Astrofísica e (ainda!) Gripe Suína

Duas notícias interessantes, da Espanha, que recebi nos últimos dias.

A primeira: Robert J. Spitzer: «Los nuevos hallazgos astrofísicos dejan poco sitio al ateísmo». Segundo o físico jesuíta, todo modelo do Big Bang mostra aquilo que os cientistas chama de uma singularidade, e a existência de cada singularidade exige que exista um elemento externo ao Universo. “Todas as explicações nos levam «a uma força que é anterior ao e independente do Universo. Pode parecer um argumento teológico, mas na verdade é uma conclusão científica», assegurou”.

“A mesma Santa Igreja crê e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas; pois as perfeições invisíveis tornaram-se visíveis depois da criação do mundo, pelo conhecimento que as suas obras nos dão dele [Rom 1,20]”, como reza a boa Doutrina Católica (Concílio do Vaticano I, Sessão III, Capítulo II); e esta verdade resplandece com clareza para onde quer que se olhe sem preconceitos. Não é a ciência que afasta de Deus, e sim a má ciência. O conhecimento das coisas criadas conduzem o homem ao Deus Criador.

A segunda é um divertido desabafo: Señora ministra de Sanidad, escúcheme usted. Tem um mês (é do dia nove de setembro), mas só agora eu li. Parece-me que o Ministério da Saúde colocou os médicos no grupo de risco da nova gripe e está histericamente preocupado em garantir que eles não sejam vitimados pela tragédia suína que atualmente flagela o mundo.

A dra. Mónica Lalanda escreve indignada. “Está ya más que claro que este virus, aunque muy contagioso, es muy poco agresivo y más del 95% de los casos cursa de manera leve”. “Muchos hospitales en el país están siendo objeto de cambios arquitectónicos absurdos e innecesarios para prepararse para una hecatombe que ya sabemos no va a ocurrir”. “Señora ministra, explíqueme por qué tiene usted el Tamiflú bajo custodia del ejército. (…) Ponga el fármaco en las farmacias que es donde debe estar y déjese de fantasías más propias de Hollywood”.

No Brasil, graças a Deus, a pandemia perdeu interesse. Tanto que a notícia mais recente que encontrei sobre o assunto diz justamente que o MS não registra mais nenhuma morte em decorrência da gripe suína. No entanto, não encontrei o mais remoto indício de que as abusivas determinações proibindo a comunhão na mão – supostamente por causa do surto de gripe – tenham sido revogadas. Infelizmente.

Sobre o Sudário de Turim

Entre vários outros lugares, saiu na VEJA: Cientistas recriam Santo Sudário. Tive uma enorme sensação de Déjà vu quando li a notícia, pois estou certo de já ter lido a mesmíssima coisa há alguns anos. Infelizmente, não consegui encontrar, porque o Google só traz, sobre o assunto, estas notícias recentes.

Nada de novo. Apontou muito perspicazmente o Marcio Antonio no Tubo de Ensaio:

“O pano então foi colocado sobre um estudante que usava uma máscara para reproduzir o rosto, e esfregado com um pigmento vermelho muito usado na Idade Média”, diz o texto. Bom, então suponho que quando analisarem o pano produzido pelo grupo italiano, haverá vestígios de pigmento nele, certo? Tá, mas no Sudário de Turim não havia vestígios de pigmento. Em vez disso, o que acharam foi sangue humano e pólen.

Não seria a primeira vez que a militância anti-religiosa tomaria o lugar da ciência. Em outra ocasião, um cientista confessou fraude contra Santo Sudário. E assim caminha a humanidade…

Nossa Senhora de Coromoto

Recebi hoje por email: Surpreendentes descobertas na imagem de Nossa Senhora de Coromoto, padroeira da Venezuela. Eu não conhecia a história; mas é certo que, sofrendo a Venezuela o que sofre, o país precisava, sem dúvidas, de uma especial proteção da Virgem Santíssima.

Nossa Senhora de Coromoto. Padroeira da Venezuela. Tem um artigo sobre Ela em Catolicismo. Tem outro na ACI. A história me lembrou a de Nossa Senhora de Guadalupe. Em ambos os casos, a Virgem apareceu a um índio. Em ambos, provocou inúmeras conversões. Em ambos, deixou uma imagem que até hoje existe. Mas, em Coromoto, o índio ao qual Ela apareceu não era batizado: a este, a “Mãe de Deus dirigiu-lhe a palavra na língua nativa dele, recomendando-lhe que fosse viver junto aos brancos para ‘poder receber água sobre a cabeça e assim poder ir ao Céu'” (Catolicismo).

E as análises científicas feitas na imagem de Nossa Senhora de Coromoto revelaram coisas muito semelhantes àquelas que sabemos sobre a imagem de Guadalupe: “estudando o olho esquerdo [da imagem] através do microscópio[, os especialistas] puderam discernir um olho com características humanas. Nele os especialistas diferenciaram com clareza a órbita ocular, o conduto lacrimal, o iris e um pequeno ponto de luz nele. Mas, a surpresa estava começando. Maximizando o ponto de luz os especialistas julgaram detectar uma figura humana que se assemelha muito à de um indígena”.

Que seja em nosso favor a Virgem Soberana. Que Ela nos livre do inimigo, com o Seu valor.

A Igreja Católica: construtora da civilização

A quantidade de material relevante produzido no exterior e traduzido para o português é extremamente limitada. Há muita coisa que faz muita falta. É por isso que fiquei bastante feliz ao encontrar a tradução da “The Catholic Church: Builder of Civilization”, série do EWTN apresentada pelo Thomas Woods. Ainda não está completa, mas vale muito a pena ficar acompanhando. O vídeo abaixo é a primeira parte do primeiro programa.

Quem está postando os vídeos no youtube é o kandungus (acompanhem os próximos lá). A dica eu recebi via Tubo de Ensaio e Acarajé Conservador.

Teoria da Evolução

Já que os leitores do Deus lo Vult! estão discutindo sobre a Teoria da Evolução em um post que não tem nada a ver com o assunto, eu sugeriria a transposição da discussão para cá. Como “inspiração”, trago a figura abaixo, retirada do Haznos.org. É pesada, mas é um .gif muito bem feito.

evolution

Notem o detalhe: o homem está “fora” da cadeia evolucionista, pois já aparece caçando os búfalos…

Curtas

– Entrevista com Francis Collins, do Projeto Genoma, que eu não conhecia: Ciência não exclui Deus. É antiga [VEJA, n.º 1.992, Amarelas, 24/01/2007, páginas 11, 14 e 15], mas quem não viu ainda vale a pena ver. O dr. Collins não é um católico – questionado sobre as pesquisas com CTEHs, ele responde que “interromper as pesquisas científicas ou impedir que uma pessoa com uma doença terrível tenha uma vida melhor só porque a religião não aceita determinado tratamento é antiético” -, mas dá algumas respostas interessantes sobre os limites da ciência e a não-oposição entre ela e a Fé.

– Olavo de Carvalho sobre o pe. Lodi: Suprema Iniqüidade. “A partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal acatou a sentença que condenara o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz pelo crime de chamar uma adepta do aborto de abortista, os demais casos de emprego do termo no mesmo sentido passam automaticamente a ser crimes. Cabe portanto às autoridades a escolha entre punir todos os seus autores – isto é, a população nacional em peso, excluído o modestíssimo contingente dos militantes pró-aborto que jamais tenham usado a palavra proibida (o que não é o caso de todos eles) –, ou então deixá-los todos impunes e castigar discricionariamente um só, o Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz”.

– Recebo um email da “Editora Partilha”, que não faço idéia do que seja. Era este folder, oferecendo-me o Calendário da Campanha da Fraternidade 2010. Tema: Economia e Vida. Lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. Homenageados: indistintamente, Dom Hélder, Dom Luciano, Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá, Dom Aloísio e Irmã Dorothy. Domine, miserere!

Dom Tissier: “Nunca assinaremos acordos”. O bispo da FSSPX foi peremptório na entrevista que concedeu: “Nunca assinaremos acordos; as discussões não avançarão ao menos que Roma reforme suas posições e reconheça os erros aos quais o Concílio levou a Igreja”. Rezemos para que o amor-próprio de alguns não tornem natimortos os importantes debates sobre o Concílio Vaticano II que se delineiam no horizonte. E já bastante tardaram.

– Achei que o Ecclesiae Unitatem ia passar incólume pela mídia anti-católica, mas me enganei. A Folha mandou um “Papa remove cardeal responsabilizado por crise sobre Holocausto” – impressionante! Mas o Marcio Antonio já comentou muito bem. “Do jeito que saiu a notícia na Folhapress, ficou parecendo que o Papa estava retaliando o cardeal Castrillón pela sua atuação no caso dos lefebvristas. Assim como os idiotas do Estadão fizeram parecer que o Papa tinha aceito a renúncia de dom José por causa do episódio de Alagoinha”.

Galileo, Fé e Ciência

I documenti vaticani del processo di Galileo Galilei; é o nome do livro sobre o cientista cuja nova edição foi apresentada ontem na Sala de Imprensa da Santa Sé. Foi Dom Sergio Pagano, prefeito do Arquivo Secreto Vaticano, o responsável por ela. Na opinião do prelado Vaticano: “O caso de Galileu ensina a ciência a não se considerar professora da Igreja em matéria de fé e de Sagradas Escrituras […]. E, ao mesmo tempo, ensina a Igreja a abordar os problemas científicos – também os relacionados com a mais moderna pesquisa sobre as células estaminais, por exemplo – com muita humildade e circunspecção”.

Eu nunca entendi a súbita “canonização” de Galileo. Desculpas, estátuas em sua homenagem, congressos, livros… tudo isso sempre me pareceu francamente exagerado. O “Caso Galileo” é precisamente um exemplo de como não devem ser as relações entre cientistas e religiosos, vá lá, e é importante aprender com os erros de antigamente; mas, como em tudo o que se refere à Igreja Católica, o que o mundo exige d’Ela é um aprendizado de mão única. “Galileo estava certo, a Igreja estava errada”.

Veja-se, p.ex., a intervenção do prefeito do Arquivo Secreto Vaticano: ensinar à ciência… ensinar à Igreja. A primeira parte, sem dúvidas, vai ser completamente descartada. Não sei como foi que a segunda ainda não ganhou manchetes mundo afora, do tipo “Igreja precisa aprender com Galileo, segundo prelado vaticano” ou qualquer outro título cretino como os que estamos acostumados a ver quando o assunto é a Igreja Católica. E, pra ser sincero, ao mesmo tempo em que eu não entendia a rasgação de seda, achava a idéia perigosa.

Perigosa, sim. Veja-se a declaração que Dom Pagano teve a capacidade de dar: a Igreja precisaria examinar as pesquisas científicas com células estaminais com muita humildade e circunspecção – isso dito, registre-se, em alusão ao “mártir da Ciência”! Será que é preciso ser paranóico para perceber a insinuação de que o ensino moral da Igreja sobre a inviolabilidade da vida humana “desde a concepção até a morte natural” estaria no mesmo saco das querelas científicas renascentistas? Esta inferência por acaso é verdadeira? Toda a louvação ao astrônomo italiano feita nos últimos anos não induz inexoravelmente a estas conclusões? Isso não é mais do que previsível? O que se pretende, portanto, com o revisionismo eclesiástico sobre Galileo?

As relações entre Fé e Ciência são obviamente sempre harmoniosas, porque a Fé e a Razão binae quasi pennae videntur quibus veritatis ad contemplationem hominis attollitur animus. O mesmo não se pode dizer, infelizmente, das relações entre os cientistas e os religiosos. Não há nenhuma novidade nisso. Importa, sim, sem dúvidas, aprender com a História, mas isso não pode ser feito de modo que aparente ser uma capitulação da Igreja ante os famosos do mundo; porque, neste caso, estar-se-ia agravando a falsa discrepância entre Fé e Ciência ao invés de a sanar…

Curtas Diversos

– Para um comitê da ONU, a legislação da Nicarágua (que proíbe o aborto em qualquer circunstância) viola a Convenção contra a Tortura das Nações Unidas. A Anistia Internacional chegou a dizer que “a legislação da Nicarágua que bane todos os tipos de aborto é equivalente à ‘tortura’ institucionalizada [commissioned] pelo Governo ou, ao menos, é um ‘tratamento cruel, desumano e degradante’ banido pela Convenção”. Oras, esta Convenção contra a Tortura por acaso não vale para os fetos torturados e assassinados durante os procedimentos abortivos?

– Aliás, sobre tortura e assassinato de nascituros, vejam esta Via Sacra dos inocentes. Possui imagens fortes, mas é necessário que este crime perverso seja mostrado tal e qual ele é. E parece que dá resultado: vejam o segundo comentário lá colocado. Graças a Deus! E que a Virgem Santíssima nos livre da maldição do aborto.

– A corte da Califórnia, graças a Deus, confirmou a proibição ao “casamento” homossexual. O Exterminador do Futuro da Califórnia, abertamente compromissado com a implantação do gayzismo per fas et per nefas, teve as suas esperanças frustradas: prevaleceu a vontade popular, em detrimento do lobby gayzista.

– Árabes aproveitam a recente crise de Gripe Suína para debochar dos judeus com charges mostrando israelitas, ou símbolos sagrados do Judaísmo, em forma de porco. É engraçado! Se fossem charges de Maomé, o mundo estaria caindo…

– Começaram ontem as romarias pelos 12 anos da morte de Frei Damião, aqui em Recife. As festividades serão no convento dos Capuchinhos, do Pina. “Haverá um espaço especial destinado à confissões, a capela da adoração ao santíssimo, a capela da bênção, onde ficará uma escultura de bronze que reproduz a mão do religioso e que os romeiros podem tocar”, segundo o Guardião da casa, frei Rinaldo.

– Alguém já ouviu falar em Nicolau Steno? Não? Vejam um pouco sobre o bispo que abriu a ostra do mundo. “Chamá-lo de fundador da Geologia não é exagero nenhum. Sua obra De solido intra solidum naturaliter contento dissertationis prodromus (“Discurso prévio a uma dissertação sobre um corpo sólido contido naturalmente num sólido”, de 1669) lança as bases do estudo da terra. Diante de várias camadas de rocha, como saber quais vieram antes? Como essas camadas se formaram? Steno dará a explicação. Das diversas áreas em que a Geologia se dividiu com o tempo, as que mais se beneficiarão de seu trabalho serão a estratigrafia e a cristalografia”.

Anjos e Demônios

[ATENÇÃO! CONTÉM REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO (SPOILERS)!]

angels_demonsMais pernicioso do que “O Código da Vinci”, porque mais sutil: foi a opinião com a qual saí ontem da sessão de cinema onde fui para ver Anjos e Demônios. Comentava com um amigo no caminho de volta – aliás, leiam as considerações dele sobre a película – que, neste filme – ao contrário do Código da Vinci que intenta “revolucionar” tudo o que se sabe sobre o Cristianismo -, a cantilena é a mesma do início ao fim: a Igreja Católica é inimiga da Ciência. A repetição da tese ad nauseam, das mais variadas formas ao longo do enredo, aliada ao já conhecido e amplamente disseminado preconceito histórico contra a Igreja adotado por grande parte das pessoas, faz com que o espectador saia do cinema, sim, com uma visão negativa e equivocada da Igreja.

O personagem do Tom Hanks ajuda. O seu ar de superioridade, a ironia com a qual ele trata – muito “apropriadamente”, dentro do enredo – todas as coisas referentes à Igreja, a sua mania de comentar en passant assuntos que ele “conhece muito bem” (as “informações enciclopédicas” das quais fala o Cardoso) e todos os demais ignoram, etc: a receita faz com que o público seja cativado pelo prof. Langdon – e, por conseguinte, pelas suas opiniões. Logo no início do filme, falando sobre a “célebre” cena de Pio IX com um martelo e um cinzel na mão, atravessando às pressas os corredores vaticanos para “castrar” as estátuas renascentistas… oras, nunca ouvi falar de semelhante coisa na vida. As estátuas renascentistas são imorais e a “cobertura” dos órgãos sexuais com folhas é posterior às obras; isso todo mundo sabe. No entanto, acho bem pouco provável que, por todos os séculos compreendidos entre o Renascimento e Pio IX, as estátuas tenham ficado indecorosamente expostas sem que ninguém parecesse se preocupar com elas; e, ainda que isso tenha acontecido, a cena do Papa quebrando-as pessoalmente raia o inverossímil.

A mesma coisa com La Purga. La Purga! “Vocês não lêem nem a sua própria história?”, pergunta com aquele jeito arrogante o prof. Langdon aos – se minha memória não me falha – membros da Guarda Suíça. “A Igreja mandou marcar a ferro quatro cientistas porque as suas conclusões científicas discordavam das do Vaticano, o que fez com que os Illuminati passassem a ser violentos”. A culpa – de novo! – é da Igreja Católica. Esqueceu-se o sr. Langdon de fornecer mais detalhes sobre estas pobres vítimas da violência vaticana. Quem são eles? Quando isso aconteceu? Onde? Mas o Dan Brown não pode fornecer essas informações, porque senão a invenção dele seria mais facilmente desmascarada.

Continua o prof. Langdon com as suas bobagens: os “altares da Ciência” construídos em igrejas de Roma, Galileo e Bernini como Illuminati, o “caminho da iluminação” que devia ser percorrido pelos que quisessem ser admitidos à sociedade secreta, o Diagramma Veritatis escrito por Galileo que ensina como chegar a este caminho… a Igreja sempre retratada como obscurantista, inimiga da ciência, e os cientistas em guerra constante contra Ela, zombando d’Ela ao se reunírem às barbas dos cardeais no Castelo Sant’Angelo, colocando nas igrejas d’Ela as pistas a serem descobertas por quem quisesse ser um Iluminado.

Mas a figura do camerlengo é uma das piores. Aparentemente colocado para ser uma contraposição ao ceticismo do prof. Langdon, e depois revelado como o responsável – de alguma maneira mirabolante – pelo roubo da anti-matéria, seqüestro dos cardeais e elaboração de um plano infalível para salvar a Cidade do Vaticano da bomba que ele próprio armou e, por conseguinte, ser aclamado Papa graças ao heroísmo de sua atitude, a Igreja está muito mal representada por este jovem sacerdote. Todo o seu discurso inflamado em favor da Igreja, proferido ao colégio cardinalício, está enviesado pela mesmíssima falsa oposição Igreja x Ciência do prof. Langdon. Se até mesmo o personagem “católico” da trama concorda plenamente com o simbologista, então – é o que facilmente conclui o espectador – a Igreja é mesmo responsável por todas essas barbaridades contra a Ciência perpetradas ao longo dos séculos. Nem mesmo a reviravolta final que o mostra como responsável por toda a tragédia ao invés de paladino salvador é o suficiente para macular por completo todas as suas atitudes ao longo do filme. Permanece, por exemplo, um nobre ideal a ser buscado a idéia dele de “mudar” a Igreja e fazê-la “não ser mais” (!) inimiga da Ciência. E as pessoas que tenham “simpatia” pela Igreja são, diante do filme, “empurradas” a terem exatamente esta posição: ah, os erros pertencem ao passado e vamos construir uma Igreja que “não seja mais” inimiga da Ciência. Propositalmente, não existe uma posição que seja simpática à Igreja, não existe alternativa ao erro de fundo da falsa oposição existente entre fé e ciência: os inimigos da Igreja tratam-Na no máximo com indiferença porque Ela não é amiga da Ciência, e os amigos da Igreja querem que Ela mude para que seja amiga da Ciência…

Retomando, para terminar, uma crítica que já ouvi em outros lugares: diante de todas as mentiras do filme, pode-se objetar dizendo “ah, mas isso tudo é ficção, é como X-MEN, e não dá para exigir que as obras de ficção sejam verdadeiras”. As obras de ficção não precisam ser verdadeiras, é claro, mas também não podem apresentar informações falsas como se fossem verdadeiras. E Anjos e Demônios faz exatamente isso. Afinal, no meio de um monte de coisas verdadeiras (com algumas falhas aqui ou ali, mas em substância verdadeiras) como a Igreja, o Papa, o camerlengo, o colégio cardinalício, o Conclave, os arquivos vaticanos, Galileo, Bernini, o êxtase de Santa Teresa, o Castelo Sant’Angelo… quem é que vai saber se a história da castração das estátuas de Pio IX é mentira ou verdade? Ou se a existência de cientistas Illuminati é mentira ou verdade? Ou se La Purga é mentira ou verdade? O filme tenciona, sim, confundir e consegue. Como já falei no início (e é, a meu ver, a pior coisa da obra), a visão da “Igreja inimiga da Ciência” – a mentira repetida do início ao fim, em todas as partes da trama – impregna-se fortemente em quem assiste Anjos e Demônios. Agora ouse dizer a alguém que isso é ficção…

Sobre Anjos e Demônios

1. Opinião de um católico: “Meu maior problema com livros e filmes do tipo Anjos e Demônios é que, ao misturar ficção e realidade, a tendência é que tudo seja absorvido pelo público como realidade. (…) A pessoa vai ao cinema ver Anjos e Demônios e sai realmente achando que Galileu e Bernini eram Illuminati, que Copérnico morreu assassinado, que a Igreja atrapalha a ciência, que Pio IX era um maníaco que atravessava o Vaticano de martelo na mão, que a Igreja “marcou” quatro Illuminati (Langdon reprova o chefe da Guarda Suíça, perguntando se os católicos não leem sua própria história. Bom, nós lemos; é que La purga não é história, é invenção de Dan Brown), que os cientistas querem refazer o momento da criação, que Galileu escreveu o tal Diagramma e por aí vai. Isso é um desserviço considerável à verdade histórica, e também à ciência” – Marcio Antonio Campos.

2. Opinião de um anti-clerical: “Os Illuminati defendiam a ciência no lugar da religião, e no filme roubam um frasco de antimatéria do Large Hadron Collider para explodir o Vaticano. Embora a idéia não deixe de me agradar, o filme faz com que fique claro a perda que tal explosão causaria. As igrejas são lindas, as estátuas magníficas. Se uma coisa de bom posso dizer da Igreja Católica é que não só pensam a longo prazo como possuem um magnífico senso estético, completamente ausente do Bispo Macedo e seus templos tenebrosamente feios. […] Um dos efeitos interessantes e inusitados do filme é que deixa o espectador com todo um respeito pela Igreja. A Tradição, os Rituais, dá pra entender porque sobreviveram por mais de 2000 anos como instituição. É mais ou menos como o Judaísmo, embora no caso todos os membros preservem ativamente a cultura e os rituais, já com os católicos um monte de gente se diz seguidor mas nem lembra que Papa veio antes de João Paulo II” – Carlos Cardoso.

3. Opinião “científica” sobre o livro: “‘Anjos e Demônios’ é escrito em estilo irresistível e acessível. Você prefere não dormir só para ler mais um pouquinho. Ele trata de questões que passam pela cabeça de todos: a existência de Deus, a possibilidade de se ter fé em um Universo que parece ter profunda indiferença por nós, a reconciliação entre o científico e o espiritual. Só que o livro leva o conflito entre razão e fé à uma conflagração apocalíptica. […] A ciência é vista como uma ameaça à religião: quanto mais aprendemos sobre a natureza, mais difícil é aceitar a existência de forças sobrenaturais” – Marcelo Gleiser, 2004.

4. Na Rádio Vaticana: “O editorial intitulado ‘O segredo de seu sucesso’ diz que a Igreja deveria se perguntar por que uma visão ‘simplista e parcial’ dela mesma, conforme a mostrada nas obras de Dan Brown, encontra tanto eco, mesmo entre católicos.  ‘Seria provavelmente um exagero considerar os livros de Dan Brown um sinal de alarme, mas talvez eles devam ser um estímulo para que se repense e renove a maneira como a Igreja emprega a mídia, para explicar suas posições sobre as questões mais candentes do momento’ − diz o editorial” – 08 de maio de 2009.

Minha opinião: não li o livro e [ainda] não assisti o filme. No entanto, diante dessas “obras” que têm valor intrínseco menor que o de um ponto do Bomclube e, não obstante, alcançam um sucesso estrondoso frente ao grande público, chega quase a me bater um verdadeiro desânimo. Porque as refutações das bobagens nunca têm o mesmo poder de penetração do que o da bobagem em si. Para ficar em um só exemplo que, pelo que eu venho lendo, é um dos pontos fortes do filme: de que adianta explicar cuidadosamente como a ciência experimental é filha da Igreja Católica, se “eu vi no cinema com o Tom Hanks que é o contrário”?

Católicos, mãos à obra! Há muito trabalho a ser feito.