Deus – uma hipótese desnecessária? – John C. Lennox

Deus – Uma Hipótese Desnecessária?

A ciência tem alcançado êxito impressionante na investigação do Universo físico e na elucidação de como ele funciona. A pesquisa científica também levou à erradicação de muitas doenças horríveis e nos deu esperanças de eliminar muitas outras. E a investigação científica alcançou outro efeito numa direção completamente diferente: ela serviu para libertar muita gente de medos supersticiosos. Por exemplo, ninguém precisa mais pensar que um eclipse da Lua é causado por algum demônio assustador, que necessita ser apaziguado. Por tudo isso e por inúmeras outras coisas devemos ser muito gratos.

Porém, em algumas áreas, o próprio sucesso da ciência tem também conduzido à ideia de que, por conseguirmos entender os mecanismos do Universo sem apelar para Deus, podemos concluir com segurança que nunca houve nenhum Deus que projetou e criou este Universo. Todavia, esse raciocínio segue uma falácia lógica comum, que podemos ilustrar como segue.

Tomemos um carro motorizado Ford. É concebível que alguém de uma parte remota do mundo que o visse pela primeira vez e nada soubesse sobre a engenharia moderna pudesse imaginar que existe um deus (o sr. Ford) dentro da máquina, fazendo-a funcionar. Essa pessoa também poderia imaginar que quando o motor funcionava suavemente o sr. Ford gostava dela, e quando ele se recusava a funcionar era porque o sr. Ford não gostava dela. É óbvio que, se em seguida a pessoa passasse a estudar engenharia e desmontasse o motor, ela descobriria que não existe nenhum sr. Ford dentro dele. Tampouco se exigiria muita inteligência da parte dela para ver que não é necessário introduzir o sr. Ford na explicação de funcionamento do motor. Sua compreensão dos princípios impessoais da combustão interna seria mais que suficiente para explicar como o motor funciona. Até aqui, tudo bem. Mas se a pessoa então decidisse que seu entendimento dos princípios do funcionamento do motor tornavam impossível sua crença na existência de um sr. Ford, que foi quem de fato projetou a máquina, isso seria evidentemente falso – na terminologia filosófica ela estaria cometendo um erro de categoria. Se nunca houvesse existido um sr. Ford para projetar os mecanismos, nenhum mecanismo existiria para que a pessoa entendesse.

John C. Lennox,
Por que a ciência não consegue enterrar Deus?
in Folha de São Paulo

Sugestão de leitura

Não li. Mas recebi a sugestão de um amigo e, pelo “abstract”, recomendo.

Trata-se do livro “God’s Undertaker: Has Science Buried God?”, da autoria do sr. John Lennox, matemático de Oxford. Na AMAZON, sai por dez dólares.

O sr. Lennox debateu com Richard Dawkins; o áudio está no site do militante ateu.

De acordo com o que disse o amigo que me indicou o livro:

O argumento dele [do sr. Lennox] é baseado em dois pilares:

1. O aparente ajuste fino necessário para a existência do universo.

2. O conteúdo informacional presente na Vida, juntamente com a conjectura de que, assim como a energia, a informação também deve se conservar.

Assim, ele justifica a necessidade de um criador inteligente para a criação do Universo e da Vida, baseando-se na Teoria da Informação.

Ainda sobre Dawkins, recomendo a leitura de um artigo publicado no Estadão em 2005, chamado “Os três pecados do biólogo ateu”. Um excerto:

Há uma angústia subjacente de que o ateísmo fracassou. Durante o século 20, os regimes políticos ateus acumularam um assombroso e (sem paralelos) recorde de violência. O humanismo ateu não gerou uma descrição de eventos e uma ética populares convincentes do que é o ser humano e nosso lugar no cosmo. Onde a religião recuou, o vácuo foi preenchido pelo consumismo, pelo futebol e por uma absorção insensata em desejos passageiros. Não sabendo como responder às grandes questões da vida, nós as colocamos na prateleira – certamente não desenvolvemos uma admiração e reverência pelo mundo natural que Dawkins gostaria.