Se houver verdadeira demonstração de que a Terra circunda o Sol, então é preciso reinterpretar as Escrituras

Alguém comentou aqui no blog:

Sou catequista, mas nunca engoli a história da criação do Mundo e do homem… mas finalmente o Papa se pronunciou (Que alívio).

Por for, fale-me à respeito…

Papa Francisco diz que Big Bang e Teoria da Evolução não são incompatíveis com cristianismo – Catholicus

http://catholicus.org.br/papa-francisco-diz-que-big-bang-e-teoria-da-evolucao-nao-sao-incompativeis-com-cristianismo/

A Igreja Católica é uma sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para guardar e transmitir as verdades necessárias à salvação de toda criatura humana. O escopo d’Ela é, portanto, restrito e não ilimitado. Necessário aos homens para que se salvem é saberem em quê devem crer e como devem agir; por isso a Igreja é Mestra Infalível em Fé e Moral, mas não em ciências naturais.

Não cabe portanto propriamente à Igreja pronunciar-se sobre o “Big Bang” ou sobre a “Teoria da Evolução”: estas coisas estão em princípio fora da Sua esfera de competência. No entanto, como a realidade é uma só e como a Revelação contém uma série de afirmações a respeito do mundo (e.g. que houve uma Criação, que o homem cometeu um Pecado Original, que Nosso Senhor «padeceu sob Pôncio Pilatos» etc.), torna-se por vezes necessário aparar algumas arestas que eventualmente surjam de outras alegações feitas pelas ciências seculares — como a cosmologia, a biologia evolutiva ou a história.

De antemão é preciso dizer que o núcleo essencial de afirmações da Doutrina Católica a respeito destes temas é mínimo. Não é necessário que o sol gire em torno da terra, que estejamos atualmente em 5.777 anno mundi ou que Deus tenha criado direta, específica e separadamente cada raça de cachorro que existe na face da terra, por exemplo. Esses detalhes (conquanto, reconheça-se, provavelmente não tenham sido sempre assim considerados por muitos cristãos) são periféricos e meramente acidentais na história da Salvação: ou seja, eles tanto podem ser assim como de diversas outras maneiras sem que isso altere fundamentalmente a natureza humana ou a necessidade do Evangelho.

Hoje nós certamente vemos isso com mais clareza do que no passado; no entanto, esta consciência sempre esteve presente na Igreja. Cite-se, por todos, a afirmação do inquisidor de Galileu, São Roberto Belarmino, ao comentar sobre a hipótese heliocêntrica:

Digo que se houvesse uma verdadeira demonstração de que o Sol está no centro do mundo e a Terra no terceiro céu, e que o Sol não circunda a terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso ir com muita consideração em explicar as Escrituras que parecem contrárias, e antes dizer que não as entendemos do que dizer que é falso o que se demonstra (Carta a Antonio Foscarini, escrita durante o processo de Galileu).

Se houver verdadeira demonstração de que a Terra circunda o Sol então é preciso reinterpretar as Escrituras: penso que se deve conceder ousadamente ao princípio aplicação universal. É preciso ser generoso e conceder autonomia para que os distintos ramos das ciências humanas cheguem às suas próprias conclusões acerca dos seus objetos próprios de estudo: porque se houver verdadeira demonstração de qualquer coisa da natureza então é possível coaduná-la com a Doutrina Católica, porque um mesmo Deus é o autor dos dois livros e, sendo perfeitíssimo, não pode enganar-Se e nem nos enganar.

Sim, a razão humana está sujeita a falhas e, portanto, as afirmações da ciência podem estar simplesmente erradas. Rejeitá-las liminarmente, no entanto, somente porque elas pareçam contradizer algum aspecto do Catolicismo é indolência intelectual: a razão iluminada pela Fé é sem dúvidas capaz de soluções mais elaboradas. Além do mais, há aqui um risco muito mais grave: pior, muito pior do que rejeitar um avanço científico legítimo por não conseguir assimilá-lo coerentemente no interior de uma cosmovisão católica é repudiar a Doutrina Católica por julgá-la incompatível com o que “a Ciência diz” — e esta limitação da inteligência já levou muitos homens à perdição, é um verdadeiro obstáculo à Fé que qualquer apostolado que se pretenda eficaz precisa esforçar-se por eliminar.

Para ajudar os ignorantes a não caírem em tão funesto erro, assim, é importante mostrar como muitas coisas — mesmo as mais estapafúrdias e improváveis do mundo — poderiam ser compatíveis com o Catolicismo, ainda que não sejam efetivamente verdadeiras. É preciso seguir o exemplo de Santo Tomás. Uma vez o perguntaram se era verdade que os nomes de todos os Bem-Aventurados estariam escritos em um pergaminho no céu; o frade, com a sua peculiar genialidade, respondeu que não achava que fosse assim, mas ao mesmo tempo não havia problema em acreditar nisso (cf. o capítulo 5.2 da biografia de Santo Tomás escrita por Chesterton).

E não haver problema em acreditar que um dia vai existir um manuscrito quilométrico flutuando na troposfera significa exatamente isto: esta hipótese, por extravagante que seja, é compatível com a alegação católica de que Cristo há-de vir no fim dos tempos «para julgar os vivos e os mortos». E se isso é compatível com a Fé, quantas outras coisas não o poderiam ser igualmente?

Humanos evoluindo de animais? Universo criado a partir de uma explosão? Seres extraterrestres? Ora, o que são todas essas hipóteses perto do heliocentrismo copernicano ou do pergaminho adejante tomista? Se um inquisidor não se furtou a conciliar a hipótese de Galileu com a autoridade das Escrituras e se um frade medieval postulou a incolumidade do Catolicismo mesmo diante de um velino que cobrisse todo o céu, por que não haveríamos nós de também envidar esforços para mostrar a compatibilidade da Fé Católica com as hipóteses — por extravagantes que sejam! — aventadas por nossos contemporâneos?

A Igreja, em regra, não pode fazer afirmações sobre o mundo natural dotadas de um maior grau de certeza do que aquele alcançável pela razão humana. A autoridade d’Ela é espiritual. O que a Igreja pode — e o que todos os católicos podemos — é compatibilizar os dados da razão (não apenas os reais como também os meramente possíveis) com os da Fé. É nesta clave que devem ser enquadradas todas as questões referentes às interações entre religião e ciência que, hoje, são alardeadas com uma beligerância totalmente descabida — e que arrastam tantos à apostasia desnecessariamente.

Em tempo: o Big Bang jamais foi incompatível com o Cristianismo. Afinal de contas, quem primeiro concebeu a sua hipótese foi, precisamente, um padre católico.

E ainda, desde Pio XI Pio XII que «o magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente» (Humani Generis, 37).

Sem isso a vela da ciência tremeluz e bruxuleia

Terminei há uns dias a leitura tardia de O mundo assombrado pelos demônios com uma certa simpatia pelo Sagan. Ele me pareceu alguém sinceramente convencido de suas idéias: alguém honestamente convicto de que a ciência somente — e somente a ciência — é capaz de melhorar o mundo e responder às angústias últimas do ser humano sobre quem somos e de onde viemos. De certa maneira, parece que ele realmente acha que os cientistas são uma espécie de casta sacerdotal (embora provavelmente ele rejeitasse a terminologia) capaz de obter resultados melhores na evolução do ser humano do que foram capazes os outros cleros que a precederam.

A minha simpatia é provavelmente devida à sensação — que perpassa toda a obra — de que ele quer acertar e, mais que isso!, que ele realmente justifica de maneira correta mesmo as posições equivocadas que adota. Os capítulos iniciais sobre os extraterrestres são talvez o exemplo mais eloquente disso: não importa, diz o Sagan, se ele particularmente acredita ou não em vida inteligente extraterrena, o que interessa é que não há indícios seguros de sua existência. E para além disso, as afirmações das alegadas vítimas de abdução não devem ser liminarmente excluídas, mas sim analisadas criteriosamente: é analisando-as que ele conclui por explicações alternativas.

Não importa tanto que explicações sejam essas, mas sim o raciocínio que ele usa — traçando um paralelo entre as abduções extraterrestres contemporâneas e os assaltos medievais de demônios noturnos: incubi e succubi. Com isso ele conclui que os dois fenômenos são parecidos demais para receberem explicações diferentes. E, como as antigas possessões são falsas, as modernas abduções o são também igualmente.

[É aliás curioso que ele avente a hipótese de que os relatos históricos de demônios sexuais tenham sido, na verdade, a forma que os medievais encontraram para descrever, dentro do seu ambiente cultural, a ação de extraterrestres fazendo experiências com seres humanos. Mas o que é ainda mais curioso é que ele não faça o raciocínio inverso — e sequer lhe passe pela cabeça enxergar influências demoníacas nos que hoje dizem ser importunados por seres de outro planeta.]

Mas o interessante aqui é o que se esconde por trás dos olhos luzidios dos marcianos. Sob a comparação entre demônios e extraterrestres está firmemente estabelecido o pressuposto de que a realidade é uma só e, portanto, deve ser explicável à luz de uma cosmovisão abrangente e coerente. Por um lado, nenhum aspecto da realidade deve ser posto de lado por um pensamento que se pretenda científico; por outro lado, não é razoável multiplicar explicações díspares para fenômenos análogos entre si. Só isso já coloca o Sagan em um patamar superior aos materialistas da ATEA e congêneres com os quais é por vezes tão monótono cruzar espadas. Ele não é um solipsista: é alguém com uma profunda admiração pelo ser.

Através das páginas do livro é possível perceber que Sagan crê firmemente que a realidade existe independente do que pensemos a respeito dela e independente da maneira como gostaríamos que ela fosse. Após ler o livro, fica a sensação de que faltou apenas um passo (um passo pequeno!) para que ele entendesse que a realidade existe e é como é mesmo a despeito de eventuais impropriedades dos instrumentos — como a ciência — mediante os quais nos vem o conhecimento do mundo. Afinal de contas, a ciência cartesiana é um recorte da realidade — mais ou menos como, por exemplo, mutatis mutandis, a visão, conquanto importantíssima, é também um recorte, e simplesmente não faz sentido dizer que a música de Beethoven não existe pelo fato (tecnicamente exato) de que os nossos olhos não a podem ver.

A realidade existe, a realidade é uma só, a realidade é como é independente da nossa vontade: ouso dizer que tudo isso é dado por pressuposto pelo astrofísico americano. Mas parece que ele pensa que a ciência é capaz de açambarcar toda a realidade; ou, pelo menos, que as parcelas da realidade que estejam fora das fronteiras da ciência não mereçam tanta atenção, não sejam capazes de adquirir uma validade intersubjetiva.

Contudo o mesmo Sagan reconhece os limites da ciência quando insiste (e o faz reiteradas vezes ao longo do livro) na necessidade do cultivo do aspecto ético também entre os cientistas, do pensamento crítico como instrumento para investigar também questões éticas. Ora, e o que é ética? Das duas, uma: ou é uma coisa que tem validade para além das preferências subjetivas dos diversos atores sociais, ou é algo que ninguém sabe e nem pode saber o que é. Se fosse este último caso, então a prédica por ética na ciência e em prol do bem da humanidade seria um puro clamor vazio. Por outro lado, se é possível aos seres humanos concordarem a respeito do que é certo e o que é errado, então é possível chegar a consensos que não derivem de experimentos laboratoriais.

Em suma, o livro, em seus aspectos substanciais, poderia perfeitamente ter sido escrito por um cristão convicto: o desejo pela verdade, o deslumbramento diante da ciência (por exemplo, é tocante o capítulo onde ele descreve como Maxwell descobriu que a luz é uma radiação eletromagnética; e Maxwell era abertamente protestante), a preocupação com distinguir o que é certo daquilo que faz as pessoas se sentirem bem. Tudo isso é bom e é justo, e mais: tudo isso é essencialmente cristão e somente no Cristianismo encontra a sua realização plena. Sagan morreu dois anos antes de S. João Paulo II publicar a sua magistral Fides et Ratio, e tenho pouca esperança de que o cientista se convertesse à Religião verdadeira após a leitura da encíclica pontifícia; mas creio que ele seria muito capaz de apreciar, por exemplo, esta passagem, que vai ao encontro de muito o que ele escreveu no seu livro sobre a ciência como vela no escuro:

«Todos os homens desejam saber», e o objecto próprio deste desejo é a verdade. A própria vida quotidiana demonstra o interesse que tem cada um em descobrir, para além do que ouve, a realidade das coisas. Em toda a criação visível, o homem é o único ser que é capaz não só de saber, mas também de saber que sabe, e por isso se interessa pela verdade real daquilo que vê. Ninguém pode sinceramente ficar indiferente quanto à verdade do seu saber. Se descobre que é falso, rejeita-o; se, pelo contrário, consegue certificar-se da sua verdade, sente-se satisfeito. É a lição que nos dá Santo Agostinho, quando escreve: «Encontrei muitos com desejos de enganar outros, mas não encontrei ninguém que quisesse ser enganado». Considera-se, justamente, que uma pessoa alcançou a idade adulta, quando consegue discernir, por seus próprios meios, entre aquilo que é verdadeiro e o que é falso, formando um juízo pessoal sobre a realidade objectiva das coisas. Está aqui o motivo de muitas pesquisas, particularmente no campo das ciências, que levaram, nos últimos séculos, a resultados tão significativos, favorecendo realmente o progresso da humanidade inteira.

Fides et Ratio, 25

Todos os homens desejam saber. Quem o disse foi o Estagirita, séculos antes de S. João Paulo II o repetir em uma encíclica sobre Fé e razão. Mil e quinhentos anos depois, S. Tomás acrescentou que «a natureza, objecto próprio da filosofia, pode contribuir para a compreensão da revelação divina» (FR, 43). A despeito dos fracassos pessoais do Sagan, é possível conciliar a Fé e a Razão: sem isso a vela da ciência tremeluz e bruxuleia, e não é capaz de vencer a escuridão que porfia por engolfá-la.

Somente na harmonia entre a Fé e a Razão é possível conhecer a verdade toda, em todos os seus aspectos — inclusive os éticos — e somente assim é possível alcançar um verdadeiro progresso para os indivíduos e as nações. E isto precisa ser defendido com toda a diligência, e ensinado às nossas crianças e aos nossos crentes e aos nossos ateus. Estou convencido de que esta, sim, é a melhor maneira de fazer frente à escuridão provocada pelos demônios que assombram o mundo onde vivemos — escuridão contra a qual o Sagan obteve apenas uma vitória parcial e incompleta.

Pe. Eugenio Maria e o «embate de ciência versus fé»

Parece que ontem à noite foi ao ar um episódio do Conexão Repórter sobre milagres, onde o pe. Eugenio Maria foi entrevistado a título de “milagreiro” pelo Roberto Cabrini. Não vi o programa, aliás nem sabia dele; somente hoje vi o assunto ser comentado nas redes sociais. Não sei, portanto, em detalhes nem o conteúdo apresentado no SBT e nem a forma com a qual ele foi abordado.

Apenas me interessei pelo assunto porque eu já conheci o padre Eugenio Maria. Já estive numa das casas da FMDJ (agora não lembro se foi o Regina Pacis ou o Menino Jesus) em São Paulo, na companhia do Pe. Mateus Maria que, à época, era ligado à Fraternidade. Faz anos. O pe. Eugenio estava convalescendo — de uma cirurgia, penso, se a memória não me trai. Troquei com ele algumas breves palavras apenas. Não identifiquei então nenhum traço de charlatanismo ou abuso psicológico, muito pelo contrário: pareceu-me ele, então, um homem muito sério e muito comedido. Não acompanhei depois, à distância, o trabalho dele; mas guardei uma muito boa impressão da visita.

O Catolicismo, como já defendi incontáveis vezes aqui, é a religião do Homem das Dores e não da prosperidade material. Na senda de uma infinidade de santos, é preciso afirmar com clareza que o maior distintivo da religião cristã são as lágrimas e não os milagres. No sofrimento resignado dos cristãos — do qual os mártires enfrentando as feras do Coliseu são talvez o exemplo mais eloquente — o Cristianismo se mostra mais verdadeiro que nos milagres da Legenda Aurea. Foi o sangue dos mártires e não os milagres dos Apóstolos o que nos primórdios do Cristianismo se chamou de semente da Igreja.

Isso — atenção — não significa que os milagres não existam; significa que desempenham um papel secundário na vida cristã. Nosso Senhor um dia censurou os que Lhe pediam um milagre (cf. Mt XVI, 4); não é portanto em torno da busca pelo extraordinário que se deve erigir o itinerário da Fé. Há aliás uma outra passagem talvez até mais eloquente: encontra-se no Cap. XVI do Evangelho de S. Lucas, do versículo 20 até o final. A passagem é bem conhecida. O rico morreu e foi para o inferno. Lá, atormentado pelas chamas, pediu a Abraão que fizesse um milagre em favor dos seus irmãos (“Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro [então falecido] à casa de meu pai”), a fim de que eles se emendassem e não terminassem no inferno também (“que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos”).

A resposta de Abraão é bastante dura: “Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos” (v. 31). O alcance desta afirmação talvez nos passe despercebido. Não se trata simplesmente de afirmar que existam pessoas que não se converteriam nem mesmo à vista de um milagre retumbante: antes, trata-se de estabelecer que o testemunho de «Moisés e os profetas» tem maior capacidade de convencimento do que a exortação de um morto recém levantado da tumba!

sbtpedia

A aplicação disso à questão dos “milagreiros” é bastante óbvia: se os incrédulos não dão ouvidos à Igreja, não se deixarão convencer nem mesmo diante dos mais portentosos milagres. É bem possível que o Cabrini não faça a menor idéia dessas coisas; o pe. Eugenio Maria, no entanto, pelo que dele me recordo, sabe-o muito bem. Por conseguinte, não tem sentido uma chamada sensacionalista que promete apresentar «como é possível curar o incurável com apenas um gesto»: uma tal coisa, se existisse e fosse alardeada pelo sacerdote, seria um verdadeiro desserviço ao Cristianismo. Os que porventura procurassem a Fé em busca de curas estariam simplesmente procurando errado, correndo o risco de não conseguir nem uma coisa nem outra — ou, pior ainda!, de conseguir a cura perdendo a Fé.

Não existe nenhum «embate» possível de «ciência versus fé», muito menos na questão dos milagres. E por uma razão bem simples: se os milagres não puderem ser reproduzidos em condições controladas então estão fora do âmbito da ciência; se o puderem, estão fora do âmbito da Fé. A própria forma de colocar o problema — em uma dicotomia impossível e nonsense — já revela o baixo nível da reportagem pretendida.

Em suma, não dá para seguir o caminho delineado pelo Roberto Cabrini: quem por ele enveredar vai se perder. Dá, no entanto, talvez, para se surpreender com a figura do pe. Eugenio Maria, que talvez exsurja católico — com a força do Catolicismo que, nele, um dia vislumbrei…! — a despeito do materialismo grotesco e autocontraditório com o qual se pretendeu contar-lhe a história. Se isso acontecer, louvado seja Deus! Não será a primeira vez que uma Fé sincera e sólida consegue fazer brotar coisas boas de onde nada de bom poderia vir.

Entrevistas na Gazeta do Povo: reprodução assistida e pesquisas com células-tronco

Neste final de semana, foram publicadas duas excelentes entrevistas na Gazeta do Povo. Merecem ser conhecidas e divulgadas.

1. Dr. Mario Antonio Sanches, no Blog da Vida, sobre reprodução assistida. «Depois nós já entramos em outro problema, e isso vai além da reflexão cristã. A filosofia kantiana já diz que cada ser humano deve ser visto como um fim em si mesmo. É a questão da autonomia, ninguém pode ser manipulado. Então, se eu produzo um embrião para tirar células e salvar terceiros, esse que está nascendo está sendo instrumentalizado».

2. Robin Smith, da NeoStem, e monsenhor Tomasz Trafny, no Tubo de Ensaio, sobre células-tronco. «Claro que muitos não compartilham da sensibilidade moral e ética dos cristãos e dos católicos nesse tema específico, mas de qualquer forma as pessoas deveriam pensar sobre as potenciais consequências de agredir a vida humana. Se não temos nenhum limite, que diferença faz destruir a vida em seu início, ou no meio, ou no fim? Então, há coisas que, de um ponto de vista meramente técnico-científico, são possíveis, como usar embriões em pesquisa, mas queremos que a sociedade pergunte a si mesma se podemos fazer isso, de um ponto de vista moral. Essa é a questão».

A Fé decorre da própria inteligência humana, e não de suas limitações

Muito bonito este artigo de D. Odilo publicado sábado no Estadão, que vale a leitura na íntegra e do qual destaco:

Nossa inteligência é “capaz de Deus” e não está fechada para Ele. Crer é um ato humano livre por excelência, mediante o qual nos abrimos ao supremo Tu, ao Deus pessoal, e podemos alcançar uma certeza interior não menos importante do que aquela que nos vem das ciências exatas ou naturais. Reduzir nossa capacidade racional às certezas verificáveis seria diminuir essa mesma capacidade.

E isto vem ao encontro de várias coisas que costumamos falar aqui no Deus lo Vult! a respeito da capacidade humana de crer e da arbitrariedade irracional da resposta atéia ao problema de Deus. Para além de quaisquer limitações da moderna ciência paira o Onipotente, e reconhecê-Lo é um dever imperioso da consciência sincera, é decorrência da própria capacidade humana de questionar o Universo.

Sim, crer ainda faz sentido, porque este ato decorre da própria essência do ser humano, e não – como os paladinos do ateísmo gostam de fazer acreditar – de limitações intelectuais contingentes próprias de determinadas épocas históricas.

Cientistas à caça da “prova científica” da existência da alma

Recebi hoje por email esta notícia que narra as aventuras de dois pesquisadores na busca da prova científica da existência da alma. São “o médico americano Stuart Hamerroff e o físico britânico Sir Roger Penrose”; segundo a reportagem,

eles explicaram que a alma de uma pessoa está dentro das células cerebrais em um lugar chamado microtúbulo. Os microtúbulos, segundo os livros de biologia, são estruturas proteicas que fazem parte do citoesqueleto das células. Elas ajudam no transporte celular pelo corpo humano.

Bom, em primeiro lugar, é preciso deixar claro que a alma não “está” em nenhum lugar específico do corpo. Aliás, como explica Santo Tomás na Summa, ao invés de postular que o corpo contém a alma o mais exato é dizer que a alma contém o corpo (Summa, Ia, q.8, a.1, ad.2). E, em outro lugar (id., q.76, a.8, resp.), que se fosse para falar “onde” a alma se encontra no corpo humano, dever-se-ia dizer que ela está totalmente em todo o corpo e em cada uma de suas partes.

Localizar a alma em alguma parte específica do corpo humano (p.ex., digamos, o cérebro) só seria possível se ela (a alma) estivesse unida ao corpo somente como motor, teoria que o Aquinate demonstra ser insustentável por várias razões na mesma questão da Summa. Ao contrário, Santo Tomás – seguindo Aristóteles – afirma que a alma está unida ao corpo enquanto sua forma substancial, sendo assim o homem uma unidade substancial composta de corpo e alma. À luz desta concepção do ser humano é totalmente sem sentido pretender “encontrar” a alma em alguma parte do corpo humano. Talvez gostem desta teoria os espíritas ou os adeptos da metafísica de Descartes, mas ela não é compatível com a antropologia católica.

Segundo os pesquisadores, os microtúbulos têm energia quântica do universo. Essa energia seria a alma e ajudaria a formar a consciência de uma pessoa durante toda a sua vida. Portanto, quando a pessoa morre, essa energia quântica voltaria ao universo, de onde veio. Isso seria, portanto, a alma.

Eu torço o nariz sempre que leio “energia quântica do universo” aplicada neste sentido que beira o esoterismo. Concedo que, para os leigos, isto decorre da maneira pouco rigorosa que sói se usar para explicar a mecânica quântica fora dos círculos acadêmicos. Por exemplo, lembro-me de que eu passei muito tempo da minha adolescência achando que o Princípio da Incerteza de Heisenberg era um absurdo porque o compreendia como se o elétron fosse um Boo de Super Mario, que parava de se mover e cobria o rosto quando o personagem se virava para ele, voltando a andar somente quando aquele lhe dava as costas. Daí até eu chegar na faculdade e aprender que “observação” pressupõe o “contato físico” [= sensível] com o elétron (não sendo simplesmente “olhar” para ele) e que era desta interação entre a partícula e o instrumento de medida que surgia a perturbação de estado responsável pela incerteza postulada por Heisenberg passou-se um bocado de tempo. E tenho intimamente a convicção de que muita gente acha que a Física Quântica é uma espécie de mágica na qual, de alguma maneira, “cabem” igualmente o natural, o sobrenatural e os absurdos metafísicos.

De todo modo, não sei o teor exato das alegações dos drs. Hamerroff e Penrose, que comento somente à luz da citada matéria da INFO Online. Pode ser que eles tenham uma explicação científica rigorosa relacionando [o que chamam de] “consciência” com a “energia quântica do universo”. Sei, no entanto, que para o leitor médio esta correlação implica quase sempre em erros conceituais graves.

Não é a priori impossível que se detecte alguma perturbação sensível provocada pela alma, o que contudo não autoriza a confundir esta perturbação com a alma em si. Tratar-se-ia, mutatis mutandis, de alguém que olhasse para um eletrocardiograma e dissesse que o coração humano é um feixe de ondas elétricas detectável por aquele equipamento específico que o traduz graficamente. Ora, a atividade elétrica é provocada sim pelo coração humano, mas ela não é o próprio coração humano. Igualmente, parece-me em princípio não haver óbice a que a alma humana unida ao corpo provoque alguma espécie de movimento sensível que seja detectado sob a forma de energia quântica ou de qualquer outra natureza. Daí a igualar os efeitos às causas, contudo, vai um passo enorme que a ciência não está autorizada a dar. Sobre este assunto, vale igualmente tudo o que eu já falei aqui sobre as provas científicas da existência de Deus. Toda prova “científica” a respeito da existência da alma sempre vai ser – e por definição só pode ser – uma prova indireta.

E toda vez que são provocados por um pesquisador, eles respondem com a teoria das pessoas que são ressuscitadas depois de uma parada cardíaca e sempre voltam com uma história do momento da morte.

Para eles, a história nada mais é do que a experiência dessa energia quântica indo embora do corpo e se vendo obrigada a voltar – já que a pessoa conseguiu sobreviver ao acidente cardíaco.

 Já este argumento me parece nonsense por pelo menos duas razões. A primeira é que eu – como cético sobre Experiências de Quase-Morte – questiono a sua natureza, e me pergunto se não é possível explicá-las à luz de argumentos materialistas. A segunda é que… bom, ainda que tais experiências sejam verdadeiramente espirituais, disso não me parece decorrer necessariamente a existência das tais “energias quânticas” a explicá-las. Permanece aberto o abismo entre as ciências empíricas – inclusive as que estudam a energia quântica do universo – e as realidades espirituais; e, como eu já disse por diversas vezes, uma “ciência” auto-mutilada e reduzida àquilo que é mensurável e empiricamente verificável não será nunca capaz de o transpôr.

As questões espirituais estão para muito além do alcance da ciência

Eu sempre fiquei impressionado com a capacidade que os cientistas alegam possuir de fazer inferências comportamentais complexas a partir de vestígios arqueológicos ínfimos. Já comentei aqui outro dia sobre o gay pré-histórico, mas este é apenas o exemplo mais extremado. Coisas mais simples, como a habilidade de construir ferramentas ou a prática de um “estilo de vida parcialmente arbóreo” dos nossos antepassados são divulgadas quase todos os dias por nossos meios de comunicação. Não raro, eles pensam fazer com isto um importante trabalho de “desmistificação” da realidade, às vezes com ataques mais ou menos velados aos que insistem em se afirmar religiosos a despeito de todo este avanço científico acumulado pela humanidade.

Naturalmente, eu não tenho muita coisa contra estes exercícios adivinhatórios que, vá lá, na maior parte dos casos são bem razoáveis mesmo e se apresentam à razão humana quase que como uma decorrência necessária do que se tem diante dos olhos, sem a necessidade de nenhum Sherlock Holmes para fazer a dedução oculta e dizer “elementar”. Por exemplo, digamos, encontrar uma tigela muito antiga com vestígios de comida do lado de dentro e de carvão do lado de fora nos autoriza, sim, a deduzir com bastante segurança que estamos diante de uma panela rudimentar e que, se alguém um dia a utilizou, certamente foi para algum exercício primitivo da milenar arte da culinária. É igualmente aceitável dizer que isto revela uma certa sensibilidade gastronômica dos homens primitivos, uma vez que eles provavelmente faziam um cozido para tornar a carne da caça mais saborosa, e não por razões de ordem profilática então pouco ou nada conhecidas. O que extrapolaria os limites arqueológicos seria, por exemplo, encontrar uma tigela dessas que fosse muito grande e, com base nisso, passar a fazer ilações sobre a gula pré-histórica, demonstrando por a + b que os homens da tribo tal não tinham questões morais sobre a necessária temperança à mesa – supondo que mesas houvesse à época.

A rigor, nem mesmo a existência de indícios fortes sobre a disseminação de uma certa prática num determinado povo (indícios, aliás, cuja existência é inversamente proporcional à distância temporal que nos separa de tal povo, por conta do decurso dos séculos que costuma ser bem eficiente em produzir escassez de vestígios) nos autoriza a fazer qualquer afirmação sobre o juízo moral que este povo fazia de tal prática. Por exemplo, algum arqueólogo que, estudando os hábitos dos judeus da época do Reino de Israel com base em vestígios não-escritos, chegasse à conclusão (correta) que a idolatria era comum àquele povo, enganar-se-ia redondamente se extrapolasse a sua “descoberta” para sentenciar que os filhos de Abraão não tinham nenhum interdito moral ao politeísmo. Um hábito é somente um hábito, e a sua classificação como virtuoso ou vicioso para quem o pratica não se pode depreender da mera constatação de que ele se realiza. Isto é bastante óbvio, mas por alguma estranha razão as coisas óbvias às vezes fogem à percepção de quem se deslumbra com a idéia de ser um Dr. Holmes a desvendar os mistérios de civilizações perdidas no tempo – cujos membros não estão mais aqui para se defender das barbaridades que falam sobre eles. Em uma palavra: as questões morais – que perfazem a fronteira mais indevidamente atravessada pelos fanáticos irreligiosos que se dizem cientistas – estão, tanto por princípio quanto por limitação de método, para muito além do alcance da ciência. Como é possível que haja verdadeira oposição entre ela e a Fé?

Eu pensava sobre isto ao ler Chesterton que, genial como sempre, criticava em um artigo a idéia de que descobertas científicas pudessem abalar as crenças de alguém. Ora, as ciências físicas e as realidades espirituais pertencem a ordens distintas de conhecimentos. Do mesmo modo que é absurdo defender, p.ex., que a Lei da Gravitação Universal possa ser modificada à força de novas investigações teológicas sobre as relações entre a Graça e o Livre-Arbítrio, é igualmente nonsense pretender que a soteriologia católica tenha se tornado menos verdadeira depois que Einstein propôs a Teoria da Relatividade Especial. O avanço científico não restringe os horizontes da Fé, e isto independe completamente de quaisquer limitações contingentes do acúmulo do conhecimento humano em um determinado momento histórico. Nas eloqüentes palavras do polemista inglês:

Um homem pode ser um cristão até o fim do mundo, pelo mesmo motivo de que um homem poderia ter sido um ateu desde o começo do mundo. O materialismo das coisas está na cara das coisas; não requer nenhuma ciência para encontrar. Um homem que viveu e amou cai morto e as minhocas o comem. Isso é Materialismo, se você preferir. Isso é Ateísmo, se você preferir. Se a humanidade apesar disso tem crido, ela pode crer apesar de todas as coisas. Mas por que nossa sina humana se torna mais desesperada porque nós sabemos os nomes de todas as minhocas que comem ele, ou o nome de todas as partes dele que são comidas, é para uma mente pensativa algo difícil de descobrir.

Esta é a resposta definitiva aos que vaticinam o fim iminente da Religião sob o império da Ciência, estas são as noções que precisam ficar bem claras para quem se propõe a fazer filosofia natural ou teologia. O resto são falácias grosseiras de pseudo-cientistas ou histerias descabidas de falsos crentes.

“Um cientista santo” – Dom Fernando Rifan

[Publico artigo de D. Fernando Rifan sobre o Dr. Jerôme Lejeune. O texto é bastante útil para os que (ainda) pensam haver alguma incompatibilidade entre ciência e Fé; entre ser cientista e ser católico. Dia desses, um amigo me falava que deixara de escrever sobre Fé e Ciência por uma razão bem simples: não há muito o que escrever. As “regrais gerais” são suficientemente sucintas e claras e, uma vez que se lhas entende, só resta aplicá-las e aplicá-las de novo aos casos individuais que porventura apareçam. E isto é geralmente “trabalho mecânico” e não intelectual; agrega conhecimento apenas quantitativa, e não qualitativamente.

Outro dia um aluno me perguntou o que a Igreja dizia sobre extraterrestres. Eu disse que Ela não dizia nada e isto “nem interessava”, ao que ele aquiesceu com entusiasmo por haver entendido. A Igreja pode discorrer sobre as (possíveis) características espirituais dos extraterrestres, pode propôr hipóteses para explicar-lhes a (possível) existência ou descartar algumas outras como incompatíveis com a Revelação, ou outras coisas do tipo. Mas a Igreja não pode dizer nada sobre a questão de fato da existência ou não deles, porque o objetivo d’Ela não é perscrutar o Universo em busca de vida alienígena, e sim anunciar aos homens a salvação de Deus. Se algum dia esta missão d’Ela esbarrasse em uma nave extraterrestre, isto poderia ser interessantíssimo como obra de ficção científica ou como especulação recreativa para as horas vagas; mas isto, absolutamente, não interessa para a maior parte das pessoas no presente momento.

Da parte da Igreja, não há e nem pode haver óbice a nenhuma espécie de conhecimento verdadeiro, porque toda verdade vem de Deus e, sendo Deus o autor da Revelação, não há contradição possível entre o mundo que Ele criou e as coisas que Ele revelou a respeito de Si próprio e do mundo criado. Esta é a regra geral: sábio é o homem que a compreende! Então ele poderá fortalecer a sua Fé e a sua ciência diante das descobertas científicas concretas com as quais se deparar ao longo de sua vida. Por outro lado, estulto é o sujeito que em qualquer relampejo de técnica julga descobrir uma “prova” de que Deus não existe. Este infeliz não conseguirá jamais entender nem a religião e nem a ciência.]

UM CIENTISTA SANTO

Dom Fernando Arêas Rifan*

 

Em 2001, em Roma, tive a honra de jantar com uma distinta senhora e seu genro, cuja identidade me surpreendeu. Tratava-se da viúva do grande médico cientista, Dr. Jerôme Lejeune, falecido em 1994, e seu genro, o diretor da Fundação Jerôme Lejeune, inaugurada após sua morte, que dá continuidade à sua ação em favor dos deficientes mentais.

Jérôme Jean Louis Marie Lejeune (1926-1994) foi um médico francês, pediatra, professor de genética e cientista, a quem se deve a descoberta da anomalia cromossômica que dá origem à trissomia 21, identificando assim a origem genética da chamada Síndrome de Down.   

O professor Lejeune, considerado o pai da genética moderna, obteve, entre várias honrarias e títulos, os de doutor Honoris Causa das universidades de Düsseldorf (Alemanha), Pamplona (Espanha), Buenos Aires (Argentina) e da Pontifícia Universidade do Chile. Ele era membro da Academia de Medicina da França, da Academia Real da Suécia, da Academia Pontifícia do Vaticano, da American Academy of Arts and Sciences e da Academia de Lincei (Roma) entre outras. Participou e presidiu várias comissões internacionais da ONU e OMS. Obteve numerosos prêmios pelos seus trabalhos sobre as patologias cromossômicas, entre os quais o Prêmio Kennedy em 1962, que recebeu diretamente das mãos do presidente John F. Kennedy. Em 1964, ele foi o primeiro professor de genética na Faculdade de Medicina de Paris.

Em 1974, o Papa Paulo VI o convida a fazer parte da Pontifícia Academia das Ciências e, mais tarde, do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde. Em 1981, Jérôme foi eleito à Academia de Ciências Morais e Políticas da França e, em 1994, tornou-se o primeiro presidente da Pontifícia Academia para a Vida, criada naquele mesmo ano pelo Beato João Paulo II, de quem era amigo particular.

Mas, o mais surpreendente de tudo isso: ele teve uma vida santa. João Paulo II, em 1997, na Jornada Mundial da Juventude em Paris, fez questão de ir rezar no seu túmulo. Seu processo de beatificação e canonização foi aberto em 28 de junho de 2007. Com Missa pela vida celebrada na Catedral de Notre-Dame de Paris, em abril passado, encerrou-se o processo diocesano da causa de beatificação e canonização do servo de Deus Jérôme Lejeune. Conhecido por tratar e acompanhar pacientes com deficiência intelectual e, sobretudo, pelo compromisso em favor da vida humana, em 1971 realizou um discurso contra o aborto no National Institute for Health e depois disto mandou uma mensagem à sua esposa dizendo: “hoje perdi meu Prêmio Nobel”. Nesse discurso, Lejeune foi forte: “Vocês estão transformando seu instituto de saúde em um instituto de morte”.

A Igreja tem santos de todos os tipos, temperamentos, profissões, classes sociais, idades, países e línguas. Assim ela nos ensina que a santidade não está excluída de ninguém. Pelo contrário, está ao alcance de todos. “Todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade” (Lumen Gentium, 39).

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney

Os Nobel da Pontifícia Academia das Ciências

Circulou recentemente no Facebook uma imagem sobre a Pontifícia Academia das Ciências. O texto dizia que ela possui “8 prêmios Nobel de Medicina, 7 de Química, 9 de Física e 1 de Economia”, totalizando “24 prêmios Nobel”. E alfinetava: “a USP não tem nenhum, a UNICAMP não tem nenhum, o Brasil não tem nenhum”.

Vem ao encontro daquilo que o Ives Gandra escreveu outro dia sobre o ateísmo; é tão imponente a verdadeira relação harmoniosa entre Fé e Razão que chegam a ser ridículos os protestos dos anti-clericais sobre o tema. Cale-se a ignorância arrogante diante da competência internacionalmente reconhecida! Perto da envergadura intelectual dos membros desta Academia, qual a relevância científica daqueles cuja “produção acadêmica” resume-se a repetir – de mil modos diversos – meia dúzia de calúnias anti-clericais gratuitas que só eles próprios levam a sério?

E ainda: diferente do que foi dito, a Pontifícia Academia das Ciências não tem 24 prêmios Nobel. Eu entrei na página da Academia onde estão listados os membros falecidos e contei: são quarenta e oito [p.s.: 24 são os Nobel vivos: então a Academia conta, no total, com 72 prêmios Nobel]. Entre os laureados já falecidos encontram-se nomes como Rutherford, Bohr, Heisenberg, Schrödinger, Sir Alexander Fleming e Max Planck. Entre os vivos, Joseph Murray e David Baltimore. A academia conta atualmente ainda com cientistas notáveis como o brasileiro Miguel Nicolelis e o inglês Stephen Hawking; e, entre os falecidos, encontrei também o filho de um ilustre brasileiro: Carlos Chagas Filho [que eu confundi anteriormente com o pai – my mistake]. Estas são as credenciais que a Igreja – “inimiga da ciência” – é capaz de apresentar em Seu favor! O que têm os anti-clericais a apresentar a não ser o testemunho da própria ignorância?

A Igreja, a ciência e o direito – resposta ao ateísmo fundamentalista

[Eu já tinha lido, mas saiu hoje em ZENIT este texto do Ives Gandra Martins sobre o fundamentalismo ateu. Vale um passar de olhos para quem ainda não leu. E, para quem já o conhece, vale reler ao menos a grande tirada do jurista brasileiro, quando sofria bullying institucionalizado no STF pelo fato de ser católico e defender a inconstitucionalidade de se destruírem embriões humanos em pesquisas científicas. Reproduzo abaixo; para o texto na íntegra, cliquem no link acima.]

Quando fui sustentar, pela CNBB, perante a Suprema Corte, a inconstitucionalidade da destruição de embriões para fins de pesquisa científica – pois são seres humanos, já que a vida começa na concepção -, antes da sustentação fui hostilizado, a pretexto de que a Igreja Católica seria contrária a Ciência e que iria falar de religião e não de Ciência e de Direito. Fui obrigado a começar a sustentação informando que a Academia de Ciências do Vaticano tinha, na ocasião, 29 Prêmios Nobel, enquanto o Brasil até hoje não tem nenhum, razão pela qual só falaria de Ciência e de Direito.