[T]odos os que desejam influenciar a vida social com o espírito do Evangelho devem estar atentos à íntima relação entre comunicação e cultura; se se deseja intervir positivamente na criação e transmissão de modos de vida e de visões do homem, é preciso atender à consistência e ao previsível desenvolvimento das ideias, mais do que à pretensa intenção das pessoas.
Padre Ángel Rodríguez Luño
Interessante este texto intitulado “Comunicar as próprias convicções”, escrito pelo padre Ángel Rodríguez Luño e do qual retiro a frase em epígrafe. Não conhecia Sua Reverendíssima; em uma rápida pesquisa pela internet, encontrei este outro texto sobre Relativismo, Verdade e Fé de sua autoria, o que de per si – confesso – é já capaz de atrair a minha simpatia. Nos dias de hoje, encontrar um sacerdote que tenha a coragem de – seguindo os passos de Sua Santidade, o Papa Bento XVI – opôr a Fé Católica ao Relativismo Dogmático dos nossos dias, é encontrar um tesouro.
No seu ensaio disponível no site da Opus Dei, Sua Reverendíssima fala de uma série de coisas importantes, diante das quais a coisa que é mais de se lamentar é a brevidade empregada na análise de cada uma delas. “Verdade e Liberdade”, “Ética e Política”, “Ética e Estado”, “autonomia das realidades temporais”: por todos esses temas navega pe. Ángel, falando sucintamente, mas com propriedade. O liame que une todos esses temas é uma espécie de “guia prático” oferecido, que intenta dar conselhos a fim de que a comunicação das próprias convicções – como se diz no título – possa ser eficaz e proveitosa.
Contra o relativismo, p.ex., diz o autor do ensaio: “para que a mensagem evangélica seja rectamente entendida, torna-se necessário evitar qualquer palavra, raciocínio ou atitude que possa fazer pensar que um cristão coerente sacrifica a liberdade em nome da verdade”. Sobre Ética e Estado, profere a seguinte sentença: “[a] firmeza nos princípios éticos deve ser – e parecer – compatível com a consciência de que a realização de bens pessoais e sociais num contexto histórico, geográfico e cultural determinado, se caracteriza por uma contingência parcialmente insuperável”. E assim segue, apresentando, para diversas situações, a melhor maneira de agir, a fim de que a mensagem católica seja melhor recebida e possa frutificar mais.
Pensando um pouco sobre tudo isso, eu não posso deixar de concordar com a – empírica – esterilidade de algumas defesas intransigentes de posições (atenção! Estou falando da forma de apresentação, não do conteúdo!) que, não obstante, são [as posições] corretas. Como já tive oportunidade de comentar aqui, há que se diferenciar a coisa que se está dizendo da maneira como ela é dita. Tenho, no entanto, um certo receio – fundamentado! – de que a exagerada preocupação com a forma possa comprometer a transmissão do conteúdo, coisa que não se pode admitir de nenhuma maneira. Afinal de contas, é a forma de exprimir-se que precisa estar a serviço da Verdade, e não o contrário; tornar “mais palatável” a mensagem do Evangelho a fim de que ela possa ser melhor recebida pelas pessoas, mas de modo que Ela se apresente desfigurada ou mutilada, obviamente não é prestar um bom serviço ao anúncio do Evangelho – ao contrário, é traí-Lo. Tais pressupostos, acredito que sejam um bom indicativo para se saber, diante de cada caso concreto, como se expressar e como não se expressar – este que talvez seja um dos mais críticos problemas da evangelização do nosso século.
P.S.: fui informado por um sacerdote amigo que D. Ángel não é bispo, e sim presbítero. As referências a ele foram alteradas para usar a forma de tratamento correto. Peço desculpas pela falha.