Eu quero ter um milhão de amigos!

Eu quero ter um milhão de amigos! E, sim, reconheço com muita facilidade que é impossível. Qual é, então, a razão da insistência no engano? Por que são tantas as pessoas que erram e continuam a errar?

A reflexão que o padre Demétrio traz é interessante. Não é a primeira vez que o assunto é levantado: afinal, qual o valor das amizades virtuais? Muito, sem dúvidas, e disso eu próprio sou testemunha. A questão não é simplesmente essa; trata-se de uma crítica à necessidade – criada pelos novos meios de comunicação – de se “colecionarem” amigos virtuais. A multiplicidade termina por tomar o lugar da individualidade. A quantidade de amigos termina por fazer com que o conceito de amizade caia: termina por fazer com que “qualquer um” seja um amigo e, portanto, as amizades verdadeiras acabam por se perder num oceano de “amigos” – talvez fosse mais acertado dizer “colegas”, quando muito – virtuais.

Penso que o problema está colocado de maneira que não se pode questionar. É simplesmente uma verdade factual que as pessoas tendem a expôr a sua intimidade na internet de uma maneira que, há algum tempo, não teriam coragem de fazer nem diante de bons amigos verdadeiros. É fato que ter amigos hoje em dia é mais fácil do que nunca e, mesmo assim, os amigos verdadeiros continuam sendo jóias raras – talvez até mais raras do que antigamente. Isso porque os falsos amigos – as superficiais amizades virtuais – terminam por tomar o lugar das amizades verdadeiras. Quando as moedas falsas entram em circulação e as pessoas não sabem distingui-las das verdadeiras… é alguma surpresa constatar que o dinheiro de verdade tende a existir cada vez menos?

Mas a pergunta que realmente incomoda aqui, como já coloquei anteriormente, é: por que as pessoas teimam em agir desta maneira? A despeito de todos os conselhos, de tanto quanto já se escreveu sobre o assunto, e até mesmo das (inevitáveis) decepções com estas amizades que, cedo ou tarde, terminarão por aparecer… a despeito de tudo isso, por que as pessoas insistem em colecionar amigos e – pior ainda! – esperam encontrar, em cada um desta multidão, o tesouro da amizade verdadeira?

A única explicação possível é, não surpreendentemente, bastante simples: nós fomos feitos para termos um milhão de amigos. Também aqui se nos afigura aquele abismo insaciável de nossa alma que é, em última instância, evidência da existência de Deus: há um vazio em nós que não conseguimos completar neste mundo. Sentimos a necessidade de preenchê-lo e, por mais que o tentemos, não o conseguimos. Do mesmo modo, temos desejo – quiçá mais: necessidade! – de incontáveis pessoas com as quais nos relacionarmos. E o que é o sucesso estrondoso (e, não raro, irresponsável) das redes sociais, senão uma tentativa de resposta humana (e, por definição, insuficiente) para as nossas ilimitadas capacidade de amar e necessidade de sermos amados?

Sim, eu quero ter um milhão de amigos. E, se o bom Deus permitir, eu o terei: não neste mundo, mas um dia, junto a Ele. Um amigo fiel é um tesouro, como dizem as Escrituras Sagradas; mas Deus nos fez para incontáveis tesouros. Vislumbramos já isso cá na terra, no mistério da comunhão dos santos – que pode ser vista, afinal de contas, como uma grande rede de amizades verdadeiras. Uma dia, veremos face a face. Teremos aquilo que queremos, e que não somos capazes de conseguir nesta terra. Teremos aquilo que só Deus nos pode conceder.

The Social Network (2010)

[ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS!]

Assisti The Social Network na quarta-feira passada. Gostei bastante do filme. Ontem, conversando com um amigo que encontrei casualmente no aniversário de um amigo em comum, descobri duas coisas interessantes: primeiro, que este meu amigo criara um blog; e, segundo, que ele escrevera precisamente sobre este filme, do qual também havia gostado bastante. Também eu quero tecer algumas rápidas linhas sobre a película, não exaustivas. Desnecessário dizer que recomendo o filme.

O protagonista, Mark Zuckerberg, é um personagem interessantíssimo. Consegue provocar, nos que assistem ao filme, sentimentos tanto de ódio quanto de compaixão. Um gênio, sem dúvidas – mas um gênio extremamente boçal. A maneira como ele trata as pessoas que lhe são próximas chega a irritar os que assistem ao filme – “meu Deus, como ele pode ser tão crápula?”; mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, a maneira como ele despreza o dinheiro e o poder em benefício das pessoas que ama provoca admiração – “como ele pode ser tão desapegado?”.

Quando li a sinopse do filme, havia entendido que o garoto construíra o Facebook após levar um fora de sua então namorada. Acontece que não é exatamente assim; do início do filme, depreende-se que Mark detém completa e exclusivamente a culpa pelo fim do seu relacionamento. Trata a sua namorada com um ar superior que não se usa nem com o pior inimigo. Frases como “tu irás, comigo, conhecer pessoas que de outra maneira jamais irias conhecer” e “não, fica aqui comigo, tu não precisas estudar, porque estás na Universidade X” (não me recordo o nome dela agora, mas é clara a conotação, no filme, de que se trata de uma universidade de nível inferior) irritam profundamente – e com total razão – a garota. Ela termina com ele, ele a xinga no blog, e tudo parece estar muito certo.

Mas não está porque, a partir daí, a vida de Mark é uma ascenção meteórica, enquanto a menina continua como uma personagem apagada e secundária em toda a trama. No entanto, ela volta e sempre aparece, em diversas passagens do jovem multimilionário que não está disposto, de nenhuma maneira, a desistir dela. Chega a ser cômico! Ele tenta desculpar-se com ela e, dela, só recebe desprezo. Mesmo assim, ele pergunta em um certo momento a Sean Parker (criador do Napster, que o está ajudando com o Facebook) se ele ainda pensa na garota cujo fora o fez criar o Napster (a história de ambos é parecida). Sean nem lembra mais da garota, mas Mark não a esquece. Não importa quanto dinheiro, poder e fama ele obtenha: ele simplesmente não a esquece! É uma interessantíssima maneira de se mostrar o quanto as pessoas valem mais – infinitamente mais – do que dinheiro e poder. A ponto de até um perfeito cretino como Mark Zuckerberg percebê-lo! A mensagem é tanto mais forte quanto maior é o contraste entre a personalidade do criador do Facebook e a sua insistência em fazer as pazes com a antiga namorada.

Tanto que a cena final chega a ser apoteótica: em uma sala vazia, após as diversas audiências judiciais envolvendo os autores de duas ações milionárias contra o Facebook, Mark fica sozinho e liga o computador. Abre o seu Facebook. Procura por Erica Albright (a ex-namorada). Vacila um pouco, mas clica afinal em “add as friend” no seu perfil. Olha para a tela. Aperta F5 (para atualizar, e ver se ela já aceitou o convite). Olha para a tela. Atualiza-a. Olha de novo. Atualiza novamente. E assim, repetidas vezes, termina o filme.

O criador do Facebook, o mais jovem bilionário do mundo, mendigando a atenção da ex-namorada na rede virtual por ele próprio criada! Após perder alguns milhões de dólares nas duas ações movidas contra ele, isto simplesmente não ocupa a sua atenção. Não o preocupa. A única coisa que o incomoda é que ele não conseguiu fazer as pazes com Erica Albright. Ele conseguiu tudo, menos isso, e é exatamente isso que o preocupa e incomoda, é o que torna a sua vida incompleta, é o que ele deseja a todo custo conseguir ainda. O filme não chega a dizer isso, mas eu fiquei imaginando se, caso lhe fosse dado escolher entre o dinheiro e a garota, Mark Zuckerberg não escolheria a garota.

Independente disso, o fato é que – claramente – o dinheiro e o poder exercem menos fascínio sobre o criador do Facebook do que a possibilidade de fazer as pazes com a antiga namorada. Ele até admite perder algum dinheiro, mas a possibilidade de não reatar os laços com Erica Albright é o que, sem dúvidas, o aterroriza verdadeiramente, é o que lhe tira o sentido da vida. Porque ela se apresenta, afinal de contas, como “algo” – melhor dizendo, como alguém – sobre a qual todo o seu dinheiro e poder não têm nenhuma influência. A antiga namorada vale mais do que ser dono do Facebook? O filme mostra que certas coisas não têm preço. E que até mesmo quem está cheio de orgulho, de poder, de fama e de dinheiro é capaz de o perceber e de se incomodar com isso.

“Pope to you”

Gostaria de concluir esta mensagem dirigindo-me, em particular, aos jovens católicos: para encorajá-los a trazer o testemunho de sua Fé para o mundo digital. Queridos irmãos e irmãs, eu peço a vocês que introduzam na cultura deste novo ambiente de comunicações e tecnologia da informação os valores sobre os quais vocês construíram as suas vidas.

Bento XVI, 43º Dia Mundial das Comunicações.

Sir, yes sir! =)

– Foi inaugurado o portal “Pope to You” da Santa Sé. Não tive ainda tempo de dar uma boa olhada, para ver se é realmente útil; as promessas, no entanto, são animadoras.

– O Gustavo comentou de manhã um pouco sobre o assunto; vejam aqui.

– Em ZENIT: Papa convida jovens a serem missionários do mundo digital.

– A mensagem acima também está disponível em português (só depois eu vi) no site do Vaticano.

Aux armes, portanto. Deus lo Vult!