O caos dos bastidores

A Jornada foi um estrondoso sucesso, mas este não pode (por questões de Justiça) ser atribuído aos seus organizadores. A todos os que participaram da JMJ, eu, na qualidade de voluntário do evento, gostaria de pedir sinceras desculpas – ex imo cor meum – pelo mais criminoso desleixo com o qual vocês foram tratados pela organização do evento, quer por parte das autoridades seculares, quer pelo Comitê de Organização Local (COL) da Jornada, empenhados todos que estavam – ao que parece – em tornar a experiência desses dias a pior possível.

Não penso que exagero. Falo do que eu vi e vivi ao longo de quinze dias no Rio de Janeiro, e que merece um registro, quando menos para que a glória de Deus resplandeça com um fulgor mais vívido ao se perceber quão adversas eram as circunstâncias em que ela se manifestou. Convivi com incontáveis pessoas de coração generoso e de boa vontade, e justamente por isso posso falar um pouco das dificuldades que encontramos para que esta Jornada Mundial se realizasse de maneira a servir à maior glória de Deus e à salvação das almas.

Dizem que peregrino não está à procura de luxo e que a JMJ é uma peregrinação repleta de provações. É verdade. No entanto, não havia nenhuma necessidade de se infligir contrariedades e sofrimentos desnecessários àquelas pessoas que foram ao Rio de Janeiro para ver o Doce Cristo na Terra. A impressão forte que passava a todos os que contemplavam atônitos as absurdas diretrizes emanadas das altas esferas de tomada de decisões era a de que tudo estava sendo feito da pior maneira possível, que por vezes nem o mais irresponsável amadorismo poderia explicar. Muitas vezes, a impressão que nos dava era a de haver uma vontade deliberada de melar de alguma maneira o evento.

Eu não vou nem mencionar as barbaridades feitas com os voluntários, amontoados na Catedral numa fila que nunca andava, alguns jogados para alojamentos distantes e depois tirados deles às pressas no meio da noite, outros obrigados a participar de treinamentos concorrentes, outros ainda separados de seus cônjuges (voluntários igualmente) por uma burocracia estúpida e sem sentido. Concedamos aos organizadores o benefício da dúvida, e concedamos que a semana da pré-Jornada tenha sido o “teste” que eles precisavam para acertar os ponteiros e prestar um serviço melhor na próxima semana. Nada justifica, no entanto, que na semana seguinte os mesmíssimos erros tenham sido repetidos de novo e mais uma vez, transformando todo o evento numa sucessão de martírios kafkianos que, não fosse a sede de Deus daqueles que foram ao Rio de Janeiro, teria certamente comprometido todo o evento.

Havia necessidade de se entregar kits peregrinos para centenas de milhares de pessoas? Que tal descentralizar a distribuição? Que tal separá-los por estado de procedência, por ordem alfabética, por número de inscrição, por qualquer coisa? Que tal antecipar o início da distribuição? Mas, não. Todos os peregrinos foram enviados (alguns inclusive sem o voucher de confirmação da inscrição que deveriam ter recebido…) para um único ponto, o Sambódromo [p.s.: conforme uma voluntária teve a gentileza de me avisar aqui no blog, havia um outro ponto de distribuição, menor, em Santa Cruz], onde enfrentavam diversas filas para pegar sucessivamente as credenciais, as mochilas, os livros que compunham o seu conteúdo, os vales transporte e alimentação.  Custava ao menos entregar o kit completo de uma vez só? Era realmente necessário forçar os peregrinos a pegarem-no aos pedaços, enfrentando uma nova fila quilométrica para cada item do kit que deveriam receber? As filas se formavam desde as primeiras horas da manhã, e a distribuição só começava as 10h. Custava iniciá-la mais cedo, ao se perceber o estado caótico em que as coisas se encontravam?

Para se locomoverem no interior da cidade, os peregrinos recebiam um cartão de transporte que lhes permitia pegar os ônibus e o metrô. De repente, o MetrôRio decide que estes bilhetes não vão valer para a cerimônia de recepção do Papa da quinta-feira e nem para a Via-Sacra da sexta. Exige que adquiram um outro bilhete, válido por horário, para estes dois dias. E, de repente, o peregrino se vê na rua com um bilhete que pode usar para ir pra qualquer canto do Rio de Janeiro, exceto o único lugar para ir ao qual ele estava na cidade: o lugar onde o Papa estava. Pode-se adquirir o bilhete sem ônus na estação “Carioca”, dizem: e lá se vão outras filas quilométricas e mais um dia inteiro perdido para se conseguir um bilhete de metrô.

Na quinta-feira, o metrô do Rio pára, e esta foi uma das situações que me fizeram pensar em sabotagem explícita: de repente, toda a linha metroviária da cidade do Rio de Janeiro pára por completo, e justamente no instante em que todas as pessoas estavam se dirigindo à Zona Sul para recepcionar o Papa! Peregrinos ficam presos no subterrâneo, entre duas estações. Nem ligam: cantam, batem palmas, rezam, depois saem e vão como podem, andando ou de ônibus, ao encontro do Vigário de Cristo. Dizem depois que uma latinha de refrigerante jogada nos trilhos provocou o colapso. Eu fico pensando em quem foi o responsável por este caos.

Na sexta, durante a Via-Sacra, a Av. Atlântica é fechada do Forte ao palco (que ficava quase no Leme) para a passagem do Papamóvel. As grades são colocadas quando a avenida estava já tomada: grupos ficaram separados, e quem estava do lado da praia não conseguia atravessar para o lado dos prédios, e nem vice-versa. Passa o Papa, começa a Via-Sacra: eu, no cordão de isolamento, a orientação que recebo é que as grades só serão retiradas quando acabarem todas as estações, dali a uma hora e meia pelo menos. Uma senhorita de língua espanhola me chama às lágrimas: ela está do lado dos prédios, e quer ir à praia para rezar com o Papa. Onde ela está o som não chega, diz, e eu constato que é verdade. Digo-lhe que ela está coberta de razão. Reclamações análogas começam a pulular por todos os cantos: decidimos, nós mesmos voluntários, por conta própria, tirar as grades. Fazemos um cordão somente para impedir que as pessoas seguissem pela avenida, onde a Via Sacra ainda estava acontecendo: mas deixamos que elas passem de um lado para o outro. Lá pelas tantas, uma garota vem correndo dizendo que era para liberar a via para a passagem de não-sei-o-quê e perguntando quem havia mandado tirar as grades. Respondo que nós tiramos a grade sim, e há muito tempo, porque era necessário. Ela reclama alguma coisa e sai praguejando; ainda a ouço dizer que “os voluntários só atrapalham”. Quanto à senhorita de língua hispânica, não a vi mais, mas rezo para que ela tenha conseguido acompanhar a Via-Sacra como desejava.

No sábado, outras filas quilométricas se formam no MAM para pegar o kit vigília. Horas e horas e horas desperdiçadas. Quando chego no lugar de entrega dos kits, percebo que é um pavilhão que possui uns balcões de uns cinqüenta metros no total, atrás dos quais estão voluntários com os kits a serem entregues. A forma mais óbvia de se fazer esta distribuição seria formar diversas filas de frente para os balcões; mas as pessoas fizeram uma fila única vinda por somente um dos lados, no mesmo sentido do comprimento do pavilhão, e as pessoas entravam de dez em dez ou de vinte e vinte e eram orientadas a correrem até o fim para pegarem o kit. Claro que muitas ficavam no início do balcão, em cujo final distribuía-se kits com muito menor freqüência do que era possível.

Ainda no sábado, no percurso entre a Central e Copacabana, disseram haver banheiros para os peregrinos. De fato, há: duas ou três cabines a cada quilômetro ou mais, evidentemente insuficientes para uma marcha de um milhão de católicos. Também aqui formam-se filas. Na praia há também banheiros, em quantidade ridícula e que não foram limpos: no domingo pela manhã, o espetáculo dos peregrinos formando filas a mais de dez metros das cabines (para só correrem rapidamente em direção a ela quando chegasse a sua vez, e saírem depois o mais depressa possível) era digno das mais escabrosas cenas do “Ensaio sobre a Cegueira”. Ainda no domingo pela manhã, uma outra coisa me levou a cogitar a hipótese de sabotagem: fechada mais uma vez a avenida para a passagem do Papa com mais de duas horas de antecedência, as pessoas que estavam na praia não podiam atravessar para o lado dos prédios – e do lado da areia não havia banheiros químicos. Quero dizer, pelo menos um milhão de pessoas que haviam passado a noite em Copacabana e, de manhã, não tinham banheiros para se aliviar! Havia os banheiros dos postos. No que eu estava, o banheiro estava fechado: já há horas que faltava água, papel, material de limpeza. A fila se formava enorme na frente; muitas pessoas pediam pelo amor de Deus para que as deixassem entrar, e não havia como. Já perto das sete horas da manhã, a fila começou a andar em conta-gotas. Dali a que todas entrassem, passaram-se horas: a fila continuou durante toda a manhã.

E não falei do transporte público que escasseava a ponto de praticamente desaparecer à noite; dos protestos (de “Fora Cabral!” e da “Marcha das Vadias”) que permitiram acontecer em meio aos peregrinos; das irresponsabilidades ocorridas com as hospedagens (com locais totalmente inadequados recebendo peregrinos, e casas de família que haviam aberto as suas portas junto à organização do evento esperando os seus hóspedes que nunca chegavam); do pessoal do COL arrogantemente dizendo aos voluntários “só vá trabalhar onde foi alocado” quando era óbvio que havia necessidade de mais gente nos lugares onde a desorganização estava mais crítica (e, quando lá chegávamos, eram as próprias pessoas que lá estavam trabalhando a pedirem a nossa ajuda); dos cafés da manhã servidos não nos alojamentos, mas nos locais de catequese que muitas vezes distavam daqueles uma hora ou mais de locomoção; et cetera. A lista é extensa e este post já vai longo e chato demais. Apenas quero dizer mais três coisinhas.

Primeiro, é óbvio que nenhuma cidade no mundo comporta três milhões de pessoas a mais do que as que já vivem nela. Filas e locais lotados eram naturalmente esperados, mas havia uma infinidade de coisas simples que poderiam ter sido feitas para minimizar estes problemas. Coisas como melhor organização dos pontos de distribuição de kits, maior contingente de veículos de transporte público (inclusive madrugada adentro), maior número de banheiros químicos e melhor cuidado com eles. Estas coisas são básicas, e não existe justificativa possível para que tenham sido tão mal feitas.

Segundo, que os voluntários estão de parabéns por terem sabido se desvencilhar das orientações estapafúrdias do COL e organizarem as coisas à própria maneira, da melhor forma possível dentro das condições precárias em que eram colocados. O que dizíamos entre nós era que quaisquer pessoas conversando por dois minutos diante de um problema específico eram capazes de arranjar uma solução muito melhor do que a que fora dada pelo COL, e isso era verdade; trabalhamos muito e trabalhamos duro, às vezes sem apoio “dos bastidores” algum, para que as coisas pudessem acontecer de modo menos traumático.

Terceiro, e mais importante, e é isso que eu quero que fique deste post (e não somente a reclamação generalizada que pode fazer parecer que nada prestou ou valeu a pena): tenho certeza que cada um daqueles peregrinos passaria por tudo aquilo de novo para viver o que viveu. Aquela multidão era diferente das outras multidões, e os que tentaram expôr os jovens a situações-limite para forçar reações impensadas que pudessem comprometer o espírito da Jornada foram fragorosamente derrotados pelo espírito cristão daquelas multidões que, com cânticos nos lábios e amor a Deus nos corações, ultrapassaram todas as dificuldades com os olhos fitos no Cristo que foram encontrar. Não houve nenhum incidente, nenhuma briga, nenhum confronto com a polícia, nenhum quebra-quebra, nada enfim que pudesse desmerecer a Jornada Mundial da Juventude. Se é na nossa fraqueza que se revela a força de Deus, o fato da JMJ ter sido um sucesso mesmo com todo o caos dos bastidores revela de modo insofismável a ação poderosa d’Ele que, ultrapassando toda a má-vontade humana, foi capaz de congregar junto a Si em espírito de paz e harmonia aqueles milhões de pessoas dos quatro cantos do mundo que foram ao Rio de Janeiro para se encontrar com o Romano Pontífice. Com um tão vasto número de problemas, qualquer evento mundano teria sido um estrondoso fracasso; é somente porque a Jornada era um evento de Deus que tantos que lá estiveram podem hoje se lembrar daqueles dias como uma experiência espiritual positiva e frutuosa, que levarão com gratidão para sempre em suas vidas. Deus não Se deixa vencer em generosidade, mesmo quando O tratam com descaso. Deus realiza a Sua vontade, mesmo quando os homens trabalham e conspiram para a frustrar.

O show da JMJ!

Eu não nego a boa vontade dos garotos que fizeram o “Show da JMJ”. Não obstante, é preciso negar – e com veemência – que se possa fazer uma desgraça dessas sob a justificativa de “evangelizar”. Evangelizar a quem, cara-pálida? Isso não é a JMJ. Isso é um desserviço que alguns jovens do Rio de Janeiro – repito, certamente com a melhor das boas intenções – estão prestando à Jornada e à Igreja.

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Eu nunca tinha ouvido falar em “Anitta” (sim, com dois ‘t’s mesmo) e não conhecia o clipe oficial do “Show das Poderosas” – aliás, nem mesmo a música eu conhecia. Infelizmente, agora eu conheço as duas coisas: o funk original e a sua versão “católica” feita pelos meninos do Rio de Janeiro.

É claro que sou a favor de músicas, mesmo profanas, em eventos para a juventude. No entanto, é preciso ter critérios. Não nego o valor das paródias. O que afirmo é a importância de ser seletivo na escolha daquilo que vamos parodiar. Afinal de contas, deve-se imitar aquilo que é bom, e não qualquer porcaria. Por qual razão deveríamos pegar o esgoto da música contemporânea e fazer-lhe uma versão piorada para supostamente servir à causa católica? Sim, porque é exatamente disso que se trata.

O tal “Show das Poderosas” é um lixo de música chiclete que exige doses cavalares de «Desescute» para desintoxicar o pobre incauto em cujos ouvidos ela consiga penetrar. O “Show da JMJ” é a mesma coisa, só que com menos métrica e rimas piores. A música remete o tempo inteiro ao funk original, do qual ela é somente uma cópia mal feita. Fica a pergunta: qual o propósito disso?

“[A]trair o público”? Mas não está óbvio que os não-católicos «que descem e rebolam» no funk original vão simplesmente torcer o nariz para esta paródia patética, e que os católicos que porventura embarquem na onda não deveriam ser incentivados – nem por similaridade! – a gostar da depravação que vemos no clip da Anitta? Se a música não atrai os de fora e ainda corrompe os de dentro, por que raios há católicos gastando tempo e dinheiro para produzi-la e divulgá-la?

Sobre a JMJ: bons frutos e traições

Com relação à notícia de que a organização da JMJ Rio2013 convidaria para fazer shows no evento cantores como a Ivete Sangalo e o Michel Teló (!), foi publicada ontem uma nota de esclarecimento do Comitê de Organização Local da Jornada dizendo simplesmente que tal participação «não está confirmada pela organização do evento». O desmentido tanto conforta quanto incomoda.

Conforta, porque ao menos esclarece que «as apresentações durante a JMJ Rio2013 são analisadas e devem ter o parecer final do Pontifício Conselho para os Leigos (PCL), que exerce a função de Comitê Organizador Central da JMJ e está ligado ao Vaticano». Incomoda, porque parece não achar que se deva rejeitar com veemência a insinuação de que o show de um artista conhecido por cantar “ai, se eu te pego!, ai, ai, se eu te pego!” pudesse encontrar lugar em um evento católico com a presença do Papa e de fiéis do mundo inteiro.

Sobre o financiamento desses supostos shows, o pe. Marcelo Tenório esclareceu recentemente que «o dinheiro do patrocínio [da JMJ] não será usado para pagar os artistas», cujo cachê ficará ao encargo das próprias gravadoras – «que poderão adquirir posteriormente o contrato para produzir o DVD do evento». Mas, sinceramente, os maiores problemas aqui não são de ordem financeira. A mera proposta parece um escárnio deliberado; alguém pode me explicar qual a relevância cultural do Michel Teló que justifique a sua inclusão – mesmo como possível candidato! – numa “agenda de atividades culturais” de um evento católico?

Eu tenho um particular apreço pela Jornada Mundial da Juventude, desde que fui a Madrid há dois anos e me impressionei muito positivamente com tudo o que vi por lá. Foi lá, por exemplo, que demos eloqüente testemunho público a favor do Deus Altíssimo contra a turba dos inimigos de Cristo que nos assaltava; foi lá a última vez em que vi presencialmente o querido Papa Bento XVI, e guardo carinhosa lembrança de quando, após literalmente um dia inteiro de espera nos arredores da Plaza de Cibeles, fomos recompensados com um olhar direto do Vigário de Cristo, que voltou a cabeça e sorriu para nós. Foi naqueles dias fantásticos que o Vargas Llosa – agnóstico – escreveu que “Deus parecia existir”. Enfim, estou convencido dos bons frutos que o evento vêm dando ao longo dos últimos anos, e acho que ele tem tudo para continuar assim.

Bastando para isso, é claro, que ele não seja sabotado. E não consigo deixar de ver essas tentativas de acabar com a credibilidade da Jornada (desde p.ex. a recente matéria tendenciosa do Globo Repórter até essa idéia de colocar o Michel Teló para cantar para os católicos) como um levante orquestrado das forças do Inferno contra um evento católico que está dando frutos para a glória de Deus e a salvação das almas. Não consigo me dissuadir da idéia de que a JMJ incomoda a muitos, sim, e é isso que motiva tantas tentativas de corrompê-la.

Mas o evento acontecerá. Com o apoio dos bons ou as traições dos maus, ele acontecerá; e para o seu êxito a nossa participação é fundamental. O campo de apostolado é vasto e promissor, e nós não temos o direito de abandoná-lo aos salteadores que não têm compromisso com Deus nem amor à Sua Igreja. À Organização da Jornada eu suplico que avalie – de joelhos diante do sacrário – se o que quer que ela esteja cogitando fazer vai de fato servir à glória de Deus ou se, ao contrário, é vaidade mundana insuflada por Satanás para macular um evento católico. E a todos os que aspiram à glória de Deus e à exaltação da Santa Igreja eu peço que dediquem um pouco do seu tempo à JMJ: com a sua participação ativa ou com as suas orações pelo bom êxito do evento. Que a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro sirva para levar almas a Deus, é o que suplico à Santíssima Virgem Aparecida que nos conceda, apesar dos nossos tantos pecados.

“Jovens do Brasil” e a JMJ Rio 2013

O perfil do Jornal Hoje no Facebook anunciou que «o Jovens do Brasil está de volta» (acho que é um quadro do Jornal) e perguntou aos internautas:

Qual assunto você quer ver no Jornal Hoje?

De ontem para hoje a página foi completamente invadida por usuários pedindo para que o assunto seja a Jornada Mundial da Juventude que acontecerá este ano no Rio de Janeiro. Neste momento estamos com mais 4.000 comentários (e aumentando!), dos quais pelo menos 3.000 pedem para que o programa aborde a JMJ.

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E “os laicista pira”!

Curtas

Morre a filha de Stalin que se converteu ao catolicismo. Morreu sozinha no último dia 22 de novembro, em um asilo nos Estados Unidos. Leiam lá o testemunho dela contando a sua conversão (está em espanhol, mas é belíssimo). Só um trecho: «Há uma coisa que aprendi pela primeira vez nos conventos católicos: a bênção da existência quotidiana, inclusive da mais escondida; de cada pequena ação e até mesmo do silêncio. Geralmente sou felicíssima em minha solidão; na tranqüilidade do meu departamento eu sinto vivamente a presença de Cristo».

E subscrevo o final do texto de HazteOir.org: Sobra cualquier glosa al texto. Svetlana Iósifovna Stálina, gracias por tu testimonio. Descansa en paz.

* * *

Corra, Edir Macedo, que o Papa vem aí – sobre a recente campanha calhorda da Record para colocar o povo brasileiro contra a próxima Jornada Mundial da Juventude que acontecerá no Rio de Janeiro em 2013. Vejam lá os comentários do Porta Fidei. A reportagem original está aqui. Desta, eu cito: «O texto é claro: são R$ 5 milhões para a realização e divulgação da Jornada. O deputado estadual Édino Fonseca é contra a utilização do dinheiro do contribuinte para a promoção de um evento católico, advertindo que o Estado é laico. A deputada Myrian Rios, autora da emenda, foi procurada, mas não se pronunciou sobre o caso».

Sinceramente, eu não sei nem o que comentar. Todo mundo sabe que a JMJ é um evento que praticamente se auto-sustenta e que é extremamente benéfico para a economia dos países onde se realiza (ao contrário de Olimpíadas ou de Copas do Mundo). A JMJ Madrid, p.ex., movimentou 354 milhões de euros! E «custou, em âmbito organizacional, em torno de 50 milhões de euros advindos de recursos gerados pela própria organização». Eis os fatos que fazem calar a tagarelice da Record. É isto o que tem que ser apresentado aos cariocas, e não a insidiosa cortina de fumaça levantada pela emissora protestante.

* * *

Padres brasileiros invadem o Novo Mundo. A reportagem de Terra fala sobre o novo Anuário Católico, cujos dados são animadores: «apesar de ainda haver pouco padre por habitante (um para cada 8.624), o número de paróquias e de sacerdotes está em crescimento. Segundo o Anuário, há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que em 2000».

Vale também a pena passar os olhos por esta Análise sociológica da evolução numérica da presença da Igreja no Brasil. O estudo apresenta tabelas e gráficos muito interessantes, embora quase todas as explicações sejam perfeitamente dispensáveis.

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Alento aos desolados com a Igreja, por Genésio “Frei Leonardo” Boff. É um lixo completo. Destaco só o último parágrafo para fazer uns ligeiros comentários:

O problemáti[c]o na Igreja romano-católica é sua pretensão de ser a única verdadeira. O correto é todas as igrejas se reconhecerem mutuamente, pois todas revelam dimensões diferentes e complementares do Nazareno. O importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual. É ele que pode sustentar a tantos cristãos e cristãs face à mediocridade lamentável e à irrelevância histórica em que caiu a Igreja atual.

1. Como está bastante óbvio para qualquer pessoa que mantenha intacta a sua capacidade de reconhecer os princípios elementares da lógica, qualquer coisa que se afirme ser verdade precisa, necessariamente, excluir todas as coisas que lhe contradigam. Não dá para dizer que uma coisa é verdade e, ao mesmo tempo, que o(s) contrário(s) desta coisa é(são) também verdade.

2. “Todas as igrejas” (e o Genésio inclui aqui também as seitas) “se reconhecerem mutuamente” é uma coisa que só é possível pela destruição de todas as igrejas, uma vez que (ao contrário do que disse o Genésio) a pregação do Nazareno inclui sim uma (e somente uma) Igreja que era “coluna e sustentáculo da Verdade”. O que o Boff realmente quer é inaugurar a sua própria Igreja – que seria radicalmente diferente de todas as manifestações cristãs em 2.000 anos de Cristianismo! Ele é mesmo o único cristão verdadeiro desde São Francisco!

3. Esta tese idiota do Boff de que – p.ex. – “o importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual” em detrimento de sua organização visível e hierárquica, por acaso o ex-frei não a considera como a única visão verdadeira do Cristianismo? Sim ou não? Se sim, como ele tem a hipocrisia de condenar na Igreja aquilo que ele próprio faz? Se não, por qual motivo está errado – e é problemático – o posicionamento de sempre da Igreja Católica?

4. “Mediocridade lamentável” e “irrelevância histórica”, como disse um amigo em uma lista de emails sobre o assunto, é a contribuição acumulada do sr. Leonardo Boff para a humanidade. Tão medíocre e tão irrelevante que passa a impressão de que ele pensava em si próprio quando escrevia estas linhas.

* * *

Gherardini responde a Ocariz – vi no Fratres in Unum. Gostei do texto. Destaco apenas

1. que o Mons. Gherardini não se furta a usar “linguagem conciliar” e diz, explicitamente, que [grifo meu] «a Igreja é e opera no tempo como sacramento de salvação» (cf. LG 1); e

2. que ele não nega ao Concílio o caráter magisterial e doutrinal, aceitando inclusive que «o magistério do Vaticano II, como se diz e rediz a todos os que têm ouvidos para ouvir, é um Magistério solene e supremo».

A despeito de pôr em dúvidas “a sua continuidade com a Tradição”, ele não o faz com o tom dos rad-trads. Em particular, que diferença para o sermão de D. Fellay (apud Tornielli)! Nestes dias em que esperamos a resposta da FSSPX à proposta da Santa Sé, rezemos pela unidade da Igreja. Para que todos se ponham, o quanto antes, cum Petro et sub Petro.

* * *

– Muito ruim este texto [p.s.: aparentemente foi removido; encontrei-o ainda disponível aqui] que alguém me pediu por aqui para comentar. Não tem coesão, não segue um raciocíno reto, não justifica as suas posições (“jogadas” no meio do texto), não apresenta alternativas… em suma, é perfeitamente inútil. Apenas comento à guisa de exemplo:

  • «No final desse mesmo século [IV], o cristianismo ascendeu ainda mais, pois, doravante, por decreto do imperador, tornou-se a única religião oficial do império» – como assim “única”? E por acaso existe/existiu algum império que em algum momento tivesse mais de uma religião oficial?!
  • «[S]omente as pessoas que de fato eram convertidas tinham coragem de se assumirem como cristãs, em virtude dos desdobramentos perigosos de professar a fé no Filho de Deus» – isto não é propriamente verdade, o que se demonstra pelo número enorme dos Lapsi dos primeiros séculos (que gerou inclusive disputas na Igreja sobre a forma como eles deveriam ser tratados). Cristãos “frouxos” sempre houve. Se é possível dizer que o número de covardes aumentou com o fim das perseguições, por outro lado não se pode esquecer dos bons cristãos que, contudo, não tinham a têmpera dos mártires e só puderam seguir com maior tranqüilidade a sua consciência após o Edito de Milão. Teodósio não obrigou ninguém a ser cristão.
  • «[A] partir dessa oficialização por decreto, muita gente inconversa e interesseira tornou-se “cristã”, pois, a dobradinha igreja e Estado era prato cheio para quem quisesse se dar bem» – exemplos? Nenhum. O cara simplesmente cospe a afirmação gratuita, e os seus leitores são obrigados a aceitar. Ademais, ainda concedendo que o articulista estivesse correto quanto a este dado factual, esta deturpação religiosa seria devida à cretinice destes falsos cristãos específicos, e não por causa da união entre Igreja e Estado.
  • «[A] verdadeira fé (…) cada vez mais se afastava da única fonte de vida da igreja, a Palavra de Deus registrada na Bíblia Sagrada» – quem disse que a “única fonte de vida da igreja” é “a Palavra de Deus registrada na Bíblia Sagrada”? Esta digressão teológica herética e nonsense no meio do texto [com as minúsculas e maiúsculas em “igreja” e “Palavra”…] revela o protestantismo do articulista – o qual está deixando a sua heresia influenciar sua apreciação do assunto e esta deve, portanto, ser ao menos olhada com suspeição.
  • «Fazer com que a sociedade pare por causa de uma data significativa para uma parcela da mesma é arbitrário, desrespeitoso e contra a constituição» – o cara é contra os feriados religiosos! Mesmo estes feriados sendo parte dos costumes da população brasileira há séculos, e mesmo correspondendo aos anseios da maioria da população! Pela sua lógica, ele devia também fazer uma campanha para acabar com os domingos (afinal, o mesmíssimo Mandamento que manda descansar no Domingo é o que manda guardar os feriados religiosos) e com os feriados laicos (por que nós paramos com a proclamação da República, que é uma data significativa para uma parcela muitíssimo menor da população do que a que se interessa pela Páscoa?). Mas ele não tem propostas e nem lógica no próprio discurso – só sabe reclamar.
  • «Se a igreja hoje fosse parecida com o profeta João Batista, quem sabe os políticos teriam um pouquinho de temor e tremor diante de Deus» – típico de hereges protestantes colocar a culpa “nos outros” e não em si mesmos. Antes de reclamar da “igreja” (seja lá de qual seita ele estiver falando), o sr. Jorge Max deveria cuidar de melhorar a si próprio. Como os católicos são ensinados a fazer.

“A juventude do Papa” – Por Claudemir Júnior

A Juventude do Papa

Calor de rachar, por vezes superando a casa dos quarenta graus Celsius. Ambiente seco a ponto de provocar uma sede quase constante. Estas eram as condições climáticas nada convidativas da cidade de Madri no último mês de agosto, quando a bela capital da Espanha acolheu cerca de dois milhões de jovens do mundo inteiro para a XXVI Jornada Mundial da Juventude. Somem-se a isso ouros dois fatores: o desconforto causado pelo caminhar apertado entre multidões, em termos de número, típicas de grandes blocos carnavalescos do Brasil; e as alardeadas ameaças de protestos promovidos pelos inimigos da religião, infelizmente cada vez mais numerosos numa Europa que vem aos poucos abandonando as raízes cristãs que fundamentam a sua existência. Observando tal contexto desfavorável, qualquer um de nós é levado a imaginar o ar de preocupação e esgotamento estampado nos rostos daqueles jovens peregrinos que ousaram embarcar nesta aventura. Não foi bem isso o que ocorreu, no entanto. Muito pelo contrário.

Pondo por água abaixo as expectativas dos que levaram em consideração apenas as limitações humanas diante das dificuldades e das intempéries da natureza, o que se viu foi um espetáculo da Fé Católica, um verdadeiro testemunho público de amor a Cristo e à Sua Igreja diante de uma Europa secularizada. O que se viu foi uma multidão de jovens – e nem tão jovens assim – aparentemente incansáveis, sempre com um sorriso no rosto e dispostos a suportarem grandes dificuldades para estarem ao lado do Vigário de Cristo na Terra. E não foram poucas as provações: aos que quiseram ver o Papa passar de perto, nove ou dez horas de espera foram necessárias para garantir um bom lugar junto à passarela por onde desfilaria o papamóvel; uma tempestade cheia de raios – acompanhada de uma ventania que trazia consigo bastante poeira – aguardava os jovens na noite da vigília para a Missa de Envio com o Papa.

Comitiva recifense em Madrid: Adriana Rocha, Jorge Ferraz, Humberto Carneiro, Poliana Pacheco e Claudemir Pacheco

Tudo para estar alguns instantes ao lado do Sucessor de Pedro. Instantes que tornaram desprezíveis os sacrifícios suportados por horas a fio. Algo incompreensível aos olhos dos que ainda não receberam o dom da Fé, pois, como diria o Apóstolo, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras, nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar” (ICor 2, 14).

Ouvir a voz suave do Doce Cristo na Terra (cf. Santa Catarina de Sena) é uma graça de incalculável valor. Frágil por conta da idade e tímido por conta de seu temperamento, Bento XVI é eloquente, fala ao coração e, principalmente, ao intelecto. Instiga profundas reflexões com suas palavras claras e firmes. Ao jovial e performático Bem-Aventurado João Paulo II juntavam-se multidões para vê-lo; a Bento XVI juntam-se as multidões para ouvi-lo falar.

E ele foi ouvido. Até mesmo os arredios meios midiáticos – que até então apenas valorizavam e exageravam as poucas e tímidas manifestações laicistas que quase passavam despercebidas pela multidão de peregrinos – deram o braço a torcer e passaram a destacar o alcance das mensagens do Papa e a atenção que os jovens dedicavam a ouvi-la.

Ele falou, mas também calou. E com ele dois milhões de jovens em pleno sábado à noite no enorme aeroporto [desativado] de Quatro Ventos. Foi após a tempestade, quando o Santo Padre convidou o Dono da festa a estar presente. O silêncio foi ensurdecedor. E todos se puseram de joelhos na terra molhada ou no asfalto a adorar Nosso Senhor Sacramentado. Ele, o Homem-Deus, era o verdadeiro motivo pelo qual jovens de diversos países abandonaram o conforto de seus lares para viverem a loucura de testemunhar, em torno do Santo Padre e diante do mundo inteiro, um amor incondicional Àquele que nos amou primeiro. O Deus que é a “Alegria da nossa juventude” (cf. Sl 42).

Até mesmo o renomado escritor Vargas Llosa, Nobel de Literatura e agnóstico confesso, rendeu-se à beleza e à força deste testemunho. Logo após a JMJ de Madri, em artigo intitulado “La fiesta y la cruzada” (A festa e a cruzada), proferiu as palavras que seguem: “Crentes e não crentes devemos alegrar-nos por isso com o que aconteceu em Madrid nestes dias em que Deus parecia existir, o catolicismo parecia ser a religião única e verdadeira, e todos como rapazes bons caminhávamos mão dada com Santo Padre em direção ao reino dos céus”.

Que juventude é esta capaz de arrancar tão elevadas palavras de um agnóstico? Que juventude é esta capaz de tornar tímidos, quase irrelevantes, os gritos histéricos dos que querem banir Deus da sociedade? Quem são estes que, de diversos povos e culturas, unem-se para manifestar a mesma Fé, a Fé Católica e Apostólica? Tais questões foram já respondidas no grito de guerra que ressoou em Madri durante uma semana inteira: “Esta es la juventud del Papa!” (Esta é a juventude do Papa!).

“Queridos jovens, para descobrir e seguir fielmente a forma de vida a que o Senhor chama cada um de vós, é indispensável permanecer no seu amor como amigos. E, como se mantém a amizade se não com o trato frequente, o diálogo, o estar juntos e o partilhar anseios ou penas?” (Bento XVI, em discurso interrompido pela tempestade na Vigília de Oração com os Jovens)

José Claudemir Pacheco Júnior é recifense e analista de sistemas.
Casado e pai de uma filha, esteve com a esposa [Poliana, na foto] em Madrid no último mês de agosto para tomar parte da JMJ 2011

Os dias em que Deus parecia existir

Poucas coisas me foram tão prazerosas nos últimos dias quanto a leitura deste texto [La fiesta y la cruzada] do Vargas Llosa sobre a Jornada Mundial da Juventude. Para os que tiverem dificuldades com o espanhol, há alguns trechos traduzidos aqui. Não se trata de qualquer articulista. É um Nobel de Literatura e um agnóstico confesso; no entanto, é capaz de escapar à mediocridade intelectual dos não-crentes e reconhecer a beleza do recente encontro católico na capital da Espanha. Ainda que sob uma ótica materialista e incrédula, consegue descortinar um pouco do transcendente.

Afinal, é capaz de reconhecer a beleza destes dias “em que Deus parecia existir e o catolicismo ser a religião única e verdadeira”! E eu, católico, cá de volta ao outro lado do mundo, só posso me alegrar com esta percepção do idoso incrédulo. E me regozijar com uma reconfortante sensação de dever cumprido: na JMJ, nós mostramos que Deus existe e que o Catolicismo é a única Religião verdadeira. E o fizemos de uma maneira tão bem-feita que até mesmo os incrédulos tremeram, e a sua anti-fé foi abalada.

Eu estive em Madrid, e das coisas que fala o Vargas Llosa posso dar testemunho. Definitivamente, nós não éramos turistas levianos em férias de verão; como comentei em outro lugar, nós teríamos coisas muito mais interessantes para fazer se o fôssemos. Enfrentar as intempéries da natureza e as limitações da condição humana – o sol, a chuva, a sede, o calor, o frio, o desconforto, as multidões, o cansaço, et cetera – não é propriamente o que se pode chamar de uma tentadora programação de férias. Mas nós o fizemos – e, como reconhece o articulista agnóstico, “sem acidentes nem maiores problemas”. Nós o fizemos com um sorriso na face, e com um sincero amor a Deus e à Igreja no coração.

Delegação recifense em Madrid! Humberto Carneiro, Claudemir Júnior e Jorge Ferraz

Sorriso na face e amor à Igreja no coração! A alegria e a Fé. A felicidade e a luta. A festa e a cruzada. O Vargas Llosa entendeu perfeitamente aquilo que nós fomos fazer em Madrid. Eu nunca me esqueço do final do “Ortodoxia” do Chesterton, onde o britânico confessa achar que houve alguma coisa que o Deus Altíssimo meio que “escondeu” do mundo quando por aqui esteve, alguma coisa que era grande demais para que Ele mostrasse aos homens. E, na opinião de Chesterton, esta coisa era a Sua alegria. A alegria, que é a pequena publicidade do pagão e o gigantesco segredo do cristão! A alegria cristã revelada em Madrid nos sorrisos dos peregrinos. Na festa que o articulista peruano percebeu.

Não se trata de uma alegria vazia ou superficial – de forma alguma! Trata-se de um contentamento interior que não se abala com as adversidades, de um júbilo que não foge à luta. Não é meramente uma festa, é também uma cruzada. Como eu tive a chance de dizer a Zenit, nós fomos a Madrid para dar «um grande testemunho público de fé diante de uma Europa laicista». Para fazê-lo, era sem dúvidas necessário juntar muitas centenas de milhares de pessoas (de todos os países do globo) ao redor de um homem de branco. Vivemos em uma era em que uma imagem vale mais do que mil palavras; e o quadro pintado em Madrid com cores jovens dos cinco continentes é sem dúvidas mais eloqüente do que quaisquer artigos religiosos que se poderiam escrever. Ter estado na última Jornada Mundial da Juventude foi mais profícuo do que qualquer outra coisa que eu poderia ter ficado fazendo no Brasil.

E o nosso recado foi passado e foi entendido. A Fé não pode ser confinada às esferas do subjetivo e do privado. Ao contrário, a Fé é uma força motriz necessária à construção e à manutenção de qualquer sociedade que se possa pretender minimamente civilizada. A citação das seguintes linhas do La fiesta y la cruzada é um pouco longa, mas eu provavelmente não conseguiria escrever melhor:

Durante muito tempo se acreditou que, com o avanço do conhecimento e da cultura democrática, a religião – esta forma elevada de superstição – iria se desfazendo, e que a ciência e a cultura a substituiriam de longe. Agora sabemos que esta era outra superstição, que a realidade fez em pedaços. E sabemos, também, que aquela função atribuída à cultura pelos livre-pensadores do século XIX (com tanta generosidade quanto ingenuidade), esta é incapaz de cumpri-la, sobretudo agora. […] A cultura não pôde substituir a religião e nem poderá fazê-lo, salvo para pequenas minorias marginais ao grande público. A maioria dos seres humanos somente encontra aquelas respostas (ou, pelo menos, a sensação de que existe uma ordem superior da qual toma parte e que dá sentido e sossego à sua existência) através de uma transcendência que nem a filosofia, nem a literatura, nem a ciência conseguiram justificar racionalmente. E por mais que tantos brilhantíssimos intelectuais tratem de nos convencer que o ateísmo é a única conseqüência lógica e racional do conhecimento e das experiências acumulados ao longo da história da civilização, a idéia da extinção definitiva [da religião] continua sendo intolerável para o ser humano comum e corrente, que continuará encontrando na fé aquela esperança de uma sobrevivência além da morte à qual nunca pôde renunciar. Enquanto não tome o poder político e este saiba preservar sua independência e neutralidade frente a ela, a religião não apenas é lícita como também indispensável em uma sociedade democrática.

Trata-se de um agnóstico rendendo-se à força do testemunho católico, ainda que para fins pragmáticos e com certos preconceitos errôneos quanto às relações entre Igreja e Estado – mas, de qualquer forma, já infinitamente melhor do que os discursos cheios de ódio que nós nos cansamos de encontrar por aí! Porque, até mesmo para o renomado escritor incrédulo, naqueles dias de alegria e de luta Deus parecia existir e a Igreja parecia ser a única Religião Verdadeira. E esta impressão – capaz de romper as barreiras do ceticismo – só foi possível graças à generosidade de milhões de católicos que contribuíram para a grande festa madrileña, para a monumental cruzada espanhola, para a extraordinária jornada católica da qual tomamos parte a fim de mostrar Deus a um mundo sem fé. E, naquela multidão de jovens unidos em uma mesma Fé em torno de um mesmo Chefe, até mesmo os incrédulos puderam vislumbrar a existência do Deus Altíssimo e da Única Igreja Verdadeira. Diante da JMJ, até mesmo os que não têm fé puderam experimentar um desejo – por fugaz que fosse! – de caminhar de mãos dadas com o Vigário de Cristo rumo ao Céu.

Outro aviso

Nunca pensei que teria tantas dificuldades para me conectar na Espanha! Mas peço a paciência de todos.

Teoricamente, eu já deveria estar no Brasil agora, mas perdi o vôo de ontem. Entre perder o vôo e perder a missa de fechamento da JMJ, optei alegre e satisfeito pelo primeiro – e não me arrependi. A minha única pena foi a de não ter feito a cobertura “em tempo real” que eu gostaria de fazer; mas temos fotos e boas lembranças para compartilhar assim que possível.

Chego no Brasil amanhã, se o bom Deus permitir. Desejem-me boa viagem! Ontem, ao final da Santa Missa, a bênção pontifícia foi extensiva àqueles que são caros aos que estavam presentes em Cuatro Vientos. E gosto de pensar que Deus é rico em misericórdia e, portanto, não Se importaria em me deixar inflar esta lista. Os meus amigos (inclusive os virtuais), as pessoas com quem eu esporadicamente converso por aqui e até mesmo aqueles que me lêem sem que eu sequer saiba: vós me sois caros! E podeis vos julgar abençoados, pelo Sucessor de Pedro, na pessoa deste pobre blogueiro que, nos últimos dias, esteve na capital da juventude católica do mundo.

Hasta luego!

Jornada Mundial da Juventude 2008


[foto: Catholic Diocese of Sale]

Começou, desde a última terça-feira, a XXIII edição da Jornada Mundial da Juventude. O evento, que reúne (como o nome diz) jovens católicos do mundo inteiro com o Papa, aconteceu pela primeira vez em 1986, sendo um legado do papa João Paulo II.

O site oficial do evento é o http://www.wyd2008.org/; em português, a cobertura está sendo feita pelo http://jmjbrasil.com.br/. Neste último, aliás, há uma excelente cobertura de vídeos com atualizações constantes.

Para quem quiser acompanhar o evento, os sites acima – além, claro, do site da Santa Sé – são parada obrigatória. Não esperem para saber da Jornada pela mídia brasileira; vocês não vão saber.

Indulgência plenária, só quem recebe são os peregrinos; mas quem fica aqui longe também pode lucrar indulgência parcial, bastando para isso apenas elevar «ao menos com ânimo contrito suas orações a Deus Espírito Santo, para que impulsione os jovens à caridade e lhes dê força para anunciar o Evangelho com sua própria vida». Garantindo, então, a indulgência parcial (oração pessoal):

“Deus Espírito Santo, que transformastes os homens rudes da Galiléia em Apóstolos da Igreja após revestir-lhes com o Vosso Poder em Pentecostes, fazei com que os jovens católicos, de maneira especial os que estão unidos, em espírito ou em peregrinação, ao Santo Padre o Papa Bento XVI nesta XXIII Jornada Mundial da Juventude, sejam de tal maneira abrasados pela Vossa caridade que, à semelhança dos Doze Apóstolos, anunciem com a própria vida o Evangelho da Salvação. Por Cristo, Senhor Nosso, amém”.

Hoje, houve um encontro ecumênico na Cripta da Catedral de Sydney. Do discurso do Santo Padre:

Este sacramento [o Batismo], que é a porta de ingresso na Igreja e o «vínculo de unidade» para quantos renasceram por ele (cf. Unitatis redintegratio, 22), é consequentemente o ponto de partida de todo o movimento ecuménico. Mas não é o destino final. O caminho do Ecumenismo visa em definitivo chegar à celebração comum da Eucaristia (cf. Ut unum sint, 23-24.45), que Cristo confiou aos seus Apóstolos como o sacramento por excelência da unidade da Igreja.

Viva o Papa!