Jornal critica com veemência defesa do infanticídio – e, por conseguinte, também a defesa do aborto

[Ainda sobre o “Journal of Medical Ethics” e a sua publicação em defesa do infanticídio, a Gazeta do Povo publicou hoje um excelente e corajoso editorial. Leiam lá na íntegra; de nossa parte, ficam os nossos mais efusivos parabéns pela defesa clara dos valores que são fundamentais para que nos possamos dizer civilizados – mas que, não obstante, a loucura generalizada moderna insiste em negar ou relativizar. É reconfortante perceber, uma vez mais, que há ainda uma réstia de esperança para a nossa sociedade, pois há veículos de comunicação comprometidos mais com a realidade das coisas do que com a agenda revolucionária dos inimigo da civilização.]

A repulsa natural que tal ideia provoca na maioria das pessoas se sobrepõe à consideração de que o raciocínio de Giubilini e Minerva é de uma macabra coerência; incoerente é a posição de quem defende o direito ao aborto, mas rejeita as conclusões da dupla de pesquisadores. Afinal, se de fato não existe diferença entre um feto e um recém-nascido, por que aquele poderia ser morto e este não?

No entanto, a dignidade e o direito à vida não dependem de uma suposta autoconsciência, mas derivam do próprio fato de se pertencer à espécie humana, o que ocorre logo no instante da fecundação: quando os gametas se unem, cria-se um indivíduo, com DNA indiscutivelmente humano e diferente daquele de seus pais. A partir desse momento, o embrião já merece proteção, pois é um indivíduo humano, qualidade que manterá até sua morte.

Revolução moral abjeta

“Brasil em transição demográfica” é o título da reportagem da FAPESP. O viés da reportagem é repugnante, mas os dados merecem ser lidos. Mostra a diferença entre uma parcela da sociedade (as “classes mais baixas”) que ainda mantém o seu bom senso intacto e que vê a gravidez (ainda que na juventude) como uma coisa positiva; e, por outro lado, a “classe média”, para a qual a gravidez antes dos trinta e tantos anos é uma espécie de doença ou de infâmia que deve ser expurgada a qualquer preço (naturalmente, não excluindo o aborto).

A leitura da matéria chega a ser desesperadora. Para estas pessoas, ter filhos no frescor da fertilidade é uma tragédia a ser evitada; e se é difícil ter filhos no limite da idade fértil, a “solução” está na reprodução assistida. Aliás, a reprodução assistida vira um direito constitucional que deve ser assegurado para todos (duplas de homossexuais inclusive). O objetivo de vida desta gente é simples: “homens e mulheres devem ter o direito de decidir tanto sobre sexualidade quanto orientação sexual e reprodução, cabendo ao Estado informar e dar condições para que o sexo seja seguro e, portanto, prazeroso”. Coisa mais vazia e degradante é quase impossível imaginar. E esta ideologia macabra, naturalmente, vai degenerar nas aberrações morais que nós encontramos nos dias de hoje.

Por exemplo, hoje o Jornal do Commercio noticiou que uma dupla de homossexuais registrou legalmente, com o nome de ambos (!), uma menina gerada por fertilização in vitro (!!) e que teve por “barriga de aluguel” o útero da prima de um dos dois. O passo-a-passo da tragédia: primeiro a “união estável” dos dois foi “convertida em casamento civil pela Justiça pernambucana no dia 24 de agosto do ano passado” (!), no vácuo do Golpe de Estado do STF que rasgou a Constituição e elevou a perversão moral ao mesmo status da Família instituída por Deus. Depois, uma nova resolução do Conselho Federal de Medicina sobre a reprodução assistida (de janeiro do ano passado, segundo o JC) deixou de exigir que a técnica seja destinada a “mulheres estando casadas ou em união estável”, permitindo ao invés disso que “todas as pessoas capazes” possam aplicá-la. E agora, com a constrangedora situação de fato (artificialmente forjada) presente, o próximo passo é “que a discussão sobre as novas configurações familiares seja levada para dentro das escolas”, como disse o sr. Carlos Brito, “psicólogo de crianças e adolescentes e professor da Universidade Católica de Pernambuco” (!!!) na edição impressa do jornal. A decadência parece não ter limites.

Ao mesmo tempo, publican en una revista médica británica un artículo que justifica el asesinato de los recién nacidos (íntegra aqui). O Reinaldo Azevedo também comenta. Entre outras coisas asquerosas, cito:

Num dos momentos mais abjetos do texto, a dupla lembra que uma pesquisa num grupo de países europeus indicou que só 64% dos casos de Síndrome de Down foram detectados nos exames pré-natais. Informam então que, naquele universo pesquisado, nasceram 1.700 bebês com Down, sem que os pais soubessem previamente. O sentido moral do que diz a dupla é claro: soubesse antes, poderia ter feito o aborto; com essa nova leitura, estão a sugerir que essas crianças poderiam ser mortas logo ao nascer

Esta é a “transição demográfica” que estamos atravessando: outra coisa ela não é que não uma revolução moral abjeta, moldada por uma ideologia doentia em cujas garras a consciência moral da raça humana agoniza sem vislumbrar possibilidade de libertação. São tempos terríveis! Se o presente da humanidade já é assim sombrio, imaginar o que podemos esperar do seu futuro provoca um terror indescritível.

Mais sobre infanticídio indígena

Que saudades do tempo em que os missionários se esforçavam por catequizar os índios, levando-lhes a palavra de Deus e conferindo-lhes, por meio dos Sacramentos, a Graça Divina! Hoje o Conselho Indigenista Missionário parece-se mais com uma sucursal do Inferno do que com uma entidade preocupada com a salvação das almas e a glória de Deus.

Faço referência ao texto do Contra o Aborto. Leiam lá. E faço coro ao desabafo do William: “Afinal de contas, o que o CIMI faz? Quantos são os convertidos? Quantos são os batizados, quantos os que abraçam a Fé Católica? Ou será que só ficam neste papo furadíssimo de que a cultura indígena deve ser preservada, mesmo que esta tal ‘cultura’ signifique matar recém-nascidos enterrados vivos ou a flechadas?”.

Faço referência, também, ao texto que o Erguei-Vos, Senhor reproduziu. “Esses antropólogos e missionários estão defendendo a teoria de que, para algumas sociedades, o ‘ser ainda em construção’ poderá ser morto e o fato não deve ser percebido como morte. Repetindo – caso a ‘coisa’ venha a ser assassinada nesse período, o processo não envolverá morte. Não é possível se matar uma coisa que não é gente. Para estes estudiosos, enterrar viva uma criança que ainda não esteja completamente socializada não envolveria morte”.

Na verdade, todo o celeuma gira em torno de uma reportagem publicada no amazonia.org.br, que chama – já no título – o infanticídio de “direito da mulher indígena”. O texto é simplesmente asqueroso. E, lá, encontramos o sr. Saulo Feitosa – secretário-adjunto do Cimi – falando sobre este “costume” indígena da seguinte forma singela:

Para ele, organizações contrárias ao infanticídio fazem uma campanha mentirosa de que a comunidade obriga a mãe indígena a tirar a vida de seu filho, quando não é verdade.  “No local do nascimento, só ficam a parturiente, a mãe e a avó.  Elas é que vão decidir se vão ou não deixar a criança viver.  Se o filho não volta com as mulheres indígenas, é porque elas decidiram não ter a criança”, afirma.

Sinceramente, o que este sujeito ainda está fazendo em “um organismo vinculado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)”, conforme se pode ler no “Quem somos?” do site do Cimi? Por que raios este conselho indigenista dos infernos ainda existe? O que justifica a defesa velada – e, às vezes, nem tão velada assim… – do infanticídio vergonhosamente praticado por algumas tribos indígenas?

O que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tem a dizer sobre isso?

ONU e direitos indígenas

Que coisa interessante esta declaração das Nações Unidas sobre o direito dos povos indígenas! De acordo com o Art. 8, 1., em tom imperativo, “os Estados estabelecerão mecanismos eficazes para a prevenção e a reparação de a) todo ato que tenha por objetivo ou conseqüência privar os povos e as pessoas indígenas de sua integridade como povos distintos, ou de seus valores culturais ou de sua identidade étnica (…)”.

Entre os “valores culturais” dos povos indígenas, obviamente estão os seus “valores” religiosos, a saber, o paganismo. Um índio concreto, então, de acordo com a ONU, deve ser eficazmente impedido pelos Estados de receber catequese, uma vez que esta vai, naturalmente, como objetivo e como conseqüência, se Deus quiser, libertá-lo e privá-lo do paganismo. Resta só especificar como serão estes mecanismos eficazes. Censura prévia, talvez; ou proibição das missões católicas em terras indígenas.

Historicamente há registros de um mecanismo indígena extremamente eficaz no impedimento da catequese: a antropofagia, principalmente de missionários. Aliás, sabe-se até que o canibalismo, entre algumas tribos, tinha inclusive função ritual. Já que o artigo 11 da supracitada declaração afirma que “os povos indígenas têm o direito de praticar e revitalizar suas tradições e costumes culturais”, o que inclui “as manifestações passadas, presentes e futuras de suas culturas, tais como (…) cerimônias”, cabe perguntar: as cerimônias de antropofagia também estão entre aquelas que os índios têm o direito de praticar e revitalizar?

Ou o infanticídio, talvez? É sem dúvidas um costume cultural, é inquestionavelmente uma tradição. Aliás, se as crianças gêmeas são uma do bem e a outra do mal, e se não dá para distinguir uma da outra, é perfeitamente coerente seguir os costumes dos antepassados e enterrar as duas vivas. Afinal, nunca se sabe. Lembram-se de Hakani?

É óbvio que todas as culturas não são iguais. É óbvio que existem direitos universais que transcendem as culturas. No entanto, é muito politicamente incorreto admitir isso. Na loucura do mundo moderno que deu as costas para Deus, só o que é possível construir são remendos mal-feitos em uma canoa cujos furos são cada vez mais evidentes.

Sobre isto, apenas citando [e recomendando], é muito interessante este texto do Vanguarda Popular:

O Painel Intergovernamental de Mudanças Culturais e Climáticas (ICCCP , em inglês) declarou seu apoio ao recente anúncio das Nações Unidas de que todas as culturas são igualmente válidas. Expandindo a resolução da ONU, o grupo declarou que os direitos das pessoas são culturalmente definidos e não devem ser baseados em qualquer idéia burguesa ou conceito universal. Eles afirmam que o termo “direitos humanos” já está fora de moda e possui uma conotação racista porque ele impõe um valor a vida humana que algumas culturas não aceitam. Eles recomendam que o termo “direitos multiculturais dos povos” seja utilizado.