Cristiada é sucesso no México – veja o trailer!

[Já é o filme mais assistido da semana no México. Finalmente uma tentativa de contar a história dos heróis da Fé que viveram – e morreram – no México do início do século passado, em pleno século XX! Os que tiverem a oportunidade, não deixem de assistir. E permita Deus que também a respeito da película se possa dizer: Sanguinis Martyrum Semen Christianorum. Viva Cristo Rei!]

The Social Network (2010)

[ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS!]

Assisti The Social Network na quarta-feira passada. Gostei bastante do filme. Ontem, conversando com um amigo que encontrei casualmente no aniversário de um amigo em comum, descobri duas coisas interessantes: primeiro, que este meu amigo criara um blog; e, segundo, que ele escrevera precisamente sobre este filme, do qual também havia gostado bastante. Também eu quero tecer algumas rápidas linhas sobre a película, não exaustivas. Desnecessário dizer que recomendo o filme.

O protagonista, Mark Zuckerberg, é um personagem interessantíssimo. Consegue provocar, nos que assistem ao filme, sentimentos tanto de ódio quanto de compaixão. Um gênio, sem dúvidas – mas um gênio extremamente boçal. A maneira como ele trata as pessoas que lhe são próximas chega a irritar os que assistem ao filme – “meu Deus, como ele pode ser tão crápula?”; mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, a maneira como ele despreza o dinheiro e o poder em benefício das pessoas que ama provoca admiração – “como ele pode ser tão desapegado?”.

Quando li a sinopse do filme, havia entendido que o garoto construíra o Facebook após levar um fora de sua então namorada. Acontece que não é exatamente assim; do início do filme, depreende-se que Mark detém completa e exclusivamente a culpa pelo fim do seu relacionamento. Trata a sua namorada com um ar superior que não se usa nem com o pior inimigo. Frases como “tu irás, comigo, conhecer pessoas que de outra maneira jamais irias conhecer” e “não, fica aqui comigo, tu não precisas estudar, porque estás na Universidade X” (não me recordo o nome dela agora, mas é clara a conotação, no filme, de que se trata de uma universidade de nível inferior) irritam profundamente – e com total razão – a garota. Ela termina com ele, ele a xinga no blog, e tudo parece estar muito certo.

Mas não está porque, a partir daí, a vida de Mark é uma ascenção meteórica, enquanto a menina continua como uma personagem apagada e secundária em toda a trama. No entanto, ela volta e sempre aparece, em diversas passagens do jovem multimilionário que não está disposto, de nenhuma maneira, a desistir dela. Chega a ser cômico! Ele tenta desculpar-se com ela e, dela, só recebe desprezo. Mesmo assim, ele pergunta em um certo momento a Sean Parker (criador do Napster, que o está ajudando com o Facebook) se ele ainda pensa na garota cujo fora o fez criar o Napster (a história de ambos é parecida). Sean nem lembra mais da garota, mas Mark não a esquece. Não importa quanto dinheiro, poder e fama ele obtenha: ele simplesmente não a esquece! É uma interessantíssima maneira de se mostrar o quanto as pessoas valem mais – infinitamente mais – do que dinheiro e poder. A ponto de até um perfeito cretino como Mark Zuckerberg percebê-lo! A mensagem é tanto mais forte quanto maior é o contraste entre a personalidade do criador do Facebook e a sua insistência em fazer as pazes com a antiga namorada.

Tanto que a cena final chega a ser apoteótica: em uma sala vazia, após as diversas audiências judiciais envolvendo os autores de duas ações milionárias contra o Facebook, Mark fica sozinho e liga o computador. Abre o seu Facebook. Procura por Erica Albright (a ex-namorada). Vacila um pouco, mas clica afinal em “add as friend” no seu perfil. Olha para a tela. Aperta F5 (para atualizar, e ver se ela já aceitou o convite). Olha para a tela. Atualiza-a. Olha de novo. Atualiza novamente. E assim, repetidas vezes, termina o filme.

O criador do Facebook, o mais jovem bilionário do mundo, mendigando a atenção da ex-namorada na rede virtual por ele próprio criada! Após perder alguns milhões de dólares nas duas ações movidas contra ele, isto simplesmente não ocupa a sua atenção. Não o preocupa. A única coisa que o incomoda é que ele não conseguiu fazer as pazes com Erica Albright. Ele conseguiu tudo, menos isso, e é exatamente isso que o preocupa e incomoda, é o que torna a sua vida incompleta, é o que ele deseja a todo custo conseguir ainda. O filme não chega a dizer isso, mas eu fiquei imaginando se, caso lhe fosse dado escolher entre o dinheiro e a garota, Mark Zuckerberg não escolheria a garota.

Independente disso, o fato é que – claramente – o dinheiro e o poder exercem menos fascínio sobre o criador do Facebook do que a possibilidade de fazer as pazes com a antiga namorada. Ele até admite perder algum dinheiro, mas a possibilidade de não reatar os laços com Erica Albright é o que, sem dúvidas, o aterroriza verdadeiramente, é o que lhe tira o sentido da vida. Porque ela se apresenta, afinal de contas, como “algo” – melhor dizendo, como alguém – sobre a qual todo o seu dinheiro e poder não têm nenhuma influência. A antiga namorada vale mais do que ser dono do Facebook? O filme mostra que certas coisas não têm preço. E que até mesmo quem está cheio de orgulho, de poder, de fama e de dinheiro é capaz de o perceber e de se incomodar com isso.

Filmes em hotel

Semana passada, no hotel, passando os canais da televisão, vi alguns filmes – melhor dizendo, trechos de filmes – que tive vontade de comentar. São, todos, uns mais, outros menos, imorais; mas revelavam algumas coisas verdadeiras de maneira tão nua e crua que merecem ser citados.

Na Globo, passava “Os Sonhadores”. Achei que seria um filme histórico sobre a Revolta Estudantil, mas me enganei: o filme era repleto de cenas explícitas de sexo explícito (a redundância é proposital e necessária), de uma maneira que não me recordo de ter visto no cinema ou na televisão. Escandaloso, mas tem uma cena muito interessante: é quando um dos personagens principais diz a outro (em cuja casa – abastada… – ele está hospedado) que, se ele realmente acreditasse nos livros que lê e nos discursos políticos que faz, estaria nas ruas de Paris e não trancado no apartamento, bebendo os vinhos caros do pai…

Há um outro filme que eu não sei o nome, mas lembro-me da cena. Dois adolescentes, um garoto e uma garota, conversando sobre o seu relacionamento. O rapaz reclama que gostaria de sair com a menina para o cinema, para uma sorveteria, para um baile. A menina, rapidamente, rebate: “isso deveria ter sido antes do sexo, não?”. O rapaz cala-se, pois não tem como contra-argumentar. E eu penso em quantos casos assim não existem nos dias de hoje…

Mas o melhor é um filme que eu assisti quase todo, embora não lembre o nome. A sacada é genial, talvez alguém conheça: trata-se de um “documentário” produzido por um extraterrestre sobre a reprodução humana. O filme mostra a voz do ET explicando todos os passos da vida afetiva de um casal do século XX: o encontro na boate, o telefone perdido, o reencontro, o sexo com contraceptivos, a gravidez acidental, a tentativa de aborto, o casamento. E o hilário é que o extraterrestre explica tudo isso sob uma ótica de reprodução da espécie e, portanto, não consegue entender nada: é impagável ver a narração explicar que, quando se encontram na boate, a mulher está tentando convencer o homem que é fértil e vai lhe dar muitos filhos, enquanto o homem tenta fazer a mulher acreditar que ele é forte e vai proteger e sustentar ela e a prole. Quando os dois viajam para um final de semana nas montanhas e esquecem os contraceptivos, ouvir o ET empolgado dizendo: “ahhh, conception! Finally” é indescritível. Muito provavelmente o roteirista não quis fazer uma crítica aos relacionamentos humanos modernos, mas terminou conseguindo. Ainda bem.

Arraste-me para o Inferno

[ATENÇÃO! CONTÉM SPOILERS!]

dragmetohell“Arraste-me para o Inferno” é um filme muito, muito tosco. Quem assiste ao trailler – ou quem vê o cartaz de divulgação do filme – é levado a pensar que se trata de um filme de terror, se não do calibre de um “O Exorcismo de Emylly Rose”, ao menos perto de um “Evocando Espíritos”. Puro engano. O filme não se decide entre o terror verdadeiro, o horror nojento e a comédia.

A intensidade dos efeitos especiais chega a ser cômica, em alguns momentos. Bem feitos, mas – nunca pensei que eu fosse dizer isso – desnecessariamente exagerados. Aquele chão se abrindo já logo no começo e arrastando o menino inteiro para as profundezas do Inferno não assusta. Aquela cabra, quase no final do filme, na qual “entra” o demônio e começa a falar, me arrancou verdadeiras gargalhadas. Isso sem contar quando as cenas são simplesmente nojentas, como a do olho no bolo e a do cadáver da velha vomitando sobre a menina (que me lembraram as mais tenebrosas cenas de “Fome Animal”). Claro, há algumas que valem a pena: a mulher fugindo do demônio que sobe a escada, o portão rangendo e as panelas balançando na cozinha… mas, sinceramente, são poucas. E a indecisão manifesta sobre qual é exatamente o gênero do filme estraga tudo.

À história. A mulher nega a regularização de um empréstimo a uma velha cigana e é amaldiçoada por esta. A velha pega um botão do seu casaco, lança uma mandinga e o devolve; a partir daí, a garota vai ser perseguida por três dias por um demônio – Lamia -, ao final dos quais o ser das trevas vai levar a alma (com corpo e tudo, como já falei) dela para o inferno. A mulher tenta de tudo para se livrar do demônio: procura falar com a velha (que encontra morta), procura um vidente, sacrifica um gato à Lamia (!), paga 10.000 dólares por uma médium experiente, tenta devolver o botão amaldiçoado à velha bruxa (porque a Lamia viria buscar “o dono do objeto amaldiçoado”)… tudo, menos procurar um exorcista de verdade. Nada adianta (a última tentativa, de “repassar” o objeto amaldiçoado, não funciona por mero acaso). A jovem protagonista é arrastada para o inferno ao final do filme. O que, aliás, faz com que o título do filme, no imperativo (mesmo em inglês), não faça o menor sentido… mas deixa pra lá.

Interessam-me aqui principalmente duas coisas: a noção de maldição e as escolhas morais feitas no filme. Primeiro, maldições e exorcismos existem de verdade (há pelo menos duas entrevistas com o pe. Amorth – famoso exorcista de Roma – disponíveis na internet, uma no site do Shalom e, outra, no da Montfort), mas não para “levar a pessoa para o inferno”. As pessoas vão para o Inferno por causa de seus pecados pessoais, e não “arrastadas” por outras. Malefícios podem causar muito mal às pessoas, sim, e o demônio pode atormentar bastante pessoas que deles foram vítimas, sim. Mas Satanás não pode levar para o inferno quem esteja em estado de Graça, e o único capaz de perder a Graça Santificante é a própria pessoa que a possui, por meio do pecado mortal. Nem possessões demoníacas levam ao inferno.

Lembro-me de Fausto, que – aí sim! – é uma história majestosa de pacto com Satanás. O final é apoteótico: Fausto (que havia vendido a alma a Mefistófeles na juventude) morto, a cratera do inferno aberta de um lado, os anjos do Céu descendo do outro e afastando os demônios… Salva-se. Mas o que interessa é que, no caso do clássico de Goethe, o negócio foi feito entre o demônio e o próprio dono da alma. Vender almas de terceiros não faz sentido.

E as escolhas morais… ao final da trama, a senhorita tem a opção de entregar o botão amaldiçoado para alguém e, assim, livrar-se do Inferno. Pois Lamia viria buscar “o dono do objeto amaldiçoado”… Aqui, a injustiça atinge as raias do surreal: vai-se ao inferno pelo simples ato de se receber um botão velho, ainda que não se saiba o significado do gesto! A garota pensa quem vai ser “presenteado” com a maldição. Encontra um velho doente e pensa em entregar-lhe, mas desiste. Pensa no seu colega de trabalho que a havia desonestamente passado para trás, chega a chamá-lo, mas desiste. Por fim, pensa na velha (morta) que a amaldiçoou. E decide fazê-lo.

E eu fiquei pensando… obviamente é imoral passar maldições – aliás, fazer qualquer mal – para terceiros que não têm nada a ver com a história. Mas, na impossibilidade de se destruir o malefício, não será lícito devolvê-lo a quem o lançou? Na minha opinião, é um caso de legítima defesa contra o agressor injusto, sim. Não é uma vingança pura e simples, porque não foi “outra” maldição que a garota lançou – ela pensou em devolver a mesmíssima. A agressão estava “em acto”, e não era passada, dado que Lamia ainda não viera buscar-lhe a alma. Não houve desproporcionalidade. Não havia opções. Neste final do filme, parece-me que conseguiram apresentar uma escolha razoável: o dilema diante das opções de injustiça (p. ex., passar o botão até mesmo para o sujeito que lhe havia sacaneado), a recusa de escolher qualquer uma delas, a escolha definitiva que é – no meu entender – defesa legítima.

Mas permanece o bizarro e o surreal, porque esta reação dependia da entrega, física, do objeto amaldiçoado – e a menina acaba entregando outra coisa à velha, por engano. E o chão se abre sob os pés dela, e os demônios a arrastam para o inferno. À injustiça de ser levada para o inferno por maldição de outrem, juntou-se a injustiça de não ter – por acaso, por uma troca de envelopes – conseguido defender-se da agressora injusta. Neste mundo kafkiano retratado pelo filme, realmente, é complicado viver. Se o filme quis passar desesperança, conseguiu.

Anjos e Demônios

[ATENÇÃO! CONTÉM REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO (SPOILERS)!]

angels_demonsMais pernicioso do que “O Código da Vinci”, porque mais sutil: foi a opinião com a qual saí ontem da sessão de cinema onde fui para ver Anjos e Demônios. Comentava com um amigo no caminho de volta – aliás, leiam as considerações dele sobre a película – que, neste filme – ao contrário do Código da Vinci que intenta “revolucionar” tudo o que se sabe sobre o Cristianismo -, a cantilena é a mesma do início ao fim: a Igreja Católica é inimiga da Ciência. A repetição da tese ad nauseam, das mais variadas formas ao longo do enredo, aliada ao já conhecido e amplamente disseminado preconceito histórico contra a Igreja adotado por grande parte das pessoas, faz com que o espectador saia do cinema, sim, com uma visão negativa e equivocada da Igreja.

O personagem do Tom Hanks ajuda. O seu ar de superioridade, a ironia com a qual ele trata – muito “apropriadamente”, dentro do enredo – todas as coisas referentes à Igreja, a sua mania de comentar en passant assuntos que ele “conhece muito bem” (as “informações enciclopédicas” das quais fala o Cardoso) e todos os demais ignoram, etc: a receita faz com que o público seja cativado pelo prof. Langdon – e, por conseguinte, pelas suas opiniões. Logo no início do filme, falando sobre a “célebre” cena de Pio IX com um martelo e um cinzel na mão, atravessando às pressas os corredores vaticanos para “castrar” as estátuas renascentistas… oras, nunca ouvi falar de semelhante coisa na vida. As estátuas renascentistas são imorais e a “cobertura” dos órgãos sexuais com folhas é posterior às obras; isso todo mundo sabe. No entanto, acho bem pouco provável que, por todos os séculos compreendidos entre o Renascimento e Pio IX, as estátuas tenham ficado indecorosamente expostas sem que ninguém parecesse se preocupar com elas; e, ainda que isso tenha acontecido, a cena do Papa quebrando-as pessoalmente raia o inverossímil.

A mesma coisa com La Purga. La Purga! “Vocês não lêem nem a sua própria história?”, pergunta com aquele jeito arrogante o prof. Langdon aos – se minha memória não me falha – membros da Guarda Suíça. “A Igreja mandou marcar a ferro quatro cientistas porque as suas conclusões científicas discordavam das do Vaticano, o que fez com que os Illuminati passassem a ser violentos”. A culpa – de novo! – é da Igreja Católica. Esqueceu-se o sr. Langdon de fornecer mais detalhes sobre estas pobres vítimas da violência vaticana. Quem são eles? Quando isso aconteceu? Onde? Mas o Dan Brown não pode fornecer essas informações, porque senão a invenção dele seria mais facilmente desmascarada.

Continua o prof. Langdon com as suas bobagens: os “altares da Ciência” construídos em igrejas de Roma, Galileo e Bernini como Illuminati, o “caminho da iluminação” que devia ser percorrido pelos que quisessem ser admitidos à sociedade secreta, o Diagramma Veritatis escrito por Galileo que ensina como chegar a este caminho… a Igreja sempre retratada como obscurantista, inimiga da ciência, e os cientistas em guerra constante contra Ela, zombando d’Ela ao se reunírem às barbas dos cardeais no Castelo Sant’Angelo, colocando nas igrejas d’Ela as pistas a serem descobertas por quem quisesse ser um Iluminado.

Mas a figura do camerlengo é uma das piores. Aparentemente colocado para ser uma contraposição ao ceticismo do prof. Langdon, e depois revelado como o responsável – de alguma maneira mirabolante – pelo roubo da anti-matéria, seqüestro dos cardeais e elaboração de um plano infalível para salvar a Cidade do Vaticano da bomba que ele próprio armou e, por conseguinte, ser aclamado Papa graças ao heroísmo de sua atitude, a Igreja está muito mal representada por este jovem sacerdote. Todo o seu discurso inflamado em favor da Igreja, proferido ao colégio cardinalício, está enviesado pela mesmíssima falsa oposição Igreja x Ciência do prof. Langdon. Se até mesmo o personagem “católico” da trama concorda plenamente com o simbologista, então – é o que facilmente conclui o espectador – a Igreja é mesmo responsável por todas essas barbaridades contra a Ciência perpetradas ao longo dos séculos. Nem mesmo a reviravolta final que o mostra como responsável por toda a tragédia ao invés de paladino salvador é o suficiente para macular por completo todas as suas atitudes ao longo do filme. Permanece, por exemplo, um nobre ideal a ser buscado a idéia dele de “mudar” a Igreja e fazê-la “não ser mais” (!) inimiga da Ciência. E as pessoas que tenham “simpatia” pela Igreja são, diante do filme, “empurradas” a terem exatamente esta posição: ah, os erros pertencem ao passado e vamos construir uma Igreja que “não seja mais” inimiga da Ciência. Propositalmente, não existe uma posição que seja simpática à Igreja, não existe alternativa ao erro de fundo da falsa oposição existente entre fé e ciência: os inimigos da Igreja tratam-Na no máximo com indiferença porque Ela não é amiga da Ciência, e os amigos da Igreja querem que Ela mude para que seja amiga da Ciência…

Retomando, para terminar, uma crítica que já ouvi em outros lugares: diante de todas as mentiras do filme, pode-se objetar dizendo “ah, mas isso tudo é ficção, é como X-MEN, e não dá para exigir que as obras de ficção sejam verdadeiras”. As obras de ficção não precisam ser verdadeiras, é claro, mas também não podem apresentar informações falsas como se fossem verdadeiras. E Anjos e Demônios faz exatamente isso. Afinal, no meio de um monte de coisas verdadeiras (com algumas falhas aqui ou ali, mas em substância verdadeiras) como a Igreja, o Papa, o camerlengo, o colégio cardinalício, o Conclave, os arquivos vaticanos, Galileo, Bernini, o êxtase de Santa Teresa, o Castelo Sant’Angelo… quem é que vai saber se a história da castração das estátuas de Pio IX é mentira ou verdade? Ou se a existência de cientistas Illuminati é mentira ou verdade? Ou se La Purga é mentira ou verdade? O filme tenciona, sim, confundir e consegue. Como já falei no início (e é, a meu ver, a pior coisa da obra), a visão da “Igreja inimiga da Ciência” – a mentira repetida do início ao fim, em todas as partes da trama – impregna-se fortemente em quem assiste Anjos e Demônios. Agora ouse dizer a alguém que isso é ficção…

Sobre Anjos e Demônios

1. Opinião de um católico: “Meu maior problema com livros e filmes do tipo Anjos e Demônios é que, ao misturar ficção e realidade, a tendência é que tudo seja absorvido pelo público como realidade. (…) A pessoa vai ao cinema ver Anjos e Demônios e sai realmente achando que Galileu e Bernini eram Illuminati, que Copérnico morreu assassinado, que a Igreja atrapalha a ciência, que Pio IX era um maníaco que atravessava o Vaticano de martelo na mão, que a Igreja “marcou” quatro Illuminati (Langdon reprova o chefe da Guarda Suíça, perguntando se os católicos não leem sua própria história. Bom, nós lemos; é que La purga não é história, é invenção de Dan Brown), que os cientistas querem refazer o momento da criação, que Galileu escreveu o tal Diagramma e por aí vai. Isso é um desserviço considerável à verdade histórica, e também à ciência” – Marcio Antonio Campos.

2. Opinião de um anti-clerical: “Os Illuminati defendiam a ciência no lugar da religião, e no filme roubam um frasco de antimatéria do Large Hadron Collider para explodir o Vaticano. Embora a idéia não deixe de me agradar, o filme faz com que fique claro a perda que tal explosão causaria. As igrejas são lindas, as estátuas magníficas. Se uma coisa de bom posso dizer da Igreja Católica é que não só pensam a longo prazo como possuem um magnífico senso estético, completamente ausente do Bispo Macedo e seus templos tenebrosamente feios. […] Um dos efeitos interessantes e inusitados do filme é que deixa o espectador com todo um respeito pela Igreja. A Tradição, os Rituais, dá pra entender porque sobreviveram por mais de 2000 anos como instituição. É mais ou menos como o Judaísmo, embora no caso todos os membros preservem ativamente a cultura e os rituais, já com os católicos um monte de gente se diz seguidor mas nem lembra que Papa veio antes de João Paulo II” – Carlos Cardoso.

3. Opinião “científica” sobre o livro: “‘Anjos e Demônios’ é escrito em estilo irresistível e acessível. Você prefere não dormir só para ler mais um pouquinho. Ele trata de questões que passam pela cabeça de todos: a existência de Deus, a possibilidade de se ter fé em um Universo que parece ter profunda indiferença por nós, a reconciliação entre o científico e o espiritual. Só que o livro leva o conflito entre razão e fé à uma conflagração apocalíptica. […] A ciência é vista como uma ameaça à religião: quanto mais aprendemos sobre a natureza, mais difícil é aceitar a existência de forças sobrenaturais” – Marcelo Gleiser, 2004.

4. Na Rádio Vaticana: “O editorial intitulado ‘O segredo de seu sucesso’ diz que a Igreja deveria se perguntar por que uma visão ‘simplista e parcial’ dela mesma, conforme a mostrada nas obras de Dan Brown, encontra tanto eco, mesmo entre católicos.  ‘Seria provavelmente um exagero considerar os livros de Dan Brown um sinal de alarme, mas talvez eles devam ser um estímulo para que se repense e renove a maneira como a Igreja emprega a mídia, para explicar suas posições sobre as questões mais candentes do momento’ − diz o editorial” – 08 de maio de 2009.

Minha opinião: não li o livro e [ainda] não assisti o filme. No entanto, diante dessas “obras” que têm valor intrínseco menor que o de um ponto do Bomclube e, não obstante, alcançam um sucesso estrondoso frente ao grande público, chega quase a me bater um verdadeiro desânimo. Porque as refutações das bobagens nunca têm o mesmo poder de penetração do que o da bobagem em si. Para ficar em um só exemplo que, pelo que eu venho lendo, é um dos pontos fortes do filme: de que adianta explicar cuidadosamente como a ciência experimental é filha da Igreja Católica, se “eu vi no cinema com o Tom Hanks que é o contrário”?

Católicos, mãos à obra! Há muito trabalho a ser feito.

A lenda do “Corpus Christi”

Recebi nos últimos dias [de novo…] uns emails sobre um filme chamado “Corpus Christi”, cuja estréia estaria marcada para os próximos meses. Tratar-se-ia de um filme onde Nosso Senhor e os discípulos seriam retratados como homossexuais, e o email enviado propunha que se fizesse um abaixo-assinado para tentar impedir o seu lançamento. Eu já sabia que era um hoax [e, aliás, um hoax antigo], mas parece que o negócio tem enganado muita gente de boa fé. A Catholic League enviou um email contendo o seguinte teor:

Hoax “Corpus Christi”

Muitas pessoas contactaram a Liga [perguntando] sobre os rumores de que a peça [de teatro] anti-católica “Corpus Christi” está sendo transformada em um filme a ser lançado neste verão. Por favor, esteja avisado de que isto é um hoax.

Já faz bastante tempo que está na rede a denúncia de que se trata de HOAX. Aliás, vale uma leitura completa deste dossiê, do qual eu destaco duas coisas:

Pois bem, o filme não existe. Pelo menos até este momento (outubro de 2008) não há sequer notícia da intenção de fazê-lo. No entanto, uma peça intitulada Corpus Christi foi encenada na Broadway (Nova Iorque) em 1998. Nela, o autor Terrence McNally apresenta Cristo e seus apóstolos como homossexuais. (Veja Terrence McNally’s Corpus Christi Under Attack in Indiana [o link do Quatro Cantos está errado. Este aqui está correto]).

e

Essa lenda circula pela Europa desde os anos 80 antes mesmo de a Internet tornar-se o meio ideal para tal tipo de divulgação. Na década de 80 e princípio da de 90, essa história se propagava via fax e correio. Naquele tempo, como hoje, não existia nenhum filme sobre esse tema.

Prestemos atenção: a lenda circula desde os anos 80 e só em 1998 – i.e., no final dos anos 90 – a peça foi representada. Ou seja, é bem possível que a repercussão que a lenda teve tenha motivado a sua realização. Portanto, precisamos enterrar de vez este assunto, por dois motivos: o primeiro porque ele é falso, e nós temos muito mais coisas – verdadeiras – com as quais nos preocuparmos; e, o segundo, para que alguém não tenha a infeliz idéia de produzir realmente este filme, depois de toda a propaganda feita pelo hoax. Já basta a peça blasfema e todas as outras blasfêmias que acontecem quotidianamente e com as quais temos que nos preocupar – não precisamos de outras.

Bella (Beauty)

Jorge já tinha comentado en passant sobre este filme. Eu o assisti: fantástico. O roteiro é muito bem feito, a fotografia, excelente. Um dos melhores filmes que já vi. Recomendo muitíssimo. A sinopse oficial: “Uma estrela internacional do futebol (Eduardo Verastegui) está a caminho de assinar um contrato multimilionário quando uma séries de eventos ocorre, levando sua carreira a um abrupto fim. Uma bela garçonete (Tammy Blanchard), lutando para viver em New York, descobre algo sobre ela para o qual não estava preparada. Em um momento irreversível, suas vidas são viradas de ponta-cabeça… até que um simples gesto de bondade une a ambos, tornando um dia como outro qualquer numa experiência inesquecível” (traduzida por mim; sempre é bom desconfiar)

O trailer (com legendas em espanhol):

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=zFIe4sDhVU4]