A Igreja é Una acima do tempo e do espaço

[A] comunhão dos santos vai além da vida terrena, vai além da morte e dura para sempre. Esta união entre nós vai além e continua na outra vida; é uma união espiritual que nasce do Batismo e não vem separada da morte, mas, graças a Cristo ressuscitado, é destinada a encontrar a sua plenitude na vida eterna. Há um vínculo profundo e indissolúvel entre quantos são ainda peregrinos neste mundo – entre nós – e aqueles que atravessaram o limiar da morte para entrar na eternidade. Todos os batizados aqui na terra, as almas do Purgatório e todos os beatos que estão já no Paraíso formam uma só grande família. Esta comunhão entre terra e céu se realiza especialmente na oração de intercessão.

Papa Francisco, catequese de 30 de outubro de 2013

Há três grandes festas litúrgicas tradicionalmente [p.s.: no Calendário Tradicional] celebradas juntas. No último domingo de Outubro, celebra-se a festividade de Cristo Rei; no dia primeiro de novembro, a Solenidade de Todos os Santos; por fim, no dia 02 de novembro, o dia dos Fiéis Defuntos.

Estas festas litúrgicas exprimem a Fé na «comunhão dos santos» que professamos no Credo; exprimem-na de uma maneira bastante eloqüente, por conta da ênfase a cada uma das “partes” da Igreja empregada em cada um desses dias sucessivos. Celebramos a Festa de Cristo-Rei do Universo e, nela, vemos a Igreja Militante na sua peregrinação histórica rumo a Nosso Senhor. Celebramos a Solenidade de Todos os Santos e contemplamos a Igreja Triunfante em todo o seu esplendor, na sua plena realização à qual os filhos de Deus somos chamados. E celebramos os Finados tendo diante dos olhos a Igreja Padecente, as almas dos fiéis no Purgatório que anseiam por se livrar de suas penas para ascender o quanto antes ao Trono do Todo-Poderoso.

E a Igreja é Una acima do tempo e do espaço. Estas três partes da Igreja perfazem todas a única Igreja de Cristo. Estamos unidos aos fiéis católicos espalhados por todo o mundo que, junto conosco, caminham no claro-escuro da Fé por este Vale de Lágrimas aguardando a Páscoa definitiva. Estamos unidos àqueles que nos precederam e, nas chamas do Purgatório, consomem-se na purificação derradeira para que possam enfim chegar à Cidade Santa: as nossas orações lhes servem de sufrágio e são úteis para lhes aliviar as penas. E estamos unidos aos santos e santas de Deus, àqueles que já cumpriram a sua parte na terra (ou no Purgatório) e já receberam a Coroa da Vitória e, do alto dos Céus, diante do Trono de Deus, intercedem incessantemente pela nossa salvação, a fim de que possamos nos unir a eles no canto de louvor definitivo da Eternidade.

Mas já estamos todos juntos, como canta uma antiga canção popular de Offertorium: «amigos e parentes, vivos e defuntos, em torno desta Mesa estamos sempre juntos». Estamos todos juntos e é esta a beleza da Comunhão dos Santos: o Corpo de Cristo não conhece as fronteiras dos países e das nações e – mais ainda! – não conhece os limites do tempo, de tal modo que nem a Morte é capaz de Lhe conter! A Igreja perpassa toda a História e, a cada instante, se estamos na Igreja, então nós estamos na História inteira, do primeiro ao derradeiro homem de qualquer recanto do mundo, e nenhum dele nos é estranho. Em Cristo nós somos irmãos, e seria muito provincialismo de nossa parte acharmos que isto se refere somente ao nosso diretor espiritual ou ao amigo junto a quem assistimos Missa aos domingos. O alcance universal – Catholicus – da Igreja supera em muito as possibilidades humanas. Há muito mais diversidade e riqueza na Igreja Católica do que em todos os seus opositores somados.

E olhar para a communio sanctorum é colocar tudo em perspectiva: é ver como o mundo é pequeno e fútil, e como são grandiosas as coisas que Deus tem reservadas para os que O amam. Alguém disse certa feita que quem já viu o Oceano não se espanta mais com os lagos: do mesmo modo, para quem já contemplou a extensão do Corpo de Cristo, tudo o mais não passa de palha e o mundo inteiro é um cubículo entediante, fora do qual é onde está a vida que realmente vale a pena ser vivida.

É grandiosa a Igreja de Cristo! Não a troquemos pelas mesquinharias do mundo. Militemos com valentia nesta terra, unidos às dores dos que padecem no além-túmulo, a fim de chegarmos gloriosamente ao Dia sem ocaso para o qual Cristo nos resgatou na Cruz do Calvário. A fim de que nós, que ingressamos na Igreja pelo Batismo, possamos continuar n’Ela até o fim. Até a sua realização derradeira. Até a Glória, onde Ela é plenamente aquilo que Nosso Senhor A fez para ser.

Papa Francisco: «É a Igreja que nos transmite a autêntica mensagem de Cristo»

2. Mas perguntemo-nos: como é possível para nós nos conectarmos com aquele testemunho, como pode chegar até nós aquilo que viveram os Apóstolos com Jesus, aquilo que escutaram Dele? Eis o segundo significado do termo “apostolicidade”. O Catecismo da Igreja Católica afirma que a Igreja é apostólica porque “protege e transmite, com a ajuda do Espírito Santo que nela habita, o ensinamento, o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos Apóstolos” (n. 857). A Igreja conserva ao longo dos séculos este precioso tesouro que é a Sagrada Escritura, a doutrina, os Sacramentos, o ministério dos Pastores, de forma que possamos ser fiéis a Cristo e participar da sua própria vida. É como um rio que flui na história, desenvolve-se, irriga, mas a água que escorre é sempre aquela que parte da fonte, e a fonte é o próprio Cristo: Ele é o Ressuscitado, Ele é o Vivo, e as suas palavras não passam, porque Ele não passa, Ele está vivo, Ele está entre nós hoje aqui, Ele nos sente e nós falamos com Ele e Ele nos escuta, está no nosso coração. Jesus está conosco hoje! Esta é a beleza da Igreja: a presença de Jesus Cristo entre nós. Sempre pensamos quanto é importante este dom que Jesus nos deu, o dom da Igreja, onde podemos encontrá-Lo? Sempre pensamos em como é justamente a Igreja no seu caminho ao longo dos séculos – apesar das dificuldades, dos problemas, das fraquezas, dos nossos pecados – que nos transmite a autêntica mensagem de Cristo? Doa-nos a segurança de que aquilo em que acreditamos é realmente aquilo que Cristo nos comunicou?

3. O último pensamento: a Igreja é apostólica porque é enviada a levar o Evangelho a todo o mundo. Continua no caminho da história a mesma missão que Cristo confiou aos Apóstolos: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que eu vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20). Isto é aquilo que Jesus nos deu para fazer! Insisto neste aspecto da missionariedade, porque Cristo convida todos a “ir” ao encontro dos outros, envia-nos, pede-nos para nos movermos e levar a alegria do Evangelho!

Papa Francisco
Catequese
16 de outubro de 2013

«Lei natural e catolicidade» – Carlos Ramalhete

Fonte: Facebook

Uma experiência científica interessante, comparável com aquelas em que pesquisadores soltam carteiras pelas cidades do mundo para medir quantas são devolvidas, seria a de furtar abertamente bens alheios em todas as culturas do mundo. Tomar o chocalho do cacique, a espada do guerreiro, o sapato da velhinha, o pirulito da criança. E ficar ali, de bobeira, esperando para ver o que iria acontecer.

Arrisco o chute: o pesquisador levaria uma bela coça na imensa maioria dos lugares, e nos outros seria conduzido a algum sucedâneo formal da mesmíssima coça: cadeia, chibatadas, “bolos” de palmatória, o que for.

Isto ocorre por uma razão simples: o furto é condenado por lei natural. Lei esta que já vem, “de fábrica”, inscrita em nossos corações. Todas as sociedades são e sempre foram compostas por gente que conhece a lei natural. Há quem finja não a conhecer, que mude de calçada para não cruzar com ela, e alguns destes acabam sempre em cargos de mando. Mas, na verdade, é impossível não a conhecer. Uma sociedade pode até criar maneiras doentias e complicadas de negar um que outro aspecto dela, como quem deixa uma válvula de escape aberta. Mas ela está ali, e todos sabem dela.

E as condenações e obrigações da lei natural, tão bem conhecidas de todos, são necessariamente a base do nosso sentido de certo e errado e daquele curioso mecanismo que nos avisa quando ultrapassamos estes saudáveis limites: a nossa consciência.

Sabemos todos que é errado, é erradíssimo, é abominável!, matar um inocente. Podemos tentar justificar o injustificável, arranjar desculpas esfarrapadíssimas, peneiras furadas com que tentaremos tapar o sol da própria consciência. Podemos até mesmo fazer com que estas mentiras ganhem força de lei, e que os donos de escravos possamos estuprar e matar nossas escravinhas sensuais, os arianos puros possamos dar uma solução final aos incômodos judeus, os samurais possamos testar lâminas cortando camponeses ao meio, ou as vadias possamos nos livrar de uma gravidez indesejada matando nosso próprio filho.

Sabemos todos que é justo e necessário dar graças a Deus a todo momento. Não importa que substituamos Seu Nome por “ainda bem” ou “ufa”; no fundo, é a Ele mesmo que dá graças o chinês que acende um bastão de incenso aos “Céus” e o africano ofegante que se deixa cair de costas na pradaria, contemplando a infinitude do céu estrelado, agradecendo silenciosamente por ter sido livrado de uma fera que o atacava.

E sabemos todos que não devemos furtar. E não devemos mentir. E não devemos cometer adultério.

Quando, contudo, a sociedade enlouquece – e vivemos numa sociedade enlouquecida – é frequentemente necessário que lembremos a nós mesmos e ao próximo o que já sabemos todos, em virtude de ser lei natural. Que, por vezes, tenhamos que brigar para impedir que o mal seja imposto por lei e o bem proibido. Que precisemos salvar as vidas cujo valor é negado pelo século, pela loucura muito peculiar que ataca aquela sociedade naquele momento.

Este dever é de todos. Não é o dever específico do cristão, nem do muçulmano, do judeu, do hinduísta, animista, budista ou do zoroastrista.

Paradoxalmente, toda e qualquer religião tradicional – pelo simples fato de ser tradicional, por ter ouvido durante os séculos o que milhares, milhões de pessoas de boa-vontade tinham a dizer sobre a busca do Bem – há de conhecer, repetir e pregar a mesmíssima lei natural. Esta lei, contudo, não há de ser o cerne de sua pregação, por uma razão simples: ela não é nem algo que **precise** ser revelado pelo Divino nem um caminho suficiente até Ele.

A lei natural é o mínimo; é o que nos faz ser plenamente humanos, para, humanos que somos, podermos caminhar rumo ao Divino. Ela não é nem pode ser confundida com a mensagem religiosa que, entre outras coisas, a contém. A mensagem religiosa a contém por ser dirigida ao homem, e a lei natural é o que deve reger o homem na sua relação com o mundo ao redor.

A religião, todavia, não é nem tratado de boas maneiras nem código civil ou penal.

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Compete ao clero, do papa ao menor dos ostiários, pregar a Vida Eterna. Pregar a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, loucura para os gentios. Tratar das nossas almas, feridas nesta guerra sem tréguas a que somos chamados, com a medicina dos sacramentos. Alimentar-nos com o Pão dos Anjos. Curar-nos as almas, para que possamos viver no mundo sem a ele pertencer.

A adesão – ou não – da legislação e da política à lei natural não requer a atenção do clero. A relação entre o Estado e a lei natural não é tema de religião nem necessária à salvação.

Ao contrário, até: é uma armadilha demoníaca trata-la como se o fosse. Fazer da luta política pela proteção legal à vida do nascituro uma marca de catolicidade é, em última instância, negar que seja de lei natural que a vida do nascituro deva ser protegida. É negar-lhe a inocência, negar-lhe a humanidade, ao transformá-la falsamente em tema de Fé. Temos fé no que não vemos, e vemos – nem que seja pelos exames laboratoriais! – que o nascituro é vivo e é humano.

Mais ainda: assumir a luta pela lei natural como se fosse uma luta intrinsecamente católica é cair na armadilha da mídia, que não consegue perceber o que realmente é a Igreja e a reduz àquilo em que a Verdade eterna faz intersecção com as besteiras do século, e olhe lá. É auxiliar a pregar que a Igreja é um bando de esquisitões dizendo “não” às alegrias, e só. É fazer com que a luta pela vida seja percebida como uma maluquice a mais, irracional – ou mesmo antirracional –, pregada por loucos sem noção alguma do mundo real.

Isto ocorre porque esta redução da Igreja ao combate contra a violação deste ou daquele aspecto da lei natural faz com que aquilo que é realmente intrinsecamente católico desapareça. Se a Igreja **é** o combate ao aborto, à distribuição de camisinhas ou ao “casamento gay”, ela ***não é*** o Cristo. Ela não é a Encarnação do Verbo. Ela não é a Imaculada Conceição. Ela não é o Santíssimo Sacramento.

O que compete à Igreja pregar é o Eterno, é a Verdade Revelada. Esta Verdade – que é uma Pessoa, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade! – tem, sim, corolários. Entre outros, ela ilumina e atrai a atenção a algo que já é de lei natural, que é o valor e a dignidade da vida humana. Da vida do camponês, da mulher, do judeu, do escravizado, do nascituro.

Não podemos, contudo, reduzir ou deixar reduzir a especificidade católica a um ou mais corolários do que é o cerne da mensagem e do próprio ser da Igreja: o Cristo. Não podemos permitir que a imprensa venha nos pautar, que ela venha a transformar a luta pela vida em catolicidade ou a catolicidade em luta pela vida. Ou contra o “casamento gay”. Ou contra a exploração do pobre, especialmente o órfão ou a viúva. Em todos estes pontos, a Revelação ilumina e atrai a atenção a um ponto de lei natural. Não é, contudo, a Revelação que faz com que tenhamos o dever de agir neste ou naquele sentido na sociedade, sim a lei natural.

O combate pela lei natural é o combate de todo ser humano, não só de todo católico. É um combate a que somos chamados individualmente ou em grupos e associações que formemos; serão, contudo, associações de pessoas, não braços da Igreja. Uma ação de pessoas, de leigos, de indivíduos, de quem quer combater o mal – católico ou não –, não um braço pastoral.

A Igreja, lembrou-nos com razão o Santo Padre, é como um hospital de campanha, um hospital feito de lona, localizado logo ao lado do campo de batalha.

A batalha pela lei natural é nossa, como seres humanos. Quando nossos amigos também batalham por ela – como é seu dever, por serem eles também seres humanos – e não têm acesso ao hospital, não acedem aos Sacramentos, levemo-los, sem dúvida! Mas esta já é outra batalha, quiçá bem mais importante.

Se o nascituro não pode se defender, compete a cada um de nós, seres humanos, lutar pela vida de todo ser humano inocente. Em cada ser humano inocente que é assassinado toda a humanidade é atacada. O assassinato de inocentes é a negação da própria humanidade, e combate-lo é dever de todo ateu, muçulmano, judeu, budista… ou católico. Este combate é um combate humano, feito em prol da humanidade. Não é um combate religioso, nem o pode ser. Dizer que é um combate religioso é negar o valor do combate e permitir que ele seja tratado como uma idiossincrasia idiota qualquer, pois é assim que o mundo trata a religião.

É urgente que não nos deixemos mais confundir. Que não façamos mais a besteira de querer que o Papa implore a governantes de terceiro mundo que aprovem ou vetem esta ou aquela lei antinatural, que nós, leigos, burramente deixamos passar. Ao Papa compete pregar a Cristo crucificado. A nós, leigos, é que compete combater no terreno imundo da política.

É urgente que não mais nos confundamos. Que não façamos mais a besteira de levar imagens de santos para passeatas em que estamos lutando pelo humano, não pelo divino. Passeatas pedem cartazes, gritos e a lembrança permanente de que estamos ali por sermos seres humanos, não por sermos católicos.

É urgente que não mais confundamos as almas. Que não ofendamos a Deus e a Seus Santos, levando cartazes, bonequinhos e balõezinhos de campanhas políticas – por mais nobres que sejam!!! – para as procissões em que prestamos homenagem e culto de veneração e rogação a Seus Santos. Cartazes, bonequinhos e balõezinhos são feitos para serem vistos pelos homens. Procissões são feitas para que os Céus nos ouçam.

Que Deus nos ajude, para que sejamos os seres humanos que Ele quer!

– Prof. Carlos Ramalhete

Acredite se quiser: «O Domingo» já foi um semanário católico!

[Encontrei no Facebook esta antiga edição d’O Domingo, de fevereiro de 1950 (30?). O conteúdo é tão bom que me permiti transcrevê-lo na íntegra. Quanta coisa mudou com o transcurso das décadas! É lamentável que um veículo de informação plenamente ortodoxo (a julgar por esse antigo exemplar) tenha se transformado no decrépito folhetim filo-herético que hoje encontramos nas nossas paróquias. Os antigos articulistas do semanário litúrgico da Editora Paulus devem estar se revirando no túmulo ao contemplarem com horror o que fizeram com seu «O Domingo»…

Seria  bom que a Paulus voltasse às suas origens, e tornasse a produzir material católico de qualidade. Seria bom que a editora católica honrasse a memória dos que a conduziram no passado! Porque, comparando este exemplar do jornal com os de hoje em dia, não podemos deixar de sentir vergonha. Colocando-os lado a lado, vemos com aterradora clareza as dimensões da crise que hoje assola a Igreja de Deus.]

o-domingo-1950

PREPARANDO-SE PARA O CASAMENTO

A crise de muitas famílias, que logo se esfacelam, é uma crise de preparação ao casamento.

Geralmente, os nossos noivos não se preparam convenientemente para o grande passo que vão dar com o casamento. É uma vida nova e decisiva de dois jovens que se encontraram, amaram e se uniram para sempre pelo enlace matrimonial. Muitos consideram a vida matrimonial com muita leviandade e sem [o] menor senso de responsabilidade. Outros fazem do casamento um bom negócio. E há muitos outros que entram na vida matrimonial levados tão somente pela primeira impressão ou por um sentimentalismo doentio.

É lógico que tais casais não encontram aquilo que procuravam: a felicidade. Vêm as decepções, os aborrecimentos mútuos, a eterna incompatibilidade de gênios e finalmente a destruição do lar. Tudo isto porque faltou preparação de ambos ou de uma parte. Tudo isso porque não souberam raciocinar antes e ver as coisas com bom senso. O moço não chegou a conhecer perfeitamente aquela com quem iria viver para sempre e não pensou com mais seriedade no passo que ia dar. A moça, talvez, ainda com mais leviandade, se aventurou na vida matrimonial para não perder uma boa partida…

E agora são duas criaturas infelizes, dois corações amargurados.

Em muitas paróquias já há os cursos preparatórios ao casamento, muitos livros já foram publicados em português sobre este assunto, tanto para moços como moças. Os que não quiserem fazer uma simples aventura, destruindo a própria felicidade e a de outra pessoa, procurem, com seriedade, objetividade e bom senso, dar o passo firme e seguro: preparem-se para o casamento!

Pe. Adalberto de Paula Nunes

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INVICTA

Os malvados destroem-se a si mesmos. Os maus passaram ou estão passando. Os perversos se atufam em sombras tenebrosas, onde afinal submergirão fatalmente. Os coveiros de Deus e da Igreja desaparecem um após outro do cenário da vida.

Enquanto isso acontece fragorosamente, o Altíssimo permanece vivo, potente, soberano e invencível, vencendo sempre todas as batalhas, as mais ferozes e infernais. Nem mesmo os comunistas – lobos burgueses em pele de cordeiro – conseguirão apagar o nome divino.

A Igreja Católica, a exemplo do seu divino Fundador, domina os séculos. Ri das ferrenhas perseguições. Zomba dos brutais perseguidores. Desafia os figadais inimigos: “As portas do inferno não prevalecerão!”

O supremo chefe visível da grei de Cristo, o Papa, do alto do Vaticano de Roma, continua, com mão firme de piloto adestrado, regendo os destinos dos homens e das nações. Porque a Igreja de Cristo será sempre invicta!

Frei Benvindo Destéfani, OFM

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BOM HUMOR

No exame de geografia

O examinador: – Se todos os rios desagüam no mar como se diz, por que então o mar não transborda?

O aluno (atrapalhado):

– É porque no mar tem muita esponja!…

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O CHAMADO CASAMENTO CIVIL NÃO É CASAMENTO PARA OS CRISTÃOS, PORQUE NÃO É SACRAMENTO

Após corromper a juventude com seus discursos escandalosos, padre Beto é excomungado para a maior glória de Deus

Publico abaixo na íntegra o Comunicado da Diocese de Bauru referente à excomunhão do Reverendíssimo Pe. Roberto “Beto” Francisco Daniel, que escandalosamente divulgou na internet material daninho às almas em matéria sexual e, não aceitando a reprimenda feita pelo seu bispo, Dom Frei Caetano Ferrari, desgraçadamente preferiu o orgulho à humildade, dando mais valor às suas próprias idéias e “reflexões” do que ao ensinamento multissecular da Igreja Católica que é Mãe e Mestra Infalível.

Antes mesmo da excomunhão ser declarada, diz-se que “centenas de fiéis” lotaram a igreja no último domingo (28) para a sua missa de despedida. Entre estes “fiéis” contam-se, por exemplo, «o pai de santo umbandista Ricardo Barreira», segundo a mesma reportagem. Ainda, uma vez que a Missa – toda e qualquer Missa, celebrada pelo Papa em Roma ou pelo mais humilde sacerdote da mais humilde paróquia de vilarejo – é o mesmíssimo Sacrifício de Cristo e como é bastante óbvio que a piedade católica manda procurar nas igrejas não o sacerdote que porventura esteja celebrando a Missa, mas sim Nosso Senhor que no altar é imolado misticamente, cabe perguntar se estes “fiéis” que ontem lotaram a igreja de Santo Antônio realmente merecem esse adjetivo que lhes foi dado pela Folha de São Paulo.

Ao saber da notícia, certamente padecendo comichões e fatigada devido à caça permanente de qualquer coisa que possa servir para denegrir a imagem da Igreja Católica, a Carta Capital não poupou nem a gramática e vomitou uma «excomungação (sic) do clérigo por heresia e cisma»:

excomungacao-carta-capital

Quanto a nós, parabenizamos por sua coragem e seu zelo louvável o bispo de Bauru, Dom Frei Caetano Ferrari, que soube agir com firmeza quando a Fé da Igreja se viu ameaçada e não retrocedeu mesmo tendo contra si a opinião pública anti-clerical. Que saiba Sua Excelência que se os lobos uivam e o inferno vomita impropérios, é porque o golpe foi certeiro e, o alvo, muito bem escolhido. Que a Santíssima Virgem defenda e guarde sempre o seu ministério episcopal.

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Comunicado ao povo de Deus da Diocese de Bauru
sobre o Rvedo. Pe. Roberto Francisco Daniel

mitra-bauruÉ de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe. Roberto Francisco Daniel que, em nome da “liberdade de expressão” traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e aplicar a “Lei da Igreja”, visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na presença de 05 (cinco) membros do Conselho dos Presbíteros.

O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote incorreu de livre vontade como consequência de seus atos.

A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes, o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do “direito de liberdade de expressão” para atacar a Fé, na qual foi batizado.

Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado. A partir dessa decisão, o Juiz Instrutor iniciará os procedimentos para a “demissão do estado clerical, que será enviado no final para Roma, de onde deverá vir o Decreto.

Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar “um ponto final” nessa dolorosa história.

Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, “que nos conduz”, ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a Igreja, que é “Mãe e Mestra”.

Bauru, 29 de abril de 2013.

Por especial mandado do Bispo Diocesano, assinam os representantes do Conselho Presbiteral Diocesano.

Também é orgulho ser sozinho

Um dos conselhos mais importantes de São Paulo no Novo Testamento é aquele “quem julga estar de pé, cuide para que não caia” que encontramos na primeira carta aos Coríntios. Não obstante, e infelizmente, sempre se encontrou na história da Igreja quem fizesse pouco caso dessa tão fundamental exortação, o que já levou muitas almas à mais terrível ruína.

São Luís de Montfort lamenta n’algum lugar do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem os tantos cedros do Líbano que já caíram miseravelmente por terra devido à imprudência de se julgarem auto-suficientes. Não é sem razão que a espiritualidade católica sempre insistiu na importância de combater não apenas os pecados externos, mas também (e principalmente) os internos, dentre os quais o orgulho ocupa um lugar de infeliz proeminência. Enganar-nos-íamos se pensássemos que este vício anda sempre lado-a-lado com a arrogância manifesta! O orgulho é primariamente interior. Pode perfeitamente reinar no coração de um homem e, ao mesmo tempo, passar despercebido de todos os que convivem com ele.

Decerto não era nisso que pensava a Florbela Espanca quando o escreveu, mas há muita sabedoria naquele seu verso que diz “[q]ue também é orgulho ser sozinha”. A idéia de que somos mais especiais de que os nossos irmãos é sedutora, mas é terrivelmente falsa. A concepção de que podemos fazer alguma coisa de grande por nós mesmo é enganadora – e quantos não caem neste canto-de-sereia! A vaidade de desbravarmos o nosso próprio caminho nesta vida, desprezando a caminhada dos que nos são próximos, já conduziu muitas almas para o abismo.

Aqui é preciso tomarmos cuidado para não cairmos em engano; sem dúvidas cada pessoa tem o direito e até mesmo o dever de escrever a própria história, e o insubstituível protagonismo de cada um na sua própria salvação é uma necessidade que não nos convém nunca esquecer. Não obstante, por meio de um desses aparentes paradoxos que perfazem a complexidade humana, a nossa dimensão individual é inseparável da comunitária e, se é verdade que temos o dever de trilhar o nosso próprio caminho, não é menos verdade que ele deve estar inserido na teia de relacionamentos que o Altíssimo teceu para a nossa existência.

De modo particular, a nossa salvação – individual – passa necessariamente por aquela comunidade de fiéis que Deus estabeleceu no mundo para conduzir os homens à Bem-Aventurança Eterna; passa, necessariamente, pela Igreja de Cristo. Rejeitar a companhia daquelas almas ao lado das quais a Divina Providência determinou que caminhássemos neste Vale de Lágrimas, longe de ser um sadio protagonismo próprio das grandes almas, é orgulho mesquinho que se revela um horrendo sinal de perdição. Querer construir por conta própria um caminho que conduza aos Céus é loucura e, na verdade, é somente a velha tentação original apresentada sob uma nova roupagem. O verdadeiro e legítimo protagonismo que precisamos assumir é o de conferir as marcas da nossa individualidade ao caminho que Nosso Senhor Jesus Cristo já abriu para nós, e não o de buscar por conta própria um outro caminho para o Céu. A Igreja não é uma estrada para o Paraíso ao lado de tantas outras, muito pelo contrário: é o terreno seguro somente dentro do qual é possível ao ser humano abrir o seu caminho para Deus. Podemos ensaiar os nossos próprios passos sim, e temos total liberdade para fazê-los da nossa própria maneira – mas somente dentro do palco que Deus preparou para que fosse possível haver dança. Esforcemo-nos, sim, para salvar a nossa alma, e o façamos com todas as particularidades que nos são próprias; mas somente dentro da Igreja, criada por Deus para que pudesse existir salvação no mundo.

Eu pensava nessas coisas quando li aquela triste notícia segundo a qual Magdi Cristiano Allam, ex-muçulmano batizado por Bento XVI, anunciou ter deixado a Igreja Católica. Eu me lembro do seu Batismo, em uma vigília de Páscoa, no coração do Vaticano, diante de todas as câmeras do mundo; lembro-me de como fiquei feliz com o ex-muçulmano, cujo batismo no Sábado de Aleluia parecia uma resposta a uma das Grandes Orações da véspera. Lembro-me de que – insensato! – pensei que, este, a Igreja não haveria de perder, pois se convertera já na idade adulta e após experimentar os falsos credos, e estas conversões soem ser mais profundas e definitivas.

Infeliz de mim, que estava rotundamente engando! O converso abandonou a Igreja. Por que o fez? Por conta daquilo que ele chamou de “relativismo religioso” e, particularmente, pela suposta legitimação do Islam como verdadeira religião por parte da Igreja Católica. Aqui as coisas começam a ficar mais claras. É óbvio que o Islamismo não é “verdadeira religião”, porque a única religião verdadeira é aquela fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem Verdadeiro. É óbvio que a Igreja jamais “legitimou” o Islam e nem o poderia fazer jamais, porque isso seria trair a Si mesma. Então, do que é exatamente que Magdi Allam está reclamando?

Arriscamos uma resposta. O que o incomoda é a – na visão dele – leniência da Igreja em enfrentar o Islam, o que lhe tira a paz é perceber que a Igreja não combate o islamismo com o denodo que ele julga necessário. Em uma palavra, o seu problema, aparentemente, é um só: a sua conversão à Igreja em 2008 parece ter sido mais para lutar contra Maomé do que para fazer-se discípulo de Cristo. Mais por ódio ao Corão do que por amor a Cruz. E o ódio, embora pareça mais intenso, é também mais inconstante e menos duradouro: o simples ódio a alguma coisa é incapaz de garantir a regularidade devotada que o Cristianismo exige como caminho de vida.

E essa história triste, na verdade, nos deixa ao menos uma preciosa lição: ninguém deve se converter à Igreja por ser contra o islamismo ou o protestantismo, o relativismo ou o esquerdismo, o feminismo ou o homossexualismo, a degeneração moral ou a crise de valores, nada. Vou até mais além: ninguém deve nem mesmo converter-se à Igreja porque os Seus ensinamentos são corretos. Na verdade, deve-se ser católico por uma única e simples razão: para salvar a própria alma, uma vez que sozinho ninguém é capaz de a salvar. Outra espécie de amor à Igreja que não esteja radicado em Cristo, que não seja amor a Cristo por Aquilo que Ele é em Si mesmo, não é amor verdadeiro à Igreja. Semelhante “conversão” (que eu nem sei se se pode chamar assim) não é aquela casa do homem prudente edificada sobre a rocha da qual nos fala o Evangelho. Ao contrário, é frágil construção edificada sobre a areia, cujos alicerces cedo ou tarde irão abaixo por conta das intempéries da natureza – e grande será a ruína de quem fez ali a sua morada.

“O Papa Francisco é o terceiro de três campeões da liberdade” – por Hugh Hewitt

Original: HughHewitt.com
TraduçãoGarcia Rothbard
Publicação Original: Direita crítica e autocrítica

O Papa Francisco é o terceiro de três campeões da liberdade – por Hugh Hewitt

Karol Wojtyla conheceu os regimes nazista e comunista, e ajudou a provocar o desmoronamento do Império Comunista.

Joseph Ratzinger cresceu sob os nazistas, também, e passou a maior parte de sua vida ao lado de seu amigo João Paulo II na batalha mundial contra os Soviéticos e suas ramificações em várias fachadas intelectuais através do mundo.

Agora surge Jorge Mário Bergoglio, que também passou muitos anos de sua vida em duplo conflito com fascistas e comunistas. Christopher Hitchens disse-me na última entrevista que fiz com ele que o ditador argentino General Jorge Videla foi o mais perverso dos muitos homens perversos que o escritor tinha conhecido. O novo Papa teve portanto que lutar contra o pior dos piores, justamente como seus imediatos predecessores.

As batalhas do século 20 nos entregaram um novo experimentado líder para os capítulos iniciais do novo século. Francisco vem liderar uma Igreja que está realmente cansada e ferida por aquelas épicas batalhas, e essas feridas têm ficado mesmo mais dolorosas. Um corpo enfraquecido é vulnerável a tais coisas. Como qualquer Americano que pode ler sabe, a Igreja Católica Romana na América e em vários lugares do mundo foi invadida por grandes males que estão ainda sendo expurgados e expiados por novos líderes como o Cardeal Timothy Dolan, de New York, ou os arcebispos Charles Chaput de Philadelphia e José Gomez de Los Angeles.

Uma vez que J.R.R. Tolkien era um Católico, deixem-me tomar emprestado uma referência ou duas de “O Senhor dos Anéis” para ilustrar os desafios que afrontam Francisco.

O mal nunca dorme. Logo que foi desalojado na fantasia épica ele começou a procurar um novo lar, e ocupou Mordor. Eu não imaginaria representar os riscos de Tolkien com o Tom Bombadil da mídia moderna, Stephen Colbert, mas o universo do épico do inglês está sempre em nossa frente.

O Bem luta contra o Mal, e mesmo quando o Bem ganha – como em 1945 e 1989 – o Mal convoca reforços e abre uma nova frente para renovar a batalha.

Muitas e muitas pessoas estão abençoadamente vivendo em seus vários condados, atacando o aquecimento global e vários outros pretensos monstros, mas os horrores reais estão lá fora, e a Igreja Católica Romana tem, pela terceira vez em sequencia, evocado um líder que conhece exatamente a profundeza do mal.

Eu passei a maior parte da última semana entrevistando lideres intelectuais da Igreja Católica Romana na América: George Weigel, e padres como Robert Barron, Joseph Fessio, C. John McCloskey e Robert Sirico. Cada um deles estava surpreso mas também feliz com a escolha do Papa Francisco, confiantes em sua sabedoria íntima (todas essas entrevistas estão disponíveis na página de “Transcriptis” do site HughHewitt.com).

Minha última entrevista desta semana foi com o Arcebispo Chaput, que disse do novo papa que Francisco era “um homem extraordinário” e uma “extraordinária escolha”, e que ninguém deveria temer que a teologia da libertação tivesse penetrado na corte de São Pedro pela América do Sul.

“Esquerdistas argentinos da Teologia da Libertação não gostavam dele como bispo, e realmente tentaram impedir que ele fosse promovido a arcebispo de Buenos Aires”, Chaput disse-me. “Então, eles devem estar especialmente perturbados agora”.

Mas não os defensores da liberdade religiosa. Como com João Paulo II e Bento XVI, eles têm em Francisco um confiável, resistente, experiente e corajoso líder.

Hugh Hewitt é um professor de direito na Universidade Chapman e um radialista que atualiza diariamente seu blog em HughHewitt.com.

A escravidão e o drama da história da humanidade

Ao contrário do que possa parecer à nossa experiência de mundo mais imediata, a escravidão não é uma questão racial. Na verdade, ela não tem nada a ver com raça, e é apenas o nosso provincialismo histórico que nos faz pensar diferente disso. Se é verdade que aqui na América os negros foram escravizados, não é menos verdade que soubemos nos utilizar, também e sem nenhum preconceito, de mão-de-obra escrava indígena. Ao mesmo tempo, os índios do Novo Mundo escravizavam outros índios e as tribos negras africanas escravizavam outros negros (e os vendiam aos brancos traficantes de escravos – isso quando não escravizavam brancos também). Antes disso, na Europa medieval, os mouros escravizavam os cristãos e, estes últimos, os mouros. Ainda antes, os judeus foram escravizados no Egito dos Faraós. E para não parecer que os caucasianos formam a única odiosa raça que neste jogo de forças sempre esteve em confortáveis posições senhoriais, lembro que nem mesmo os povos da Escandinávia, com seus cabelos loiros e belos olhos azuis, foram poupados dos trabalhos escravos que os Vikings lhes impuseram.

No meu texto de ontem eu abri um parêntese para dizer que o próprio instituto da escravidão, analisado sem anacronismos, significou um importante avanço no reconhecimento da dignidade humana. Isto porque, durante muito tempo, a (única) opção à escravidão era a morte pura e simples. Para que se entenda isso é preciso abrir mão da mentalidade escravocrata que nos foi legada pelos versos de Castro Alves; no geral, reduzia-se alguém à condição de escravo não como o caçador que vai à selva capturar um animal para, domesticando-o, colocá-lo a seu serviço, mas sim como uma punição imposta a um outro ser humano – justa ou injustamente – por conta de algo que ele havia feito.

Assim, por exemplo, na Roma Antiga havia a escravidão por dívidas: se alguém não fosse capaz de saldá-las, deveria tornar-se escravo dos seus credores como pagamento pelos débitos contraídos. No Antigo Testamento, todas as vezes em que o Senhor autoriza Israel a escravizar alguém, trata-se sempre de prisioneiros de guerra ou povos conquistados. Esta última modalidade de escravidão, aliás, foi praticamente uma constante na história da humanidade, sendo praticada pela virtual totalidade dos povos e culturas. Se hoje a prática nos parece – graças a Deus! – bárbara e incompreensível, é geralmente porque nos falta horizonte histórico para contemplá-la como se exige a quem pretenda colocar a compreensão do comportamento humano acima do julgamento sumário dele.

Parece-me que está bem definida a escravidão se, pelo termo, entendemos a coação da liberdade de um homem ao serviço de um terceiro. Se esta coação se dá por meio de força física ou de ameaça, se ela é temporária ou permanente, se ela decorre de punição legal ou de capricho, tudo isso me parece fugir ao essencial. Grosso modo, um escravo é isto: é um ser humano que eu constranjo a meu serviço. Cabe perguntar por qual motivo alguém poderia, em consciência, impôr semelhante fardo a um seu semelhante. Ou ainda, se existe – mesmo em abstrato – uma razão que possa, ainda que remotamente, justificar tão cruel e repugnante imposição.

Resistamos à tentação de abordar o problema unicamente sob a ótica do Condoreirismo! Porque aqui, de fato, não cabe discussão alguma. Se à pergunta sobre “quem são estes desgraçados / que não encontram em vós / mais que o rir calmo da turba / que excita a fúria do algoz” a gente responde com a grandiloqüência da Musa que Castro Alves chama a depôr n’O Navio Negreiro, então realmente não há nada que se possa fazer aqui a não ser condenar, em absoluto e com a mais apaixonada veemência, este tratamento vil e desprezível ao qual foram desgraçada e incompreensivelmente constrangidas multidões de seres humanos ao longo da história humana. Se os fatos são aqueles colocados no Canto V da obra-prima do poeta, então não há desculpas possíveis. Se os escravos viviam “ontem, plena liberdade, / a vontade por poder” e “hoje, cum’lo de maldade, / nem são livres pra morrer”, então é impossível perdoar os crimes dos que escravizaram e dos que permitiram a escravidão.

Mas as coisas não eram rigorosamente assim na época do Brasil Império e nem muito menos ao longo da história da humanidade. Ir à caça de seres humanos inocentes, livres e soberanos para reduzi-los à escravidão é sem dúvidas uma coisa abominável. Acontece que quando os israelitas venciam Amalec no deserto e só o que podiam fazer era largar os derrotados ao frio, à fome e às feras, passá-los a fio de espada afigurava-se como uma obra de misericórdia. Acontece que quando os ibéricos retomavam as terras dos seus antepassados e se viam diante daqueles que por séculos os haviam saqueado, matado seus filhos e estuprado as suas mulheres, resistir à tentação de massacrá-los era magnânima benevolência e conservar-lhes a vida enquanto escravos era o supra-sumo da caridade.

Historicamente, a escravidão não se define por caçar seres humanos inocentes para transformá-los em alimária particular. No geral, como foi dito, tratava-se de uma punição de guerra ou por supostos crimes cometidos, sobre a qual devemos ser um pouco reticentes em emitir julgamentos peremptórios. É degradante? Sem dúvidas; mas não existe nenhuma pena humana que não degrade em alguma medida o ser humano. Tenho certeza de que, daqui a alguns séculos, leremos “Estação Carandiru” e nos perguntaremos como foi possível que a sociedade tivesse permanecido inerte diante da infâmia do sistema prisional brasileiro do século XX. E tomara que não sejamos então vítimas da mesma incompreensão que, hoje, temos o mau hábito de devotar aos nossos antepassados.

E quanto ao Cristianismo? Ele foi fundamental para que chegássemos ao elevado patamar moral contemporâneo de cuja altura, hoje, os anti-clericais sentem-se no direito de escarnecer da Igreja. A doutrina da igualdade essencial entre os homens – com São Paulo afirmando taxativamente que «[j]á não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus» (Gl 3, 28) – é a verdadeira revolução na história do pensamento humano e na obrigação moral que os homens agora passam a ter para com os seus semelhantes. É somente a partir daqui que podemos falar propriamente em dignidade humana – naquela que não conhece sexo, raça ou condição social, mas que compete a todos os homens e a cada um deles em particular.

Autorizou-se ainda assim a escravidão? É porque, em si, esta punição privativa de liberdade, nos moldes em que passou a ser entendida, não é intrinsecamente má. Após o surgimento da Igreja, ela não mais significava uma diminuição ontológica do ser humano tornado escravo, uma sua coisificação; mas, ao contrário, era uma forma (ainda) socialmente aceita de fazer um indivíduo pagar pelas próprias dívidas ou pelas de outrem (v.g. dos seus pais ou do seu povo). Com o Cristianismo, mesmo os escravos são seres humanos que como tais devem ser tratados, e esta é a novidade radical do Evangelho em relação à escravidão pagã. Se o Paterfamilias romano tinha vitae necisque potestas – poder de vida e de morte – sobre seus escravos, seus filhos e até sua esposa, o mesmo não se pode jamais dizer do cristão sobre sua esposa, seus filhos ou mesmo seus escravos. Se isso nos parece pouco, tal é um tributo que pagamos ao nosso tempo – pelo qual devemos ser gratos e para cuja existência ser possível foi necessário que os influxos benéficos do Cristianismo o engendrassem (por vezes silenciosamente…) nas almas por séculos a fio.

É claro que se pode dizer que a escravidão é um castigo desproporcional, que não está em conformidade com a dignidade humana, que é indigno de povos civilizados, e eu serei o primeiro a concordar: tudo isso deve ser dito! A questão não é contudo sobre idealismos abstratos, e sim sobre o drama da história da humanidade. Transformar a ação dos cristãos ao longo dos séculos num lacônico “apoio à escravidão” é uma inverdade histórica e uma injustiça. A mensagem cristã ressignificou a forma como os homens viam seus escravos, impôs-lhes exigências até então inconcebíveis para com eles, reduziu drasticamente a abrangência da escravidão e, por fim, aboliu-a por completo! Sentar-se diante de um computador no século XXI e reclamar que isso demorou demasiado para ser feito é padecer de graves preconceitos anacrônicos, que em nada nos tornam melhores do que os que nos precederam.

Protestantes confessam: os Padres da Igreja são, de fato, os pais da Igreja Católica Romana!

É raro encontrar honestidade entre os hereges protestantes, mas este artigo do “Sola Scriptura TT” bem que merecia ser lido e relido por todos os filhos de Lutero que pretendem manter a própria honestidade intelectual acima de compromissos ideológicos que a História já demonstrou fracassados.

O texto é propositalmente longo, mas a sua tese central (demonstrada à profusão de citações) é sucinta: basicamente, estes protestantes confessam que «os “pais de igreja” são de fato os pais da Igreja Católica Romana». Ou, de modo mais extenso:

Todos os “pais de igreja” foram infetados com alguma falsa doutrina, e a maioria deles foi seriamente infectada. Até mesmo os denominados pais apostólicos do segundo século estavam ensinando o falso evangelho que o batismo, o celibato, e o martírio proveriam perdão de pecados (Howard Vos, Exploring Church History, pág. 12). E, a respeito dos “pais” posteriores, — Clemente, Orígenes, Cirilo, Jerônimo, Ambrósio, Agostinho, Teodoro, e João Crisóstomo — o mesmo historiador admite: “Nas suas vidas e ensinos, achamos a semente de quase tudo aquilo que surgiu depois. Em forma de semente aparecem os dogmas do purgatório, transubstanciação, mediação sacerdotal, regeneração batismal, e o inteiro sistema sacramental” (Vos, pág. 25).

Se por um lado é um alívio encontrar protestantes assumindo aquilo que nós católicos sempre dissemos (i.e., que a Igreja é e foi desde sempre Católica no mesmo sentido que o termo tem hoje em dia), por outro causa desconcerto a cegueira espiritual à qual podem ser levados os homens quando abandonam a Fé. A contradição chega a ser inacreditável: mesmo admitindo que o Cristianismo historicamente sempre foi aquilo que hoje em dia é pregado pela Igreja Católica, os hereges insistem em continuar protestantes!

O texto divide os Padres da Igreja em quatro grupos: pais apostólicos, ante-nicenos, nicenos e pós-nicenos. E não poupa a nenhum deles das acusações de “heresia” que, hoje em dia, os seguidores de Lutero gostam de vomitar sobre os que guardamos íntegra a Fé que recebemos dos Apóstolos. O texto não poupa sequer Santo Inácio de Antioquia! Ora, Santo Inácio é do primeiro século, foi discípulo de São João. Se nem no primeiro século havia Cristianismo nos moldes em que pregam atualmente os protestantes, cabe perguntar: e quando foi, então, que existiu Cristianismo sobre a terra? Se o registro histórico do Cristianismo dos primeiros séculos apresenta-O com as mesmas características que, hoje, encontram-se na Igreja Católica, que outra conclusão se pode tirar deste fato a não ser que o Catolicismo é, de fato, a fiel expressão histórica do Cristianismo? Se um herege encontra a Igreja Primitiva exuberantemente ensinando toda a Doutrina Católica que ele aprendeu a chamar de “heresia”, como não se perguntar se isto que lhe ensinaram ser “heresia” não é, na verdade, historicamente demonstrado, a mais legítima e pura expressão da Doutrina Cristã?

Para fugir a estas incômodas conclusões, os protestantes do referido site refugiam-se em um fideísmo francamente ridículo. Afirmam, sem o menor suporte racional para semelhante alegação, que a Igreja Católica destruiu todos os escritos dos primeiros cristãos (!) que continham a doutrina protestante. E, mesmo sem possuir nenhum indício desta pretensão absurda e irracional, não coram de vergonha ao afirmar o seguinte: «Isto não prova que a maioria das igrejas teve então a doutrina católica romana. Somente prova que esses escritos simpatizantes para com Roma foram permitidos sobreviver». A pergunta evidente a se fazer aqui seria, simplesmente, como é possível que os livros da Bíblia (que, segundo os protestantes, condenam as doutrinas católicas) tenham conseguido sobreviver a esta extraordinária reescrita da História do Cristianismo que a Igreja foi capaz de realizar?

Ora, se a Bíblia condena a Doutrina Católica, não teria sido fácil à Igreja (que «esteve no poder por um inteiro milênio», cuja «Inquisição alcançou os cantos mais distantes de Europa e além» e que  «fez tudo em seu poder para destruir os escritos daqueles que divergiam dela», como diz o artigo protestante) convenientemente apagar estes livros (ou as passagens destes livros) que A condenavam? Isto, no entanto, não foi feito. E, contraditoriamente, os protestantes seguem a Bíblia da Igreja ao mesmo tempo em que afirmam que Ela destruiu todos os escritos dos primeiros cristãos que combatiam o catolicismo então existente. Isto faz sentido para alguém?

Digno de nota também é o final do texto: lá, é feito um “alerta” a respeito do “poder dos Pais da Igreja em levar a Roma” (!), e são citados exemplos de convertidos famosos como o Beato John Newman e o Scott Hahn. Ora, ao invés de admitir o acerto desses ex-protestantes que preferiram abjurar de suas falsas crenças ao serem confrontados com as evidências de que a Igreja dos primeiros séculos era tão Católica Romana quanto a que hoje é guiada pelo Papa Bento XVI, os autores deste texto preferem “alertar” os seus leitores para que tomem “cuidado” com os textos dos Primeiros Cristãos! Ou seja, a tese deles é que os cristãos de literalmente todos os séculos são hereges: os únicos detentores do verdadeiro Cristianismo são os protestantes, e se falta suporte histórico para semelhante pretensão é justamente porque a Igreja – que sempre existiu – cuidou de varrer da história tudo que A podia desmascarar. Com este tipo de “lógica” não é possível debater.

Mas é bom divulgar textos assim para que os protestantes de boa fé possam, quiçá, com a graça de Deus, libertar-se das garras de Satanás e voltar ao seio da Igreja Católica, única e verdadeira Igreja de Cristo. Afinal, diante de tudo isso, talvez alguns protestantes de hoje (à semelhança de tantos outros) possam se libertar da sua heresia. Talvez a Virgem Santíssima os auxilie e eles, iluminados pelo Espírito Santo, ao perceberem que os primeiros cristãos eram católicos romanos, possam tirar a conclusão mais lógica: não que os primeiros cristãos eram hereges, mas sim que é impossível negar que o catolicismo romano seja, na verdade, o verdadeiro cristianismo.

O trono de ouro do Papa e a caridade da Igreja

Voltou a circular no Facebook uma imagem retratando a suposta contradição entre a “opulência” do Papa sentado em um trono (alegadamente) de ouro e a miséria de uma criança passando fome na África. A imagem recente provoca mais comoção, imagino, por conta do olhar da criança: a foto mostra o menino faminto ostentando dois olhos enormes e brilhantes, no melhor estilo Gato-de-Botas, acrescentando assim à (já comovente, é lógico) tragédia uma apelo visual que faz com que seja impossível não se compadecer imediatamente. É uma obra-prima de propaganda, forçoso reconhecer. Contudo, nem tudo o que reluz é ouro e nem toda boa peça publicitária divulga a verdade. Aliás, o que acontece neste caso é exatamente o contrário.

Sobre este assunto já se falou extensamente no ano passado, quando ele surgiu pela primeira vez: no entanto, fez-se uma confusão com as imagens que convém esclarecer. O que se disse anteriormente (e que é verdade) é que nem mesmo a Cathedra Petri, encrustrada n’A Glória de Bernini, é de ouro. A obra do famoso escultor italiano é de madeira revestida por bronze dourado. Contudo, este não é o trono que aparece nas fotos divulgadas no Facebook, como qualquer um que compare as duas imagens pode ver. Aliás, creio que nenhum Papa se senta na Cathedra Petri por óbvias razões ergonômicas: a obra é alta e imponente, e é perceptível que foi confeccionada visando mais a razões estéticas do que ao uso prático quotidiano.

O trono no qual o Papa aparece sentado – e que NÃO é o de Bernini – é o Trono de Leão XIII. Sobre esta confusão falou extensamente o Caos & Regresso no início deste mês, e recomendo a leitura: tanto deste texto quanto do anterior lá linkado, mormente na parte específica sobre as riquezas da Igreja. O que realmente interessa nessa discussão – como eu respondi pela primeira vez a um amigo que me questionou – é que não importa o valor do trono no qual o Papa se senta, uma vez que ele (como aliás todas as riquezas da Igreja) pertence(m) não ao Papa enquanto indivíduo, mas sim à Igreja como um todo. As riquezas da Igreja estão lá não para conforto dos homens, mas para reverenciar a Deus. E o valor delas, conquanto fosse alto, seria ainda assim insuficiente para “comprar” um mundo perfeito porque, infelizmente, o egoísmo humano é maior do que toda a riqueza acumulada pela humanidade e uma terra sem males não está à venda. Portanto,

  1. ainda que o Trono do Papa fosse de ouro maciço, o Papa não poderia vendê-lo porque ele não lhe pertence; e ainda
  2. ainda que o Trono do Papa fosse de ouro maciço e o Papa o derretesse e vendesse, a fome do mundo não ia acabar com isso. Porque dinheiro se gasta e acaba, ao passo em que as pessoas têm fome todos os dias. Isto é tão evidente que dói ter que desenhar.

O que interessa é dizer que a Igreja – ao contrário desta galera que acredita estar colaborando com o futuro da humanidade ao divulgar no Facebook uma peça de propaganda caluniosa – é a maior instituição de caridade do mundo. A gente não costuma divulgar porque caridade é para ser feita sem alarde mesmo, mas existe um Dicastério Romano (o Conselho Pontifício Cor Unum) voltado para a caridade institucionalizada. Os que acham ser uma boa idéia jogar pedras na Igreja Católica, melhor fariam se primeiro dessem uma olhada nos relatórios anuais do Cor Unum. Se não têm coragem de ler textos grandes e em outros idiomas, então tenham ao menos a decência de passar os olhos pelos números organizados em tabelas (mostrando o total de doações e o número de países beneficiados por ano) antes de perguntar cinicamente quantas crianças poderiam ser alimentadas pela venda de uma peça histórica.

O mais trágico é que as pessoas que divulgam estas cretinices, as mais das vezes, não têm coragem de comprar um pão na padaria para dar a um mendigo faminto da rua, e certamente não lhes passa pela cabeça vender o próprio carro (ou o iPhone ou a roupa de marca) para alimentar a criança que passa fome na calçada do seu próprio prédio. No entanto, vêm fazer exigências sem sentido à Igreja Católica. Donde se vê que, na verdade, hipocrisia não é o que está representado na imagem. Hipocrisia existe em quem compartilha uma coisa dessas.