Papini & I Fioretti di San Francesco

Um amigo mandou-me agora à hora do almoço um bonito texto sobre São Francisco de Assis publicado no site da Quadrante, que vale a leitura; mostra como um dos maiores santos da Igreja é hoje as mais das vezes “caricaturizado” pelo sentimentalismo reinante, e o Francisco que aparece nos nossos dias (e que, infelizmente, está bem impresso na mentalidade da média das pessoas) é bem diferente do São Francisco de Assis que a Providência Divina fez surgir na Idade Média.

Há meio século, e talvez mais [nota: o artigo é de 1922], São Francisco é o único, da legião flamejante dos invasores do Paraíso, que encontrou graça diante dos olhos míopes dos cristãozinhos divididos e até de muitos blasfemos alegóricos a serviço do Demônio. A vida do “Pobre de Assis”, solertemente lapidada para dela retirar tudo o que há de sobrenatural, que enoja os delicadíssimos apêndices olfativos do “homens modernos”, é recebida com cordial condescendência entre os livros de que se podem convenientemente nutrir a senhora e o senhor que estão “à altura dos tempos”.

O autor do ensaio,  Giovanni Papini, alude por diversas vezes aos Fioretti, que eu – apesar de já ter ouvido falar por diversas vezes – ainda não havia lido. Procurei em português e encontrei o Florilégio, que não sei dizer se é a mesma obra. No entanto, achei coisa melhor: I Fioretti di San Francesco em edição bilingüe, italiano – português, disponível na internet!

Dentre as diversas passagens da vida do santo que o livreto contém, destaco a seguinte:

São Francisco, instigado pelo zelo da fé de Cristo e pelo desejo do martírio, foi uma vez ao ultramar com doze companheiros santíssimos, para ir direto ao Sultão da Babilônia. E, chegando a uma região dos sarracenos, onde as passagens eram guardas por homens tão cruéis que nenhum cristão, que passasse por aí, podia escapar sem ser morto. Aprouve a Deus que não fossem mortos mas, presos, espancados e amarrados, foram levados à presença do sultão.

Estando São Francisco diante dele, ensinado pelo Espírito Santo, pregou tão divinamente sobre a fé de Cristo, que por essa fé eles até queriam entrar no fogo. Por isso o sultão começou a ter uma enorme devoção por ele, tanto pela constância de sua fé como pelo desprezo do mundo que nele via, pois não queria receber dele nenhum presente, e mesmo pelo desejo do martírio, que nele via. Daí em diante o sultão o escutava de boa mente, e pediu que voltasse muitas vezes a ele, concedendo livremente a ele e aos companheiros que pudessem pregar onde quer que lhes aprouvesse. E lhes deu um sinal para que não pudessem ser ofendidos por ninguém.

[…]

Nesse tempo [após a morte do santo], São Francisco apareceu a dois frades e mandou-lhes que fossem sem demora ao sultão e cuidassem de sua salvação, conforme lhe havia prometido. Os frades logo se moveram, passaram o mar e foram levados pelos ditos guardas para o sultão. Quando os viu, o sultão teve uma enorme alegria e disse: “Agora eu sei verdadeiramente que Deus mandou-me os seus servos para a minha salvação, de acordo com a promessa que São Francisco me fez por revelação divina”. Tendo, então, recebido a formação da fé de Cristo e o santo batismo pelos ditos frades, assim regenerado em Cristo morreu naquela doença, e sua alma foi salva pelos méritos e pelas orações de São Francisco.

[Fior 24]

Que diferença do verdadeiro São Francisco de Assis para este “Francisco” apresentado nos nossos dias!