Recebi o texto abaixo por email; por se tratar de um tema da mais alta relevância – a educação – e por não ter conseguido encontrá-lo na internet, reproduzo-o aqui integralmente. Versa sobre a doutrinação ideológica à qual são submetidas a infância e a adolescência brasileiras. Recomendo a leitura.
P.S.: Após contactar o autor do texto, fui informado de que o mesmo foi originalmente publicado na revista Catolicismo de novembro de 2008. Eis, portanto, a referência correta.
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Escolas infectadas de marxismo
No Brasil, é obrigatória a freqüência dos adolescentes às escolas reconhecidas pelo Estado. Entretanto, nelas está sendo imposta uma educação de tipo socialista.
Cid Alencastro
Os regimes comunistas e assemelhados sempre tiveram empenho em transformar a mentalidade das novas gerações, a fim de que estas assimilem os princípios, doutrinas e práticas marxistas. E o lugar privilegiado para esse fim têm sido as escolas, nas quais professores esquerdistas ministram uma educação de acordo com os interesses do regime. Cuba é disso um exemplo na América Latina.
Tal programa de ação comunista desfigura evidentemente a natureza do ensino, porque a educação deve visar a reta formação do caráter e o desabrochar da personalidade do jovem, com vistas a que ele possa cumprir sua missão específica na sociedade e diante de Deus; e não impingir-lhe idéias deformantes, como as marxistas, que levam o adolescente a transformar-se num robô das planificações socialistas e a ter uma visão falseada e sectária da realidade.
Impasse marxista
Mas, de outro lado, os esquerdistas estão diante de um problema quase insolúvel para realizar seus péssimos objetivos: as doutrinas socialistas em geral são profundamente contrárias à natureza humana, constituem uma camisa de força para o homem e a sociedade. Igualitarismo, propriedade comunitária, sociedade sem classes são fenômenos sociais monstruosos. Daí o empenho obsessivo dos regimes de esquerda numa antinatural “educação para o socialismo”.
Numa ordem religiosa, ao renunciar ao casamento e aos bens materiais por amor de Deus, as pessoas desapegam-se também de vantagens da natureza. Pode-se conceber desta forma o voto de pobreza voluntário e a renúncia a exercer algumas de suas qualidades naturais. Aí se forma uma tal ou qual igualdade, mas em vista de um bem superior, de ordem sobrenatural.
Querer impor a todos os homens de uma nação, por lei ou pela força policial, a renúncia a ter propriedade, a constituir família, queimando no altar do igualitarismo a possibilidade de desenvolver suas aptidões, é suma injustiça. Além de negar a cada um o que é seu, impede-se qualquer progresso social ou humano legítimo. É uma fábrica de revoltados e medíocres.
Reportagem elucidativa
Mostra uma reportagem da revista “Veja” (20-8-08) que, no Brasil, muitos professores e seus compêndios, com a justificativa de “incentivar a cidadania”, incutem nos alunos ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas.
Numa aula de História no Colégio Anchieta, de Porto Alegre, o professor Paulo Fioravanti pergunta: “Quem provoca o desemprego dos trabalhadores?”. Respondem os alunos: “A máquina”. Indaga, mais uma vez, o professor: “Quem são os donos das máquinas?”. E os estudantes: “Os empresários!”. É a deixa para Fioravanti encerrar com a lição de casa: “Então, quem tem pai empresário aqui deve questionar se ele está fazendo isso”.
Há uma tendência prevalente entre os professores brasileiros de esquerdizar a cabeça das crianças. A doutrinação esquerdista é predominante em todo o sistema escolar privado e particular. É algo que os professores levam mais a sério do que o ensino das matérias em classe, conforme revela a pesquisa CNT/Sensus encomendada por “Veja”. Pobres alunos…
O advogado Miguel Nagib fundou há quatro anos, em Brasília, a ONG Escola Sem Partido, com o objetivo de chamar atenção para a ideologização do ensino na sala de aula. Nagib se incomodou com os sintomas do problema na escola particular de sua filha, então com 15 anos, onde o professor de História gostava de comparar Che Guevara a São Francisco de Assis… Foi ao colégio reclamar. Diz Nagib: “As escolas precisam ficar sabendo que muitos pais não concordam com essa visão”.
Estamos no século XXI, o comunismo destruiu a si próprio provocando miséria, assassinatos e injustiças durante o século passado. É embaraçoso que o marxismo-leninismo sobreviva em Cuba, na Coréia do Norte e nas salas de aula de escolas brasileiras, diz “Veja”.
A pesquisa
A pesquisa CNT/Sensus ouviu 3000 pessoas de 24 estados brasileiros entre pais, alunos e professores de escolas públicas e particulares. Os professores, em maior proporção, reconhecem que doutrinam mesmo as crianças, e acham que isso é sua missão principal — algo muito mais vital do que ensinar a interpretar um texto ou ser um bamba em matemática. Para 78% dos professores, o discurso engajado faz sentido.
Muitos professores brasileiros se encantam com personagens como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras; e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização.
“Eu e todos os meus colegas professores temos, sim, uma visão de esquerda — e seria impossível isso não aparecer em nossos livros. Faço esforço para mostrar o outro lado”, diz a geógrafa Sonia Castellar, que há 20 anos dá aulas na faculdade de pedagogia da Universidade de São Paulo (USP). “Reconheço o viés esquerdista nos livros e apostilas, fruto da formação marxista dos professores”, diz Miguel Cerezo, responsável pelo conteúdo publicado nas apostilas do COC (antigo “Curso Oswaldo Cruz”).
O sucesso do homeschooling
O Estado arvorar-se em educador único da juventude é imoral, uma vez que, segundo ensina a doutrina católica, a educação das crianças compete à família e à Igreja, e só subsidiariamente ao Estado. Ou seja, na melhor das hipóteses o Estado deve ser um auxiliar da família e da Igreja, quando necessário e requisitado para tal.
A infeliz situação atual do Brasil tem seu precedente na Revolução Francesa, durante a qual o sanguinário Robespierre defendia que “a pátria tem o direito de educar seus filhos; ela não pode confiar essa função ao orgulho das famílias nem aos preconceitos dos particulares” (Hippolite Taine, apud Le Livre Noir de la Révolution Française, Cerf, Paris, 2008 p. 851).
É muito salutar a prática que vem sendo adotada em vários países, de promover ou ao menos permitir a existência da chamada homeschool (algo como escola da família), em que famílias se organizam e criam suas próprias escolas para dar uma educação adequada a seus filhos. Ou então os colocam em estabelecimentos de ensino de pequenas proporções, criados para esse fim por associações nas quais os pais confiam.
De modo geral, os alunos das homeschools têm estado entre os primeiros classificados nos exames vestibulares das universidades. Exemplo característico é, nos Estados Unidos, a Saint Louis de Montfort Academy, patrocinada pela TFP norte-americana.
E-mail do autor: cidalencastro@catolicismo.com.br