A promoção de Fisichella

Via Fratres in Unum. Destaco:

O novo dicastério [Pontifício Conselho para a Nova Evangelização] representa, até este momento, a novidade mais consistente do pontificado de Bento XVI. Com este importante encargo, expressamente pensado e querido pelo Pontífice, Fisichella está destinado a aumentar o seu peso na Cúria Romana.

O texto original é de Andrea Tornielli. A parte do “Fisichella è destinato ad aumentare il suo peso nella Curia romana” está lá. Sou no entanto da opinião que vai ser o contrário: esta promoção é a “saída honrosa” encontrada pelo papa para tirar Dom Rino da presidência da Pontifícia Academia para a Vida, e deixá-lo ocupado com toda a organização necessária ao funcionamento do novo dicastério…

O poder da Igreja não residiu nunca na fama – pe. Antoine Coelho, LC

Sim, como podemos ainda atrever-nos a falar de vitória de Cristo? Como atrever-se ainda a falar de Cristo diante de altifalantes contrários tão poderosos? Na verdade, basta abrir a Bíblia para encontrar a resposta. Na Bíblia repete-se quase incansavelmente uma mensagem. É quase uma espécie de refrão. O homem que confia nas suas forças, no poder dos seus cavalos, na valentia dos seus guerreiros, na vantagem da sua situação, acaba derrotado. O David piedoso e de coração sincero, embora seja fraco e sem experiência, termina derrotando o Golias bem treinado mas presunçoso. A “fraqueza de Deus” é mais forte que a força dos poderosos e é precisamente através da fraqueza que se expande a invencível graça de Deus. Quem se crê forte já não pode ser um veículo eficaz da salvação.

Em realidade, a nossa força não pode ser outra que a aparente fraqueza do amor. É precisamente essa força, ou se quisermos, essa falsa fraqueza, que Cristo pede a Pedro no Evangelho deste domingo. Não lhe pergunta se é sábio, se será um grande planeador, um homem hábil ou eficaz, um líder capaz…Somente lhe pergunta se o ama realmente. O poder da Igreja não residiu nunca na sua fama. Os cristãos foram muitas vezes considerados canibais e assassinos no tempo dos romanos. Tampouco na sua capacidade de resposta. Somos atacados através da manipulação da informação, mas não podemos usar este tipo de armas. É toda uma gama ampla e rica de armas astuciosas, que não poderemos nunca utilizar, pois queremos permanecer fiéis ao amor. Mas aí está: o nosso poder é precisamente e somente o amor, ou seja, o Espírito Santo.

“Pedro, amas o Senhor?” É essa a pergunta decisiva acerca de um Papa. “Bento XVI, amas Cristo?” Sabemos que sim pelo martírio que está a sofrer com paz e com fé. Ainda hoje assisti à catequese que sempre dá às quartas feiras. Parece que nada lhe tinha sucedido nas semanas anteriores. Mas sim, muitas coisas sucederam que paradoxalmente tornam o seu ministério mais fecundo.

E mais que nunca também a nossa palavra pode ser fecunda. Quando tudo parecia ter-se tornado mais difícil em Jerusalém, os apóstolos e fiéis elevaram essa oração ao Senhor: “…verdadeiramente nesta cidade aliaram-se Herodes e Pilatos com as noções e os povos de Israel contra o teu servo Jesus, que ungiste para realizar o que, com o teu poder e sabedoria, havias pré-determinado que sucedesse. E agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos que possam pregar a tua Palavra com toda a valentia”. Acabada sua oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos, e todos ficaram cheios do Espírito Santo e pregavam a Palavra de Deus com valentia.

Padre Antoine Coelho, LC
Homilia do III Domingo da Páscoa

Verdade e evangelização

[T]odos os que desejam influenciar a vida social com o espírito do Evangelho devem estar atentos à íntima relação entre comunicação e cultura; se se deseja intervir positivamente na criação e transmissão de modos de vida e de visões do homem, é preciso atender à consistência e ao previsível desenvolvimento das ideias, mais do que à pretensa intenção das pessoas.

Padre Ángel Rodríguez Luño

Interessante este texto intitulado “Comunicar as próprias convicções”, escrito pelo padre Ángel Rodríguez Luño e do qual retiro a frase em epígrafe. Não conhecia Sua Reverendíssima; em uma rápida pesquisa pela internet, encontrei este outro texto sobre Relativismo, Verdade e Fé de sua autoria, o que de per si – confesso – é já capaz de atrair a minha simpatia. Nos dias de hoje, encontrar um sacerdote que tenha a coragem de – seguindo os passos de Sua Santidade, o Papa Bento XVI – opôr a Fé Católica ao Relativismo Dogmático dos nossos dias, é encontrar um tesouro.

No seu ensaio disponível no site da Opus Dei, Sua Reverendíssima fala de uma série de coisas importantes, diante das quais a coisa que é mais de se lamentar é a brevidade empregada na análise de cada uma delas. “Verdade e Liberdade”, “Ética e Política”, “Ética e Estado”, “autonomia das realidades temporais”: por todos esses temas navega pe. Ángel, falando sucintamente, mas com propriedade. O liame que une todos esses temas é uma espécie de “guia prático” oferecido, que intenta dar conselhos a fim de que a comunicação das próprias convicções – como se diz no título – possa ser eficaz e proveitosa.

Contra o relativismo, p.ex., diz o autor do ensaio: “para que a mensagem evangélica seja rectamente entendida, torna-se necessário evitar qualquer palavra, raciocínio ou atitude que possa fazer pensar que um cristão coerente sacrifica a liberdade em nome da verdade”. Sobre Ética e Estado, profere a seguinte sentença: “[a] firmeza nos princípios éticos deve ser – e parecer – compatível com a consciência de que a realização de bens pessoais e sociais num contexto histórico, geográfico e cultural determinado, se caracteriza por uma contingência parcialmente insuperável”. E assim segue, apresentando, para diversas situações, a melhor maneira de agir, a fim de que a mensagem católica seja melhor recebida e possa frutificar mais.

Pensando um pouco sobre tudo isso, eu não posso deixar de concordar com a – empírica – esterilidade de algumas defesas intransigentes de posições (atenção! Estou falando da forma de apresentação, não do conteúdo!) que, não obstante, são [as posições] corretas. Como já tive oportunidade de comentar aqui, há que se diferenciar a coisa que se está dizendo da maneira como ela é dita. Tenho, no entanto, um certo receio – fundamentado! – de que a exagerada preocupação com a forma possa comprometer a transmissão do conteúdo, coisa que não se pode admitir de nenhuma maneira. Afinal de contas, é a forma de exprimir-se que precisa estar a serviço da Verdade, e não o contrário; tornar “mais palatável” a mensagem do Evangelho a fim de que ela possa ser melhor recebida pelas pessoas, mas de modo que Ela se apresente desfigurada ou mutilada, obviamente não é prestar um bom serviço ao anúncio do Evangelho – ao contrário, é traí-Lo. Tais pressupostos, acredito que sejam um bom indicativo para se saber, diante de cada caso concreto, como se expressar e como não se expressar – este que talvez seja um dos mais críticos problemas da evangelização do nosso século.

P.S.: fui informado por um sacerdote amigo que D. Ángel não é bispo, e sim presbítero. As referências a ele foram alteradas para usar a forma de tratamento correto. Peço desculpas pela falha.