Recebi por email este texto em espanhol que leva por título ¡Mirad cómo se apedrean!, e com o qual não posso concordar. A despeito de ele ter lá a sua pertinência, peca a meu ver, entre outros motivos graves, por ignorar um aspecto do Cristianismo que desde sempre esteve presente na Igreja Católica, desde o Seu Divino Fundador passando pelos católicos de todos os tempos: o duro combate travado contra os erros e heresias que sempre apareceram no seio da Igreja.
Não vou seguir o conselho do autor do texto de “[s]i no te gusta un articulista, no lo leas”. Já o li, já não gostei – porque o texto está errado – e vou escrever contra ele, sim. Vou apontar a minha opinião “con respeto”, como o sr. Jairo del Agua pede, mas não com respeito humano. Não sei se vai ser do agrado do blogueiro espanhol, mas nunca me preocupei com isso: caso ele não goste, eu não me incomodo nem um pouco com a tréplica que porventura venha.
Não é a “minha opinião” o que está em litígio aqui. Afirmações como as seguintes, que se encontram no texto, estão objetivamente erradas (ou pelo menos parecem tanto estar erradas que não podem ser aceitas sem maiores explicações), independente da “opinião” de quem quer que seja:
- (…) estos “católicos de papel” prefieren cualquier papel doctrinal, por apolillado que esté, a la Escritura.
- (…) todo compendio doctrinal requiere permanente actualización.
- (…) parte del Catecismo oficial se ha quedado obsoleto.
- [Estos católicos] se muestran como los nuevos fariseos.
- (…) la vida del hombre sobre la tierra es progresiva -individual y colectivamente- como lo es la revelación del Espíritu.
- Repetimos lo mismo que nuestro Señor censuró: el fanatismo, el rigorismo humano y la rigidez de una religión miope que se apega a lo secundario (letra, rito, doctrina y tradición) y olvida lo principal (el amor, el Espíritu y el camino a la plenitud).
Oras, onde está o “respeito” que o articulista exige, quando ele trata os outros por “católicos de papel”? Ou por “novos fariseus”? Por fanáticos? Onde o respeito pelos documentos da Igreja, chamando-os de apolillados [“carcomidos”, “puídos”]? Onde o respeito à Igreja, apodando-A de “religião míope” que – vejam só! – apega-Se a coisas “secundárias” como doutrina e tradição?
É precisamente por apegar-se a estas coisas que a Igreja permanece até hoje, e “reformadores” surgem e somem a cada dia. Dado o exposto, cabe sim perguntar – espero que perguntar não ofenda – se o articulista sabe o que é ser católico. Pois vejamos: qual a “atualização permanente” que a Doutrina exige? Onde e em que sentido o Catecismo “oficial” tornou-se “obsoleto”? Se a Revelação encerrou-se com a morte do último Apóstolo, como ensina a Doutrina Católica, o que entende o autor do texto ao dizer que ela é “progressiva”? Ou será que esta história de Revelação encerrada na morte do último Apóstolo é um dos pontos “obsoletos” do Catecismo?
Ora, que respeito de mão única é este, onde não se pode contradizer bobagem alguma que se apresente como “doutrina católica” mas onde é perfeitamente conforme “el amor, el Espíritu y el camino a la plenitud” chamar os outros de fanáticos e de fariseus?
Não censuro no sr. del Agua as invectivas. Censuro-lhe a escandalosa contradição. Porque, ao contrário do que ele diz, está perfeitamente conforme o espírito do Catolicismo ser duro – e até bem duro – contra os que falsificam a Doutrina Católica. Acho que já citei aqui o tratado de São Jerônimo contra Helvídio, do qual destaco somente um trecho – de tantos! – para ilustrar o que digo:
Há algum tempo, recebi o pedido de alguns irmãos para responder a um panfleto escrito por um tal Helvídio. Demorei para fazê-lo, não porque fosse tarefa difícil defender a verdade e refutar um ignorante sem cultura, que dificilmente tomou contato com os primeiros graus do saber, mas porque fiquei preocupado em oferecer uma resposta digna, que desmoronasse os seus argumentos.
Havia ainda a preocupação de que um discípulo confuso (o único sujeito do mundo que se considera clérigo e leigo; único também, como se diz, que pensa que a eloqüência consiste na tagarelice, e que falar mal de alguém torna o testemunho de boa fé) poderia passar a blasfemar ainda mais, caso lhe fosse dada outra oportunidade para discutir. Ele, então, como se estivesse sobre um pedestal, passaria a espalhar suas opiniões em todos os lugares.
Também temia que, quando caísse na realidade, passasse a atacar seus adversários de forma ainda mais ofensiva.
Mas, mesmo que eu achasse justos todos esses motivos para guardar silêncio, muito mais justamente deixaram de me influenciar a partir do instante em que um escândalo foi instaurado entre os irmãos, que passaram a acreditar nesse falatório. O machado do Evangelho deve agora cortar pela raiz essa árvore estéril, e tanto ela quanto suas folhagens sem frutos devem ser atiradas no fogo, de tal maneira que Helvídio – que jamais aprendeu a falar – possa aprender, finalmente, a controlar a sua língua.
E então? Também o Doutor da Igreja será chamado pelo sr. del Agua de novo fariseu defendendo obsoletas doutrinas carcomidas pelo tempo? Também o Cristianismo de São Jerônimo será colocado em dúvida? Afinal de contas, quem é que merece crédito neste embate? O Doutor da Igreja ou o blogueiro contraditório?
Não sei se esta resposta foi “respeitosa” da maneira que o Jairo del Agua gostaria. Mas eu não poderia fazê-la de outra maneira: não poderia deixar de protestar contra a incoerência do texto ou contra as sandices doutrinárias lá apregoadas. Se isso atrair sobre mim a fúria do sr. del Agua ou de outros como ele, eu sinceramente não me importo. Afinal, estou em boa companhia. E não escrevo para agradar a ele nem a ninguém, e sim para defender a Verdade contra os erros. Mesmo que isso implique no emprego de uma “santa violência”. Como – repito – sempre foi costume na Igreja de Nosso Senhor, embora alguns ainda não o tenham percebido.