A criança no banco da frente da Missa

Havia uma criança no banco da frente, e a pequena não parava quieta um instante sequer! Era Missa; e a frutuosa participação no Sacrifício de Cristo exige algumas disposições interiores de ordinário avessas à distração inevitavelmente provocada por uma criança irrequieta. Em poucas palavras, a gente precisa se concentrar pra rezar direito, e é difícil concentrar-se com uma criança chamando a sua atenção o tempo todo…

Lembrei-me de que “o problema” das crianças na Missa já fora abordado de um sem-número de maneiras. Há quem defenda que elas sejam simplesmente deixadas em casa. Há quem pugne pelo oferecimento de uma estrutura paroquial – uma salinha separada, a “acolhida das crianças” – para “tomar conta” dos pequenos enquanto os seus pais assistem à Missa. Há quem diga que os pais devem se impôr mesmo e fazer as crianças ficarem quietas, retirando-as do recinto sagrado se necessário for. Domingo, havia uma criança no banco da frente, e eu me peguei a pensar no assunto. E, curiosamente, a solução a que cheguei foi esta: é preciso deixar as crianças serem crianças. E deixar os pais serem pais.

A menina – era já um pouco grandinha, não sei, três anos… – olhava para tudo ao redor, com aquela curiosidade própria de quem tem um mundo inteiro a desbravar. Subia no banco. Descia do banco. Abraçava o pai. Segurava a mãe. Tinha uma voz estridente, de cujo volume as convenções sociais ainda não tivera tempo de aprender. Pegava o papel. Derrubava o papel. Ia de um lado para outro, para o braço de um e de outro. Olhava, sorria. Desinteressava-se. Falava. Ensaiava um choro. Um momento houve até em que, em pé no banco, começou a pisar forte e ritmadamente – com o insofismável fito de fazer barulho. (Neste instante, aliás, o pai a pegou no braço. E ela não fez escândalo. Em momento algum ela fez escândalo.)

Pela descrição, parece até que a igreja estava a ponto de vir abaixo; dir-se-ia um verdadeiro pandemônio instaurado no templo santo de Deus. Houve até um momento em que eu próprio olhei para a criança e me perguntei se não haveria algum fenômeno preternatural a explicar aquele incansável empenho infantil em roubar do Altar a atenção dos fiéis. Mas, na verdade, a impressão agora é ilusória, como o fora no decorrer da Missa. A criança não atrapalhava a celebração mais do que outras coisas com as quais a Igreja sempre conviveu – e é bom que conviva.

Li, há anos, em não me lembro agora qual historiador, uma descrição de uma provável Missa celebrada em um típico vilarejo medieval. Não havia os bancos que hoje nos acostumamos a encontrar, a fim de organizar os fiéis que se reúnem para a assistência do Santo Sacrifício; o espaço aberto da nave ocupava-se de maneira natural, orgânica, à medida que os católicos fossem chegando e na proporção do seu fervor religioso na ocasião. O povo também não se pejava de adentrar o templo do modo como se encontrasse; às vezes carregando um saco de frutas a vender na feira, ou dois patos adquiridos no caminho e que iriam servir de alimento à família. O ápice da Missa era – como ainda é – a Consagração; assim, no instante em que o sacerdote elevava a Hóstia Consagrada por cima de sua cabeça, todos se acotovelavam para, acima dos ombros uns dos outros, vislumbrar – por um instante fugaz que fosse – o Santíssimo Sacramento. E, imaginando as penas voando, o grasnar dos patos, a melancia espatifando-se no chão e um monte de gente se empurrando para ver melhor (que os outros) o altar… aquela criança no banco da frente da Missa de domingo passado parecia-me transmitir uma quietude elísia.

O quadro, dirão, é “pouco piedoso”. Ora, mas é claro que é pouco piedoso; é um quadro que retrata todas as mazelas e defeitos dos seres humanos de carne e osso para cuja salvação existe a Igreja! Mas não se trata sempre de pouco zelo; às vezes, há circunstâncias pessoais bem razoáveis a justificar certos comportamentos dos fiéis. E para as encontrar não é preciso retroceder a nenhum obscuro vilarejo medieval; basta pensar, por exemplo, nas missas celebradas em campanha. Ou alguém acha que em Iwo Jima não havia soldados fazendo a guarda, olhares apreensivos para todos os lados, tiroteios e ribombos de canhões ao fundo, essas coisas que costumam acontecer nas guerras?

Tampouco é preciso ir à guerra; vá-se a uma festa popular de maior monta. Aqui, em Recife, fui recentemente (como o disse) à de Nossa Senhora no Carmo. E havia crianças comendo, e gente mexendo no celular, e empurra-empurra na nave central (da qual, em talvez involuntária homenagem ao vilarejo medieval que referi acima, haviam retirado os bancos), e guardas-chuvas e capas pingando (sim, chovia lá fora), e pessoas chegando e saindo o tempo inteiro. Perto disso, repita-se mais uma vez, a criança no banco da frente da Missa de domingo passado transparecia a placidez de um mosteiro cartuxo.

O ponto, em suma, é o seguinte: não nos deve surpreender que a assistência à Missa revista-se dos elementos naturais da vida social. Mais até: quanto mais fortes forem esses elementos, mais isso significa que a religião está entranhada no dia-a-dia das pessoas, mais as pessoas a vêem com familiaridade. Atenção, que não se está aqui falando nada de Liturgia! A Liturgia é para ser sempre impecável, é evidente, como convém ser o culto prestado ao Deus Todo-Poderoso. Mas a forma como as pessoas assistem a este culto pode, sim, adquirir os rasgos de espontaneidade não-institucional que sejam socialmente aceitáveis e razoavelmente justificáveis. E é até bonito que assim se faça; chega a ser um testemunho da vitalidade do Evangelho, ao qual se curvam as necessidades sociais. Falo, por exemplo, de pessoas entrando e saindo da igreja durante a Missa, aproveitando o intervalo do horário de trabalho para assistir, se não a celebração inteira, ao menos o pedaço que conseguem. Falo de militares de serviço assistindo à missa de farda camuflada, quepe às costas. Falo de doentes tossindo. E, claro, falo de mães embalando seus filhos, ou retirando-se para lhes trocar as fraldas, e falo de crianças correndo e gritando.

Dir-me-ão que essas coisas são muito diferentes, e que nada tem a ver uma guerra com um feirante, ou com um pedreiro sujo de cimento, ou com uma criança mal-comportada. Eu digo que todas essas coisas têm muito mais em comum entre si do que parece à primeira vista: são, todas elas, exemplos de seres humanos tentando conciliar os seus deveres de estado com a prática religiosa. Assim como o soldado deve combater, e isso talvez lhe exija prestar atenção nos arredores do acampamento mesmo durante a celebração da Missa, assim o trabalhador deve prover o sustento da sua família – e isso talvez lhe exija levar à igreja os seus instrumentos de trabalho. Isto é um sinal de que a sociedade anda sadia e está ordenada; é um indício de que, apesar de tudo, as coisas estão indo bem.

Mas um soldado não é a sua patente e, um feirante ou pedreiro, não é o seu comércio ou sua construção civil. Uma mãe, contudo, é indissociável da sua maternidade. O soldado tem o seu dia de folga, onde ele não exerce o serviço de militar; um pai, contudo, não dispõe de um instante sequer onde esteja dispensado de seus serviços paternos. Nem aos domingos. Nem na igreja.

Uma família com crianças é uma campanha militar permanente. E se deixamos sem maiores olhares de censura os soldados (ou os policiais, ou os médicos, ou os bombeiros) assistirem às nossas missas, mesmo que estejam fardados, mesmo que o rádio que levam à cintura possa eventualmente tocar, mesmo que precisem sair às pressas da celebração; se os deixamos e, ainda, sentimo-nos gratos porque eles protegem as pessoas, salvam vidas, cuidam de nós, e é bom tê-los por perto; se, até mesmo!, olhamos com admiração para essas pessoas que, no meio do serviço, fazem malabarismos para conciliar os seus deveres com algum tempo de oração e de agradecimento a Deus; por qual razão censuraríamos as famílias que vão à missa fardadas com bolsas e fraldas, e carrinhos de bebê, e mamadeiras?, e por qual motivo não agradeceríamos àqueles que, mesmo durante a Missa, não descuidam do cuidado dos seus filhos, que outra coisa não é que o cuidado com o nosso futuro?, e por quê, em suma, não olharíamos com admiração e reconhecimento para estas pessoas que, sem descuidar de seus deveres – mesmo a serviço! -, desdobram-se para dedicar um pouco de tempo à vida de oração e aos seus deveres públicos para com Deus?

A menina no banco da frente da igreja era uma criança. E isso significava três coisas: primeiro, que ainda há crianças no mundo, graças a Deus; segundo, que os seus pais não as deixavam de lado para estar na Igreja; e, terceiro, que eles tampouco deixavam a Igreja para cuidar de suas crianças. Foi o que eu percebi no domingo passado; e, perto disso, qualquer distração que a sua presença pudesse provocar era de pouca monta. Que Deus nos conceda igrejas repletas de crianças! Conviver com elas, afinal de contas, é um excelente sinal de que as coisas – graças a Deus! – ainda andam bem no mundo.

Guerras de Pernambuco – católicos brasileiros e holandeses calvinistas

[Transcrevo – aliás, copio a transcrição feita por um caríssimo amigo daqui de Recife, na lista “Tradição Católica” – alguns trechos do livro “História da Guerra de Pernambuco”,  do século XVII, escrito por Diogo Lopes Santiago. Contextualizando, nas palavras introdutórias de quem transcreveu originalmente os trechos: “A narrativa concentra-se no desenrolar das guerras envolvendo o domínio holandês: a de resistência, até a queda do Arraial do Bom Jesus, e a da restauração, com a expulsão dos holandeses em 1654. A parte que relata os sucessos de Cunhaú preparam a narração dos feitos de João Fernandes Vieira, herói da restauração, no Rio Grande do Norte”.

A referência aos mártires de Cunhaú surgiu neste vídeo (assistam) da caravana do IPCO. Mais informações podem ser obtidas também na revista “Mundo e Missão”, reproduzindo um documento da Arquidiocese de Natal.]

Livro II, capítulo IX

(…) Por me tirar do fio da história, quero escrever um caso infausto que sucedeu em Cunhaú (teatro, como já tenho escrito, de trágicos sucessos), e foi o caso que um domingo 16 de julho, e não como Fr. Manuel escreve que sucedeu em 29 de junho, dia de S. Pedro e de S. Paulo, estando ainda o governador João Fernandes Vieira no sítio do Covas, veio um holandês, chamado Jacó, casado com uma índia tapuia e quase bárbaros como esses indômitos e cruéis gentios, que com eles havia muito tempo morado no sertão e exercitado seus brutos e depravados costumes. Veio, pois, com ordem dos do Recife, trazendo muitos índios e tapuias  e mandou chamar à falsa fé os moradores que estavam em suas casas, pacíficos, tratando cada qual de granjear suas fazendas, sem saber do levantamento de João Fernandes Vieira, e juntos ao domingo, pela manhã, pondo um edital dos do supremo conselho de segurança nas portas da igreja, e dizendo querer tratar com eles negócios de importância. Eles, posto que receosos dos índios, se juntaram na igreja. O Jacó lhes disse que ouvissem missa, que depois lhes manifestaria o negócio a que vinha; isto fez para os acolher todos juntos os que estavam por suas casas para virem ouvir missa. Não faltou da companhia quem dissesse aos moradores que fugissem enquanto tinham tempo, porque os vinham matar, e eles por verem que em nenhuma causa estavam culpados, não fizeram caso do aviso por seu mal.

Estando, pois, todos juntos, uns dentro da igreja, que serviu de cadafalso a estes inocentes, e outros na casa do senhor de engenho, mandou o flamengo cercar assim a casa como a igreja, e entendo já os miseráveis que a tempo não podiam fugir, ser certo o que se lhes havia dito, e vendo que os flamengos que vinham com Jacó e os índios lhes foram tomando os bordões que traziam, que estas eram as armas com que vinham, entre mortais ânsias se confessaram ao Sumo Sacerdote Jesus Cristo Senhor Nosso, pedindo cada qual, com grande contrição, perdão de suas culpas. Jacó, fazendo sinal assim aos flamengos, como aos tapuias, foram matando cruelmente e atrozmente aos que na igreja estavam, e o primeiro que cometeu esta maldade, levando de uma adaga, foi um dos potiguares principal, chamado o Jererera, filho do Jandoim, que foi grande amigo dos portugueses no tempo passado, não seguindo as pisadas do seu pai, degenerando de sua bondade. E se afirma que ele foi o primeiro que feriu o padre capelão daquela igreja, chamado André do Soveral, que ali mataram com os moradores, exortando-os a bem morrer e rezando apressadamente o ofício da agonia. Os que na casa do senhor de engenho se recolheram, ouvindo os tristes gritos daqueles que na igreja e seu adro e cemitério matavam, desceram pela escada abaixo; e como no súbito perigo não é necessário largo conselho, vendo que não podiam romper por entre a caterva dos tapuias e potiguares, cada qual se abraçou com o seu e assim, às dentadas e punhadas, pois outras armas não tinham, venderam as vidas. Mortos aqueles, subiram pela escada acima e fizeram em pedaços os que na casa acharam, escapando somente três por cima dos telhados, ficando mortos alguns sessenta e nove.

E o padre, sacerdotes de noventa anos de idade, ou por ver se podia escapar a vida, ou já por não saber com as ânsias da morte, que tão presente via o que dizia,  se bem poderia ser por impulso sobrenatural, disse aos tapuias, que lhes falava bem a língua, que aqueles que o matassem se haviam de secar e morrer. Ficaram os tapuias tão admirados e confusos, que não quiseram dar morte ao padre; antes, se apartaram dele. Mas os potiguares, zombando dos tapuias, fizeram pedaços ao sacerdote e foi cousa admirável e estupendo caso que aos mesmos bárbaros causou espanto; porque secando em brevíssimo tempo os braços dos que ao padre mataram, acabaram as vidas raivando, e os que o ameaçaram ficaram com os braços tolhidos, conhecendo o erro que fizeram, que foi esse, se assim posso chamar, o primeiro arrependimento que esses bárbaros insolentes tiveram, por verem com seus olhos o castigo das inumanidades que fizeram; e ainda se viu outro prodígio; porque indo a Cunhaú, depois deste sucesso dois ou três meses, umas tropas de soldados nossos viram na igreja e seu adro o sangue dos que foram mortos tão vivo e fresco como se naquela hora fora derramado, e na porta da igreja uma estampa da mão que afirmaram ser do padre André do Soveral (…).

* * *

[mais dois curtos depoimentos sobre a ojeriza do povo brasileiro à heresia calvinista holandesa]

De Nassau, aos seus sucessores na administração do Recife, advertindo-os da incoveniência de pretender converter os da terra:

“Não convém por agora que a prática da nossa religião seja abertamente introduzida entre os portugueses, com a supressão dos seus ritos e cerimônias, pois nada há que mais os exaspere. Também não é conveniente agora que Vossas Nobrezas se envolvam em sua disciplina eclesiástica e no que disto depende. Deixem esta matéria (servatis servandis) a seus padres e vigários, poquanto o contrário disso é prematuro, sem proveito ou reputação, e Vossas Nobrezas verificarão de fato que nada há que mais lhes doa do que meter-se o governo secular e interferir com seus eclesiásticos.”

De Adriaan van der Dussen (conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais), em 1639:

“Há pouca aparência de que os portugueses se convertam à religião reformada, porque aqui só há um ministro que prega na língua deles, porém nem um só português comparece às prédicas nem o procuram para, por meio de entrevistas individuais, aprenderem algo a respeito. Pelo contrário, recusam-se a prestar ouvidos a isto com pertinácia, o que procedem do que lhes disseram os padres, isto é, que a nossa doutrina é herética e maldita, da qual não poderiam ouvir falar sem incorrer em pecado de heresia.”

“There be dragons”

Excelente este trailler de “There be dragons”, filme de Roland Joffé que aborda – embora não seja este o cerne da trama, pelo que entendi – a vida de San Josemaría Escrivá. E, a propósito, o diretor tampouco é católico – é agnóstico. Sinceramente, sei bem pouco sobre este filme; mas, pelo trailler, parece-me que vai ser uma boa produção.

Vejam também o canal do filme no Youtube. E torçamos para que seja lançado no Brasil.

“Rainha da Guerra”

[Comentava hoje, com uns amigos, sobre esta poesia da sra. Ivone Fedeli, que eu já conhecia há alguns anos e que sempre achei belíssima.

Rainha da Guerra! É um título audaz para ser dado à Virgem Santíssima, que – salvo grande engano – não existe na tradição católica. Há a “Auxilium Christianorum” de Lepanto, há Nossa Senhora da Vitória, e há a Virgem “terribilis ut castrorum acies ordinata”. Não há a “Rainha da Guerra”. Mas o título não deixa de ser bonito.

Que a Virgem Santíssima nos auxilie sempre. Ajude-nos em nossas batalhas. Inflame-nos sempre de um santo zelo pelas coisas sagradas. Faça-nos cruzados, como Deus quer e o mundo precisa.

Fonte: Legado Montfort]

RONDÓ DA GUERRA

Minha Mãe, não me deis paz,
Não me deis paz nesta terra.
Neste mundo que vos faz
Constante e terrível guerra,
Dai-me a guerra e não a paz.

Dai-me sempre o gesto audaz
E a palavra que aterra
Pela verdade que traz.
Dai-me coragem na guerra
E não me deis jamais paz.

A mentira que compraz
E que desculpa quem erra,
O golpe que volta atrás
E que teme entrar na guerra,
Não me deis nunca tal paz.

Nem o repouso fugaz
Que todo recuo encerra
Essa mansidão falaz
Não me deis, mas dai-me a guerra,
Porque me mata essa paz.

Oh Vós, Rainha da Guerra,
Que só na liça dais paz
A paz que não é da terra –
Não me deis morte na paz,
Mas dai-me a vida na guerra.

E Vós, Príncipe da Paz,
Que viestes trazer a guerra
Que toda verdade traz,
Dai-me a vitória na guerra
E, na luta, a vossa paz.

São Paulo, (não sei a data).
Maria Ivone Pereira de Miranda Fedeli

Apologia das Cruzadas

Deus lo Vult!

Agradeço ao off-topic publicado no post sobre a Missa Tridentina em Recife. Cliquem na figura acima para acessarem uma série de quatro artigos do professor Roberto de Mattei traduzidos para o português, publicados originalmente no Corrispondenza Romana, sobre as Cruzadas.

“O que a imprensa não mostra” – Israel e Hamas

Recebi por email esta mensagem (sobre a guerra de Israel), no formato de apresentação de Power Point, e estou reproduzindo aqui como galeria de imagens para melhor visualização. Infelizmente, não constam no anexo original os créditos; não sei, portanto, a autoria dos slides, que aqui reproduzo integralmente como recebi. Se alguém o souber, eu agradeceria imensamente a informação. Publico porque, a despeito de desconhecer a fonte, as informações passadas são verossímeis e discursos análogos são encontrados em outros veículos de comunicação que fogem um pouco à hegemonia esquerdista, o que confere credibilidade à mensagem recebida. Rezemos pelo Oriente Médio.

P.S.: Conforme me foi pedido, o arquivo .ppt original que recebi por email está aqui.

P.S. 2: Já teci antes comentários sobre o conflito na Faixa de Gaza aqui; antes que me acusem de canonizar os judeus, enfatizo que o que escrevi anteriormente permanece sendo a maneira como vejo o problema.

Entre a Lua e a Estrela

Dentre uma infinidade de outras coisas que eu recebo no meu email, vez por outra vem um texto do PSOL. Tenho por hábito não apagar absolutamente nada antes de, ao menos, passar a vista por cima da mensagem (por isso que minha caixa de entrada sempre tem centenas – literalmente – de emails não lidos…); foi o que me levou a abrir o email do Partido Socialista e descobrir este texto pró-palestina escrito pela Executiva Nacional do partido.

O PSOL exige que o governo brasileiro mude sua atitude e assuma uma posição ativa de apoio a causa palestina, seguindo no campo diplomático os passos da Venezuela – diz o texto. Penso cá com os meus botões; quem é o PSOL para exigir alguma coisa? Qual a necessidade de que o Governo Brasileiro aja com a mesma insensatez da ditadura venezuelana? Hoje em dia, parece que qualquer um se sente no direito e no dever de fazer exigências passionais, baseando-se em qualquer coisa ou mesmo em nada, e esperando que sua histeria seja sinceramente levada em consideração!

Não tenho conhecimento de causa suficiente para tecer considerações aprofundadas sobre o conflito no Oriente Médio. Outros já o fizeram; em particular, há vários textos do Reinaldo Azevedo no seu blog sobre o assunto nos últimos dias, que podem e devem ser lidos e levados em consideração. Pra ficar em um só exemplo de vários que poderiam ser dados, há um post do dia 05 de janeiro que diz o seguinte:

É dever de todo governo defender o seu território e a sua gente. Mas, curiosamente (ou nem tanto), pretende-se cassar de Israel o direito à reação. Por quê? O que grita na censura aos israelenses é a voz tenebrosa de um silêncio: essa gente é contra a existência do estado de Israel e acredita que só se obteria a paz no Oriente Médio com a sua extinção. Mas falta a essa canalha coragem para dizer claramente o que pretende. Nesse estrito sentido, um expoente do fascismo islâmico como Mahamoud Ahmadinejad, presidente do Irã, é mais honesto do que boa parte dos hipócritas europeus ou brasileiros. Ele não esconde o que pretende. Aliás, o Hamas também não: o fim da Israel é o segundo item do seu programa, sem o qual o grupo terrorista julga não cumprir adequadamente o primeiro: a defesa do que entende por fé islâmica.

Evidentemente, sou muitíssimo mais simpático à posição defendida pelo Reinaldo do que àquela proposta pela Executiva Nacional do PSOL. Ademais, é reconfortante saber que a condenação (virtualmente unânime na mídia nacional) a Israel não é compartilhada pelos próprios israelitas: eles estão unidos.

“Esta é uma Guerra justa, e não nos sentimos culpados quando civis que não pretendemos ferir são feridos porque nós sabemos que o Hamas usa esses civis como escudos humanos”, afirma Elliot Jager, que cuida da página editorial do Jerusalém Post.

Há todavia um outro aspecto da questão que, a meu ver, é posto um pouco de lado. Claro que, no caso presente, a condenação aos judeus repetida ad nauseam et ubique é uma estupidez; claro que Israel tem o direito de se defender, e não há desproporcionalidade alguma. No entanto, e quanto à solução definitiva? O Reinaldo reproduz Ali Kamel:

[P]ara que haja paz, os dois lados têm de ceder em questões tidas como inegociáveis, o apelo às armas têm de ser abandonado, o Estado Palestino deve ser criado ao lado de Israel, cujo direito a existir não deve ser questionado. Se isso acontecer, muitos árabes e israelenses daquela região não se amarão, terão antipatias mútuas, mas viverão lado a lado.

E eu não consigo ver as coisas com esta simplicidade toda, porque existem questões religiosas em jogo, e estas são sempre inegociáveis. Como vão dividir Jerusalém? Como vão distribuir entre as duas partes litigiosas o Monte Sião? A resposta definitiva ao problema, que sempre apontam como se fosse a criação de dois estados – um israelita, um palestino -, é tão absurda que me causa repugnância. O aspecto religioso – o predominante nesta confusão toda – é simplesmente descartado, e querem oferecer soluções “na canetada” que não o levem em consideração. É estúpido.

Então, como se resolve o problema de uma vez por todas? Eu não sei e, sinceramente, não consigo ver nenhuma solução humanamente possível. Não me sinto à vontade para tomar partido entre os infiéis e os pérfidos judeus – ou, para dizer as coisas de outra maneira, entre os descendentes de Ismael e os nossos “irmãos mais velhos” (os descendentes de Esaú), entre árabes e judeus. Não há solução definitiva nestes moldes; há males menores e maiores, mas sempre condicionados a diversos fatores, sempre contingentes.

Não me parece correto dizer, simpliciter, que “a Terra Santa pertence aos judeus”, simplesmente porque – como Esaú – a Sinagoga perdeu a primogenitura, e o verdadeiro povo de Deus é, hoje, a Igreja Católica e Apostólica. Incomoda-me um pouco um certo entusiasmo exagerado pró-judaísmo que eu encontro por aí: afinal, ainda sendo justa a reação israelita atual (e isso é ponto pacífico), não muda o fato de que os judeus não são o lado branco da Força. No entanto, ainda falando sob uma ótica humana, creio ser importante lembrar que, historicamente, há uma diferença muito grande entre os dois povos. Basta olhar para a Guerra da Reconquista, ou para a degradação promovida pelos filhos de Maomé em países que eram prósperos antes das cimitarras chegarem…

Qual é, portanto, a verdadeira solução? Só consigo ver uma, expressa magnificamente nas orações que a Igreja faz na Sexta-Feira Santa: oremus et pro Iudaeis e oremus et pro paganis. É somente quando Cristo vencer, que poderá haver paz no Oriente Médio; e é somente sob o signo da Cruz – não da Lua Crescente, nem da Estrela de David – que a terra onde foi derramado o Sangue do Salvador poderá enfim ter aquilo que lhe compete por direito.