus. Claro que os doentes precisam de remédio, mas nem todos os Sacramentos são igualmente medicinais. Não é por outra razão que existe a tradicional diferença entre os Sacramentos de mortos (os que restituem a Graça Santificante perdida) e os de vivos (os que a pressupõem para que possam ser recebidos).

A diferença entre a comunhão espiritual e a sacramental não é simplesmente que esta dê “mais frutos” do que aquela. Reside no modo como esses frutos se dão. Existe uma Igreja visível com Sacramentos sensíveis porque o ser humano não é uma entidade desencarnada e, assim, a sua natureza exige elementos sensíveis no seu culto religioso: nada mais razoável do que a Religião do Deus Invisível que Se fez Carne por nós possuir também graças invisíveis que se nos fazem sensíveis – para que de certa maneira as vejamos e ouçamos, toquemos com nossas mãos – por meios dos Sacramentos. E nada mais lógico do que a recepção dos sacramentos visíveis exigir uma certa sintonia com a Igreja visível, em particular na coerência entre a vida que se leva e os ditames morais que Ela apregoa.

Ninguém está dispensado de rezar. A comunhão espiritual não é um consolo de segunda categoria para quem não pode receber a comunhão eucarística, não é sequer um seu substituto. É todo mundo que deve cultivar o desejo do Santíssimo Sacramento, e não somente os casais em segunda união (cf. Ecclesia de Eucharistia, nn. 35ss). Este santo desejo pede pela comunhão sacramental e em última instância tem o seu término nela, mas de modo algum legitima que ela seja tomada à força, violando-se a comunhão visível da Igreja que é dispensadora dos Sacramentos. Uma comunhão eucarística realizada à margem da comunhão eclesiástica é no fundo uma contradição em termos.

É no fundo uma coisa bastante irônica e curiosa que os que desejam subtrair-se à autoridade moral da Igreja, arrogando-se o direito de tratar os seus pecados como um assunto exclusivamente de foro interno – a ser resolvido somente entre eles próprios e Deus, sem intermediários humanos -, tenham essa tão desesperada necessidade da aprovação da Igreja visível, maximamente representada pela concessão litúrgica do Santíssimo Sacramento do altar.

Papa Francisco: «Sacramentos não são aparência, mas são a força de Cristo»

Os sacramentos não são aparência, não são ritos, mas são a força de Cristo; é Jesus Cristo presente nos sacramentos. Quando celebramos a Eucaristia é Jesus vivo, que nos une, que nos faz comunidade, que nos faz adorar o Pai. Cada um de nós, de fato, mediante o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia foi incorporado a Cristo e unido a toda a comunidade dos crentes. Portanto, se por um lado é a Igreja que “faz” os sacramentos, por outro são os sacramentos que “fazem” a Igreja, edificam-na, gerando novos filhos, agregando-os ao povo santo de Deus, consolidando a sua pertença.

[…]

Por isto é importante comungar, é importante que as crianças sejam batizadas cedo, que sejam crismadas, porque os sacramentos são a presença de Jesus Cristo em nós, uma presença que nos ajuda. É importante, quando nos sentimos pecadores, aproximar-nos do sacramento da Reconciliação. Alguém poderá dizer: “Mas tenho medo, porque o padre vai me repreender”. Não, não vai te repreender, você sabe quem você vai encontrar no sacramento da Reconciliação?  Encontrarás Jesus que te perdoa! É Jesus que nos espera ali; e este é um sacramento que faz crescer toda a Igreja.

Papa Francisco
Catequese
06 de novembro de 2013

Curtas: “Casamento Gay”, aborto na Irlanda e comunhão de joelhos

Três notícias que peço perdão por não aprofundar, mas que julgo não deverem passar em branco.

1. La aprobación del matrimonio gay en Francia no desactiva la oposición, vindo ao encontro do que eu falei aqui ontem. Não temos o direito de desanimar, há muita coisa que pode e deve ser feita. As tiranias um dia caem. Não esqueçamos.

2. Comissão médica derruba pretexto para legalizar aborto na Irlanda – lembram-se do caso? «Os médicos designados para a tarefa, felizmente, não cederam e apresentaram no relatório aquilo que constataram: a morte não teve nada a ver com o feto». Fica assim desmascarado mais um expediente escuso dos pró-aborto: a gritaria inicial não passava de gritaria mesmo, vil tentativa de manipular a opinião pública com base em mentiras. Não nos esqueçamos de que é assim que eles agem.

3. Nos passos de Bento XVI, o Papa Francisco continua distribuindo a Sagrada Comunhão somente na boca, e negando-A aos que tentam pegá-La com as mãos. Negando-A [p.s.: na verdade, o homem que tentou comungar na mão fê-lo não com o Santo Padre, e sim com um diácono, tendo sido este quem lhe A negou. Seguindo os passos do seu predecessor, o Papa Francisco distribuiu normalmente a comunhão (por intinção) diretamente na boca dos comungantes]. Eis um detalhe que devemos gentilmente lembrar aos que nos vierem opôr o Sumo Pontífice ao seu predecessor.

Jesus e os Muçulmanos

[Reproduzo narrativa sobre um Milagre Eucarístico ocorrido na Palestina no ano de 1879. Não o conhecia, e tampouco sei quem é o autor do livreto aqui reproduzido; encontrei-o no Adversus.

Este tipo de milagre não é novidade na história da Igreja; já no século XIII Santo Tomás de Aquino se referia aos casos em que “um menino” aparecia miraculosamente no Santíssimo Sacramento (Summa IIIa, q.76, a8). E o Aquinate dizia que, nestes casos, a Hóstia Consagrada «permanece verdadeiramente o Corpo de Cristo», digna de toda Glória e adoração. Bendito seja Deus no Santíssimo Sacramento do Altar.]

“Fé – Amor – Reparação” – D. Fernando Rifan

[Oportuníssimo o artigo semanal de D. Fernando Rifan, que reproduzo na íntegra abaixo, e que vem a lume no momento propício para reparar o estrago causado por certos divulgadores de opiniões heréticas cujas idéias costumam aparecer com mais destaque principalmente nos momentos em que é mais importante voltar-se para Deus. Afundar o mal na superabundância do bem é algo sábio; e depois de ter precisado descascar ontem as bobagens do sr. José Lisboa, poder oferecer aos meus leitores um pouco de catequese positiva a respeito da festa de Corpus Christi apresenta-se como um valoroso refrigério. Bendito seja Deus no Santíssimo Sacramento do Altar.]

FÉ – AMOR – REPARAÇÃO

 Dom Fernando Arêas Rifan*

Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solene festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, solenidade em honra do Corpo de Cristo, presente na Santíssima Eucaristia.

Por que tal festa? “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (Direito Canônico cân. 897).

O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).

Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, centro e o ponto culminante da vida da Igreja Católica, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa e adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos ultrajes, sacrilégios, profanações, e, até também, pelos abusos litúrgicos que infelizmente acontecem com relação à Santíssima Eucaristia.

O Papa João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, já nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambigüidades e reduções”.

Nessa festa de Corpus Christi, demonstremos, pois, a importância da Eucaristia na Igreja e a nossa fé, adoração, respeito, reparação e amor por Jesus Eucarístico.

 

*Bispo da Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney