“A juventude do Papa” – Por Claudemir Júnior

A Juventude do Papa

Calor de rachar, por vezes superando a casa dos quarenta graus Celsius. Ambiente seco a ponto de provocar uma sede quase constante. Estas eram as condições climáticas nada convidativas da cidade de Madri no último mês de agosto, quando a bela capital da Espanha acolheu cerca de dois milhões de jovens do mundo inteiro para a XXVI Jornada Mundial da Juventude. Somem-se a isso ouros dois fatores: o desconforto causado pelo caminhar apertado entre multidões, em termos de número, típicas de grandes blocos carnavalescos do Brasil; e as alardeadas ameaças de protestos promovidos pelos inimigos da religião, infelizmente cada vez mais numerosos numa Europa que vem aos poucos abandonando as raízes cristãs que fundamentam a sua existência. Observando tal contexto desfavorável, qualquer um de nós é levado a imaginar o ar de preocupação e esgotamento estampado nos rostos daqueles jovens peregrinos que ousaram embarcar nesta aventura. Não foi bem isso o que ocorreu, no entanto. Muito pelo contrário.

Pondo por água abaixo as expectativas dos que levaram em consideração apenas as limitações humanas diante das dificuldades e das intempéries da natureza, o que se viu foi um espetáculo da Fé Católica, um verdadeiro testemunho público de amor a Cristo e à Sua Igreja diante de uma Europa secularizada. O que se viu foi uma multidão de jovens – e nem tão jovens assim – aparentemente incansáveis, sempre com um sorriso no rosto e dispostos a suportarem grandes dificuldades para estarem ao lado do Vigário de Cristo na Terra. E não foram poucas as provações: aos que quiseram ver o Papa passar de perto, nove ou dez horas de espera foram necessárias para garantir um bom lugar junto à passarela por onde desfilaria o papamóvel; uma tempestade cheia de raios – acompanhada de uma ventania que trazia consigo bastante poeira – aguardava os jovens na noite da vigília para a Missa de Envio com o Papa.

Comitiva recifense em Madrid: Adriana Rocha, Jorge Ferraz, Humberto Carneiro, Poliana Pacheco e Claudemir Pacheco

Tudo para estar alguns instantes ao lado do Sucessor de Pedro. Instantes que tornaram desprezíveis os sacrifícios suportados por horas a fio. Algo incompreensível aos olhos dos que ainda não receberam o dom da Fé, pois, como diria o Apóstolo, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras, nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar” (ICor 2, 14).

Ouvir a voz suave do Doce Cristo na Terra (cf. Santa Catarina de Sena) é uma graça de incalculável valor. Frágil por conta da idade e tímido por conta de seu temperamento, Bento XVI é eloquente, fala ao coração e, principalmente, ao intelecto. Instiga profundas reflexões com suas palavras claras e firmes. Ao jovial e performático Bem-Aventurado João Paulo II juntavam-se multidões para vê-lo; a Bento XVI juntam-se as multidões para ouvi-lo falar.

E ele foi ouvido. Até mesmo os arredios meios midiáticos – que até então apenas valorizavam e exageravam as poucas e tímidas manifestações laicistas que quase passavam despercebidas pela multidão de peregrinos – deram o braço a torcer e passaram a destacar o alcance das mensagens do Papa e a atenção que os jovens dedicavam a ouvi-la.

Ele falou, mas também calou. E com ele dois milhões de jovens em pleno sábado à noite no enorme aeroporto [desativado] de Quatro Ventos. Foi após a tempestade, quando o Santo Padre convidou o Dono da festa a estar presente. O silêncio foi ensurdecedor. E todos se puseram de joelhos na terra molhada ou no asfalto a adorar Nosso Senhor Sacramentado. Ele, o Homem-Deus, era o verdadeiro motivo pelo qual jovens de diversos países abandonaram o conforto de seus lares para viverem a loucura de testemunhar, em torno do Santo Padre e diante do mundo inteiro, um amor incondicional Àquele que nos amou primeiro. O Deus que é a “Alegria da nossa juventude” (cf. Sl 42).

Até mesmo o renomado escritor Vargas Llosa, Nobel de Literatura e agnóstico confesso, rendeu-se à beleza e à força deste testemunho. Logo após a JMJ de Madri, em artigo intitulado “La fiesta y la cruzada” (A festa e a cruzada), proferiu as palavras que seguem: “Crentes e não crentes devemos alegrar-nos por isso com o que aconteceu em Madrid nestes dias em que Deus parecia existir, o catolicismo parecia ser a religião única e verdadeira, e todos como rapazes bons caminhávamos mão dada com Santo Padre em direção ao reino dos céus”.

Que juventude é esta capaz de arrancar tão elevadas palavras de um agnóstico? Que juventude é esta capaz de tornar tímidos, quase irrelevantes, os gritos histéricos dos que querem banir Deus da sociedade? Quem são estes que, de diversos povos e culturas, unem-se para manifestar a mesma Fé, a Fé Católica e Apostólica? Tais questões foram já respondidas no grito de guerra que ressoou em Madri durante uma semana inteira: “Esta es la juventud del Papa!” (Esta é a juventude do Papa!).

“Queridos jovens, para descobrir e seguir fielmente a forma de vida a que o Senhor chama cada um de vós, é indispensável permanecer no seu amor como amigos. E, como se mantém a amizade se não com o trato frequente, o diálogo, o estar juntos e o partilhar anseios ou penas?” (Bento XVI, em discurso interrompido pela tempestade na Vigília de Oração com os Jovens)

José Claudemir Pacheco Júnior é recifense e analista de sistemas.
Casado e pai de uma filha, esteve com a esposa [Poliana, na foto] em Madrid no último mês de agosto para tomar parte da JMJ 2011

E o Papa olhou pra nós

Era uma quinta-feira, e o Vigário de Cristo estava por chegar. Chegamos (relativamente) cedo à Plaza de Cibeles, por volta das dez da manhã. O boato inicial era o de que o Santo Padre passaria à uma da tarde. Procurávamos, próximo ao corredor formado para dar passagem ao papamóvel, um lugar para nos acomodarmos durante a espera.

Os primeiros rumores foram logo desmentidos: o Papa só passaria às sete e meia da noite. O tempo de espera aumentara consideravelmente; nós nem ligávamos. Arranjamos umas pizzas para enganar o estômago enquanto isso. Debaixo do sol escaldante de Madrid, esperávamos pacientemente Pedro.

E as horas passaram entre esperas e cantorias, entre banhos d’água para afastar o calor e conversas animadas com desconhecidos que compartilhavam conosco a mesma Fé e o mesmo objetivo: receber o Papa. Pelo potente sistema de som armado, anunciaram: o Papa deixara a Nunciatura! Estava se dirigindo à Plaza de Cibeles! Levantamo-nos animados. A longa espera nos deixara em uma posição privilegiadíssima: no meio de uma multidão de gente que se estendia até onde a vista alcançava (que se formou ao nosso redor sem que percebêssemos, enquanto passavam as horas do dia), estávamos praticamente encostados nas grades do corredor por onde passaria o papamóvel. Extasiados, dirigimo-nos a ela.

E veio a corte. Batedores policiais à frente, de moto. Seguranças e mais seguranças de terno, ao redor do veículo papal. E, neste, o Sucessor de Pedro, de branco e vermelho, com a janela aberta, sorrindo e acenando para nós.

Passou e voltou. E, na volta, olhou-nos diretamente, chegando a virar a cabeça para trás após a passagem do papamóvel. Olhou-nos e sorriu para nós. Algumas de nós chegaram a dizer que ele havia dado “uma piscadela” – isto, já não garanto. Só garanto o que registrei. O vídeo treme bastante, mas dêem um desconto. Era Pedro quem passava:

Estávamos tão próximos! No dia seguinte, conversávamos com uns voluntários da JMJ. Perguntaram-nos se havíamos visto o Papa: , respondemos com alegria, ayer. “Como daqui pra aí”, estimamos a distância, nós que estávamos bem próximos deles. “Nossa!”, uma delas comentou. “E quanto tempo esperaram?”. “Nove horas”, dissemos com um sorriso. E, após algumas outras afabilidades, nos despedimos.

Nove horas! Sim, valem a pena, eu posso atestar (e julgo que, comigo, todos os que estávamos naquela quinta-feira aguardando o Papa). São os poucos segundos que valem as muitas horas de espera! Diante daquele momento, o dia inteiro parecia pouco. Para ver o Vigário de Cristo passar, todo o sacrifício ao longo do dia se transformava em coisa pequena.

E eu lembrei então de um texto que li em algum lugar, sobre um velho português ouvindo a conversa de dois jovens universitários de Lisboa. Estes louvavam a República, criticando acidamente os gastos com a família real, o fausto da nobreza, a pompa ostensiva e desnecessária da corte. Ao que o velho português respondeu: “meus filhos, vocês só falam isso porque nunca viram o rei passar”.

E o velho está coberto de razão. Não é capaz de entender o significado da corte papal quem nunca a viu em ato, junto ao povo. Não é capaz de compreender a pompa pontifícia quem nunca viu o Papa passar. Eu já vi! E aquele momento é inesquecível, impagável e insubstituível. Vale atravessar o Atlântico, vale comer mal e dormir mal, vale passar o dia inteiro sob o sol escaldante do verão espanhol, vale tudo! Só não entende isso quem não tem Fé. Só não é capaz de entender a grandiosidade de um encontro com o Papa quem nunca viu o rei passar.

E os servos do Rei da Glória calaram os escravos do Príncipe das Trevas

Eu quero escrever bastante coisa sobre a recente Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, à qual tive a grande honra de estar presente [aliás, para quem ainda não viu, há um proto-relato meu publicado pelo Wagner Moura]. Tenho esbarrado na falta de tempo, nas pendências acumuladas, no sono bagunçado pelo fuso horário; contudo, quero aproveitar para fazer um rápido comentário sobre um aspecto do evento que, a despeito de ter (aparentemente) ocupado um grande espaço da mídia local, não tem a relevância que parece à primeira vista. Refiro-me aos protestos contra o Papa feitos pelos anti-clericais espanhóis.

A foto abaixo foi a capa do El Mundo da quinta-feira passada, 18 de agosto de 2011. Era o dia da chegada do Papa à Espanha. Na véspera, ocorrera em Puerta del Sol um embate entre militantes laicínicos e os jovens que voltavam da Plaza de Cibeles, onde estavam ocorrendo atividades da JMJ. Não estive presente a este momento glorioso. Um amigo o presenciou e disse que iria escrever um relato, que estou aguardando. Enquanto isso, quero falar do que eu ouvi e do que eu não vi, eu que lá estive durante estes dias incríveis.

A imagem é belíssima! Reparem no contraste entre a serenidade da jovem que beija o crucifixo e o ódio desesperado de Satanás que avança sobre ela, com a mão em riste à moda italiana. É a diferença entre os servos do Rei da Glória e os escravos do Príncipe das Trevas. Entre os que amam a Deus e os que O odeiam. Não tive a graça de participar deste momento sublime; mas enchi-me de alegria por esta peregrina anônima que, diante de uma horda de demônios, apenas beijou a Cruz de Cristo. Encontrei-me nela, e nesta atitude dela eu vi a atitude de todos os católicos – milhares, centenas de milhares, milhões – que estávamos em Madrid por estes dias, para dar testemunho público da Fé em Cristo. A despeito das perseguições e das incompreensões que porventura sofrêssemos.

Não era outra a razão pela qual nós ali estávamos. Queríamos nos dizer católicos, queríamos encontrar o Vigário de Cristo e queríamos ouvir as suas palavras para nós. Queríamos cerrar fileiras junto a ele, e mostrar a uma Europa descristianizada a vitalidade da Igreja de Cristo em Seus jovens – que somos não somente o futuro da Igreja, mas também o presente da Igreja. E a imponência deste Gigante impressionou os inimigos de Deus. As ruas e praças da cidade, as lojas e as estações de metrô tomadas por uma infinitude de católicos fizeram Madrid estremecer. Tremeram os inimigos de Cristo, que O julgavam já moribundo. Tremeram, quando viram as multidões acorrerem à capital da Espanha atendendo ao chamado do Doce Cristo na Terra.

Tremeram, e vacilaram, e não fizeram senão gestos tímidos e irrelevantes cuja única repercussão digna de nota foi a que lhes concedeu desproporcionalmente a mídia anti-católica. Como eu disse acima, eu quero falar também sobre o que eu não vi, e o fato é que eu não vi nada de manifestações atéias e laicínicas que merecessem o menor destaque. Eram sempre de uma tremenda insignificância. Não ousaram adentrar nos eventos da Jornada: limitaram-se a colar pequenos cartazes cretinos [havia uns dizendo que good catholics use condoms], que nós simplesmente arrancávamos. Limitaram-se a fazer pichações ínfimas, que nós as mais das vezes sequer víamos. Limitaram-se a ensaiar as referidas agressões em Puerta Del Sol, que foram rapidamente controladas pela polícia espanhola (ver também este vídeo aqui). Em suma, os (tíbios) desgostosos com a visita do Papa eram mentirosos, vândalos e baderneiros. Nada mais.

Em contrapartida, ao final da jornada, até a mídia laicista foi forçada a reconhecer os méritos da JMJ 2011. Vejam esta coletânea de artigos da imprensa espanhola rendendo-se a Bento XVI. Os mesmos órgãos de imprensa que reclamavam dos gastos públicos com a Jornada, que rasgavam as vestes exigindo a laicidade do Estado e que vaticinavam terríveis protestos contra a visita do Sumo Pontífice foram obrigados a reconhecer o grande êxito da JMJ. No final das contas, opondo um sereno beijo num crucifixo aos gritos histéricos dos inimigos da Igreja, os católicos calamos a mídia anti-clerical espanhola! Este é um feito que não pode ser subestimado. Esta é uma vitória que não pode ser menosprezada. Este é um evento que precisa ficar na história.

Outro aviso

Nunca pensei que teria tantas dificuldades para me conectar na Espanha! Mas peço a paciência de todos.

Teoricamente, eu já deveria estar no Brasil agora, mas perdi o vôo de ontem. Entre perder o vôo e perder a missa de fechamento da JMJ, optei alegre e satisfeito pelo primeiro – e não me arrependi. A minha única pena foi a de não ter feito a cobertura “em tempo real” que eu gostaria de fazer; mas temos fotos e boas lembranças para compartilhar assim que possível.

Chego no Brasil amanhã, se o bom Deus permitir. Desejem-me boa viagem! Ontem, ao final da Santa Missa, a bênção pontifícia foi extensiva àqueles que são caros aos que estavam presentes em Cuatro Vientos. E gosto de pensar que Deus é rico em misericórdia e, portanto, não Se importaria em me deixar inflar esta lista. Os meus amigos (inclusive os virtuais), as pessoas com quem eu esporadicamente converso por aqui e até mesmo aqueles que me lêem sem que eu sequer saiba: vós me sois caros! E podeis vos julgar abençoados, pelo Sucessor de Pedro, na pessoa deste pobre blogueiro que, nos últimos dias, esteve na capital da juventude católica do mundo.

Hasta luego!

Decreto sobre indulgência plenária para JMJ 2011

[Original: Vaticano.

Tradução: Canção Nova. Grifos neste.]

Decreto sobre indulgência plenária
para JMJ 2011

Concede-se a Indulgência Plenária aos fiéis que, em ocasião da 23ª Jornada Mundial da Juventude, estarão em Madri em espírito de peregrinação; também poderão conseguir a indulgencia parcial todos aqueles que, onde quer que estejam, rezarão pelos propósitos espirituais deste encontro e para o seu feliz êxito.

Chegou à Penitenciaria Apostólica a suplica de Sua Eminência Reverendíssima Antonio Maria Rouco Varela, cardeal arcebispo de Madrid e Presidente da Conferencia dos Bispos da Espanha, para que os jovens pudessem obter os esperados frutos de santificação da 23ª Jornada Mundial da Juventude, que se celebrará de 16 a 21 de agosto, na capital, e que terá como tema: “Enraizados e fundamentados em Cristo, firmes na fé” (cfr Col 2,7).

A Penitenciária Apostólica, tendo exposto ao Santo Padre estas considerações, foi munida de faculdades especiais para conceder, mediante o presente Decreto, o dom da Indulgência, segundo a mente do próprio Pontífice, como se segue:

Concede-se a Indulgência Plenária aos fiéis que devotamente participarão a todas as funções sacras ou exercícios que se desenvolverão em Madrid durante a 23ª Jornada Mundial da Juventude até a sua conclusão solene, fazendo, além disso, a confissão, e depois disso recebendo a Santa Comunhão e a oração pelas intenções de Sua Santidade.

Concede-se a Indulgência parcial aos fiéis, onde quer que se encontrem, durante o referido encontro, desde que com a alma contrita elevem as suas orações a Deus Espírito Santo, a fim que os jovens sejam motivados pela caridade e tenham a força para anunciar com a própria vida o Evangelho.

A fim que depois os fiéis possam mais facilmente tornar-se participantes destes dons celestes, os sacerdotes legitimamente aprovados para a escuta das confissões sacramentais, com alma pronta e generosa, se prestem a recebê-las e proponham aos fiéis orações publicas para o bom êxito da “Jornada Mundial da Juventude”.

O presente decreto tem validade para esta ocasião. Mesmo diante de qualquer contrária disposição Roma, da Sede da Penitenciária Apostólica, 2 de agosto, ano da Encarnação do Senhor 2011, na pia memória da “Porciùncola”.

FORTUNATO Card. BALDELLI
Penitenciário Maior