Comentando o adeus do Arcebispo – 07

7 –  Pensar no que se crê…

Um belo título seria este para um artigo católico, sobre um assunto tão necessário hoje em dia: a Fé enquanto atitude intelectual. Poder-se-ia falar tanta coisa! Desde Santo Agostinho, com o seu fides si non cogitatur nulla est e o seu intellige ut credas, crede ut intelligas; passando por Santo Tomás de Aquino e toda a Escolástica Medieval; chegando até o Concílio Vaticano I e os cânones sobre a relação entre a Fé e a Razão; citando a excelente Fides et Ratio de João Paulo II! Este tema é tão vasto e interessante que seria mais do que suficiente para se fazer um artigo primoroso. Todavia, quem escreve sob este título no especial do JC é… a Ivone Gebara!

Esta senhora é aquela que escreve artigos para as Católicas pelo Direito de Matar (aquien passant, notem o banner nojento em apoio descarado ao homossexualismo que se encontra no site dessas fulanas!) defendendo o aborto. Por que não provoca surpresa que ela tenha sido convidada pelo Jornal do Commercio para escrever um artigo contra o Arcebispo?

Devido às suas posições que contradizem frontalmente a Doutrina da Igreja, esta senhora não se pode pretender católica; apresenta-se todavia como teóloga (teóloga feminista, seja lá o que signifique isso, como ela se auto-define no texto) e pretende fazer uma análise sobre o legado de Dom José Cardoso. O blá-blá-blá é absolutamente intragável para qualquer pessoa que tenha um mínimo de capacidade crítica que seja.

Ela diz que viveu durante os últimos 23 anos fora das atividades oficiais da arquidiocese (por que será?), que participou de lutas que não entravam nos espaços oficiais da Igreja, que se abriu para além dos muros e das preocupações da instituição (para longe, bem longe da Igreja…), que se debruçou sobre outras maneiras de entender a tradição cristã… enfim, resumindo a tagarelice enfadonha, ela se declara herege. Reconhece ainda assim – e isso é precioso – que Dom José foi um Arcebispo fiel à Igreja, pois escreve:

O arcebispo de Olinda e Recife foi um instrumento, entre outros, da crença na restauração da Igreja através da disciplina e do Direito Canônico. Essa foi uma das tendências que se expandiu no pontificado de João Paulo II e tornou-se para muitos uma nova cruzada cristã. Nesse sentido, dom José foi um fiel servidor das orientações papais e das orientações das instâncias romanas de governo da Igreja.

Todavia, tem uma visão completamente marxista da sociedade. Os padres chegam a ser grandes capitalistas (…), que dão as diretivas para o funcionamento político do cristianismo no mundo! Com tamanha miopia religiosa, que espécie de análise esta mulher poderia fazer? Todo o artigo é o mesmo besteirol de sempre, de uma superficialidade infantil: por um lado, destila rebeldia contra o Papa ([n]ão podemos mais acreditar que o destino de uma comunidade está nas mãos de um só homem como se fôssemos todos crianças dependentes de sua orientação e pensamento) e, por outro, conclama as pessoas à “Revolução” (convido os leitores a descobrir as boas novas que estão hoje no meio de nós, (…) [que] deram um outro rumo à vida, um rumo que foi capaz de reavivar esperanças e renovar a força libertária de muitos). Não tenho mais paciência para escrever contra esse tipo de coisa (e, aliás, acho que tampouco ninguém tem paciência para ler). Este artigo entra no conjunto daqueles que servem como elogios “pelo caminho contrário”. Para terminar, somente destaco um ato falho cometido pelo jornal:

Mas o arcebispo não estava só nas posições que tomou, por exemplo, contra o aborto, a distribuição de preservativos, as atividades políticas de alguns sacerdotes ou as posições críticas de leigos. Foi respaldado por um bom número de adeptos locais e, sobretudo, pelas instâncias do poder romano.
[grifos meus]

Talvez por falta de revisão, aquilo que é evidente “escapuliu” e entrou na reportagem: Dom José Cardoso – ao contrário do que o caderno especial do JC inteiro dá a entender – nunca esteve sozinho nesses 23 anos em que governou a nossa Arquidiocese, e quem o diz não é um carola amigo do bispo, mas sim uma senhora que lhe é contrária. Ao longo das tribulações, Sua Excelência sempre contou com o apoio do povo fiel, do povo que não é modernista nem TLista, do povo que é católico simplesmente, e que enxerga no seu Arcebispo um sucessor dos Apóstolos, enviado por Deus para o conduzir, aqui na terra, pelos caminhos estreitos e difíceis da vida cristã; caminhos abertos pelo Crucificado, e que – se forem seguidos com sinceridade – conduzem, no final, à Vida Verdadeira e à Glória que não tem fim. São estas as coisas com as quais o povo realmente se importa; o resto, são preocupações vazias de gente desocupada que não tem mais o que fazer.

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Anexo – .O adeus do arcebispo

ARTIGO
Pensar no que se crê…
Publicado em 04.07.2008

[A]ceitei, não sem hesitação, escrever algumas linhas sobre o legado de dom José Cardoso depois de 23 anos de arcebispado. Confesso que vivi todo esse tempo, por opção própria, fora das atividades oficiais da arquidiocese. Abracei causas que não cabiam nas preocupações de sua missão em Olinda e Recife, embora estivessem no dia-a-dia da vida do povo. Como filósofa e teóloga feminista, participei de lutas que não entravam nos espaços oficiais da Igreja. Abri-me para outros desafios, para além dos muros e das preocupações da instituição. Discordei de posições oficiais e me debrucei sobre outras maneiras de entender a tradição cristã. Creio que esse caminho foi trilhado também por outras pessoas e grupos que não se sentiam “em casa” na arquidiocese, pois haviam descoberto em suas vidas referências diferentes das existentes na instituição religiosa. Estou convencida de que essa situação não está necessariamente ligada à pessoa do arcebispo, mas à acelerada mutação do mundo em que vivemos. O cristianismo se tornou mais plural do que sempre foi e a competição entre as várias interpretações e denominações do legado de Jesus estão na ordem do dia dos mercados religiosos. Os sacerdotes hoje não são apenas os jovens que continuam sendo ordenados pelas dioceses, mas os grandes capitalistas ditos cristãos, que dão as diretivas para o funcionamento político do cristianismo no mundo. O arcebispo de Olinda e Recife foi um instrumento, entre outros, da crença na restauração da Igreja através da disciplina e do Direito Canônico. Essa foi uma das tendências que se expandiu no pontificado de João Paulo II e tornou-se para muitos uma nova cruzada cristã. Nesse sentido, dom José foi um fiel servidor das orientações papais e das orientações das instâncias romanas de governo da Igreja. Houve uma nítida pretensão de volta à hegemonia do poder católico romano na sociedade, orquestrada pelo Vaticano. Crença talvez ingênua nos países de passada maioria cristã onde o pluralismo religioso cresce a olhos vistos.

Tenho procurado distanciar-me das posturas saudosistas e dos revanchismos. Creio que essas posturas nos impedem de assumir a responsabilidade de não só entendermos o que se passa em nosso mundo, mas de reagirmos com responsabilidade não só diante das políticas do Estado, mas das políticas das Igrejas. Não podemos mais acreditar que o destino de uma comunidade está nas mãos de um só homem como se fôssemos todos crianças dependentes de sua orientação e pensamento. Sem dúvida, não desprezo a capacidade das lideranças, mas não creio que elas tenham o poder de mudar a história à revelia da maioria ou sem a força de uma elite poderosa. A maioria, em nosso caso, estaria ocupada em outras coisas ou desinteressada dos rumos da instituição? Ou estaria habituada a ser conduzida e, por isso, não assumiu a responsabilidade de conduzir-se? De fato, sob a liderança de dom José muitas polêmicas se abriram em relação a assuntos da maior importância social. Mas o arcebispo não estava só nas posições que tomou, por exemplo, contra o aborto, a distribuição de preservativos, as atividades políticas de alguns sacerdotes ou as posições críticas de leigos. Foi respaldado por um bom número de adeptos locais e, sobretudo, pelas instâncias do poder romano. Vivemos essa situação como um conflito político e cultural de grande alcance mundial. O conflito religioso é apenas uma parte desse conflito e nele algumas pessoas “religiosas” aparecem como responsáveis. Na verdade são apenas, em pequeno grau, responsáveis. São parte de um grupo ideológico religioso em conflito com outros grupos. No cristianismo do passado esses conflitos fizeram história e continuam fazendo-a no presente. Dom José faz apenas parte desse conjunto maior de conflitos históricos. Nesses 23 anos muitas coisas novas e desafiantes aconteceram, talvez propulsadas pela postura defensiva e legalista da arquidiocese. Essas coisas novas são, a meu ver, a herança indireta ou o legado de nossas ações coletivas e individuais. Por essa razão, convido os leitores a descobrir as boas novas que estão hoje no meio de nós, para além de nossos desapontamentos. Elas deram um outro rumo à vida, um rumo que foi capaz de reavivar esperanças e renovar a força libertária de muitos. Há tesouros humanos espalhados no meio de nossa cidade. Podemos vê-los, reconhecê-los como serviços ao bem comum e dar graças à vida porque estão vivos no presente, graças ao passado que tivemos.

» Ivone Gebara é filósofa e teóloga

Comentando o adeus do Arcebispo – 06

6 – A caixa-preta da Pastoral Imobiliária

“Por direito nativo e independentemente do poder civil, a Igreja Católica pode adquirir, reter, administrar e alienar bens temporais para alcançar os seus próprios fins” (CIC, cân. 1254, § 1). Assim reza o Código de Direito Canônico. A mídia recifense, todavia, nega à Igreja – e à Arquidiocese em particular – o direito de administrar os seus bens da maneira que julgar melhor. Como se a Arquidiocese lhes devesse satisfações, os jornais questionam e insinuam. Como se os bens da Arquidiocese fossem públicos, os repórteres acusam e exigem explicações, reservando-se ainda o direito de não aceitá-las. Em essência, tudo isso não passa de intromissões de terceiros em assuntos que ignoram e não lhes dizem respeito.

Este artigo ora em discussão do especial do JC traz no título a expressão “Pastoral Imobiliária”. A ironia é sutil e pode escapar aos mais desatentos, portanto é preciso pôr tudo em pratos limpos. Primum: não existe pastoral imobiliária na Arquidiocese de Olinda e Recife e, que me conste, nem em lugar nenhum! O termo é cunhado para debochar da administração da Arquidiocese conduzida por Dom José Cardoso, fazendo referência aos negócios da Arquidiocese como parte de uma “pastoral”. Secundum: o termo “Pastoral Imobiliária” é uma alusão a um artigo recente, de um jornalista chamado Juracy Andrade (quem não conhece a peça, veja isto aqui e tire suas próprias conclusões), publicado numa revista de Pernambuco e repleto de insinuações difamantes ao Arcebispo de Olinda e Recife – foi, aliás, este artigo o estopim para que Dom José entrasse com um processo na Justiça contra Juracy Andrade, por (salvo engano) injúria e difamação.

Colocando, pois, a expressão debochada no título, o Jornal do Commercio já toma partido a favor do jornalista e contra o Arcebispo. Sigo comentando.

[A ]existência de “muitas dúvidas e interrogações” (…) é perfeito (…) para definir o sentimento da maioria do clero e dos leigos em relação aos negócios realizados durante a administração do arcebispo.

É engraçado o jornal dizer que a maioria do clero pensa assim e não citar um único sacerdote que justifique a sua tese! Quanto aos leigos, eu garanto que eles, em sua maioria – como não são jornalistas – deixam o Arcebispo administrar a Arquidiocese em paz, e somente sabem dos negócios realizados durante a administração do arcebispo pelas lentes distorcidas da mídia. O JC apresenta estatísticas sem embasamento algum, completamente chutadas e destoantes da realidade.

E “muitas dúvidas e interrogações” ainda pairam sobre a transação feita com a casa deixada de herança pelo médico e professor Ruy João Marques, na Madalena, para obras de caridade e que terminou virando prédio de luxo

A casa deixada de herança pertencia à paróquia e, por não lhe ter muita serventia, foi negociada com a Arquidiocese (a Mitra cedeu um apartamento). Não sou ecônomo da Arquidiocese e não sei precisar exatamente todas as nuances da transação, mas o núcleo do problema aqui é o mesmo: como a casa pertencia à Arquidiocese, esta poderia administrá-la da maneira que julgasse melhor. Insinuações maldosas como esta feita pelo Jornal são intromissões indevida em assuntos que excedem a competência do jornalista – que, ao que me conste, também não é ecônomo da Mitra.

Quando foi nomeado por dom Hélder Câmara, em 1980, para o cargo, ele era obrigado a prestar contas a duas comissões, formadas por economistas e executivos de renome. Com a chegada de dom José, as comissões foram extintas. Toda a responsabilidade ficou exclusivamente para o arcebispo e o interventor.

Antes do mais, friso que o diretor da Santa Casa está há muito tempo no cargo – desde a época de Dom Hélder. Depois, sobre o sr. Rozendo, ele era a pessoa correta para ser o administrador da Santa Casa, já que era o diretor, e assim prescreve o Direito Canônico (cf. CIC 1279 §1), tendo sido afastado quando se suspeitou da existência de irregularidades (em conformidade com o que reza o mesmo cânon). É importante salientar que (a) não foram comprovadas irregularidades na administração da Santa Casa, à exceção de uma, como noticia o próprio JC; (b) o responsável imediato pela administração é o sr. Rozendo, e não o Arcebispo (ao contrário do que insinuou o Juracy Andrade no outro artigo – linkado acima – ao qual faz referência o título deste); e (c) todo mundo está sujeito a cometer erros administrativos e, se o Arcebispo porventura os cometeu, não o fez voluntariamente e tem a sua consciência tranqüila quanto a isto, como já declarou repetidas vezes.

Quando descobriu que o interventor tinha feito transações sem autorização da arquidiocese, o bispo destituiu o auxiliar.

O que só revela o reto proceder do Arcebispo. Não se compreendem as insinuações do JC sobre a caixa-preta ou as muitas dúvidas e interrogações.

A advogada Rilani Lins, que administra a arquidiocese, garante que dom José não sabia do acordo fechado pelo seu homem de confiança.

A frase irônica pode remeter aos escândalos do Governo e do Presidente Lula “eu-não-sabia”. Ao contrário do que acontece com o Governo Federal, todavia, os bens da Arquidiocese pertencem à Arquidiocese, e as irregularidades administrativas que porventura existam devem ser averiguadas e tratadas – como estão sendo – pelo administrador dos bens da Arquidiocese, que é o Arcebispo Arquidiocesano.

Rilani diz que a imagem de que a arquidiocese está dilapidando o seu patrimônio é equivocada. “Existiram vendas? Existiram. Mas isso também foi feito na época de dom Hélder. É feito hoje em outras arquidioceses como Salvador e São Paulo. Agora, posso assegurar que as contas estão sanadas. Não há dívidas nem rombos.”

De fato; a Arquidiocese – nunca é demais repetir – tem o direito de dispôr dos seus bens da maneira que julgar melhor, como prescreve o Direito Canônico e já foi citado no início do post – mas a mídia quer administrar a Arquidiocese no lugar do Arcebispo. Como se a administração diocesana fosse escalação da seleção brasileira, todo mundo quer “dar pitaco” e decidir como resolver assuntos que não são da sua alçada. Todo rebuliço que foi feito sobre este assunto é completamente vazio, sem sentido, e tenciona – mais uma vez – somente desgastar a imagem de Dom José Cardoso.

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Anexo – .O adeus do arcebispo

A caixa-preta da Pastoral Imobiliária
Publicado em 04.07.2008

Na atual gestão, surgiram dúvidas sobre negócios da Santa Casa de Misericórdia, cuja diretoria foi afastada em 2007

[A ]existência de “muitas dúvidas e interrogações”. Foi com esse argumento que o arcebispo dom José Cardoso Sobrinho afastou, em dezembro do ano passado, a diretoria da Santa Casa de Misericórdia. Ele é perfeito também para definir o sentimento da maioria do clero e dos leigos em relação aos negócios realizados durante a administração do arcebispo. Muitas “dúvidas e interrogações” envolveram a venda de imóveis da Santa Casa, prédios que hoje abrigam os Shoppings Boa Vista e Paço Alfândega. E “muitas dúvidas e interrogações” ainda pairam sobre a transação feita com a casa deixada de herança pelo médico e professor Ruy João Marques, na Madalena, para obras de caridade e que terminou virando prédio de luxo.As confusões envolvendo a Santa Casa foram parar na Nunciatura Apostólica, em Brasília. Foi de lá que veio a auditoria que investigou, no início deste ano, as contas da entidade filantrópica, de propriedade da Igreja Católica e dona de um riquíssimo patrimônio, cuja administração estava nas mãos de um único homem: o interventor Rozendo de Rezende Neto. Quando foi nomeado por dom Hélder Câmara, em 1980, para o cargo, ele era obrigado a prestar contas a duas comissões, formadas por economistas e executivos de renome. Com a chegada de dom José, as comissões foram extintas. Toda a responsabilidade ficou exclusivamente para o arcebispo e o interventor.Durante todos esses anos, Rozendo tinha plenos poderes para negociar os bens da Santa Casa em nome da Arquidiocese de Olinda e Recife. O excesso de confiança custou caro. Quando descobriu que o interventor tinha feito transações sem autorização da arquidiocese, o bispo destituiu o auxiliar. Mas o estrago estava feito. Rozendo havia hipotecado o Paço Alfândega e o Edifício Chanteclair como garantias de empréstimos feitos no Banco do Nordeste, em favor de empresas que administram o Paço Alfândega. Segundo a arquidiocese, os bens estavam avaliados em cerca de R$ 6 milhões. Se o empréstimo não fosse pago, o prejuízo iria para a Santa Sé.

A advogada Rilani Lins, que administra a arquidiocese, garante que dom José não sabia do acordo fechado pelo seu homem de confiança. Ela disse que representantes da Cúria Metropolitana viajaram para São Paulo e conseguiram cancelar a transação. Rilane afirmou que essa foi a única irregularidade encontrada pela auditoria na Santa Casa. “Em maio passado, eles concluíram o relatório. Não havia nada mais de errado”, informou.

O Ministério Público de Pernambuco também está de olho nas transações imobiliárias da arquidiocese. Em outubro do ano passado, um grupo de promotores entrou com uma ação inibitória coletiva que impede a Santa Casa de praticar qualquer ato de transferência do complexo imobiliário do Hospital Ulysses Pernambucano, na Tamarineira. O imenso espaço verde estava sendo negociado para a construção de um novo shopping center. Chegou-se a dizer que a alienação renderia aos cofres da arquidiocese algo em torno de R$ 20 milhões. Agora, está tudo parado na Justiça.

Rilani diz que a imagem de que a arquidiocese está dilapidando o seu patrimônio é equivocada. “Existiram vendas? Existiram. Mas isso também foi feito na época de dom Hélder. É feito hoje em outras arquidioceses como Salvador e São Paulo. Agora, posso assegurar que as contas estão sanadas. Não há dívidas nem rombos.” A advogada nega que a contabilidade da Santa Casa e da arquidiocese sejam uma caixa-preta. E assegura que as contas estão abertas para quem quiser ver. É só procurá-la no prédio da Cúria Metropolitana, na Avenida Afonso Olindense, 1764, bairro da Várzea.

Comentando o adeus do Arcebispo – 05

5 – O dia em que a prefeita não pôde comungar & “Colocá-lo após dom Hélder foi uma grande burrice”

Desta vez, nem é necessário falar muito. Os próprios artigos do JC redundam em elogios ao Arcebispo, pelo fato de que atacar um vício é enaltecer a virtude oposta. Ao “condenarem” Dom José Cardoso por ele fazer coisas que um Bispo Católico poderia e deveria fazer, isso é motivo de honra para Sua Excelência e de júbilo para os católicos verdadeiros.

Por exemplo, quando foi dito à prefeita comunista de Olinda que ela não poderia comungar. É claro que ela não pode, por ser comunista, dado que a comunhão é para os católicos e ninguém pode ser comunista e católico ao mesmo tempo. E não se trata de pecado oculto, senão de manifesto – posto que a opção política da prefeita de Olinda é pública – de modo que a comunhão pode e deve ser negada. O jornal chama isso de gesto pequeno e (…) uso da autoridade para fazer valer a sua vontade; mas os católicos sabem que se trata de um gesto eloqüente de fidelidade à missão de Pastor. Aplausos para Dom José!

O mesmo no que se refere à igreja das Fronteiras. Pouco importa se ela é símbolo maior do arcebispado de Dom Hélder ou não; o fato é que ela pertence à paróquia da Soledade e procurar conhecer os seus fiéis é uma prescrição feita ao pároco pelo Direito Canônico (cf. CIC 529 §1), sendo a coisa mais natural do mundo que o novo pároco da Soledade fosse até a igreja das Fronteiras. Aliás, o antigo pároco, quando soube do afastamento, fez um escândalo e, na homilia, garantiu que, se pudesse, dava uma surra no bispo e ameaçou voltar para a comunidade (…) quando dom José (…) se aposentar… isto poderia explicar porque o grupo de leigos das Fronteiras marcou posição e botou o padre para correr. Apesar das semelhanças, padre Renaldo – ao contrário do que eu supus a princípio – não era o responsável de facto pela igreja das Fronteiras (embora, por ser o pároco, fosse-o de direito). Mas, pelas atitudes das ovelhas, é possível imaginar o que elas estão aprendendo do pastor. Lamentável.

Por fim, o jornal tenta ridicularizar o arcebispo expondo um acidente que ele sofreu, [n]o enterro de dom Francisco Austregésilo, bispo emérito de Afogados da Ingazeira. Na versão impressa do jornal, há até uma foto! Qual é a relevância desta informação, ainda publicada com os gracejos do articulista? Expôr o Arcebispo ao ridículo, somente. Quando não há mais o que se falar, a zombaria pura e simples é o artifício do qual lança mão o JC…

A seguir, uma entrevista com Frei Betto! Estranho seria se este projeto de religioso que envergonha São Domingos estivesse de acordo com o Arcebispo! A divergência é mais uma vez eloqüente: para os católicos verdadeiros, é mais um indício de que quem está com a razão é Dom José Cardoso. Afinal, frei Betto, só nesta entrevista, diz as seguintes pérolas:

Dom José é reflexo de uma profunda vaticanização que tem ocorrido no episcopado brasileiro.

Eu acho criminoso você hoje ser contra o preservativo, você facilitar a disseminação de um vírus mortal e que não tem cura como o HIV. E querer impor uma atitude moral que é muito própria da Igreja Católica, mas não é conveniente para o conjunto da sociedade.

Deus não tem religião e a obra dele vai continuar, seja com a Igreja Católica ou seja sem ela.

Não há necessidade de se fazer mais comentários. Só registro, por fim, uma confissão de frei Betto: perguntado pelo repórter se o sucessor de Dom José pode dar ao arcebispado a cara de dom Hélder, responde o “religioso”: [s]e houver suficiente pressão dos leigos e padres, talvez. É impressão minha, ou a imprensa recifense – o Jornal do Commercio, em particular – está justamente a serviço dessa “pressão” que deseja, para Olinda e Recife, uma igreja diferente da Igreja Católica?

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Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O dia em que a prefeita não pôde comungar
Publicado em 04.07.2008

Dom José está acostumado com as manchetes de jornais. Suas polêmicas ganharam destaque e repercussão na imprensa ao longo desses 23 anos. Alguns episódios, no entanto, foram mantidos em sigilo pelas pessoas atingidas para evitar ainda mais desgastes. O JC conta agora duas histórias que revelam muito da personalidade do frade carmelita. O primeiro é o caso do arcebispo e a prefeita comunista. O segundo, a tentativa de tomada do reduto de dom Hélder: a Igreja das Fronteiras. Em comum, o gesto pequeno e o uso da autoridade para fazer valer a sua vontade.Novembro de 2004. Procissão de São Salvador do Mundo, padroeiro de Olinda. Como fazia há anos, a prefeita Luciana Santos acompanhava a missa em homenagem ao santo. Estava num banco da igreja, quando um emissário do arcebispo de dom José Cardoso, chegou junto e cochichou ao seu ouvido. Trazia um recado constrangedor. Ela não deveria entrar na fila de comunhão. Por ser comunista, não acreditava em Deus e não tinha o direito de receber o corpo de Cristo. Véspera de eleição, Luciana, candidata à reeleição, preferiu não criar caso. Não entrou na fila para comungar, nem falou nada para a imprensa. Assistiu ao restante da missa e foi embora.

Quando chegou ao Recife, dom Hélder não quis a suntuosidade do Palácio dos Manguinhos para fazer sua morada. Preferiu a simplicidade da Igreja das Fronteiras, na Boa Vista. Pois foi esse lugar, símbolo maior do arcebispado de dom Hélder, que dom José quis tomar no ano passado. Quando tirou o padre da Igreja da Soledade e colocou em seu lugar um jovem recém-ordenado, ele enviou o novo pároco para conversar com os leigos que tomavam conta das Fronteiras. Como a igreja faz parte da paróquia da Soledade, o padre chegou dizendo que queria conhecer suas ovelhas e que a partir dali passaria a celebrar as missas na igreja de dom Hélder. O grupo marcou posição e botou o padre para correr. E até hoje as missas são celebradas pelo padre João Pubben, o mesmo que nos últimos de dom Hélder ajudou o arcebispo a abençoar seu rebanho.

Em outubro de 2006, no Sertão, foi a vez do próprio dom José Cardoso passar por uma situação delicada. Só que a presença de fotógrafos impediu que o fato fosse esquecido pela história. No enterro de dom Francisco Austregésilo, bispo emérito de Afogados da Ingazeira, dom José caiu na sepultura, depois de tropeçar num batente. E precisou de ajuda para sair do buraco.

Anexo 2 – O. adeus do arcebispo

ENTREVISTA » FREI BETTO
“Colocá-lo após dom Hélder foi uma grande burrice”
Publicado em 04.07.2008

[O] escritor Frei Betto diz que a Igreja precisa se penitenciar. Admitir que errou e que foi um retrocesso ter colocado um homem como dom José Cardoso numa arquidiocese como a de Olinda e Recife. E avisa: se a Santa Sé continuar defendendo um pensamento anacrônico, vai perder ainda mais fiéis.

JC – Dom José é criticado pelo desmonte que promoveu na arquidiocese. Mas suas ações representam o pensamento cada vez mais conservador da Igreja de Roma. Há como avaliá-lo sem analisar os rumos que a Igreja tomou?FREI BETTO – Não. Dom José é reflexo de uma profunda vaticanização que tem ocorrido no episcopado brasileiro. Do ponto de vista mais específico da Arquidiocese de Olinda e Recife, foi um grande equívoco, depois de um dom Hélder, colocar ali um homem que é a negação de tudo que dom Hélder representou e realizou. Analisando por um olhar de marketing, foi uma grande burrice. Porque não dá continuidade a uma obra. A Igreja fica se queixando do avanço das outras igrejas neopentecostais. Mas, antes de criticar, deveria se penitenciar do seu recuo, do seu retrocesso, quando nomeia um homem como dom José para ficar à frente de uma arquidiocese que foi encabeçada por um dom Hélder Câmara por tantos anos.

JC – A perseguição a padres foi uma das marcas do arcebispado de dom José. Como falar em perdão e tolerância numa Igreja que pune e não respeita as diferenças de visão pastoral?

FREI BETTO – É uma boa pergunta para ser feita a ele. Não sei se ele fará essa penitência. Não é compatível com o evangelho novo exercer uma função pastoral na base da perseguição, da injustiça, e até mandando a polícia para situações que poderiam ser resolvidas pelo diálogo, sobretudo considerando que os sacerdotes são filhos da Igreja e não inimigos. Mesmo que eles não estejam de acordo com seus pastores.

JC – Uma das últimas polêmicas de dom José foi se posicionar contra a distribuição de camisinha no Carnaval deste ano. Como manter um discurso conservador no momento em que questões como aids, gravidez precoce e célula-tronco são tão urgentes para a sociedade?

FREI BETTO – Eu acho criminoso você hoje ser contra o preservativo, você facilitar a disseminação de um vírus mortal e que não tem cura como o HIV. E querer impor uma atitude moral que é muito própria da Igreja Católica, mas não é conveniente para o conjunto da sociedade. Então eu acho que realmente é outro anacronismo que precisa ser vencido.

JC – Qual o futuro da Igreja no Brasil, um país desigual e cujo rebanho de católicos está encolhendo?

FREI BETTO – Depende de a Igreja ser capaz de fazer uma autocrítica, conseguir se libertar da hegemonia do modelo paroquial, que é um modelo pré-moderno, pré-urbano, que parte do princípio de que as pessoas se relacionam pela proximidade geográfica, quando hoje meu melhor amigo pode morar em Tóquio e eu posso sair dessa entrevista e falar com ele pela internet. E tenho talvez mais diálogo do que com meu vizinho. Enfim, a Igreja Católica tem que repensar seus métodos pastorais de evangelização e a sua postura nesse mundo pós-moderno. Caso contrário, vai continuar encolhendo. Felizmente, Deus não tem religião e a obra dele vai continuar, seja com a Igreja Católica ou seja sem ela.

JC – Como será o perfil do possível substituto de dom José?

FREI BETTO – Possivelmente, não será uma pessoa tão conservadora. Eu ouvi de cardeais conservadores, que não vou revelar o nome, que foi um equívoco ter nomeado dom José para o Recife, mas que não poderiam dar o braço a torcer. Então, possivelmente será um bispo moderado. Eu colocaria na lista de apostas um nome: dom Geraldo Lírio, atual arcebispo de Mariana e presidente da CNBB. Não me surpreenderei se ele for transferido para o Recife. É um homem moderado.

JC – Ele pode dar ao arcebispado a cara de dom Hélder?

FREI BETTO – Se houver suficiente pressão dos leigos e padres, talvez. Geraldo foi meu amigo em Vitória (ES), quando era padre. Nós trabalhamos juntos. Mas, às vezes, eu temo que a mosca azul esteja rondando Geraldo.

Comentando o adeus do Arcebispo – 04

4 –  O desmonte sob a bênção da Santa Sé & Punição a padres semeou medo

Algumas ofensas mais trazem honra do que desonra. Os artigos do especial do Jornal do Commercio comentados neste post e no próximo são exemplos disto. Atacando simultaneamente Dom José Cardoso e a Santa Sé, ao mesmo tempo em que dá vez voz a inimigos declarados da Igreja Católica, o jornal termina por tecer elogios fabulosos à figura do Arcebispo. Como tais elogios são, de certa maneira, indiretos, é necessário comentar ligeiramente as linhas escritas com o propósito de atacar o Arcebispo.

[O ]ano de 1989 foi negro para a Arquidiocese de Olinda e Recife. Em questão de meses, todo um trabalho resultado de anos de pastoral estava silenciado. Entrava em ação a operação de desmonte de uma Igreja inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres.

Só se “desmonta” uma coisa que foi “montada”. Registro, assim, que havia sido “montada”, em Olinda e Recife, uma Igreja inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres. Acontece que a única pessoa capaz de fundar uma Igreja é Nosso Senhor Jesus Cristo, e Ele o fez, e esta Igreja – sobre a Qual as portas do Inferno nunca prevalecerão – é a Igreja Católica Apostólica Romana. Qualquer igreja diferente desta é engodo, e qualquer um que se atreva a montá-la é ladrão e salteador.

Apenas saliento que inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres significa, no linguajar modernista, “traidora do Concílio Vaticano II” e “inspirada na Teologia da Libertação”. Uma igreja “modernista”, uma igreja “TLista”, mas não a Igreja de Cristo.

Numa tacada só, o novo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, fechou o Seminário Regional Nordeste II e o Instituto de Teologia do Recife (Iter), ambos voltados à formação com base na Teologia da Libertação.

SERENE II – antro de homossexualismo. ITER – antro de marxismo. Duas coisas completamente incompatíveis com a Doutrina Católica, de modo que era dever do Arcebispo dar-lhes cabo com presteza. Com estas duas aberrações, é impossível fazer “pastoral vocacional” e, evidentemente, a situação do clero e dos leigos vai estar calamitosa.

Agiu por convicção e a mando do Vaticano.

Ou seja: é um Excelente Arcebispo, fiel à sua consciência e ao mandato que recebeu da Igreja, e um digno sucessor dos Apóstolos. Mas o pessoal do JC queria um bispo que agisse “sem convicção” e “em desobediência ao Vaticano”…

[E]le é símbolo do pensamento atual da Igreja de Roma, a mesma que hoje volta a rezar missas em latim e com os padres de costas para os fiéis.

Traduzindo: Dom José é fiel à Igreja. O problema destas pessoas é com a Igreja Católica, e não com o Arcebispo.

Os ventos progressistas e modernizantes trazidos pelo papa João XXIII, o homem do Concílio Vaticano II, não sopram mais em Roma.

Ventos progressistas e modernizantes podem ter soprado – e soprar ainda hoje – nas cabeças ocas de hereges, mas não na Cidade Eterna. As aloprações que (desgraçadamente) foram feitas em nome do Concílio Vaticano II não podem ser atribuídas a ele. Roma sempre condenou tais disparates, e Roma sempre corroborou o Vaticano II.

(…) avalia o ex-padre Reginaldo Veloso, que foi suspenso das funções sacerdotais e hoje é casado e tem um filho.

Com todo o respeito devido aos sacerdotes, mas não dá para ficar calado: um ex-padre amasiado é, realmente, a maior autoridade que o JC poderia encontrar para falar mal do Arcebispo e da Igreja Católica! Porque os católicos bons e fiéis jamais colaborariam com o intuito nefasto do jornal. E saliento que ser contrariado pelo pe. Reginaldo Veloso é motivo de honra, posto que, se asinus asinum fricat, o fato do pe. Veloso não “ser chegado” a Dom José revela que o Arcebispo não é da mesma laia dele.

Foi um equívoco de Roma indicá-lo porque ele não tinha a habilidade necessária (…), pondera o teólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco Inácio Strieder.

Ou seja, o que o jornal está dizendo é que Roma “se equivocou” e é um teólogo leigo quem está com a razão. Semelhante besteira proferida por alguém que se diz “teólogo” poderia encher de júbilo os inimigos da Igreja mas, para os católicos, isto é mais um sinal de que a Verdade está “do outro lado”; afinal, vejam as pérolas que este senhor defende.

“(…) Essa história de estar dizendo que está cumprindo o que Roma mandou é uma maneira muito boa de lavar as mãos como Pilatos (…)”, analisa o padre Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte.

Só lembrando que o pe. Edwaldo Gomes é aquele que concelebrou uma missa com um anglicano, em meados do ano passado, e teve que se retratar no jornal da Arquidiocese. E, com todo o respeito que se deve a um sacerdote, Sua Reverendíssima não tem o direito de fazer insinuações desrespeitosas assim sobre o Arcebispo!

Um dos símbolos da Igreja de Resistência no arcebispado de dom José Cardoso (…)

Leia-se: da Anti-Igreja, da Sinagoga de Satanás. Porque, na Igreja de Cristo, “aquele que resiste à autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem, atraem sobre si a condenação” (Rm 13, 2).

“As sandálias do pastor continuam descalças. Em seu lugar, foram calçadas as botas do inquisidor”.

E aqui, arrematando o artigo, um eloqüente exemplo de um “rótulo odioso”. Voilà!

O artigo seguinte, sobre os “padres medrosos”, tenciona tão-somente acrescentar, ao já extenso rol de adjetivos depreciativos despejado sobre o Arcebispo, o de “perseguidor”. O jornal, ao dizer que o motivo das expulsões foi simplesmente divergência de opinião com o arcebispo, insinua que tal “divergência” é pessoal. Ao contrário, os padres sempre foram afastados por divergência com a Igreja. Não tem nada de “opinião” aqui.

Fazendo uma lista com as próprias citações do JC:

– [m]uitos (…) foram acolhidos pela pastoral progressista do então arcebispo de João Pessoa (…)
– [s]eguidor da doutrina libertária de dom Hélder, o padre Luís Antônio de Oliveira (…)
– o padre Edwaldo Gomes, (…) por ter concelebrado uma missa com um bispo da Igreja Anglicana (…)

Ou seja: as questões aqui envolvidas são sempre referentes à Doutrina da Igreja Católica – e nunca por uma simples divergência de opinião com o arcebispo. O JC, portanto, mente e engana os seus leitores, fazendo-os crer que Dom José afastou padres meramente por uma questões de “opinião”. Isto é falso.

Em março de 1990, 82 religiosos da Arquidiocese de Olinda e Recife assinaram um manifesto denunciando as perseguições de dom José.

Não consegui encontrar este manifesto. Mas a julgar por quem o assina [o JC cita o pe. Reginaldo Veloso], vê-se que boa coisa não deve ser…

Por divergência de visão pastoral, o Padre Reginaldo Veloso havia sido demitido da Paróquia do Morro da Conceição (…)

O que o jornal chama de divergência de visão pastoral é o fato de que o Arcebispo queria servir à Igreja e, no Morro da Conceição, o pe. Reginaldo Veloso queria servir às CEBs. Atualmente, o ex-pároco está amasiado e tem um filho – de onde se infere qual era o tipo de “divergência” que havia entre ele e o Arcebispo.

E foi obrigado a acrescentar esse dado em sua biografia: é o único arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife a freqüentar delegacias e varas judiciais.

Bom, o único Arcebispo, talvez. Mas já houve um bispo em Olinda e Recife que teve problemas com a Justiça: Dom Vital (aliás, não deixem de ler este artigo). Que, aliás, é servo de Deus. Vê-se assim que Dom José Cardoso está muito bem acompanhado…

* * *

Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O desmonte sob a bênção da Santa Sé
Publicado em 04.07.2008

Influenciado pelos ventos fortes do conservadorismo do Vaticano, dom José acabou trabalho social e calou as vozes progressistas

[O ]ano de 1989 foi negro para a Arquidiocese de Olinda e Recife. Em questão de meses, todo um trabalho resultado de anos de pastoral estava silenciado. Entrava em ação a operação de desmonte de uma Igreja inspirada no Concílio Vaticano II e na opção preferencial pelos pobres. Numa tacada só, o novo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, fechou o Seminário Regional Nordeste II e o Instituto de Teologia do Recife (Iter), ambos voltados à formação com base na Teologia da Libertação. Calou a voz da Comissão de Justiça e Paz e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos. Agiu por convicção e a mando do Vaticano. Analisando o passado e olhando para o futuro, é fácil saber por que dom José atuou com tanta liberdade e autonomia: ele é símbolo do pensamento atual da Igreja de Roma, a mesma que hoje volta a rezar missas em latim e com os padres de costas para os fiéis.É impossível compreender os 23 anos do polêmico arcebispado de dom José sem avaliar os rumos que a Igreja tomou nas últimas décadas. Os ventos progressistas e modernizantes trazidos pelo papa João XXIII, o homem do Concílio Vaticano II, não sopram mais em Roma. Mudaram de curso desde João Paulo II. E praticamente se dissiparam com a eleição de Bento XVI. O novo papa, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, voltou a Igreja para dentro e em direção ao passado. Foi buscar no século 16 a inspiração para conduzir o seu rebanho católico em pleno século 21. Os tempos hoje são de outro concílio, o de Trento (1545 a 1563), defensor da fé, das tradições e da disciplina eclesiástica.

“Dom José chegou com a nefasta missão de desmontar tudo o que havia sido construído no tempo primaveril de dom Hélder. Ele é a expressão local de um processo de retrocesso que se observa não só na Igreja, mas na humanidade. Seu legado é o da estagnação”, avalia o ex-padre Reginaldo Veloso, que foi suspenso das funções sacerdotais e hoje é casado e tem um filho. Reginaldo diz que a Igreja se contenta em olhar para si mesma e a procurar satisfação em uma prática celebrativa e alienante.

Ao pensamento conservador, somaram-se o temperamento fechado e a falta de experiência do arcebispo em lidar com uma arquidiocese do tamanho da de Olinda e Recife. “Foi um equívoco de Roma indicá-lo porque ele não tinha a habilidade necessária. Era menor do que o cargo exigia. E usou a psicologia da força para compensar sua insegurança diante dos questionamentos que surgiram. Ele deixa uma certa melancolia. Foi um tempo de perdas. É o que a história vai contar”, pondera o teólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco Inácio Strieder.

“Eu lamento profundamente que certas autoridades da Igreja a quem esse caso está mais afeto, como a Congregação para os Bispos e a Nunciatura Apostólica, não tenham sido mais sensíveis ao problema de Olinda e Recife. Porque o papa está muito longe. Essa história de estar dizendo que está cumprindo o que Roma mandou é uma maneira muito boa de lavar as mãos como Pilatos, porque se o bispo é realmente um pastor ele deve se queimar pelo rebanho”, analisa o padre Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte.

Se a Cúria Romana não fez nada, o mesmo não se pode dizer dos leigos católicos. Um dos símbolos da Igreja de Resistência no arcebispado de dom José Cardoso, o grupo Igreja Nova procurou continuar com a missão pastoral de dom Hélder, dentro do seu espírito libertário e conciliador. “A questão nunca foi pessoal. O que nós combatemos todos esses anos foi a forma autoritária como ele conduziu a arquidiocese”, explica Antônio Carlos Maranhão Aguiar, um dos integrantes do grupo. E sintetiza o que foi o legado de dom José, em 23 anos de arcebispado: “As sandálias do pastor continuam descalças. Em seu lugar, foram calçadas as botas do inquisidor”.

Anexo 2 – .O adeus do arcebispo

Punição a padres semeou medo
Publicado em 04.07.2008

“Quem vai ser o próximo?” No fim dos anos 80 e durante a maior parte da década de 90, essa pergunta assombrava a todos os padres que ousavam pensar diferente do arcebispo. A chegada de dom José fez mais do que dividir a Igreja. Causou uma espécie de diáspora do clero de Olinda e Recife. De forma direta, ele afastou, puniu ou demitiu pelo menos 16 padres brasileiros e estrangeiros. Considerando os que sofreram perseguição ou pressão para sair, a conta sobe para mais de 30. Muitos pegaram a estrada em direção à Paraíba e foram acolhidos pela pastoral progressista do então arcebispo de João Pessoa, dom José Maria Pires. Quem ficou, foi obrigado a silenciar. E a resistir com as armas que tinha.De pouco adiantou protestar. Mas os padres tentaram. Em março de 1990, 82 religiosos da Arquidiocese de Olinda e Recife assinaram um manifesto denunciando as perseguições de dom José. O número 17 da lista falava com conhecimento de causa. Por divergência de visão pastoral, o Padre Reginaldo Veloso havia sido demitido da Paróquia do Morro da Conceição, três meses antes, num dos episódios mais traumáticos da gestão de dom José e que a imprensa, na época, chamou de “Guerra Santa”. Em solidariedade ao religioso, os fiéis tomaram a chave da igreja e foi preciso a polícia e a Justiça intervir para que a situação fosse contornada. Era só o começo.

Seguidor da doutrina libertária de dom Hélder, o padre Luís Antônio de Oliveira, da Paróquia de Boa Viagem, seria uma das próximas vítimas. Com um forte trabalho pastoral desenvolvido com a participação de leigos, ele foi demitido em 1991 por não concordar com as idéias de dom José. Um grupo de fiéis conseguiu audiência com o arcebispo para tentar demovê-lo da idéia, mas ele manteve a decisão. Dois anos mais tarde, os padres estrangeiros Felipe Mallet, da Paróquia de Brasília Teimosa, e André Rombouts, de Apipucos, também tiveram que sair. A razão: divergência de opinião com o arcebispo.

Com maior ou menor estardalhaço, os casos foram se sucedendo. No ano passado, dom José comprou uma briga que o deixou ainda mais isolado. Invocando um artigo do direito canônico, ele denunciou ao Vaticano o padre Edwaldo Gomes, da Paróquia de Casa Forte, por ter concelebrado uma missa com um bispo da Igreja Anglicana. As reações foram enormes, mas dom José manteve a punição ao padre.

Um de seus últimos atos, no entanto, lhe traria dores de cabeça maiores. No confronto com o padre de Água Fria, João Carlos Santana, ele terminou sendo processado por calúnia e difamação. E foi obrigado a acrescentar esse dado em sua biografia: é o único arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife a freqüentar delegacias e varas judiciais.

Comentando o adeus do Arcebispo – 03

3 – O desabafo secreto & Sem auxiliares por perto

Depois de pintar com as cores mais repulsivas possíveis a figura do Arcebispo, o Jornal do Commercio passa a fazer, agora, fofoca pura e simples. É apresentado um “relatório confidencial”, supostamente atribuído a Dom João Evangelista Terra, à época bispo auxiliar da Arquidiocese.

Começa o artigo:

[P]or quase 20 anos, o documento reproduzido nesta página ficou guardado num canto de gaveta a sete chaves.

O texto do documento não é reproduzido e não se encontra na versão online deste texto no JC. Foi somente reproduzido na versão impressa; é da edição digital do dia 04 de julho que foram retiradas as fotos abaixo, que mostram o documento tal e qual o jornal o publicou:

Em momento algum o jornal diz se o documento, tal como foi reproduzido, é original ou é editado; as reticências que existem no texto, bem como o fato das letras estarem bem legíveis para um documento tão antigo, e a ausência de uma coisa tão fundamental como a data do documento – parece que o jornal não gosta de datas… – fazem-me crer que esta foto foi produzida para fins de visualização pelos leitores, tendo (supostamente…) por base o (suposto…) relatório confidencial ao qual se refere o artigo. Prossigamos.

O texto é contundente e extremamente direto. Sobre o arcebispo, o auxiliar teria escrito: “Não tem capacidade de diálogo. É muito autoritário, rancoroso e vingativo. Incapaz de perdoar”.

O texto (o reproduzido no JC) também diz, sobre o Arcebispo, que ele “foi muito eficiente, enérgico e inflexível na solução dos problemas estruturais”, que ele “[c]umpriu as ordens da Santa Sé para fechar o Iter (Instituto Teológico do Recife) e o Serene II (Seminário Regional do Nordeste II)” e que ele “[e]nfrentou corajosamente a oposição e contestações do arcebispo emérito D. Hélder Câmara, de outros bispos do regional, de numerosos religiosos, religiosas e leigos. Foi realmente heróico, na sua resistência, sofreu oposição de boa parte da CNBB”. Mas nada disso aparece na reportagem do Jornal, pois esta só está interessada em reproduzir os trechos que sirvam para denegrir a imagem do arcebispo.

Registro ainda duas coisas que, se o suposto documento for verdadeiro, são interessantíssimas: (1) as ordens para fechar o ITER e o SERENE II (legados de Dom Hélder) vieram de Roma e, portanto, a Santa Sé estava ciente da situação da Arquidiocese e descontente com ela; (2) Dom José enfrentou com coragem a oposição de a) Dom Hélder; b) outros bispos da regional; c) numerosos religiosos, religiosas e leigos; e d) boa parte da CNBB. Numa situação dessas, seria acaso de se espantar que o Arcebispo dividisse “as pessoas em amigos e inimigos”?

O relatório teria sido encaminhado, no início da década de 90, à Nunciatura Apostólica, em Brasília

Percebam as construções constantemente empregadas: o documento é atribuído ao então bispo…, e teria sido encaminhado…, e dom João Terra teria registrado…; oras, por que não é dito que o relatório foi escrito por tal pessoa, e que foi encaminhado para a Nunciatura, e que nele foram registradas tais e tais coisas?! Por que o tom especulativo? Será que o Jornal não assegura a autenticidade das coisas que publica? E por quê, então, ele publica coisas de autoria duvidosa que mancham a imagem e a reputação do Arcebispo de Olinda e Recife?

O JC conversou com dom Marcelo, hoje arcebispo emérito da Paraíba, e ele confirmou ter aconselhado dom João a relatar os problemas que ocorriam na arquidiocese. “Ele estava muito preocupado. Fez o relatório, mas eu não li. Ele apenas me falou do texto”, […] conta o religioso, que durante anos guardou o material.

Aqui, o Jornal deve pensar que os leitores são burros. Afinal, Dom Marcelo leu o relatório (durante anos guardou o material) ou não (eu não li. Ele apenas me falou do texto)? Ou será que ele guardou, sem ler, um relatório confidencial (aliás, o que estava fazendo com ele?) durante anos, até que o pessoal do JC gentilmente o solicitasse e ele alegremente o cedesse? Haja paciência!

Procurado, dom João não quis dar declarações sobre o período em que foi bispo auxiliar de Olinda e Recife.

E, mesmo assim, sem confirmação de fonte nem nada, o jornal publicou com estardalhaço o documento confidencial atribuído ao bispo. Quanto profissionalismo!

Em resumo: ainda concedendo que o material seja verdadeiro tal e qual foi publicado, a única coisa que ele contém são impressões pessoais de um bispo auxiliar (que, é bom frisar, não autorizou a publicação do documento) sobre a Arquidiocese há quase vinte anos! Que motivo pode ter o jornal para publicá-lo (lançando a Dom José a pecha de autoritário e vingativo logo no subtítulo) que não seja a vontade de difamar e injuriar o Arcebispo, atacando-lhe a honra?

A reportagem seguinte, sobre os bispos auxiliares, nada diz. Reproduz uma única informação – que Dom José teve apenas três bispos auxiliares durante o tempo em que ficou na Arquidiocese – e se utiliza dela para dar uns retoques de centralizador e isolado ao retrato escabroso que vem pintando do Arcebispo desde a primeira página. Repetimos: se o objetivo não é passar uma imagem negativa do Arcebispo, então qual é?

Só saliento o fato de que os bispos auxiliares são nomeados pelo Papa, e não pelo Arcebispo; este pode no máximo solicitá-los à Santa Sé. E Dom José possui, atualmente, três vigários-gerais, que o auxiliam e exercem [por delegação] algumas funções próprias do ofício do Bispo Diocesano, de modo que a acusação de “querer governar sozinho” não procede.

Merece ainda citação, todavia, uma coisa: o mesmo Dom João que, na reportagem anterior, não quis dar declarações sobre o período em que foi bispo auxiliar de Olinda e Recife, aparece agora, no fim da mesmíssima página, dando um monte de declarações sobre o período! Que coisa curiosa! Se o jornal é capaz de contradizer no fim da página aquilo que disse no começo, qual é a credibilidade que ele merece?

Não mede esforços o jornal para formar, de Dom José, a imagem mais negativa possível. À multiplicação de adjetivos depreciativos dos quais o Arcebispo é tachado pelo JC, somam-se as contradições das reportagens e as opiniões de terceiros – contanto que sejam contrárias a Dom José Cardoso. O caderno especial do Jornal do Commercio, em essência, não contém outra coisa: oito páginas de cretinice. É a isto que serve a imprensa?

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Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

O desabafo secreto
Publicado em 04.07.2008

Relatório confidencial, atribuído a ex-auxiliar, considera dom José autoritário e vingativo

[P]or quase 20 anos, o documento reproduzido nesta página ficou guardado num canto de gaveta a sete chaves. Trata-se de um relatório confidencial atribuído ao então bispo auxiliar de Olinda e Recife, dom João Evangelista Martins Terra, sobre a delicada situação de dom José Cardoso Sobrinho à frente da arquidiocese. O texto é contundente e extremamente direto. Sobre o arcebispo, o auxiliar teria escrito: “Não tem capacidade de diálogo. É muito autoritário, rancoroso e vingativo. Incapaz de perdoar”. Dom João Terra foi bispo auxiliar de dom José, no período de dezembro de 1988 a fevereiro de 1995.O documento faz uma análise, ponto a ponto, dos principais problemas enfrentados pela arquidiocese. Relata a situação do clero, do arcebispo, o relacionamento com os bispos auxiliares, a qualidade de ensino do seminário diocesano, revela preocupações quanto ao reitor da época e enxerga problemas em relação à pastoral vocacional. “As perspectivas para o futuro do clero na arquidiocese são muito pessimistas”, prevê.O relatório teria sido encaminhado, no início da década de 90, à Nunciatura Apostólica, em Brasília, que funciona como uma espécie de embaixada do Vaticano no Brasil. No texto, dom João Terra teria registrado que a sugestão de escrever o documento partiu do então presidente do Regional Nordeste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Marcelo Carvalheira. O JC conversou com dom Marcelo, hoje arcebispo emérito da Paraíba, e ele confirmou ter aconselhado dom João a relatar os problemas que ocorriam na arquidiocese. “Ele estava muito preocupado. Fez o relatório, mas eu não li. Ele apenas me falou do texto”, contou o religioso.

“Na época, houve muitos comentários sobre esse documento, mas pouquíssimas pessoas do clero tiveram acesso a ele. Era extremamente sigiloso”, conta o religioso, que durante anos guardou o material. Ele lamenta que, diante de um relato tão contundente, nenhuma providência tenha sido tomada. “Quando eu vi que um documento com esse peso foi entregue e a Cúria Romana silenciou, percebi que nada do que nós fizéssemos teria resultado. Nossos apelos seriam todos em vão.” Procurado, dom João não quis dar declarações sobre o período em que foi bispo auxiliar de Olinda e Recife.

Anexo 2 – .O adeus do arcebispo

Sem auxiliares por perto
Publicado em 04.07.2008

Em 23 anos de arcebispado, dom José Cardoso só teve três bispos auxiliares. Passou mais da metade desse tempo sem contar com a colaboração de qualquer adjunto. Apesar do tamanho da arquidiocese – 20 municípios, 100 paróquias –, ele preferiu governar sozinho. O temperamento difícil ajuda a explicar a opção pelo isolamento. Dom José Cardoso é descrito como um homem centralizador e que dava poucas responsabilidades aos seus bispos auxiliares. Quando deixou o posto, dom João Evangelista Martins Terra queixou-se do esvaziamento de suas funções e da difícil convivência com o arcebispo. Já dom Fernando Saburido, o último dos auxiliares de dom José, reconheceu que o longo período sem um bispo adjunto prejudicou a atividade pastoral da arquidiocese.“Nunca recebi nenhum ministério específico. Meus trabalhos ordinários foram assumidos por iniciativa própria”, confidenciou dom João, em entrevista concedida ao JC, um dia antes de ir embora do Recife, em fevereiro de 1995. Jesuíta, poliglota e conhecido como homem culto e com larga experiência didática, ele lamentou a falta de atribuições. “Como bispo auxiliar, nos primeiros anos ainda consegui manter as minhas atividades. Depois a minha vida ficou muito parada, muito limitada. Não recebi tarefas nem missões específicas, limitando-me a pregar retiros ao clero e dar aulas no Seminário de Olinda”.Dom João reconheceu a crise vivida pela arquidiocese e, já naquela época, avaliou que seria complicado enfrentar as dificuldades. “Para superar essa conflitividade seria necessário uma personalidade genial e profundamente carismática. Não é o nosso caso”, observou. Ele revelou que os desacertos da Igreja Católica em Pernambuco tinham chegado a Roma e eram motivo de preocupação do então papa João Paulo II. “A divisão do nosso clero é um problema que preocupa muito a Santa Sé. No fim do ano, fui chamado à Roma por causa dessa divisão. O cardeal Gantin (na época, prefeito da Congregação dos Bispos) me disse que o papa chora a cada vez que se fala na situação do clero na Arquidiocese de Olinda e Recife”.

Contemporâneo de dom João (os dois chegaram ao Recife no mesmo dia), o bispo auxiliar Hilário Mooser ficou ainda menos tempo na função. Foi embora em maio de 1992, em meio a especulações de que pedira sua transferência para se afastar da crise aqui instalada. “Era um homem muito bom, como salesiano era um educador e teria se dado muito bem com o clero. Mas foi logo escanteado, sob a acusação de que não estaria a favor do bispo”, relembra um padre, em reserva. De temperamento conciliador, dom Fernando Saburido também conquistou a confiança do clero e dos leigos da área progressista da Igreja. “É verdade que ele precisaria ter um pouco mais de diálogo. Porque os conflitos prejudicaram o lado pastoral, a igreja missionária. Mas eu sinto que dom José é um homem que tem muito amor pela Igreja. Sua formação é romanizada. Muito do que ele faz, faz convicto de que está certo”.

Comentando o adeus do Arcebispo – 02

2 –  Forjado na disciplina e obediência  &  Eminência parda do poder

Os dois artigos seguintes do Especial do Jornal do Commercio servem como duas espécies de “biografias” – uma de Dom José Cardoso e outra de sua irmã, Dona Judite Cardoso. Seria de se esperar que encontrássemos em destaque coisas que costumam aparecer em biografias, como a data de nascimento do “biografado”, o nome dos pais, quantos irmãos teve, onde estudou, onde foi formado, etc. Contudo, todas essas coisas ocupam um segundo plano nos dois textos, que têm – como objetivo principal – formar uma imagem negativa do Arcebispo.

Isto é evidente. A começar pelo título: “Forjado na disciplina e obediência”, passando pelo primeiro parágrafo, onde é dito que Dom José pertence ao grupo das pessoas que quebram (e não das que vergam – a expressão denota “intransigência”), que é radical, que tem dificuldade para ceder, que é chamado de reacionário, que é (à semelhança do pai) fechado e de poucos amigos… tudo isso para pintar, aos olhos do leitor, uma figura pela qual se pode ter qualquer sentimento – menos o de simpatia.

A imagem é ainda endossada por um “esquecimento” eloqüente: não é citada a data de nascimento de Dom José! Alguém poderia dizer: “ah, todo mundo sabe que foi na segunda-feira, logo, dia 30 de junho; e, então, é só subtrair 75 – a idade do Arcebispo – para se chegar à data exata: 30 de junho de 1933”. Ainda concedendo que assim fosse, e quanto à data de nascimento de Dona Judite, que também não aparece no segundo artigo?! Como é que um artigo escrito para apresentar a figura de uma pessoa sobre a qual é dedicado um caderno inteiro, não obstante seja capaz de pintá-la com uma gama de adjetivos depreciativos, “não se lembra” de apontar-lhe o dia do aniversário? Por que o autor do texto não cita os dados objetivos que poderiam e deveriam constar na apresentação da vida de um homem, e quase que se limita a fazer juízos morais sobre a personalidade dele?

Não é só a data de nascimento de Dom José que falta. Faltam todas as datas: de nascimento, de primeira eucaristia, de profissão de votos, de ordenação presbiteral, de ordenação episcopal… Falta o nome de todas as pessoas (à exceção dos familiares e de um membro do Movimento Pró-Criança), como a catequista dele em Caruaru, ou o frade carmelita que o chamou ao sacerdócio… Falta a formação acadêmica [limitando-se o artigo a dizer que ele virou doutor em Direito Canônico…], falta a vida religiosa. Enfim: falta virtualmente tudo!

O mesmo vale para o texto que apresenta dona Judite: ela não tem data de nascimento, não tem formação [foi freira durante 30 anos – e só], não tem história, não tem nada. Há fofocas [nos bastidores, comenta-se…] e juízos sobre a personalidade, à semelhança do irmão [uma pessoa de temperamento difícil e muito fechada] – e só. As únicas coisas que se salvam são as palavras de Dona Judite, entre as quais merecem destaque: “[o] arcebispo é muito fiel à Igreja e cumpre rigorosamente as regras de Roma. Isso é ser um bom cristão” – bravo! Sem dúvidas, a irmã do Arcebispo está corretíssima; no entanto, depois do cartão de visita que o jornal apresenta como sendo dela e do seu irmão, de que servem as palavras publicadas de Dona Judite – após ter-se escrito, aliás, que ela disse que não dava entrevistas ao JC – a não ser de ironia, de deboche, de chacota [Judite também puxou à personalidade do pai]?!

Os textos, portanto, não são informativos: têm, ao contrário, o objetivo – repetimos – de formar uma imagem negativa de Dom José Cardoso nos leitores. Afinal, ainda no texto que apresenta o Arcebispo, lemos que Dom José passou 25 anos respirando a burocracia da Cúria Romana, que fez do Direito Canônico uma espécie de Bíblia, que é um homem com pouco jogo de cintura, que tem um temperamento fechado… no final, com uma apresentação dessas, pode por acaso ser chamado de “imparcial” e “responsável” o jornal que a publique? Não, não é. O caderno foi escrito para denegrir a imagem do Arcebispo; é patente. E o Jornal do Commercio revela-se (mais uma vez) um meio de comunicação irresponsável e não comprometido com a verdade.

Para quem quiser encontrar a formação de Dom José, existe este site; para lerem uma biografia (muito) melhor, há esta página em um site de Paracatu, primeira cidade onde Dom José assumiu o bispado. No mais, resta dizer que a tendência encontrada no “pórtico” do caderno especial do Jornal do Commercio vai ser desenvolvida ao longo das páginas subseqüentes de “O adeus do arcebispo” – e elas serão, depois, comentadas aqui.

* * *

Anexo 1 – .O adeus do arcebispo

Forjado na disciplina e obediência
Publicado em 04.07.2008

Nascido em Caruaru, em uma família dedicada ao catolicismo, dom José saiu de casa aos 12 anos para viver sob as leis da Igreja

[H]á pessoas que vergam. E outras que quebram. Dom José Cardoso Sobrinho, o arcebispo de Olinda e Recife, pertence ao segundo grupo. Radical, tem dificuldade de ceder, sobretudo quando o que está em jogo é a devoção à Igreja Católica e à figura do papa. Os que estão próximos descrevem o religioso como um homem ortodoxo. Os que o condenam o chamam de reacionário. A história de vida de dom José mostra que ele foi, desde cedo, uma pessoa forjada na obediência e na disciplina. Um garoto que aos 12 anos saiu de casa para viver sob as leis da Igreja. E fez, na vida episcopal, o que a formação fez dele.Filho de um artesão e de uma costureira, dom José puxou mais ao pai do que à mãe. Antônio Cardoso da Silva, famoso pela habilidade em construir selas e arreios para cavalos, era fechado e de poucos amigos. A personalidade mais dócil e meiga da mãe Antonina de Melo foi herdada pelo outro religioso da família: dom Paulo Cardoso, o irmão mais novo de José e arcebispo de Petrolina. Aos dois filhos homens se somam Judite, a mais velha, Margarida, Dorotéia e Maria de Lourdes, todos nascidos em Caruaru, no Agreste do Estado, e criados dentro dos mandamentos da fé católica.A decisão de seguir a vida religiosa surgiu nas aulas de catolicismo, pelas mãos de uma freira por quem dom José faz questão de demonstrar gratidão. Com quase 99 anos e ainda morando em Caruaru, foi ela quem fez a pergunta que mudaria sua vida. “Ela me disse: ‘Você quer ser padre?’ – Eu respondi: ‘Não sei’”, relembra o arcebispo. Reação natural para quem tinha apenas 10 anos. Foi a passagem de um frade carmelita que definiu a história. Ele pediu permissão ao pai para que o garoto virasse seminarista e, em três meses, o menino já estava no Convento do Carmo, em Goiana.

De lá, passou pelo Recife e seguiu para São Paulo, onde os carmelitas têm um instituto de filosofia. Quando estava terminando o curso, veio a notícia de que seria mandado para Roma. Foram 25 anos, respirando a burocracia da Cúria Romana. Virou doutor em direito canônico e fez do código uma espécie de Bíblia. Durante todo o arcebispado em Olinda e no Recife, a fidelidade aos cânones que traduzem as leis do Vaticano seria a principal justificativa para a maioria de seus atos polêmicos. A formação rígida o fez também um homem com pouco jogo de cintura. “Ele é uma pessoa de diálogo, dentro da ortodoxia dele”, diz Sebastião Barreto Campelo, responsável pelo Movimento Pró-Criança, uma das raras obras sociais deixadas por dom José. Ele reconhece que o temperamento fechado do arcebispo lhe trouxe dificuldades, mas justifica a postura radical pela fidelidade aos seus princípios.

O primeiro desafio de dom José como bispo veio em 1979, quando foi mandado de volta ao Brasil para assumir uma pequena diocese, no interior de Minas Gerais. Em Paracatu, encontrou o ambiente disciplinado a que estava acostumado: eram apenas 12 missionários carmelitas. A tranqüilidade foi interrompida no início de 1985, quando ficou sabendo que seria o novo arcebispo de Olinda e Recife, notícia que ele classificou como uma “bomba”.

Dom José resistiu o quanto pôde. Foi para Roma determinado a dizer não. Mas, num café da manhã com o papa João Paulo II, ouviu do pontífice palavras que, segundo ele, deixaram-no sem escolha. “Você está com medo de ir para o Recife porque você é pequeno? Dom Hélder também é pequeno. Não tenha medo, não”, provocou o papa. Depois disse: “O pastor é o modelo do rebanho. Até hoje, o modelo do rebanho se chamava Hélder Câmara. De hoje em diante, é José Cardoso”. Obediente como sempre foi, fez as malas e saiu de uma diocese rural, com dez paróquias, para uma arquidiocese com 80 e símbolo de uma Igreja engajada. O tempo provaria que a semelhança com dom Hélder na baixa estatura (dom José mede menos de 1,60 metro) seria irrelevante. Nas profundas divergências é que residiria o maior problema.

Anexo 2 – .O adeus do arcebispo

Eminência parda do poder
Publicado em 04.07.2008

Não adianta procurar. O nome dela não aparece nos jornais, poucos a conhecem pessoalmente, mas ela foi e é uma das figuras mais influentes do atual arcebispado. Judite, a irmã um ano mais velha de dom José Cardoso Sobrinho, é apontada como a eminência parda da Arquidiocese de Olinda e Recife. É uma das raras pessoas que o arcebispo ouve incondicionalmente. Nos bastidores, comenta-se que ela teve participação direta em um dos episódios marcantes da administração do frade carmelita: a convocação da polícia para afastar camponeses do Palácio dos Manguinhos, em agosto de 1990. Teria sido dela a idéia de cercar a residência oficial e impedir que a procissão pacífica cruzasse os portões de ferro do palácio.Judite foi freira durante 30 anos da Congregação Beneditina de Caruaru. Deixou o convento e virou fiel escudeira de dom José. Assim como o irmão, é descrita como uma pessoa de temperamento difícil e muito fechada. A ex-freira mora com o arcebispo no Palácio dos Manguinhos e é responsável pela administração financeira da casa. Seus poderes, no entanto, extrapolam o ambiente doméstico. Ela exerce grande influência sobre o Seminário de Olinda, aberto por dom José depois que o Seminário Nordeste II (Serene) foi fechado.A reportagem tentou conversar com Judite. Ela disse que não dava entrevistas ao JC. “Esse jornal tem publicado mentiras sobre dom José. É uma questão de ser irmã do meu irmão.” A ex-freira afirmou que há pelo menos dez anos acompanha de perto o irmão e que ele está “coberto de razão” em todas as polêmicas que protagonizou. “O arcebispo é muito fiel à Igreja e cumpre rigorosamente as regras de Roma. Isso é ser um bom cristão”, justificou. Ela fez questão de pontuar que dom José não veio para ser o substituto de dom Hélder Câmara, mas o sucessor. “O que predomina nesse governo é a fidelidade ao santo papa. Isso é o mais importante.”

Na última segunda-feira, durante a celebração dos 75 anos do arcebispo de Olinda e Recife, realizada na Cúria Metropolitana, ela acompanhou a missa na primeira fila. Estava ao lado das irmãs Margarida e Dorotéia. Mas, diferentemente das duas, novamente não quis muita conversa com a imprensa. Questionada como via esse momento de celebração na vida do irmão, respondeu apenas: “Vejo os 75 anos com a graça de Deus e mais nada”.

Diante do pedido para que comentasse o legado deixado pelo arcebispo, Judite declarou: “Não faço nenhuma avaliação porque só quem faz avaliação é Deus. Mas ele sempre cumpriu o dever dele com fidelidade à Igreja, ao papa, a Jesus Cristo.” Também não quis se pronunciar sobre os questionamentos feitos durante o arcebispado do irmão. “De crítica eu não quero falar. A crítica é muito boa quando ela é construtiva. Mas não é isso o que fazem por aí.” Judite também puxou à personalidade do pai.

Comentando o adeus do Arcebispo – 01

Comentei aqui no BLOG sobre o especial do Jornal do Commercio do dia 04 de julho, que consistiu em um caderno de oito páginas voltadas para atacar Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Olinda e Recife. O assunto foi comentado também no blog do Marcio Antonio, jornalista de Curitiba e meu amigo. Neste post e em subseqüentes, tecerei comentários sobre os artigos que constam no especial “O adeus do arcebispo”, seguindo o índice aqui disponível e que reproduzi no BLOG na sexta-feira última. Os artigos comentados ficarão sempre em anexo, no fim do post. Comecemos.

1 – O fim da era da discórdia?

Sob este título está a introdução do caderno especial do JC. Já no título fica patente o “julgamento” que o jornal faz do arcebispado de Dom José: uma “era da discórdia”. Mesmo que os responsáveis pelo caderno tenham conhecimento zero ou próximo de zero sobre a Doutrina Católica, sentem-se no direito de proferir sentenças sobre casos que não competem a eles e sobre os quais eles não foram consultados: assim funciona a mídia recifense. O primeiro pressuposto do caderno especial – gratuito e colocado como se fosse um axioma – é o de que Olinda e Recife vivem uma “era da discórdia”.

[O] papa João XXIII ensinou que era preciso “abrir as janelas do Vaticano para que os ventos da história soprassem a poeira que entulha o trono de Pedro”

Eu já tinha lido que João XXIII tinha falado em “abrir as janelas da Igreja”, mas o objetivo seria deixar “entrar n’Ela um ar fresco do mundo exterior” (segundo a citação de segunda mão deste site), e não soprar a poeira que entulha o trono de Pedro. A citação do JC, embora esteja com as aspas no original, não indica a fonte deste “ensinamento”.

O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, trilhou o caminho contrário.
[…]
Sob a complacência de Roma, desmontou tudo o que havia sido erguido no espírito da Teologia da Libertação e do Concílio Vaticano II

Aqui, o autor do texto parece um “católico” modernista. Dizendo que Dom José trilhou o caminho contrário ao que havia ensinado João XXIII, e dizendo que isto foi feito sob a complacência de Roma, o que está dito é que Roma caminha “ao contrário” do que ensinou o Bem-Aventurado João XXIII.

E, não, eu não aceito que as coisas santas sejam colocadas em pé de igualdade com o lixo! A “Teologia da Libertação” é uma heresia e o Concílio Vaticano II é uma legítima expressão do Magistério da Igreja! “Heresia” e “Magistério” estão tão separados entre si como trevas e Luz; a Teologia da Libertação está tão distante do Vaticano II quanto o erro está distante da Verdade. Ao ler que esta “teologia” está relacionada com o espírito […] do Vaticano II, impossível não pensar que o modernismo está fazendo escola até nas redações dos jornais recifenses.

Por que o articulista não foi procurar o que a Igreja diz sobre a Teologia da Libertação e sobre o Vaticano II? Porque ele impõe de novo, mais uma vez como se fosse um axioma, que andam ambos de mãos dadas, quando o contrário disto é que é verdade? Será que ele ignora os incontáveis pronunciamentos de Roma contra a Teologia da Libertação e a favor do Vaticano II? Ou é mais provável que ele só queira desinformar?

Na última segunda-feira, dom José completou 75 anos e foi obrigado a pedir a renúncia do cargo, gesto há muito aguardado por uns e lamentado por outros.

A construção da frase induz a duas coisas: a provocar compaixão pelos que “aguardavam” há muito a renúncia, e a acreditar que há um “racha” na Arquidiocese entre os que estão contra o Arcebispo e os que estão a favor dele. Esta idéia – já presente em gérmen no título da introdução do caderno – vai ser explorada ad nauseam pelo jornal. Para o leitor que não conheça os fatos, aliás, ficará a clara impressão de que só estão do lado do Arcebispo três ou quatro reacionários malignos; e as coisas são bem diferentes disso, conforme será visto adiante.

Em todos esses anos, parte das ovelhas já se sentia sem pastor.

Que “parte das ovelhas” é esta? O jornal não o diz claramente. Induz-se, pelas páginas subseqüentes do especial, que são:

  1. a prefeita comunista de Olinda;
  2. frei Betto;
  3. Ivone Gebara, “teóloga feminista” e (no mínimo) simpatizante das Católicas pelo Direito de Matar;
  4. padre Reginaldo Veloso e outros padres afastados;
  5. o “teólogo” Inácio Strieder e o pessoal do “Igreja Nova”;
  6. afins.

Esta “trupe” está sem pastor há muito tempo, porque não é católica. O problema deles não é com dom José – e sim com o Papa e com a Igreja. Não são ovelhas, e sim lobos.

Dom José sairá deixando o legado de uma Igreja distante dos temas sociais e silenciada pelo medo.

Mais uma dupla agressão velada ao arcebispo: ele é “alienado” e “autoritário”. Mais uma vez, de maneira completamente gratuita. De novo, a parcialidade do especial tendencioso fica evidente.

Nas próximas páginas deste caderno especial (…)

Em próximas entradas deste BLOG, serão comentadas as páginas do caderno especial do Jornal do Commercio de 04 de julho.

Dom José já avisou que ficará longe do Recife. Vai se refugiar num convento carmelita, onde aguardará o julgamento da história e do rebanho que ele deixa dividido.

O Julgamento que dom José aguardará não é o “da história”, e sim o do Justo Juiz; e quanto ao rebanho, a “divisão” que existe é aquela que foi citada acima: entre católicos e hereges, entre ovelhas e lobos.

* * *

Anexo – .O adeus do arcebispo

O fim da Era da Discórdia?
Publicado em 04.07.2008

[O] papa João XXIII ensinou que era preciso “abrir as janelas do Vaticano para que os ventos da história soprassem a poeira que entulha o trono de Pedro”. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, trilhou o caminho contrário. Em seus 23 anos à frente da arquidiocese, fechou portas, expulsou padres, criou arestas e voltou os olhos da Igreja para si mesma. Tinha uma missão nas mãos e a cumpriu com obediência cega e o peso da autoridade. Sob a complacência de Roma, desmontou tudo o que havia sido erguido no espírito da Teologia da Libertação e do Concílio Vaticano II – herança semeada pelo antecessor, dom Hélder Câmara. Na última segunda-feira, dom José completou 75 anos e foi obrigado a pedir a renúncia do cargo, gesto há muito aguardado por uns e lamentado por outros. Em todos esses anos, parte das ovelhas já se sentia sem pastor. Se o pedido for aceito pelo papa Bento XVI, será o fim de um ciclo marcado pelo confronto e por um arcebispado que preferiu o rito dos altares à prática pastoral. Dom José sairá deixando o legado de uma Igreja distante dos temas sociais e silenciada pelo medo. Nas próximas páginas deste caderno especial, o Jornal do Commercio faz uma análise sobre os polêmicos anos de seu arcebispado, revela documentos confidenciais da Igreja e investiga o nome do provável sucessor. Dom José já avisou que ficará longe do Recife. Vai se refugiar num convento carmelita, onde aguardará o julgamento da história e do rebanho que ele deixa dividido.

Os ataques não param

Para minha profunda indignação, descobri que a edição de hoje do Jornal do Commercio – jornal de grande circulação aqui em Recife – trouxe um caderno especial, de oito páginas, com uma cobertura sobre a renúncia do nosso Arcebispo, Dom José Cardoso.

O título? “O Adeus do Arcebispo” (para assinantes do jornal ou UOL). O índice, por si só, revela a que veio o caderno:

  • O fim da Era da Discórdia?
  • Forjado na disciplina e obediência
    • – Eminência parda do poder
  • O desabafo secreto
    • – Sem auxiliares por perto
  • O desmonte sob a bênção da Santa Sé
    • – Punição a padres semeou medo
    • – O dia em que a prefeita não pôde comungar
    • – “Colocá-lo após dom Hélder foi uma grande burrice”
  • A caixa-preta da Pastoral Imobiliária
  • Pensar no que se crê…
  • Ações voltadas só para a Igreja
  • Um difícil arcebispado
  • E agora, dom José?
    • – À espera da entrevista que não houve

Haja paciência para suportar tamanha cretinice. Não tenho tempo para entrar em mais detalhes agora; mas volto a tratar sobre o assunto em breve.

Levantai-vos, ó Deus, defendei a vossa causa. Lembrai-vos das blasfêmias que continuamente vos dirige o insensato. (Sl 73,22)