Vilipendiado o Sacramento da Confissão. Duas vezes.

Foi somente hoje que tomei conhecimento de que uma jornalista italiana, fingindo-se de penitente católica, frequentou confessionários, contou histórias inventadas, gravou tudo e depois publicou as conversas que teve com os sacerdotes católicos que a atenderam. A história se reveste de uma malícia assustadora por algumas razões.

É de uma falta de respeito desmedida para com um ritual que os católicos têm por sagrado, antes do mais. Ninguém precisa da Fé Católica e Apostólica para entender o seguinte: para se aproximar de um sacramento, ao qual os católicos atribuem o poder de perdoar os pecados, contando premeditada e deliberadamente uma mentira – i.e., uma coisa que a Doutrina Católica classifica como «pecado» – com o intuito de redigir uma matéria sensacionalista, é preciso um profundo desprezo pela sensibilidade religiosa alheia.

Isso não é uma coisa, insista-se, que para se evitar seria necessário possuir convicções religiosas profundas. É questão de capacidade básica de convivência social, onde um mínimo respeito às convicções dos outros é exigido para evitar a multiplicação de conflitos desnecessários. Que ninguém invente, aqui, de dizer que os católicos são uns intolerantes que estão a exigir de todo mundo que se comporte em conformidade com as suas – dos católicos – crenças! Porque o que se percebe com clareza é que o anticlericalismo moderno – do qual o caso aqui em análise é paradigmático – atingiu assustadores limites de falta de noção.

Porque – é outra coisa que salta aos olhos quando tomamos contato com a matéria – parece que a sra. Alari não vê o menor problema nem com o sacrilégio bárbaro que cometeu, nem com as ulteriores reações que se lhe seguiram. Ela age como se não tivesse feito nada demais e como se as críticas enérgicas de personagens tão díspares quanto o Arcebispo de Bologna e a Ordem Profissional Italiana de Jornalistas não fossem dirigidas a ela, não lhe dissessem respeito. Um sociopata não demonstraria mais desdenhosa indiferença pelo seu entorno.

Se a maneira de obter a matéria já enoja, o seu conteúdo é de estarrecer. O único texto primário sobre o tema que encontrei foi esta postagem (da semana passada) do blog di Laura Alari. Aqui não há a história completa; trata-se, simplesmente, de um texto que trata – é o título – sobre a ida ao confessionário no papel de uma divorciada recasada que pede para receber a Comunhão Eucarística. O post é somente a transcrição do diálogo, particularmente macabro, entre Don Marco e a personagem que a Laura interpreta.

“Eu comungo sempre que vou à Missa. O senhor julga que cometo um pecado assim tão terrível?”. O padre, de início, não o nega taxativamente; mas a sua tergiversação quase equivale a uma negativa tácita, como que preparando o terreno para o que virá à frente: “Você faz uma coisa que a Igreja diz para não fazer”.

O começo da conversa parece animador. “Se vocês vivem como irmãos e irmãs não há problema”, diz o padre. Corretíssimo. “Verifique se não há razões para que o seu primeiro matrimônio tenha sido nulo”. Perfeitamente. Poderia ter terminado por aqui – quantas graças o bom Deus não deve ter concedido ao padre para que ele calasse a boca neste instante trágico! Mas Don Marco, infelizmente, não conseguiu se conter. As graças atuais passaram. E o padre continuou por conta própria: “Estou lhe dizendo o que a Igreja pede, mas no final é você que deve escolher”.

Silêncio. O padre acrescenta: “Se duas pessoas divorciadas decidem passar juntas o resto de suas vidas, eu não vejo nada de mal; antes é uma coisa positiva. Ainda mais porque, no caso de vocês, estamos falando de pessoas maduras envolvidas em um relacionamento sério, fundado sobre sentimentos verdadeiros; quem já sofreu uma vez não torna a fazer as coisas com superficialidades”. Isso é serviço que preste um Sacerdote do Deus Altíssimo no Tribunal Sagrado da Penitência Sacramental?

“Se falamos de sacramentos, é claro que, na minha posição, eu não direi nunca que tu podes receber a comunhão, uma vez que a Igreja reconhece apenas um Matrimônio. Mas tampouco te direi, jamais, que não podes recebê-la”. “Por quê?”, pergunta a incrédula. “Porque quando a vida acaba nós não nos pomos diante da Igreja, mas sim de Deus, e é a Ele que prestaremos contas de nossas ações”.

O padre ainda pergunta o que aconteceria se, no próximo Sínodo da Família, as coisas mudassem. “Não acontecerá!”, ele garante em seguida. “Mas, ainda que acontecesse, todos nós continuaríamos sendo as mesmas pessoas, com a nossa história particular a colocar diante do Bom Deus”.

“Mas padre,” – insiste por fim a mulher – “isto é andar contra as regras da Igreja”. E a cereja do bolo: “Isso tudo que estou dizendo não significa infringir as regras nem diminuir o problema. Em vez disso, significa olhá-lo de frente e lidar com ele de outros pontos de vista, que é o que estou tentando fazer: oferecer a você outras perspectivas”. Fim de post. Cai o pano. La commedia è finita; la tragedia tuttavia sigue.

Vistas as coisas em seu conjunto, a insistência de Don Marco em dizer à falsa penitente que não comungue não passa de uma piada de mau gosto, de uma hipocrisia farisaica grosseira. Afinal, dizer que a Igreja lhe manda não comungar ao mesmo tempo em que tenta por todos os meios persuadir-lhe de que isso não tem tanta importância – não deve ser levado tão a sério assim… – uma vez que i) a situação dela é linda e maravilhosa, ii) cada um deve agir de acordo com a própria consciência, iii) no final não prestaremos contas a Igreja mas sim ao Bom Deus e iv) oferecer outras perspectivas para enfrentar o problema não significa ir contra as regras (?), outra coisa não significa que desdizer indiretamente o que, contudo, algum formalismo meramente protocolar ainda manda dizer com todas as letras. O que vale, o que fica, não é o que confessor diz, e sim o que ele insinua. Qualquer pecador reticente o perceberia sem nem mesmo precisar de que o padre falasse tanto.

Ao sacrilégio da jornalista segue-se, de maneira terrível, esta horrenda prevaricação de um sacerdote da Igreja…! Que o Altíssimo tenha misericórdia de nós. Sim, a sra. Alari não faz a menor idéia do que significa o Sacramento da Confissão para os católicos, como se dizia acima. É verdade. Contudo, a julgar pelo que acabou de se ver, nem o reverendíssimo pe. Marco o sabe – e este caso é muito, muito mais grave do que o primeiro.

“O Papa parou em nossa casa!”

Eu mal soube da viagem pontifícia a Cassano, cidade da Itália meridional cuja maior característica, a julgar pelo que dizem os órgãos de mídia, é ser profundamente marcada pela atuação da Máfia. E foi bastante por acaso que eu fiquei sabendo deste pitoresco fato que aconteceu nas estradas italianas do sul:

Trata-se de um vídeo amador, certamente de celular, feito pelas pessoas que estavam à beira da estrada para acompanhar a passagem do automóvel pontifício. O mais impressionante não é nem a bênção concedida ao doente (depois do sr. Vinicio Riva, esse tipo de atitude vinda do Papa Francisco não deveria nos surpreender mais). O mais belo está nos detalhes.

Chama a atenção sobremaneira o título que deram ao vídeo: Papa Francesco si e fermato a casa nostra, algo como “o Papa Francisco parou em nossa casa”. Parece clichê e piegas, eu sei, mas não consigo ler essa legenda – colocada, repitamos, pelas próprias pessoas que estavam acompanhando a comitiva papal na beira da estrada; moradores do lugar – sem me lembrar das diversas passagens do Evangelho em que o hagiógrafo faz insistente questão de registrar que Jesus parou em certas casas: na de São Pedro (cf. Mt 8, 14), na de São Mateus (cobrador de impostos – cf. Mt 9, 10), mas também em algumas casas anônimas: «Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia. E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o soubesse» (Mc 7, 24a).

Nem a Catena Aurea e nem a prestigiada “Vida de Jesus Cristo” de Lafayette dão maior relevância ao detalhe; mas eu fico pensando naquela casa precedida de artigo indefinido na qual Nosso Senhor um dia entrou. E embora não seja capaz de saber ou mesmo especular nada sobre ela (Quem eram aquelas pessoas? Será que já O esperavam? Será que já O seguiam como discípulos? Será que Ele pousava lá sempre que ia a Tiro e Sidônia? Será que Ele simplesmente chegou à porta e pediu para entrar?), uma coisa se me impõe à imaginação com clareza: a alegria que deve ter tomado conta daquele lugar, alegria da qual eu penso ver um lampejo naquele «se e fermato a casa nostra» com que rotularam um vídeo que mostra o Vigário de Cristo parando no meio de uma viagem para cumprimentar alguns moradores que estavam no caminho para o ver passar.

Uma parada singela, longe dos protocolos oficiais e das agendas diplomáticas; que ficaria para sempre desconhecida se a tecnologia atual não tivesse transformado qualquer celular em uma câmera filmadora. O Papa desceu do carro para abençoar um doente e cumprimentar alguns fiéis, e não havia nenhum fotógrafo d’Osservatore para o registrar. O fato em si é banal e corriqueiro, eu sei; mas não o é para as pessoas que o vivenciaram. Aquela casa in fines Tyri et Sidonis era tão comum que não recebeu do evangelista mais do que uma menção en passant: mas lá esteve Nosso Senhor, e isso por si só é um fato extraordinário. Por aquelas ruas do sul da Itália passou o Doce Cristo na Terra, naquela estrada o Papa Francisco parou para saudar alguns fiéis. Isso nada muda no Catolicismo; mas penso na alegria que não deve ter tomado o coração daqueles italianos que lá estavam. Na alegria que transparece do vídeo que vejo ainda mais uma vez.

E a Igreja são vários membros, e n’Ela o que acontece com um membro reverbera por todo o Corpo. A alegria daquelas pessoas é também a minha alegria; o contentamento com a ligeira delicadeza pontifícia chega também a mim. Mesmo quando dirigida a um grupo particular de católicos, toda boa obra atinge toda a Igreja. Felicito-me junto com os italianos que não conheço, mas com os quais compartilho a mesma Fé. Alegro-me com eles. E com eles também posso dizer: grazie, Papa Francesco.

O telefone sem fio do Conclave

Há certas coisas na imprensa leiga que seriam cômicas se não fossem trágicas. A despeito da existência de honrosas exceções, a maior parte das pessoas que escrevem sobre religião na grande mídia geralmente não faz a menor idéia do que está falando. Na ânsia pelo “furo” jornalístico, jornalistas imprudentes acabam cometendo as maiores gafes sobre assuntos que claramente não dominam.

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No meio da profusão de matérias publicadas sobre o Conclave, esta matéria do Estado de São Paulo (ontem publicada) faz, sem perceber, uma denúncia gravíssima: algum cardeal teria vazado o resultado do primeiro escrutínio, realizado ontem à noite! A reportagem é enfática:

A contagem é secreta, mas, segundo o jornal La Repubblica, o arcebispo de Milão, Angelo Scola, saiu na frente, seguido pelo arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer. Em terceiro lugar estaria o arcebispo de Budapeste, Peter Erdö, cuja candidatura teria se fortalecido após o embate, na véspera, entre integrantes contra e a favor da Cúria.

Ora, saber quem foram os cardeais mais votados no primeiro escrutínio só seria possível se alguém de dentro do Conclave tivesse repassado a informação – o que seria uma violação gravíssima das normas eclesiásticas que o mundo inteiro assistiu, ontem, cada um dos cardeais, com a mão sobre o Evangelho, jurar cumprir. Assim prescreve a Universi Dominici Gregis:

59. De forma particular, é proibido aos Cardeais eleitores revelar, a qualquer outra pessoa, notícias que, directa ou indirectamente, digam respeito às votações, assim como aquilo que foi tratado ou decidido acerca da eleição do Pontífice nas reuniões dos Cardeais, quer antes quer durante o tempo da eleição.

Como não se concebe uma razão plausível pela qual pudesse um cardeal-eleitor violar o seu juramento recém-proferido meramente para satisfazer uma curiosidade jornalística fútil (estamos falando do primeiro escrutínio!), semelhante informação já é, antes de qualquer coisa, no mínimo suspeita e por si só deveria provocar estranheza em quem a reproduz.

Mas vamos adiante. O Estadão diz que isso veio do La Repubblica. Assumamos o trabalho que o repórter aparentemente não teve e busquemos a fonte original da informação. Curiosamente, no site do La Repubblica não se encontra nada. A coisa mais parecida que existe na internet com a informação publicada com displicência pelo Estado de São Paulo é a seguinte manchete:

repubblica

O que, traduzido, é o seguinte: “Os Papáveis”, em cima. A manchete diz “Freia a corrida de Scherer, Scola [permanece] estável e Erdo desponta nas negociações do Conclave”. É de hoje (13 de março), mas a leitura da reportagem deixa claro que se trata das especulações pré-conclave, e não do resultado da primeira votação! O repórter fez inclusive questão de dizer que «[n]essuno oggi puo pero dire cosa accadra davvero nella Sistina», i.e., “hoje ninguém pode dizer o que realmente acontece na Capela Sistina”!

Ao que parece, o repórter do Estadão (o sr. José Maria Mayrink, “enviado especial”) passou os olhos pelo jornal, viu o nome dos três cardeais, viu que a edição era de hoje, leu atravessado que o cardeal Scola estaria com 35-40 voti e “deduziu” por conta própria que isto era o resultado da votação secreta realizada ontem (!). E simplesmente tocou o boi na linha, reproduzindo na mídia tupiniquim uma informação falsa cujas graves conseqüências, se fosse verdadeira, ele não é capaz de compreender – caso fosse, provavelmente não teria protagonizado esta desabonadora versão profissional da antiga brincadeira do telefone sem fio, que lança ainda mais descrédito sobre a confiabilidade do jornal.

Curtas

“A ousadia da santidade”, pelo Carlos Alberto Di Franco e publicada… no Estadão! “A tese, por exemplo, de que é necessário ouvir os dois lados de uma mesma questão é irrepreensível; não há como discuti-la sem destruir os próprios fundamentos do jornalismo. Só que passou a ser usada para evitar a busca da verdade. A tendência a reduzir o jornalismo a um trabalho de simples transmissão de diversas versões oculta a falácia de que a captação da verdade dos fatos é uma quimera. E não é. O bom jornalismo é a busca apaixonada da verdade. O jornalismo de qualidade, verdadeiro e livre, está profundamente comprometido com a dignidade do ser humano e com uma perspectiva de serviço à sociedade”.

Comunicado da Santa Sé sobre a audiência entre o Papa Bento XVI e o Cardel Schönborn. “A palavra ‘chiacchiericcio’ (fofoca) foi erroneamente interpretada como desrespeitosa às vítimas de abuso sexual, para com as quais o Cardeal Angelo Sodano nutre os mesmos sentimentos de compaixão e de condenação do mal, como expressado em várias ocasiões pelo Santo Padre. A palavra pronunciada durante a saudação de Páscoa ao Papa Bento XVI foi tomada literalmente da homilia pontifical do Domingo de Ramos e se referia à ‘coragem que não se deixa ser intimidada por fofocas de opiniões predominantes'”.

Crônicas Vaticanas: o Papa e a Itália. “Bento XVI e os seus estreitos colaboradores intervêm muito rapidamente em questões italianas, dando mais atenção em relação a outros países do mundo. Isso porque a Itália constitui uma espécie de laboratório para os muitos desafios que a Igreja deve enfrentar: é um país historicamente católico, mas a prática da fé e o seu impacto social estão em decadência. Portanto, a campanha de nova evangelização do Papa só pode começar literalmente do jardim de casa”.

El cardenal Kasper anuncia su partida y traza un balance de su gestión. Em espanhol, mas dá para compreender. “El balance examinó luego las relaciones con las Iglesias y las comunidades eclesiales de la Reforma: ‘Errores o, más bien, imprudencias en el modo de formular la verdad – admitió el cardenal Kasper -, han sido cometidos entre nosotros e incluso de parte nuestra’. Pero en lo que concierne a este diálogo, el cardenal quiso remitirse al texto recientemente publicado por el dicasterio, ‘Harvesting the fruits’, en el que se hace un balance de los resultados y de los acuerdos alcanzados”.

Poesia sobre a morte de Saramago. Destaco: “Proponho assim, por descargo / – Como quem dá a camisa / – Rezarmos por Saramago / Que bem precisa coitado…! / Mãe dos Céus, Oh se precisa”.

– Sobre a Bélgica: “Papa se solidariza com bispos belgas” e “Indignação da Santa Sé pela brutal inspeção ao episcopado belga”. Deste último: “‘Manifestaram que haveria uma inspeção do arcebispado devido a denúncias de abuso sexual no território da arquidiocese’, explica um comunicado assinado pelo porta-voz da Conferência Episcopal da Bélgica, acrescentando que ‘não se deu nenhuma outra explicação, mas todos os documentos e telefones celulares foram confiscados e se manifestou que ninguém poderia deixar o edifício. Este estado, de fato, durou até quase as 19h30′”.

Curtas

– Já foi colocado aqui nos comentários, mas merece destaque: Possessões Demoníacas. Ainda o pe. Fortea. Como eu falei antes: o demônio existe, e possessões – ainda que raras – acontecem ainda nos dias de hoje. Destaque para: “Estamos acumulando arquivos digitais [de som, com a voz de Marta, a menina possuída] para que, futuramente, alguma Universidade especializada em idiomas estranhos possa determinar que línguas ela usa. Às vezes ela fala latim, às vezes hebraico, às vezes aramaico, idiomas diferentes”.

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– Aborto, Itália, Governo: italianas grávidas receberão 4.500 euros para não abortar. Não é a Igreja quem está fazendo isso, e a medida tomada pela Lombardia – a julgar pela notícia – não tem conotação religiosa. A questão é, de novo, os incontáveis problemas gerados pelo controle de natalidade. Vale ressaltar: “enquanto esta região italiana procura incentivar os nascimentos, na Espanha o Governo do Partido Socialista (ao qual pertence o presidente do governo José Luis Zapatero) decidiu eliminar os 2 mil e 500 euros do cheque bebê, a ajuda que o governo costumava dar às mães de recém nascidos”…

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As feministas sobre o aborto. Interessante as confissões delas. Show de cretinices, mas que retrata de maneira lúcida a guerra contra a vida travada no Brasil. Um exemplo entre tantos, já no final: “Temos um presidente e ministros de Estado se posicionando contra um arcebispo, no caso da menina violentada que ficou grávida de gêmeos e teve que abortar no ano passado. Então, a palavra deixa de ser sagrada. É preciso atentar para isso como um avanço significativo”.

“A palavra deixa de ser sagrada”! Certamente a feminista quis dizer “proscrita”, mas todo mundo entendeu. Ela quis dizer que a revolta do Estado contra a Igreja – quando Dom José Cardoso declarou a excomunhão dos assassinos dos gêmeos de Alagoinha – abriu uma brecha na discussão pública sobre o assunto. E, nas entrelinhas, disse praticamente que a Igreja é a única muralha sólida que defende as crianças por nascer.

A propósito, o texto é antigo, mas talvez valha a pena: a violência contra a mulher.

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– De acordo com enquete feita pela Ave Maria, a maior parte dos católicos (mais de 50%, neste momento) se identifica com o catolicismo tradicionalista. Para ver a enquete, cliquem aqui (canto inferior esquerdo, em azul).

Porcos e pérolas

Não sei se é para ânimo ou para temor o que eu li há pouco no Análisis y Actualidad, sobre a MTV e os sacerdotes. Não vi os vídeos, mas li que a MTV italiana elaborou uma série de reportagens sobre as histórias de jovens padres. Segundo consta no referido site,

[n]estes programas, almeja-se oferecer respostas, por meio de testemunhos, a perguntas como: qual o papel que têm os sacerdotes na sociedade moderna? Por que decidiram tornar-se sacerdotes? Como e quando sentiram a sua vocação? Como se relacionam com as demais pessoas? O que buscam e o que encontram na Igreja e em seu ministério sacerdotal?

O que é motivo de ânimo nesta notícia, é muito simples: afinal, são jovens sacerdotes dando publicamente o seu testemunho de resposta generosa à vocação sacerdotal. Porém, causa-me temor pensar nos efeitos que terão estes testemunhos, porque muitas vezes não se devem jogar pérolas aos porcos.

Não sei na Itália, mas aqui no Brasil a MTV é um antro de degradação moral e baixo nível intelectual. Espiritualidade zero. Adianta colocar testemunhos de vocação sacerdotal em um ambiente desses? As pessoas que assistem ao canal não estarão já propícias a receber negativamente a mensagem que se deseja passar?

E que tipo de “concessões” terão que ser feitas, nos testemunhos, para que eles se tornem “palatáveis” à MTV – para que dêem audiência? Falarão estes jovens sacerdotes em ministério do altar, em Sacramento da Confissão, em pecado e em salvação das almas, em necessidade da Igreja, em Céu e em Inferno? Ou ficarão numa conversinha naturalista de “sou muito feliz assim”, “sinto-me realizado”, “sou uma pessoa normal”, etc.? Não sei na Itália, mas no Brasil parece-me óbvio que uma propaganda vocacional decente não poderia ser veiculada na MTV.

Os porcos não sabem o valor das pérolas. Mutatis mutandis, temos aqui em Recife a Rádio Recife – 97,5 FM – que, todos os dias, às seis horas da noite, toca a Ave-Maria de Schubert. Eu poderia ficar feliz porque a rádio saúda a Virgem Santíssima; mas este sentimento em mim coexiste com uma profunda angústia pela banalização da hora do Angelus, com a profanação das coisas santas. Afinal, na Rádio Recife, a saudação angélica das 18:00 é precedida por algum brega indecente, e as mesmas pessoas que a escutarem irão, logo depois, cantar alguma outra canção imoral em seguida. Acaso vale a pena…? Às vezes lembro-me de que Nosso Senhor calou-Se diante de Herodes. E penso se, em certas situações, não deveríamos nós fazer o mesmo.

Estatuto do Nascituro

Divulgando email que recebi sobre o assunto. O Wagner Moura já comentou.

Ontem li na BBC que um feto foi encontrado vivo 24 horas após um aborto na Itália. A procuradoria abriu um inquérito por “homicídio voluntário”. Se o aborto tivesse sido feito com sucesso – i.e., se o feto tivesse sido realmente assassinado -, não haveria crime algum. Se o assassino consegue matar, não há problemas; mas se ele deixa de prestar socorros à vítima que há instantes tentou assassinar e não conseguiu, aí – agora sim – ele é um criminoso. Loucuras do mundo moderno. Contradições escandalosas de um povo que quer reinventar a sua própria “moral”.

Não queremos esta decadência para o Brasil. É importante que defendamos as nossas crianças da sanha assassina e criminosa dos abortistas. E estamos em um momento propício. Cito o Wagner:

A maioria dos deputados pró-vida está na Comissão de Seguridade Social e Família mas eles precisam ser mobilizados para comparecerem à reunião da quarta-feira e às reuniões seguintes. E já na reunião de quarta, 05 de maio, provavelmente, será necessário unir esforços para derrotar um novo requerimento de adiamento da leitura do relatório da deputada Solange Almeida-PMDB/RJ. E ainda que o requerimento seja derrotado, há o risco de um pedido de vistas por parte dos deputados pró-aborto – o pedido protela pelo prazo de duas sessões a votação da matéria.

É por isso que uma maioria de deputados e deputadas pró-vidas é importante durante todo esse processo se realmente quisermos que o Estatuto do Nascituro, Projeto de Lei 478/2007, seja votado e aprovado.

Peço que ESCREVAM aos senhores deputados. Podem escrever com as próprias palavras ou simplesmente usar um modelo como o que o Wagner disponibilizou. Os emails são os que seguem abaixo, basta copiar e colar:

dep.alinecorrea@camara.gov.br, dep.armandoabilio@camara.gov.br, dep.arnaldofariadesa@camara.gov.br, dep.belmesquita@camara.gov.br, dep.antoniocarloschamariz@camara.gov.br, dep.antoniocruz@camara.gov.br, dep.assisdocouto@camara.gov.br, dep.camilocola@camara.gov.br, dep.geraldoresende@camara.gov.br, dep.joslinhares@camara.gov.br, dep.jofranfrejart@camara.gov.br, dep.geraldoresende@camara.gov.br, dep.dr.nechar@camara.gov.br, dep.fatimapelaes@camara.gov.br, Dep.josepimentel@camara.gov.br, dep.reinholdstephanes@camara.gov.br, dep.vadaogomes@camara.gov.br, dep.lucianacosta@camara.gov.br, dep.manoeljunior@camara.gov.br, dep.neiltonmulim@camara.gov.br, dep.paesdelira@camara.gov.br, dep.robertobritto@camara.gov.br, dep.solangealmeida@camara.gov.br, dep.wilsonbraga@camara.gov.br, dep.chicodaltro@camara.gov.br, dep.colbertmartins@camara.gov.br, dep.osmarterra@camara.gov.br, dep.alceniguerra@camara.gov.br, dep.eduardobarbosa@camara.gov.br, dep.germanobonow@camara.gov.br, dep.laelvarella@camara.gov.br, dep.raimundogomesdematos@camara.gov.br, dep.joaocampos@camara.gov.br, dep.jorgetadeumudalen@camara.gov.br, dep.leandrosampaio@camara.gov.br, dep.leonardovilela@camara.gov.br, dep.miltonveira@camara.gov.br, dep.otavioleite@camara.gov.br, dep.ronaldocaiado@camara.gov.br, dep.walterfeldman@camara.gov.br, dep.antoniobulhoes@camara.gov.br, dep.luizbassuma@camara.gov.br, dep.dr.talmir@camara.gov.br, dep.vieiradacunha@camara.gov.br, dep.suelividigal@camara.gov.br, dep.manato@camara.gov.br, dep.ribamaralves@camara.gov.br, dep.maurozazif@camara.gov.br

E segue o texto que recebi por email. Que a Virgem Santíssima cuide das crianças do Brasil.

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Estatuto do Nascituro (Projeto de Lei 478/2007) – vamos aprovar na CSSF!

Estimado amigos e amigas pró-vida do Brasil!

O Projeto de Lei 478/2007 de autoria dos Deputados Federais Luiz Bassuma-PV/BA e Miguel Martini-PHS/MG que tem como relatora a deputada federal Solange Almeida-PMDB/RJ está pronto para ser votado na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados.

1) O que será votado?

O que está pronto para ser votado é o Substitutivo apresentado pela relatora ao Projeto de Lei 478/2007 (Estatuto do Nascituro).

2) Mas, o que é um Substitutivo?

É um novo texto que tem como referência o texto original, mas, normalmente, resultado do trabalho da relatoria depois de ouvir pessoas, grupos, outros parlamentares, debates sobre o tema.

3) O que aconteceu na última reunião da CSSF do dia 28/04?

A relatora deputada Solange Almeida faria a leitura do seu relatório, conforme determina o regimento interno da Câmara dos Deputados. O regimento determina também que após a leitura abre-se para o debate da matéria e não havendo quem queira debater, passa-se à votação. Mesmo havendo debate, essas 3 fases podem ocorrer numa mesma sessão.

Nesta sessão a relatora pediu inversão de pauta, ou seja, solicitou ao Presidente da Mesa que desse prioridade ao PL 478 pois ela queria fazer a leitura do seu relatório. O pedido de inversão foi aceito e antes mesmo que a relatora pudesse iniciar a leitura do relatório o deputado Tarcísio Perondi, do PMDB do Rio Grande do Sul, um dos líderes da tropa de choque pró-aborto da Câmara dos Deputados, entrou com um requerimento de adiamento da leitura do projeto por 10 sessões. O Presidente colocou o requerimento em votação. Nesse momento os deputados e deputadas que não querem que o Estatuto do Nascituro seja apreciado este ano, por causa das eleições, saíram do recinto da reunião, ficando apenas o próprio Tarcísio Perondi, que pediu verificação de quórum, obrigando o presidente da mesa a fazer chamada nominal pela lista oficial dos integrantes da Comissão. Como não havia número suficiente de deputados em plenário a sessão foi derrubada, pois, quando há pedido de verificação e não havendo quórum a sessão cai. E foi o que aconteceu. Se mais deputados pró-vida, titulares ou suplentes, estivessem presentes, essa estratégia não seria possível.

4) E agora o que vai acontecer?

Na próxima quarta-feira o projeto retorna à pauta. A deputada Solange vai novamente pedir inversão de pauta para que possa ler o seu relatório. Provavelmente a tropa de choque pró-aborto irá estabelecer a mesma tática de adiamento da matéria, pois, eles não querem votar esta matéria neste ano eleitoral.

Temos maioria pró-vida na Comissão de Seguridade Social e Família, mas precisamos mobilizar esta maioria para que esteja presente na próxima reunião da quarta-feira e nas reuniões seguintes, mas, nesta próxima reunião, do dia 05 de maio, precisamos derrotar um novo requerimento de adiamento da leitura do relatório da deputada Solange Almeida-PMDB/RJ.

Se conseguirmos derrotar um provável requerimento de adiamento, a leitura será feita, mas, a tropa de choque pró-aborto provavelmente irá pedir de vista da matéria. O pedido de vista regimentalmente significa que o parlamentar que o solicitou quer conhecer e analisar melhor a matéria, mas esse instrumento pode ser utilizado para protelar a votação de uma determinada matéria. O pedido de vista tem o prazo de duas sessões, portanto, o projeto sempre retorna na pauta da sessão seguinte. O pedido de vista não é votado, é sempre concedido pelo Presidente da Comissão, ex-oficio, quando solicitado.

Vencida mais essa etapa, os pró-aborto só poderão utilizar um último instrumento regimental, que é apresentar requerimento de adiamento de votação da matéria por 2 sessões ou por 10 sessões. Com certeza, isso irá ocorrer na próxima semana. Portanto, precisamos ter maioria de deputados e deputadas pró-vida durante todo esse processo para ir derrotando os requerimentos da tropa de choque pró-aborto e finalmente votar a matéria aprovando o Estatuto do Nascituro, Projeto de Lei 478/2007.

É importante mantermos semanalmente a pressão sobre os deputados e deputadas pró-vida para que eles compareçam, toda a semana, nas reuniões da Comissão de Seguridade Social e Família até que, mais uma vez, alcancemos, no âmbito daquela Comissão mais uma vitória na defesa da vida – desde a concepção. Colocamos abaixo a relação dos deputados a serem contactados.

Aprovar o Estatuto do Nascituro nos termos do Substitutivo da Deputada Solange Almeida é de fundamental importância para darmos um grande passo na afirmação da defesa da vida no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro.

Curtas, no Brasil e no mundo

– Nos Estados Unidos, tentam “descristianizar” o Natal. O Wagner Moura comenta, baseado no boletim emitido pela Catholic League. Acho que já comentei aqui como era o Natal Nazista, quando tentaram a exata mesma coisa. Os ateus modernos e os nazistas da Segunda Guerra escolheram até o mesmo Solstício de inverno para colocar no lugar da natividade de Nosso Senhor. Será mera coincidência?

– Na Espanha, foi aprovada a pior lei possível do aborto. A Universidade de Navarra já está em desobediência civil, por ter dito claramente que não iria ensinar procedimentos abortivos em seus cursos de saúde. Há, na internet, uma carta enviada ao Rei da Espanha pedindo para que ele não sancione esta lei – assinem. Não sei quais os efeitos políticos práticos disso, mas importa ao menos fazer saber que somos contra este novo holocausto. Que São Tiago interceda pela sua Espanha.

– Na Itália, enfim, uma boa notícia: a lei do Tribunal Europeu de Direitos Humanos sobre os crucifixos não será reconhecida. O Tribunal Constitucional decidiu que os crucifixos não serão retirados dos prédios públicos. “En su sentenza número 311, el Tribunal Constitucional italiano dispuso que cuando las resoluciones del Tribunal Europeo de Derechos Humanos entran en conflicto con las disposiciones de la Constitución italiana, dichas resoluciones ‘son ilegítimas'”. Cristo venceu. Deo Gratias.

– No Brasil, o desgoverno petista dá mais desgosto: Governo defende liberar aborto. O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos pede claramente que seja modificado o Código Penal para garantir a “descriminalização do aborto”. Como se não fosse o bastante, haverá também uma proposta para o “reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo”. O Brasil caminha cada vez mais para o fundo do poço. Que a Virgem Aparecida Se compadeça de nós.

Leituras apressadas

Estudante mineira pode ser beatificada. “Isabel Cristina lutou até o fim da vida pela virgindade. Ela resistiu ao estupro, mesmo depois de ser golpeada na cabeça com uma cadeira e de ser amordaçada”.

12 razões pelas quais crucifixo não viola liberdade. “A parede branca também é uma declaração ideológica, especialmente se nos primeiros séculos não podia estar vazia”.

Itália: “Esta é a resposta ao Juiz turco de Estrasburgo!”. Leiam, é fantástico! “O prefeito de Assis sugeriu que além dos crucifixos fossem colocados também presépios nas salas de aula. O prefeito da cidade de Trieste esclareceu que tudo permaneceria do jeito que está. A Câmara de Comércio romana pediu que as lojas pendurassem crucifixos […] O prefeito de Galzignano Terme na província de Pádua, Riccardo Roman, ordenou colocação imediata de cruzes em todos os edifícios públicos – não somente escolas, mas também na Prefeitura e museus”.

Apagão em Brasilia foi pior que restante do Brasil: No senado “mordaça Gay” foi aprovada. Na foto: “a Bíblia é homofóbica? E agora, vão rasgar a bíblia?”. No texto: “o projeto fora para votação sem ser comunicado na pauta normal do dia. Foi realmente uma jogada suja, tão suja quanto os que projetaram essa vergonha”.

Para ler

1. Íntegra da nota em que o governo interino [hondurenho] acusa a ingerência de Lula. “[S]endo a presença do senhor Zelaya na missão do Brasil em Tegucigalpa um ato promovido e consentido pelo governo do Brasil, recai sobre este a responsabilidade pela vida e pela segurança do senhor Zelaya e pelos danos à integridade física das pessoas e às propriedades derivadas por permitir que se converta dita missão em uma plataforma de propaganda política e concentração de pessoas armadas que ameaçam a paz e a ordem pública em Honduras”.

2. Não Agüentamos Mais! (Carta ao Clero Italiano) – parte 1 e parte 2. “Nós, leigos, ousamos queixar-nos ao Clero, mas não somos anticlericais, são tais, esses sim, os que renegando o sacerdócio, recusam a instituição, sua dignidade, seus poderes. […] Nosso silêncio poderia ser culposa aquiescência, logo cumplicidade, que convidaria o mundo ridicularizar nossa fé, pisotear nossos mais amados e eternos valores”.

3. O abortamento legal e as mortes evitáveis. “Legalizar o abortamento e disponibilizá-lo na rede pública de saúde se trata de uma ação indispensável na luta por uma justiça social”. É o PSB. O partido ao qual vai se filiar o Gabriel Chalita. E então, Canção Nova?