Para os que ainda temem (ou, pior, comemoram…) que o Papa Francisco seja simpático à Teologia da Libertação, vale a pena ler as palavras de Sua Santidade na Missa celebrada ontem (14 de maio) na Casa Santa Marta. Referindo-se à clássica passagem onde uma mulher despeja um frasco de perfume riquíssimo sobre a cabeça de Nosso Senhor, o Santo Padre condenou a pobreza por ideologia:
“Pensemos naquele momento quando Madalena lava os pés de Jesus com o nardo, tão caro: é um momento religioso, um momento de gratidão, um momento de amor. E ele [Judas] se afasta e critica amargamente: ‘Mas … isso poderia ser usado para os pobres!’. Esta é a primeira referência que eu encontrei no Evangelho da pobreza como ideologia. O ideólogo não sabe o que é o amor, porque não sabe doar-se”.
Ora, esta é uma das passagens mais convenientemente esquecidas pelos TLs de todos os tempos, e o fato do Pontífice lembrá-la (detalhe: não era o Evangelho do dia!) precisamente para fazer uma crítica à pobreza tomada como ideologia só nos deixa com duas opções. Primeira, aceitamos que o Papa Francisco não é simpático à Teologia da Libertação, uma vez que ele critica abertamente a ideologização da pobreza que é a substância mesma da TL; segunda, insistimos que o Papa Francisco é filo-libertário sim, e esta crítica que ele fez foi apenas pro forma, maquiavelicamente concebida para enganar os pobres incautos que acreditam na sua inocência.
Creio ser desnecessário demonstrar que a moral católica nos manda fazer o melhor juízo possível das intenções dos nossos próximos, e que portanto a opção que transforma o Papa num hipócrita mentiroso que diz uma coisa e pensa o seu contrário é gravemente pecaminosa. Igualmente, por mais que sejam elegantes e verdadeiras (úteis até) certas digressões sobre o “pauperismo herético”, atribuí-lo ao Vigário de Cristo ora reinante é no mínimo leviano e inconseqüente. Por fim, conhecer certas nuances do pensamento papal – como esta recente declaração contra a ideologização da pobreza, que serve para contrabalancear aquela outra sobre a “Igreja pobre” (ver aqui e aqui) – é importante para que possamos nos defender (e defender o Santo Padre!) contra a deturpação do pensamento alheio infelizmente tão em voga nos dias que correm.
Não é porque o Papa é latino-americano que ela precisa rezar pela cartilha (pseudo-)teológica dos seus conterrâneos. Na verdade, a despeito das muitas tentativas da mídia de transformar o Vigário de Cristo numa espécie de híbrido entre Che Guevara e a versão falsificada do grande Santo de Assis que os não-católicos modernos idolatram, o fato é que o Papa, sempre que fala, tem mostrado o que não poderia ser diferente: que ele é um católico perfeitamente consciente da Fé Católica. Até se compreende que a nescidade dos não-católicos lhes dificulte o entendimento desta coisa tão simples; mas os que conhecemos as promessas de Deus não temos o direito de inquietar o nosso coração com o burburinho dos inimigos de Cristo. Nosso Senhor disse que Deus poderia suscitar das pedras filhos de Abraão. Até posso conceder que isto é em princípio mais fácil do que suscitar um defensor da Fé dos jesuítas latino-americanos, mas o nosso Deus é o Deus do impossível. E aí está o Papa Francisco que não O deixa mentir.