Cartas à CNBB

Sim, como disse a Luh, cartas à CNBB. Eu já tinha escrito e enviado, logo depois de publicar a denúncia aqui no Deus lo Vult!. Considerando o meu histórico de mensagens não-respondidas, vou tornar logo esta pública também.

A divulgação do evento pró-aborto no site da Conferência de Bispos Católicos é absurdamente escandalosa. Cartas à CNBB! Peço que escrevam com um pouco menos de raiva do que eu o fiz. Respirem fundo, antes de escrever; que os inimigos da Igreja não se aproveitem de algum aspecto material para desconsiderarem uma indignação que, em si, é perfeitamente justa.

Segue abaixo o email que enviei.

* * *

from Jorge Ferraz
to subsecgeral@cnbb.org.br,
Dom Dimas Lara Barbosa <secgeral@cnbb.org.br>,
imprensa@cnbb.org.br,
subpastoral@cnbb.org.br,
comsocial@cnbb.org.br

date Fri, Mar 5, 2010 at 12:49 PM
subject URGENTE! Sobre divulgação de evento abortista pela CNBB!

Aos responsáveis pelo site da CNBB,

Há uma chamada na página principal do site (não sei a partir de quando, vi agora no final da manhã) que faz a divulgação de um evento abortista, e isso é simplesmente inadmissível. O endereço é o seguinte:

http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/noticias/2299-marcha-mundial-das-mulheres-organiza-3o-edicao-da-acao-internacional-no-brasil

Para informações mais detalhadas sobre a MMM e a Sempreviva, se necessário, gentileza acessar o pequeno texto que acabei de redigir e publicar sobre o assunto, no pequeno site que mantenho na internet:

https://www.deuslovult.org//2010/03/05/cnbb-divulga-evento-abortista/

Solicito com uma certa urgência

1. a sumária expulsão dos responsáveis pelo escândalo;

2. a imediata retirada do ar da divulgação do evento abortista;

3. a divulgação de uma nota onde constem um pedido de desculpas e alguma satisfação aos leitores do site, em particular com informações sobre as providências que foram tomadas [item 1 acima].

É necessário uma tomada de posição rápida e enérgica. Qualquer coisa diferente disso será um ato de criminosa pusilanimidade, de pecaminosa omissão, que redundará em (ainda mais) escândalos para o povo fiel, que minará (ainda mais) a seriedade da CNBB e que não passará despercebida d’Aquele que é o Justo Juiz e ao Qual todos haveremos de prestar contas algum dia.

Certo da atenção dos senhores,
subscrevo-me, em Cristo,
Jorge Ferraz


Jorge Ferraz de Oliveira Filho
https://www.deuslovult.org//

CNBB divulga evento abortista!

[P.S.: Após este post e as cartas enviadas à CNBB, os responsáveis pelo site da Conferência retiraram do ar a divulgação do evento satânico. Deo Gratias.]

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É estarrecedor, mas é verdade. Está na página principal do site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: Marcha Mundial das Mulheres organiza 3ª edição da Ação Internacional no Brasil. Na matéria, uma foto do cartaz da marcha, que ocorrerá de 8 a 18 de março. No texto da CNBB, é dito que “a marcha pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras”.

A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) é um evento organizado pela Sempreviva Organização Feminista. Na página principal do site da Marcha, a segunda notícia é sobre a legalização do aborto na Espanha inclusive para adolescentes. Na coluna da direita, logo abaixo do cartaz da “Ação 2010” que a CNBB divulgou, tem uma música pela legalização do aborto que pode ser baixada e cuja letra é a seguinte (trecho):

Já comecei a entender
o que ninguém ousa dizer:
o silêncio e a hipocrisia
causam minha hemorragia.
E, se o homem engravidasse,
o aborto legal seria…

Mas não vou me intimidar,
por meus direitos vou lutar.
Me juntar às mulheres
e com elas gritar:

Direito ao nosso corpo!
Legalizar o aborto!

Qualquer busca no Google revela isso. Eu não levei nem cinco minutos. Aliás, qualquer pessoa que tivesse um mínimo de senso de realidade desconfiaria do nome “Marcha Mundial das Mulheres”. E qualquer pessoa que tivesse um mínimo de responsabilidade checaria os objetivos de um tal evento antes de divulgá-lo em um site de uma Conferência de Bispos Católicos. Qualquer pessoa que tivesse um mínimo de decência não divulgaria um evento abortista num site católico.

Isso mostra que, dentro da CNBB, há pessoas que (i) ou são estúpidas e irresponsáveis o suficiente a ponto de divulgarem um evento sem saber que ele é abortista, ou (ii) são cretinas mancomunadas com Satanás empenhadas em defender o aborto a partir de dentro da CNBB. Terceira opção não existe. E, em qualquer dos dois casos, é simplesmente inadmissível que os responsáveis por esta infâmia continuem impunemente escarnecendo da Igreja Católica, defendendo “de dentro da Igreja” a sua ideologia assassina e anti-cristã e entronizando Lúcifer para ser adorado nos salões da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Feminismo agressivo e conversão de abortista

Católicos ao redor das igrejas para evitar possíveis ataques; feministas com os seios de fora, jogando garrafas e cuspindo nos cristãos. Foi assim na Argentina, no XXIV Encontro Nacional de Mulheres, que teve lugar em Tucumán entre os dias 10 e 12 de outubro p.p.

Os católicos lá estavam, como no ano passado em Neuquén: “La única voz que se oyó fue la de los católicos rezando mientras [las manifestantes] les interpelaban con blasfemias y provocaciones”. Que a Virgem os recompense.

Enquanto isso, NOTÍCIA MUITO IMPORTANTE: ex-diretora da Planned Parenthood abandona os abortos e se converte em militante pró-vida. “Com receio da repercussão da mudança de Abby, a Planned Parenthood entrou na justiça para garantir que o sigilo de clientes e profissionais da indústria do aborto não sejam prejudicados pelas manifestações das quais Abby possa participar”. Graças a Deus, engrossam as fileiras dos ex-abortistas. Graças a Deus, cada vez mais as pessoas percebem o absurdo que é a defesa do assassinato de crianças inocentes.

Quimera feminista e nonsense abortista

Mulheres estão menos felizes do que nos anos 70. “Nos anos 70, quando começou a emancipação feminina, com entrada no mercado de trabalho, pílula anticoncepcional, liberdade sexual, elas se sentiram exultantes. Mas quanto mais conquistaram, mais responderam à pesquisa – que é feita desde 1972 – dizendo que estavam infelizes”. Claro que estão mais infelizes; afinal de contas, as mulheres não foram criadas para serem homens de saias (ou, pior ainda, sem saias). Jogando fora a sua sublime vocação feminina, claro que as mulheres não podem senão ficar infelizes. A troca não vale a pena.

“Quando vemos o que ocorreu nestas últimas décadas, com as mulheres tendo mais liberdade, mais escolhas, mais oportunidades e mais dinheiro, temos que perguntar: o que está acontecendo?”, pergunta a jornalista Arianna Huffington. O que está acontecendo é simplesmente o resultado óbvio de um anti-natural igualitarismo entre os sexos, o esvanecer-se da quimera, a cara quebrada na dura realidade após se ter dado ouvidos às fábulas feministas. Emancipação sexual não traz felicidade. Dinheiro também não, e nem oportunidades, nem igualdade entre os sexos, nem independência financeira, nem nada disso. O que traz felicidade é seguir a própria vocação, e não fugir dela. O que traz felicidade às mulheres é simplesmente que elas sejam mulheres. Vale muito a pena lembrar que toda mulher sonha com uma mesa cheia de crianças.

Enquanto isso, eu leio provavelmente a coisa mais surreal que já li nos últimos tempos: uma americana que foi inseminada com o embrião errado se viu “diante da decisão de interromper a gestação ainda no início ou entregar o bebê aos pais biológicos após o parto”.

Como é o negócio?! Ela não poderia ficar com a criança porque não era dela, mas poderia matá-la?! Os pais biológicos iriam ser informados disso? E caso não concordassem com o assassinato do próprio filho?

Graças a Deus, a americana decidiu ter o bebê. “Tem sido difícil, mas tínhamos que colocar as necessidades da criança em primeiro lugar”. Quem dera houvesse mais pessoas que pensassem em colocar as necessidades da criança em primeiro lugar! Certamente não o fez quem ofereceu ao casal a possibilidade de matar a criança. Os pais biológicos têm direito ao filho, mas este não tem nem mesmo direito à vida! Tempos terríveis em que vivemos. Tenha Deus misericórdia de nós todos.

Linhas rápidas matinais

– Antes tarde do que nunca; o Gustavo escreveu ontem um bonito testemunho sobre Nossa Senhora, no seu blog, recolhendo diversos fatos e enxergando, em cada um deles, a mão amorosa da Virgem Santíssima que cuida daqueles que toma como Seus. A sua narrativa “testemunha que, de fato, nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à proteção da Virgem, implorado a Sua assistência, e reclamado o Seu socorro, tenha sido desamparado”. É bom cantar os louvores da Virgem e, agradecido, testemunhar os Seus favores!

“Como o feminismo da minha mãe nos dividiu”, testemunho de Rebecca Walker. Longo, mas bonito. “Eu acredito que o feminismo é um experimento, e todo experimento precisa ser avaliado pelos seus resultados. E então, quando você vê os enormes erros que custaram, você precisa fazer alterações”.

– Tom Hanks (não sei se em um surto de bom senso ou de cinismo) recomenda que as pessoas que se sintam ofendidas com as mentiras de Anjos e Demônios não assistam ao filme. Não sei se é um bom sinal porque o ator, ao menos, reconhece que há “mentiras” no filme, ou se a frase como foi dita é do órgão de imprensa e não de Tom Hanks, ou ainda se não é muita cara de pau produzir uma obra que se sabe cheia de “mentiras” e não ver problema nenhum com isso, bastando que os descontentes “não assistam”. Depois de um dos bispos mais idosos do mundo ter criticado a película e convidado os bispos a “a denunciar o filme por atacar a fé de milhões de pessoas e difundir espetáculos obscenos”, parece que os responsáveis pelo monstro estão já se preocupando em arranjar alguma forma de livrar a própria pele e fugir da responsabilidade pela obra de ficção caluniosa.

– Mais escândalos (de natureza diversa, importante frisar): padre no Rio de Janeiro afastado após comprar um apartamento de luxo, e um outro padre de São Paulo expôs um carro que vai ser sorteado numa rifa dentro da Igreja (!). O primeiro, um caso de não saber o que fazer com o dinheiro; o segundo, de não saber como obter dinheiro. Sugeriria que o dinheiro [aparentemente] excedente da Arquidiocese do Rio de Janeiro fosse doado à de São Paulo, para que a igreja da Consolação pudesse ser restaurada sem que os fiéis desta precisassem se deparar com um carro dentro dela…

Entrevista com a dra. Alice Teixeira no Jornada Cristã: “[a] menina de Alagoinha foi utilizada como engôdo pelas abortistas, que usaram-na para promover o aborto no pais. Os médicos do Instituto da Infância de Pernambuco pretendiam dar seguimento à gestação e também o amparo necessário à menina. Ela acabou sendo seqüestrada pela assistente social e levada para a ONG Curumin para realizar o aborto sob a pressão de que corria risco de vida. Pai e mãe foram pressionados para aceitar tal fato e não permitiram acesso a vozes contrárias, pois se tratava de uma ótima oportunidade de comover o pais e tornar a opinião pública favorável ao aborto”.

“Aborto em Recife: um crime sem investigação” – por pe. Lodi

[Reproduzo email do pe. Lodi, sobre o caso do aborto realizado em Recife na menina menor de idade que havia engravidado de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto.]

Aborto em Recife: um crime sem investigação

(dois gêmeos foram mortos; a menina e sua mãe estão incomunicáveis)

No dia 4 de março de 2009, em Recife foi praticado um crime de aborto em uma menina de nove anos, natural de Alagoinha (PE), que havia sido transportada à capital para o procedimento pré-natal. Os gêmeos abortados, com cerca de vinte semanas de vida, provavelmente respiraram e choraram antes de morrer. Até agora ninguém informou em qual lata de lixo eles foram lançados.

Na noite do dia anterior, a menina grávida e sua mãe foram transferidas às pressas do hospital em que se encontravam (o Instituto Materno Infantil de Recife – IMIP) para outro (Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros – CISAM), onde os médicos fizeram o aborto. Membros do grupo pró-aborto Curimim, financiados pela International Women’s Health Coalition (IWHC), foram ao IMIP e convenceram a mãe analfabeta a pedir a alta da filha. Mãe e filha foram transportadas para o CISAM em companhia de Dra. Vilma Guimarães, ginecologista e coordenadora do Centro de Atenção à Mulher do IMIP.

A pressa dos abortistas tinha razão de ser, uma vez que o pai biológico da menina Sr. Erivaldo (que vive separado da mãe), contrário ao aborto, estava dirigindo-se ao IMIP, acompanhado de um advogado, para pedir a alta da filha. Para os defensores do aborto havia o risco iminente de que o IMIP fosse obrigado a deixá-la sair, uma vez que, mesmo após a separação, o pai biológico continuava, por lei, a exercer o poder familiar sobre a filha. E mais: havia o risco – nada pequeno – de que a gravidez prosseguisse normalmente e que fossem dadas à luz, por cesariana, duas lindas crianças, que seriam batizadas pessoalmente pelo próprio Arcebispo de Olinda e Recife Dom José Cardoso Sobrinho! Imagine-se o ônus para a causa abortista se uma gravidez gemelar em uma menina de nove anos se convertesse em ícone da causa pró-vida!

Com “uma ação ágil e coordenada de grupos feministas” [1], o aborto foi feito por médicos do CISAM. Mediante a divulgação sistemática de mentiras pelos meios de comunicação social, o caso se transformou em um grande espetáculo em favor dos abortistas e contra o Arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho. Após o crime consumado, a menina, a mãe e uma irmã da menina, de 13 anos, também ela vítima de abuso sexual, foram colocadas em um “abrigo”[2] desconhecido e inacessível, onde se encontram até hoje guardadas (ou encarceradas?), impedidas de se comunicar com o Conselho Tutelar de Alagoinha (unanimemente contrário ao aborto) e com o próprio pai Sr. Erivaldo.

A seguir alguns importantes esclarecimentos sobre o triste episódio.

O QUE SE DIZ…

A VERDADE

No Brasil o aborto é legal em dois casos, previstos no Código Penal.

Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico:

I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

No Brasil, o aborto diretamente provocado é sempre crime, haja ou não pena associada a ele. O artigo 128, CP, não diz que o aborto “é permitido”. Nem sequer que “não é crime”. Diz apenas “não se pune”. A lei pode deixar de aplicar a pena ao criminoso após o crime consumado (por exemplo, fica isento de pena o furto praticado entre parentes – art. 181, CP), mas não pode dar permissão prévia para cometer um crime.

Se a gestante estiver correndo risco de vida, o médico que pratica o aborto fica isento de pena.

Para que o médico autor do crime fique isento de pena, não é suficiente que a gestante tenha corrido “risco de vida”. É necessário provar que não havia outro meio – a não ser o abortopara salvar a vida da gestante.

em 1965, o médico legal Dr. Costa Júnior dizia que essa hipótese jamais ocorre, pois o aborto é mais perigoso para a mãe que o prosseguimento da gravidez. E advertia: “não envolvam a Medicina no protecionismo ao crime desejado[3]

A menina de nove anos grávida de gêmeos corria risco iminente de morrer, caso o aborto não fosse praticado.

Na manhã do dia 3 de março, o diretor do IMIP Dr. Antônio Figueira, disse a Dom José Sobrinho, na residência episcopal e na presença de toda uma equipe de profissionais convocada para estudar o caso, que a menina não corria risco iminente de vida e que, se os pais o desejassem, a gestação poderia ser levada a termo com os cuidados do hospital.

Na tarde do mesmo dia, o IMIP deu alta à menina, a pedido da mãe[4], sob influência do grupo Curumim, alegando que não havia risco iminente para a menina.

Como a gravidez da menina resultou de um estupro, os médicos que praticaram o aborto ficam isentos de pena.

Para que os autores do crime gozem da não aplicação da pena, não basta que a gravidez tenha resultado de um estupro. É necessário que o aborto tenha sido precedido do consentimento da gestante. No caso, como a gestante é incapaz, é necessário que tenha havido o consentimento de ambos os pais, que a representam legalmente.

O consentimento da mãe da menina foi suficiente para isentar os médicos da pena.

Provavelmente, o consentimento da mãe foi obtido mediante fraude, o que torna a conduta dos médicos enquadrada no artigo 126, parágrafo único, CP, ou seja, reclusão de três a dez anos.

O consentimento do pai biológico da menina não era necessário para isentar os médicos da pena.

Ainda que a mãe tenha dado livre e validamente o seu consentimento, isso não é suficiente para deixar os médicos impunes, uma vez que havia a oposição do pai biológico. Compete a ambos os pais representar os filhos incapazes nos atos da vida civil (art. 1634, V, CC), e o poder familiar não se extingue pela separação dos pais (art. 1632, CC).

Faltando o consentimento do pai, a conduta dos médicos enquadra-se no artigo 125, CP (“provocar aborto, sem o consentimento da gestante”), cuja pena é reclusão de três a dez anos.

O destino dado aos bebês abortados é irrelevante para o caso.

Sendo o aborto um crime que deixa vestígios, é indispensável o exame de corpo de delito (art. 158, CPP), que deve ser feito nos cadáveres dos gêmeos e na menina submetida ao aborto. A ocultação dos cadáveres serve para encobrir o crime.

A ocultação da menina, de sua irmã e da mãe é necessária para que elas fiquem a salvo do assédio da imprensa.

A ocultação da menina, de sua irmã e da mãe interessa aos abortistas, a fim de que não seja possível a investigação sobre o crime. “O rapto de menores com ocultamento dos pais para realizar um aborto supostamente legal já foi praticado várias outras vezes na América Latina por organizações feministas. Já ocorreu pelo menos três vezes na Bolívia e uma vez na Nicarágua, mas é a primeira vez que ocorre no Brasil[5]

O aborto foi feito por motivos humanitários, em benefício da própria menina.

O aborto foi feito por interesses espúrios, instrumentalizando a menina para a propaganda abortista financiada internacionalmente pela International Women’s Health Coalition (IWHC), que patrocina o grupo Curumim.

Dom José Cardoso Sobrinho excomungou os médicos que fizeram o aborto.

O Arcebispo não excomungou ninguém. Apenas informou que, segundo o Código de Direito Canônico, “quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententie (automática)” (cânon 1398).

Se a excomunhão é automática, Dom José não precisaria ter avisado.

Justamente por ser um pena automática, é necessário que os fiéis sejam avisados de sua existência. De acordo com o Direito Canônico, para que alguém incorra na excomunhão automática, é necessário que conheça essa pena anexa ao crime (cânon 1324, §1, n.9 e §3). Dom José cumpriu seu dever ao anunciar a pena de excomunhão, a fim de que os médicos católicos, ao menos por temor da pena, poupassem a vida dos gêmeos. Foi um último recurso tentado para salvar os inocentes.

Não é justo que seja excomungada uma menina de nove anos.

A menina não foi excomungada, uma vez que não é passível de nenhuma pena canônica quem, no momento do delito, não tinha completado 16 anos. Provavelmente a mãe também não foi excomungada, se foi coagida por medo grave a dar consentimento ao aborto (cânon 1323, n. 1 e n. 4).

Para concluir, transcrevemos as interrogações do pároco de Alagoinha Pe. Edson Rodrigues, inseridas em seu blog no dia 24.04.2009:

DOIS MESES DEPOIS, EM QUE DEU O CASO DA MENINA?[6]

Já se passaram dois meses do triste episódio aqui de Alagoinha e ainda estamos querendo entender alguns fatos que até hoje ninguém explica. Muitos merecem um esclarecimento, visto que se trata de vidas que estão em jogo. Como Pastor de uma comunidade que deve se questionar a cada sobre as conseqüências do infeliz fato de nossa pequena de 9 anos ter engravidado de gêmeos do próprio padrasto e, lamentavelmente, não ter tido o direito de ver as suas duas filhas, pergunto:

1 – Onde estão a menina e a sua mãe, visto que aqui na cidade nenhum de nós (pai biológico da criança, Conselho Tutelar, Polícias, Autoridades constituídas, Igrejas e a própria comunidade) não tem conhecimento sequer de onde estejam?

2 – Por que tanto sigilo. Entendo que se queira preservar a garota e sua mãe do assédio da mídia para que não estrague mais o fato do que já estragou. Mas as pessoas citadas acima, nenhuma delas é jornalista. Por que tanto mistério até para o pai biológico da criança? O que está por trás disso?

3 – “Aborto realizado, caso encerrado”, assim dizem alguns. Será? Eu diria, “aborto realizado, crime consumado”. Neste país, crimes são passíveis de punições, pelo menos deveriam ser. E este? De quem é a culpa da morte das duas meninas? Quem deve pagar por isso?

4 – Onde estão as provas reais da “legalidade” deste aborto até hoje devidas pelo Hospital ao Conselho Tutelar de Alagoinha?

5 – Por que o Conselho Tutelar daqui, que acompanhou o fato do início ao seu trágico fim, foi banido do caso, sem que receba nenhuma informação?

6 – A questão da “excomunhão” amplamente divulgada pela imprensa nacional e internacional quis, como de fato conseguiu, desviar a atenção pública para um fato bem mais sério: o aborto, uma  decisão imperiosa da parte de “especialistas que juraram um dia preservar a vida”, e que hoje se dão ao direito de decidir sobre quem vive ou deve deixar de viver entre nós. O que é mais grave e merece mais atenção de nossa parte?

Estes e outros tantos questionamentos estão ainda em nossa mente e em nosso coração. Quem vai respondê-los? Isso a gente também gostaria de saber.

Pe. Edson Rodrigues

Roma 13 de maio de 2009.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
http://www.providaanapolis.org.br
“Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto


[1] Aborto: Caso de Pernambuco é questão de Direitos Humanos. Comissão de Cidadania e Reprodução. Disponível em: <http://www.ccr.org.br/uploads/noticias/EditorialCCR5-mar.pdf>.

[2] MENINA recebe alta e vai para abrigo com mãe e irmã. Diário de Pernambuco, 7 mar. 2009. Disponível em: <http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/03/07/urbana5_0.asp>.

[3] COSTA JÚNIOR, João Batista de O. Por quê, ainda, o abôrto terapêutico? Revista da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, v. IX, p. 312-330, 1965.

[4] MÃE pede alta de menina estuprada por padrasto. JC Online 3 mar 2009. Disponível em: <http://jc3.uol.com.br/tvjornal/2009/03/03/not_177412.php>.


Insistindo sobre o aborto e a excomunhão

Eu corro o risco de ser maçante e repetitivo; mas, enquanto não cessar a onda de ataques à Igreja Católica na figura do Arcebispo de Olinda e Recife, eu não posso me dar ao luxo de parar de falar sobre o assunto. Há coisas novas a serem divulgadas e coisas velhas a serem repetidas. Paciência. Vamos lá.

Para quem ainda não recebeu por email, a carta do pe. Lodi de apoio a Dom José Cardoso Sobrinho é primorosa e merece uma leitura. Está publicada na íntegra no Palavras Apenas (entre outros lugares), razão pela qual me escuso de reproduzí-la também aqui, limitando-me a fornecer o link. Também o Pedro Ravazzano publicou um excelente texto de sua lavra no seu blog, cuja leitura também recomendo, e do qual me permito citar um parágrafo, pois ele rebate uma das maiores mentiras sobre o assunto que estão sendo repetidas ad nauseam (a de que a menina ia morrer – assim, mesmo, dito como se fosse uma certeza dogmática – caso a gravidez fosse levada adiante):

O mundo já presenciou casos de gravidez onde a medicina foi de crucial importância para o nascimento dos filhos. No Peru houve Lina Medina, mãe com apenas cinco anos. Nos Estados Unidos todo mundo acompanhou a orgulhosa matriarca que teve oito filhos. Outra peruana, com nove anos de idade, deu à luz a uma criança prematura que após o parto foi imediatamente tratada pelos médicos. Aqui mesmo no Brasil uma garotinha da mesma idade pariu em no meio da Amazônia. Ou seja, a medicina tem plena capacidade e tecnologia para acompanhar uma criança grávida de gêmeos e fazer com que tenha seus filhos com saúde e sem risco imediato de vida.

Sobre o mesmo assunto (da morte certa e inevitável da garota caso o aborto não fosse prontamente realizado), vale a pena (re)ler o parecer da dra. Elizabeth Kipman, bem como esta carta a uns professores da UFPE, escrita por um amigo, da qual eu já citei um trecho aqui e, agora, destaco:

Até que alguém me prove o contrário, a gravidez da menina era cientificamente viável. Todos nós sabemos que a medicina é imprevisível, e é assim como devemos encará-la. E na minha opinião, a conduta correta deveria ser esperar a evolução do caso, acompanhar de forma contínua a gravidez, e induzir o parto se necessário, sempre procurando SALVAR VIDAS, que é a verdadeira atribuição da medicina.

Agora, o blá-blá-blá anti-clerical. O Diário de Pernambuco trouxe uma reportagem sobre as feministas contrárias à posição da Igreja; os motivos alegados não têm nada a ver com nada. Dizem estas senhoras que “o tipo de aborto feito na menina foi legal e está previsto em lei”, quando isso (além de ser falso) não está, absolutamente, em discussão. Os “médicos” que realizam abortos (p. ex.) nos Estados Unidos, ainda que o procedimento seja 100% legal, incorrem em excomunhão latae sententiae do mesmo jeito, porque o assassinato não deixa de ser assassinato só porque tem amparo legal (como, por exemplo, as Leis de Nuremberg não faziam com que o anti-semitismo fosse justo). Dizer o contrário disso é cair em um positivismo relativista, que só pode conduzir à barbárie.

Registro, outrossim, que as feministas estão se aproveitando do caso para fazer propaganda a favor do aborto livre no Brasil em qualquer caso: “o fato poderia ter tido um final diferente se o Estado brasileiro reconhecesse e legalizasse o aborto”.

O que a legalização do aborto tem a ver com a excomunhão da Igreja? Absolutamente nada. Portanto, se o aborto fosse legalizado – nunca é demais repetir -, os médicos que o realizaram estariam excomungados do mesmíssimo jeito (aliás, não dizem as feministas que este tipo de aborto já é legal?). O protesto das feministas só faz sentido se se estiver desejando a implantação do aborto livre no país – o que é exatamente o que elas desejam.

O site do Jornal Nacional tem uma enquete nonsense sobre o assunto, na página principal, perguntando: “O que você achou da decisão do arcebispo de Olinda e Recife, que excomungou os envolvidos no aborto sofrido por uma menina de 9 anos, que engravidou de gêmeos após ser violentada pelo padrasto?”. Os resultados atuais estão aqui. A pergunta é duplamente errônea, primeiro porque não houve “decisão” do Arcebispo de “excomungar” ninguém (dado que a pena de excomunhão para quem pratica aborto, como já cansamos de repetir, é automática) e, segundo, porque o que as pessoas “acham” ou deixam de achar sobre o assunto não tem nenhuma relevância, posto que se trata de um assunto interno da Igreja – a opção que diz “[e]rrada, pois a lei permite aborto em casos de estupro” é um completo disparate.

Por fim, o ministro do Supremo Marco Mello – tinha que ser ele – disse que o STF não tinha medo da excomunhão da Igreja. Aviso ao senhor ministro que a excomunhão automática se dá para quem pratica aborto, ocorrendo “seguindo-se o efeito”; por conseguinte, a questão não é análoga à ocorrida em Recife. Caberia, na minha opinião e salvo melhor juízo, aos ministros votantes a favor do aborto, uma excomunhão ferendae sententiae, isto é, imposta pela autoridade competente (que seria, de novo s.m.j., o(s) bispo(s) da(s) diocese(s) à(s) qual(is) pertence(m) cada um dos ministros), e não automática como a dos médicos de Recife.

Abre a boca ainda o senhor ministro para dizer que “[a] lei maior é a lei posta pelos homens e é a que norteia o julgamento dos processos”; ora, a proscrição da Lei Natural e a adoção do positivismo bruto está longe de ser uma princípio evidente. Isso não faz parte do Estado Laico: isso é uma ideologia professada por militantes anti-religiosos, e que é criminosa por ser profundamente injusta, já que instaura uma “lei do mais forte” onde o certo e o errado depende de quem está no poder. Bem disse o Yves Gandra Martins que, no Brasil, quem crê em Deus é um cidadão de segunda categoria

Uma mesa cheia de crianças

http://it.youtube.com/watch?v=cKCRHhmHvjg

Sua tataravó teve catorze filhos; sua bisavó teve quase o mesmo número; para sua avó, três foram o bastante; e sua mãe não queria nem você, você foi somente um acidente. E você, minha garota, você vai de parceiro em parceiro, e quando você comete algum engano, escapa dele por meio do aborto. Mas algumas manhãs você acorda chorando depois de ter sonhado à noite com uma grande mesa arrodeada de crianças.

Ontem, tendo saído com alguns amigos, nada melhor do que devaneios em mesas de bar. Entre uma cerveja e um cigarro; falávamos sobre a sociedade atual, sobre o feminismo, sobre o valor da mulher, da pureza, da castidade, da virgindade, sobre a libertação sexual, sobre o Cristianismo. Falávamos, enfim, sobre a vida.

Um amigo economista nos mostrava como o feminismo, através da pretensa defesa das mulheres, tem contribuído para tornar a vida delas um verdadeiro pesadelo. Falávamos de diversas coisas; da fertilidade das mulheres (que é muito mais sensível ao tempo do que a masculina), da óbvia diminuição populacional em países cujos cidadãos “inteligentes” e “superiores” tinham poucos filhos, das óbvias conseqüências desastrosas desta regressão populacional, da suposta luta de classes entre os homens e as mulheres… enfim, sobre diversas coisas. Daria para escrever um livro, como sugerimos, brincando, em certo momento da noite. Dentre todas essas coisas que foram faladas, contudo, gostaria de escrever um pouco aqui sobre a crueldade que o feminismo faz sobre as mulheres.

Em particular, por meio da imposição de uma espécie de “ditadura da beleza”! Oras, se a revolução sexual segue o caminho absurdo de, ao invés de valorizar a pureza femina, valorizar a promiscuidade universal, quem é que sai perdendo nesta história? As mulheres, sem dúvidas. Porque se a sexualidade é livre e se a satisfação sexual é o parâmetro que mede a felicidade, e se é necessário ter mais e mais parceiros (como a menina da canção em epígrafe), então o tempo, que tem efeitos terríveis sobre as mulheres, vai inevitavelmente transformar a felicidade da juventude em frustração na idade adulta. Se as mulheres precisam “disputar” entre si para conseguir parceiros sexuais, a disputa pode ser justa dentro da faixa etária da juventude. Sempre há, entretanto, meninas jovens, e as mulheres, conforme envelhecem, vão precisar disputar com as novas gerações que vêm surgindo – o que, sem dúvidas, não é uma disputa justa. A abundância de pretendentes, a beleza física da flor da juventude, a sensação de ser desejada… tudo é palha e vira pó com o passar dos anos. E então vem a frustração.

Como canta Tom Zé: “A Brigitte Bardot está ficando velha, / envelheceu antes dos nossos sonhos. / Coitada da Brigitte Bardot,  / que era uma moça bonita, / mas ela mesma não podia ser um sonho / para nunca envelhecer”. E como conversávamos ontem: se não for para a edificação da família que estiver ordenada a faculdade sexual, a frustração é inevitável. E, para as mulheres, é ainda mais doloroso, porque a maternidade está profundamente inscrita em cada mulher. Isto significa que precisamos resgatar alguns valores perdidos; valores como castidade, pureza, virgindade. Valores como família, como filhos.

A Ditadura da Beleza joga as mulheres numa guerra sem vitória possível. Porque o tempo é destruidor certo de toda a beleza da juventude; e as novas gerações são concorrentes de peso, contra as quais as mulheres mais velhas têm pouca ou nenhuma chance. Não adianta buscar a beleza e os atrativos do corpo; importa buscar os filhos e a construção da família, única satisfação realmente duradoura. Dizia o meu amigo economista que a mãe dele estava com setenta e não sei quantos anos, e a cada ano que passava, mais bonita ela ficava para ele. Em compensação, as “velhas solteironas” que nunca quiseram formar uma família para aproveitar a sua “liberdade sexual”, muito antes do que gostariam viram a sua liberdade ser destruída por causa dos efeitos do tempo. E, quando se percebe isso, via de regra é tarde demais; famílias só se constroem na juventude.

Contra a Ditadura da Beleza ergue-se como defensor das mulheres o Cristianismo, e em particular o Matrimônio Indissolúvel. Sim, porque a mulher sabe não ter condições de competir com outras mulheres indefinidamente; a Doutrina Católica vai dizer, todavia, que o marido dela, não importa o que aconteça, não importa quantas “concorrentes” apareçam, tem obrigação de estar com ela até que a morte os separe. A indissolubilidade matrimonial vai dizer que o marido deve se importar com a sua mulher e não com nenhuma outra. O que mais uma mulher quer? Que segurança maior que essa a mulher poderia esperar? Porque – vale salientar – o divórcio é extremamente injusto para com as mulheres. Afinal, após vinte anos de casados, quem tem mais chance de conseguir “construir uma nova família” pós-divórcio, o homem ou a mulher perto da menopausa?

É sobre a família que tudo deve estar construído. E o vídeo acima mostra como os valores se foram perdendo com o passar do tempo – como a terra que cai pelo caminho conforme é passada de geração em geração -, e urge recuperá-los. Como a mulher que só quer “curtir” a sua juventude, de parceiro em parceiro, abortando quando necessário. Mas, de vez em quando, ela acorda chorando, porque percebe haver alguma coisa dentro dela a lhe dizer que esta vida não tem futuro. Esta mulher é bem representativa das mulheres que encontramos na nossa sociedade, hoje em dia. Estão enganadas, mas podem ser recuperadas. Porque, no fundo, no fundo, esta mulher do vídeo – como toda mulher! – sonha com uma mesa cheia de crianças.

p.s.: a virtual totalidade das idéias acima expostas são devidas a Valter Romeiro, o meu amigo economista citado, a quem não posso deixar de agradecer.

Ecologia e ecolatria

Ecologia é um assunto importante. Sem dúvidas que o é. Vou mais fundo: ecologia é tão importante que não pode ficar nas mãos dos ecologistas irresponsáveis, que apresentam caricaturas do tema a ponto de torná-lo odioso às pessoas de relativo bom senso ou objeto de culto às pessoas de relativa falta de senso. Falo isso porque promover uma grande queimada de todos os livros e publicações “ecólatras” foi o meu primeiro impulso ao ler a besteira que a Ivone Gebara escreveu no site das Abortistas pelo Direito de Matar.

A freira abortista conseguiu juntar, num artigo só, “ecolatria”, exploração capitalista, luta de gêneros e digressões absurdas sobre a “Deusa Feminina” que ela julga ter sido injustamente suprimida da história religiosa da humanidade pelo Deus judaico-cristão. Parece até piada, mas ela realmente acusa os homens de terem distorcido a realidade porque, p.ex., é uma impropriedade falar no “seio de Deus Pai”, já que são as mulheres que têm seios (!). O que essa bobagem toda tem a ver com ecologia, só ela sabe; o termo cunhado “ecofeminismo” em oposição a “ecomasculinismo” é completamente destituído de significado objetivo sério, e só serve para – como falei acima – irritar quem ainda mantém senso de realidade e encantar quem já o perdeu. Mas, afinal, qual o problema com a ecologia?

Com a ecologia séria, nenhum problema. Afinal, “[o] Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2, 15). O homem, portanto – e isso é óbvio – deve guardar o planeta, e não destruir o planeta. E o lucro não pode, evidentemente, ser colocado acima desta ordenança de Deus: antes de obter bens para si, o homem está obrigado a cuidar da Criação de Deus. Ninguém discute isso. O que as pessoas discutem – e isso separa os católicos dos “ecólatras” – são outras coisas.

Primeiro, discute-se a hierarquia que há na Criação. É óbvio para os católicos que o ser humano tem primazia no Universo Criado, exatamente porque aquele que foi colocado por Deus para cuidar do Jardim do Éden precisa necessariamente ter primazia sobre o jardim do qual ele cuida. Mas há quem não entenda isso, e ache que “a natureza” tem o exato mesmo valor do homem ou – pior ainda! – que ela tem primazia sobre o homem. O primeiro caso pode levar a aberrações como o vegetarianismo por convicção de que um animal não pode ser morto para alimentar “outro animal” (no caso, o homem); o segundo caso, pode levar à aceitação tácita do absurdo de que ovos de tartaruga sejam protegidos incondicionalmente ao mesmo tempo em que embriões humanos podem ser destruídos em laboratório ou por meio do aborto. Igualitarismo é coisa de esquerdista, e eles não medem esforços para aplicar o seu pressuposto absurdo a tudo – até mesmo à ordem que há na natureza.

Outra coisa que se discute é a confusão feita entre, digamos, “efeito desejado” e “efeito colateral”. Uma pessoa que derrube um espaço de floresta para plantar gado não é puramente um “criminoso ecológico”, é uma pessoa que está interessada – antes de na mera destruição da fauna – na criação de animais para a produção de bens de consumo básicos. E eu, sinceramente, tenho sérias dificuldades para precisar a responsabilidade moral de pessoas em situações como essa. E no caso de um carro que é utilizado como meio de transporte necessário, mas que polui o ar junto com isso? E no caso de terrenos de mangue que precisam ser aterrados (em Recife, a coisa mais comum do mundo) para a construção de casas para as pessoas morarem? Claro que deve haver algum limite sério para a “destruição” da natureza, mas o que é necessário ter em vista é que as pessoas quase nunca estão simplesmente “destruindo a natureza” por destruir, mas se utilizando de bens naturais para a produção de alguma coisa que é útil e necessária ao ser humano. Já deve ter até gente dizendo que as reservas de petróleo não devem ser exploradas, porque são dissipadores naturais do calor do núcleo da terra… qual a proposta? Voltar ao “bom selvagem”? Isso – de novo – não é um debate sério.

Uma outra coisa, enfim, bastante discutível é o catastrofismo ambientalista alardeado por alguns irresponsáveis. Por exemplo, já houve até quem dissesse que os flatos das vacas têm uma grande parcela de responsabilidade no aquecimento global, e houve quem inventasse “pílulas anti-arroto” para diminuir a emissão de gases bovinos na atmosfera terrestre! Vejam, não há problemas morais em pesquisas sobre maneiras de diminuir a emissão de metano bovino, mas será que isso é realmente urgente e não há coisas mais sérias a serem priorizadas? No mesmo saco catastrofista podem ser ainda colocadas as projeções malthusianas que colocam o controle de natalidade como um imperativo para evitar uma tragédia demográfica num futuro próximo devido à superpopulação mundial – com a diferença de que, aqui, o controle de natalidade simplesmente não pode ser aplicado. Nem que fosse verdade – o que não é – a existência de uma bomba demográfica na iminência de explodir (neste caso, seria necessário largar as pastilhas das vacas e procurar maneiras de aumentar a produção de alimentos).

Em suma, pode ser um péssimo indicativo o fato de assuntos ecológicos sempre estarem na ordem do dia de toda sorte de movimentos anti-católicos, de teólogos da libertação a movimentos New Age, mas o problema não é com a ecologia em si – e sim com a palhaçada que essas pessoas fazem com um assunto sério. Às vezes, fico com a impressão de que a impressão passada pelos “católicos sérios” é a de um total descaso irresponsável com o planeta – o que não é verdade. É necessário “cultivar e guardar” o Jardim do Éden; o que não aceitamos é que o jardim seja transformado em máquina de guerra contra o homem, acrescentando mais uma tensão dialética onde ela não deveria existir e, aliás, nem existe: os pobres versus os ricos, os homens versus as mulheres, o ser humano versus a natureza. É por isso que o assunto é tão palatável aos esquerdistas de todos os naipes. E é por isso que os católicos fazem-lhe oposição.