“Cegueira Plúmbea” – Dom Aloísio Oppermann

[Reproduzindo, só para garantir. Está já há quase quinze dias no site da CNBB, por impressionante que seja. Acho que a censura CNBBêica é burra; lembram-me as histórias sobre as músicas de Chico Buarque que, para burlar a censura militar, trocava “Cale-se” por “Cálice” e ficava tudo muito bem. Para bom entendedor, meia palavra basta: afinal, todo mundo sabia que “amanhã vai ser outro dia” é uma crítica política, e não uma canção de amor. E todo mundo sabe que o artigo de Dom Oppermann é uma dura crítica política, e não um ensaio histórico.

Fonte: CNBB.]

Cegueira Plúmbea

O fascismo chauvinista alemão se estabeleceu, entrando pela porta da frente. Hitler manipulou a alma alemã, com recursos de encantamento irresistível. Seu nome estourou nas urnas. Estava tão certo da vitória que não ocultou nenhum de seus tenebrosos pensamentos. Todos conheciam suas pregações imperialistas, seu gosto pelo uso da força, sua arrogância diante dos judeus, sua presunção de superioridade da raça ariana. Um observador, colocado a certa distância, poderia prever a colisão inexorável que aconteceria entre o bem do povo alemão, e o programa foguetório do regime político, que deveria arrostar todas as conquistas civilizatórias. É a história do passarinho encantado, que fica à disposição da cobra que o engole sem escrúpulos.

Não sou daqueles que consideram a Revolução de 31 de março, como um mal absoluto. As intenções foram boas, tendo recebido o firme apoio da opinião pública. Os nobres ideais foram obumbrados, progressivamente, pelo uso abusivo do cerceamento das liberdades. Com o correr do tempo, as lideranças socialistas, em vez de se converterem, entraram na clandestinidade. Mas posteriormente retornaram, entre aplausos, e ocuparam tranquilamente quase todos os escalões da República cripto-socialista. Certíssimos do sucesso, já se tem como garantida a execução de alguns programas antiqüíssimos: a interrupção violenta da gravidez; o enfraquecimento da vida familiar, pelo apoio a outros tipos de “família”; a redução à obediência de veículos de comunicação através de prêmios e castigos; a insegurança dos direitos constitucionais;  a subserviência do poder judiciário; a impossibilidade de manifestação religiosa em  público; a descaracterização do país de qualquer sinal cristão, depois de termos passado ao povo, durante séculos,  os ensinamentos de Cristo…Será que se avizinha o tempo em que precisamos ocultar que somos católicos? A vitória desse programa “moderno” parece ser tão evidente como o pôr do sol antes da noite escura. O nosso veículo tem freio e tem direção. Enxergamos o perigo que se avizinha? “Eis agora o dia da salvação”  (2 Cor 6, 2 ). Ainda podemos evitar o grande mal.

Dom Aloísio Roque Oppermann

O Papa na Terra Santa 3: o ataque dos judeus e muçulmanos

Alguns judeus e muçulmanos insultam o Papa

12 de maio de 2009 (Catholic League)

Depois do Papa Bento XVI falar no Memorial do Holocausto Yad Vashem, o presidente da Direção [Directorate], Avner Shalev, embora tenha dito que a visita do Papa foi “importante”, lamentou que o Papa não tenha mencionado nem o anti-semitismo, nem os Nazistas. O Rabino Yisrael Meir Lau, presidente do Concílio de Yad Vashem e rabino chefe de Tel Aviv, falou que o discurso do Papa foi “desprovido de qualquer compaixão, qualquer arrependimento [regret]”. O porta-voz do Knesset [parlamento israelense], Reuven Rivlin, acusou o Papa de não pedir “perdão”, frisando que o fato do Papa ter pertencido (à força) à Juventude Hitlerista significa que ele carregava “bagagem”.

Em seguida à visita do Papa ao Yad Vashem, o líder palestino Sheik Taysir Tamimi abriu caminho à força até o púlpito em um evento inter-religioso pedindo ao Papa que lutasse por “uma paz justa para um estado Palestino e para que Israel parasse de matar mulheres e crianças e destruir mesquitas como ele fez em Gaza”; ele pediu [ainda] ao Papa que “pressionasse o governo israelense para cessar as suas agressões contra o povo palestino”.

O presidente da Catholic League, Bill Donohue, respondeu como segue:

“Quando o Papa falou em Yad Vashem, ele disse ter vindo ‘para ficar em silêncio diante deste monumento, erigido em honra da memória dos milhões de judeus assassinados na horrível tragédia da Shoah’. Avner Shalev não ouviu isso? E quanto a estas palavras do Papa? ‘Possam os nomes dessas vítimas nunca perecer! Possam os seus sofrimentos nunca serem negados, diminuídos ou esquecidos!’. O rabino Lau, que nunca perde uma oportunidade de dizer que não é o suficiente, envergonhou suas coortes [cohorts] quando disse que o discurso do Papa foi desprovido de compaixão. Quanto a Rivlin, ele deveria saber que não é o Papa quem precisa se desculpar pelos crimes dos Nazistas – sem dúvidas ele foi vítima deles. Alguma bagagem!

“O Vaticano rapidamente condenou o discurso cheio de ódio do Sheik Tamimi, como deveria ser. Onde estão os líderes muçulmanos para o condenarem? Há um tempo e um lugar para todas as coisas – e isso estava errado em ambos. Explorar a jornada do Papa por paz acenando para que ele agrida [bash] os judeus mostra quão fútil é ter um encontro inter-religioso com algumas pessoas. Evidentemente, Tamimi não entendeu o que ‘nunca mais’ realmente significa”.

O Papa na Terra Santa 2: judeus e muçulmanos

Lusa: Bento XVI apela à “reconciliação” entre cristãos e judeus. Folha: Bento 16 diz que religião se “corrompe” se servir à violência e ao abuso. Mais dois discursos do Santo Padre que ganham espaço na mídia: o primeiro no Monte Nebo, o segundo numa mesquita.

“Nas águas do Batismo, nós passamos da escravidão do pecado para a nova vida e a esperança. Na comunhão da Igreja, Corpo de Cristo, nós aguardamos [look forward] a visão da cidade celeste, a Nova Jerusalém, onde Deus será tudo em todos”. Estas palavras foram proferidas no monte onde Moisés contemplou a Terra Prometida; um lugar, portanto, sagrado para os judeus. No coração do Velho Testamento, o Vigário de Cristo fala do Novo Testamento: a verdadeira Terra Prometida é a Igreja de Nosso Senhor, e a verdadeira libertação da escravidão jorra das águas do Batismo. As coisas antigas passaram e cederam lugar para as novas; a Sinagoga deu lugar à Igreja de Cristo.

Os “liames inseparáveis entre a Igreja e o povo judeu” estão radicados precisamente na clara noção da “unidade dos Dois Testamentos”; não é ao povo judeu dos nossos dias, àqueles que renegaram a Nosso Senhor, que a Igreja encontra-se teologicamente unida. A plena “reconciliação entre cristãos e judeus” passa – obviamente – pelo reconhecimento de que Nosso Senhor é o Messias; somente assim haverá verdadeira paz no Oriente Médio, a paz que vem de Nosso Senhor Jesus Cristo e que o mundo não é capaz de dar. Enquanto este dia não chega, o “respeito mútuo” – que, como já disse, não mútua concordância – é condição essencial para que a Igreja possa frutificar: para que os cristãos possam anunciar a sua Fé e para que o Evangelho possa ser pregado também aos judeus.

“A religião é desfigurada quando é forçada ao serviço da ignorância ou do preconceito, do desprezo, da violência e do abuso”, disse o Papa neste sábado na cerimônia de colocação da pedra fundamental da futura Universidade Católica da Universidade de Madaba; mais tarde, diante de uma mesquita, disse o seguinte, quase repetindo as palavras anteriormente proferidas:

Alguns sustentam que a religião falha em sua pretensão de ser, por natureza, uma construtora de unidade e harmonia, uma expressão de comunhão entre as pessoas e com Deus. Sem dúvidas, alguns afirmam que a religião é necessariamente uma causa de divisões no nosso mundo; e então eles argumentam que, quanto menos atenção for dada à religião na esfera pública, melhor. Certamente, a contradição de tensões e divisões entre os seguidores de diferentes tradições religiosas, tristemente, não pode ser negada. Entretanto, não seria também o caso de, freqüentemente, ser a manipulação ideológica da religião, às vezes para fins políticos, o verdadeiro catalisador de tensões e divisões e, às vezes, até de violência na sociedade?

Tal incômoda pergunta, dirigida a líderes muçulmanos na frente de uma mesquita, é por si só bastante eloqüente e bem poderia ser tomada como uma provocação. É bem conhecida a violência do Islam e a violação dos direitos humanos básicos nos países que estão sob o jugo dos infiéis filhos de Maomé; passa-me a impressão de que, divertidamente, o Papa utiliza-se de uma espécie de ad hominem e pergunta retoricamente se a violência do Islam é fruto do Islam em si ou de uma sua ideologização. A primeira resposta é embaraçosa para os muçulmanos moderados e, a segunda, para os radicais; qualquer uma delas é constrangedora para o Islam como um todo.

No meio deste discurso perigoso e deste “campo minado” no qual o Vigário de Cristo precisa mover-se cautelosamente, há uma belíssima defesa da complementaridade entre Fé e Razão no âmbito público (grifos meus):

E, como crentes no Deus único, nós sabemos que a razão humana é ela própria um dom de Deus, que se eleva [soars] para seu mais alto patamar quando preenchida [suffused] com a luz da Verdade Divina. De fato, quando a razão humana humildemente permite a si mesma ser purificada pela Fé, ela está longe de ser enfraquecida; ao contrário, é fortalecida para resistir à presunção e para ultrapassar [to reach beyond] suas próprias limitações. Desta maneira, a razão humana é encorajada [emboldened] a perseguir seu nobre propósito de servir à humanidade, dando expressão às nossas mais profundas aspirações comuns e estendendo, ao invés de manipulando ou confinando, o debate público. Assim, a genuína adesão à religião – longe de estreitar [narrowing] nossas mentes – alarga o horizonte do entendimento humano. Ela protege a sociedade civil dos excessos do ego desenfreado que tende a absolutizar o finito e eclipsar o infinito; ela garante que a liberdade seja exercitada de mãos dadas [hand in hand] com a verdade; e ela adorna a cultura com insights relativos a tudo que é verdadeiro, bom e belo.

Que Deus abençoe o Santo Padre em sua peregrinação!

O Papa na Terra Santa 1: respeito e liberdade religiosa

Começou hoje a Peregrinação do Santo Padre à Terra Santa; o primeiro evento que consta na programação que está no site do Vaticano é a Cerimônia de boas-vindas no Aeroporto Internacional “Queen Alia” de Amã. Não está lá ainda a íntegra do discurso do Papa; o sr. Quintas, no entanto, já se antecipou e nos trouxe alguns trechos do pronunciamento de Bento XVI ao desembarcar.

Respeito aos muçulmanos – “oportunidade de expressar meu profundo respeito pela comunidade muçulmana” – e liberdade de credos – “[a] liberdade religiosa é naturalmente um direito humano fundamental”: eis o que a AFP julgou por bem destacar do discurso de Sua Santidade. Isso, para os católicos, tem um significado muito específico e que nada tem a ver com uma indiferença ou um relativismo doutrinal.

Hoje em dia, as pessoas têm mania de confundir “respeito” com “concordância total e irrestrita”. Uma pessoa que eu “respeito” seria alguém cujas atitudes eu subscrevo, pois “acho” que ela está absolutamente certa em tudo o que faz. O Papa sabe muito bem que a religião islâmica – permito-me aqui expressar-me de modo diferente daquele usado pelo Santo Padre porque as circunstâncias são também distintas – é uma falsa religião e, por conseguinte, é evidente que o Papa não concorda com tudo o que pregam os filhos de Maomé no âmbito teológico, e isso já ficou bastante claro, julgo eu, ao longo do seu pontificado.

Pode haver – e há – respeito entre inimigos, ou ainda respeito pela decisão (que se sabe errada) de outrem. Quando aquele jovem rico da Bíblia afastou-se de Nosso Senhor, Ele não o perseguiu nem o fulminou com um raio dos céus nem nada do tipo; a sua [errada] decisão foi respeitada. Há respeito entre São Francisco de Assis e o sultão a quem ele foi pregar o Evangelho, entre São Leão Magno e Átila a quem o Papa foi para tentar impedir o saque de Roma, entre Santo Tomás de Aquino e Averróis por ele refutado. E há respeito dos católicos para com os muçulmanos, sem que com isso o Islam precise se transmutar numa religião verdadeira. Respeito ao muçulmano concreto – ou, no caso do Papa, à comunidade muçulmana concreta – é diferente de respeito ao islamismo, que por sua vez é ainda diferente de concordância plena e irrestrita para com ele: as coisas não devem ser misturadas.

A liberdade dos credos vai na mesma linha; nos dizeres do Concílio Vaticano II, ela “nada afecta a doutrina católica tradicional acerca do dever moral que os homens e as sociedades têm para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo” (Dignitatis Humanae, 1). Eximindo-me de comentar aqui mais do que já expus à exaustão no debate com o sr. Sandro Pontes, quero apenas salientar que – de novo – nada têm a ver estas palavras com uma suposta capitulação do Cristianismo frente ao Islam, nem com uma mudança [mínima que seja] no Extra Ecclesiam Nulla Salus.

As pessoas, porém, acho que não entendem isso. Li no Fratres in Unum que, diante da então iminente viagem do Santo Padre à Terra Santa, a sra. “Deborah Weissman, presidente do Conselho de Coordenação Inter-religiosa” de Israel, espera que a visita do Papa supere a “ambivalência” de suas posições teológicas porque, afinal, Sua Santidade “ainda não deixou absolutamente claro que os judeus não precisam abraçar a crença de que Jesus foi o Messias para serem redimidos”…! Bom, a doutora pode esperar sentada. E, os judeus, é bom que se convertam, o quanto antes. A visita do Doce Cristo na Terra bem que pode ser uma excelente oportunidade para isso. Oremus et pro Iudaeis.

Viagem à Terra Santa: oportunidade de resgatar a verdade histórica

O Santo Padre estará, dentro de quinze dias, em uma peregrinação à Terra Santa. Sairá da Itália na sexta-feira 08 de maio e retornará a ela na sexta-feira seguinte, 15 de maio. Está programada uma “Visita ao Memorial de Yad Vashem em Jerusalém”, às 17:45 da segunda feira 11 de maio, onde o Papa fará um discurso; no entanto, há comentários de que o Papa não visitará o Museu do Holocausto, que fica no memorial, e que contém uma foto de Pio XII com um texto que lança dúvidas sobre a atuação do falecido Pontífice durante a Segunda Guerra Mundial.

Sinceramente, os “irmãos mais velhos” não ajudam. Parece que compraram a lenda negra fabricada contra Pio XII muito tempo depois de sua morte; por que motivo existe, num museu, ao que parece com a conivência passiva da comunidade judaica, uma sala [ou um quadro ou sei lá o quê] que denigre a imagem do homem que salvou no mundo mais judeus do que qualquer outro na história?

Não são todos os judeus, é questão de justiça frisar. A International Raoul Wallenberg Foundation [que não é uma fundação judaica, ao que me conste] está tentando “obter testemunhos de judeus salvos por católicos durante o Holocausto”. Tal campanha é “uma forma de celebrar a presença do Sumo Pontífice na Terra Santa e o abraço fraternal entre católicos e judeus que a mesma simboliza”. Não sei a quantas anda este trabalho, mas sei que o site da IRWF tem abundante material sobre o assunto. Por exemplo: Catholic saved Thousands during HolocaustCatholic diplomat who saved 30.000 refugees was remembered. Dois nomes: Father Marie Benoit [padre capuchinho] e Aristides de Sousa Mendes [diplomata português]; dezenas de milhares de judeus salvos durante a Guerra. Por que essas coisas nunca são lembradas?

Vale também a pena ler o artigo do prof. Valter de Oliveira, chamado Nazismo: Pio XII e os católicos foram omissos?, disponível no seu blog. “A Igreja teve, tem e terá filhos infiéis. Mas, por outro lado, a História aí está para atestar tudo o que, através de seus filhos, fez e faz pelo bem da humanidade”. Se a Igreja possui filhos infiéis, possui também santos em profusão, porque Ela própria é Santa e Santificante. Só uma análise seletiva da história, dando ênfase naquilo que convém e varrendo para debaixo do tapete o que não se coaduna com o próprio preconceito, é capaz de não se deixar convencer por esta verdade. Todo o edifício da difamação histórica anti-católica está assentado sobre esta metodologia de “mostrar o que confirma a minha tese e descartar tudo o que a contraria”. É eficaz, mas não é honesto, e a mentira não pode durar para sempre: há aqueles que não se deixam seduzir por análises irresponsáveis e eivadas de preconceito.

Vai o Papa a Terra Santa – que ele faça uma boa viagem! Que a presença do Vigário de Cristo na terra onde viveu e morreu o Salvador possa trazer abundantes graças para toda a humanidade e, em particular, para os judeus: que o véu que lhes cobre o coração (cf. II Cor 3, 15) possa ser retirado e sua inteligência obscurecida (cf. id. ibid., v. 14) possa ser iluminada pelas luzes do Espírito Santo. E que o trabalho feito por aqueles que estão verdadeiramente compromissados com a verdade histórica possa frutificar e sobrepujar o preconceito anti-clerical que existe em abundância nos nossos dias.

Mais curtas diversos

Mais coisas para comentar do que eu tenho tempo para fazê-lo…

– Apenas para fins de registro, o Frei Betto – para variar – escreveu mais uma vez contra a Igreja. Vejam que palavras dignas de um religioso: “Comparo a atitude do arcebispo de Olinda e Recife com a de Jesus diante da mulher adúltera… Que diferença! Jesus foi capaz de compreender, perdoar, acolher. Os médicos agiram corretamente, para salvar a vida da menina e evitar o risco de três mortes”. A ubiqüidade na repetição da besteira faz-nos pensar que é orquestrado; os ataques que chegam de todos os lados – de todos os inimigos da Igreja – evidenciam que estamos do lado certo do campo de batalha. Não podemos desanimar!

– É um pouco antiga – novembro de 2008 – mas um amigo trouxe à baila, numa lista de emails da qual participo, esta matéria sobre Oxum na Santa Missa. Aproveito para trazer aqui porque é um excelente exemplo daquilo sobre o que eu falava ontem, sobre a colocação de lixo no lugar das coisas sagradas: esta obsessão em profanar tudo o que é católico parece uma sanha satânica. Mente – sim, mente descaradamente – o padre Toninho quando diz que “as missas inculturadas e, especialmente, a missa afro, são expressões legítimas de elementos das culturas africanas na celebração da Eucaristia”. Aqui tem fotos de uma missa afro. Aqui e aqui tem vídeos de missas afro. E qualquer pessoa que tenha um mínimo de senso católico percebe que há alguma coisa errada aí; percebe que essas coisas são no mínimo inadmissíveis e, no máximo, blasfemas e sacrílegas.

– Um movimento gay de Pernambuco – os “Leões do Norte” – avisaram que iriam malhar um boneco de Dom José Cardoso nas ruas do centro da cidade na sexta-feira. Fizeram-no, e a matéria com algumas fotos foi publicada no blog do Jamildo. O presidente da ONG afirmou que “Dom José representa perigo para a sociedade. Foi imprudente porque colocou a vida de uma menina de 9 anos em risco. Para ele, o estupro não tem importância”. Interessante, né? Dona Terezinha percebeu

Alguns judeus são contra acordos diplomáticos com a Santa Sé. “A seis semanas da visita do Papa Bento XVI à Terra Santa, religiosos judeus fundamentalistas fazem pressão para que o governo israelense não faça concessões diplomáticas à Santa Sé sobre a questão dos impostos sobre os bens da Igreja”. Ah, esses nossos irmãos mais velhos…

– Também é um pouco antiga [25 de março], mas eu só vi agora. Depois das audiências públicas sobre células-tronco embrionárias e anencéfalos, parece que a moda pegou: a CSSF vai realizar uma audiência pública sobre a eutanásia. No entanto, desta vez quem a propôs foi o deputado Dr. Talmir (PV-SP), autor de um projeto de lei que torna a eutanásia crime hediondo. A data da audiência ainda não foi marcada.

Dom Dadeus e os Judeus

Fiquei sabendo que o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings, em entrevista à PRESS (trechos aqui), uma revista gaúcha, teria dito que “morreram mais católicos do que judeus no holocausto”. Em resposta às declarações de Sua Excelência, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul publicou uma nota oficial (também reproduzida no site da revista Press) em resposta às declarações do Arcebispo.

Comentando rapidamente: a despeito de não ter lido a entrevista na íntegra (por ela não estar disponível no site), o que se sabe do que foi publicado é que o Arcebispo de Porto Alegre nem sequer questionou o número de seis milhões de judeus mortos durante o regime nazista; ele apenas afirmou que foram assassinadas outras pessoas que não judeus. O que a Federação Israelita do Rio Grande do Sul quer dizer, então, com “o religioso se refere ao Holocausto de forma distorcida”? Qual foi, exatamente, a distorção nas palavras de Dom Dadeus?

Os judeus acaso querem negar que foram assassinadas pelo regime de Hitler outras pessoas que não judeus? Católicos, ciganos [para ficar só nos citados pelo Arcebispo de Porto Alegre], esses não morreram nas garras do nazismo? Ou não se pode falar neles? A coisa adquire aqui uma mentalidade doentia: parece que os judeus querem, a todo custo, ter o topo do pódio na categoria “vítimas da Segunda Guerra”.

“Reduzir ou relativizar o Holocausto agride a memória de milhões de mortos numa guerra iniciada pelo fanatismo e pela intolerância”, diz ainda a Federação Israelita. Não subscrevo integralmente, pelos motivos que já expus aqui à exaustão quando do “caso Williamson”, mas não é isso que interessa aqui. O ponto é: onde Dom Dadeus “reduziu” ou “relativizou” o Holocausto? Ou será que a mera afirmação da existência de outras vítimas do regime nazista fora os judeus é já “reduzir” e “relativizar” o Holocausto?

A própria nota da Federação, aliás, reconhece que “[m]orreram menos judeus na II Guerra”. Se ela não discorda de Dom Dadeus, qual é o motivo da “surpresa” expressa no início da nota e da condenação às declarações de Sua Excelência? Onde estão os “estereótipos criados pelos nazistas” reproduzidos – segundo a Federação Israelita – pelo Arcebispo de Porto Alegre? Porque os judeus podem caluniar assim um sucessor dos Apóstolos, lançando-lhe publicamente a pecha infamante de “anti-semita”, sem que ninguém pareça se preocupar?

Está fora de qualquer discussão – nunca é demais repetir – que qualquer violência injusta contra um povo, mais ainda por motivos raciais, é profundamente condenável e absolutamente inadmissível. É evidente que nos solidarizamos com as vítimas da Segunda Guerra, cujos horrores obviamente não queremos que se repitam. Por esse motivo concordo, in totum com a nota da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, quando ela diz que é preciso “respeitar sempre a memória, com seriedade, fraternidade e honestidade”. Infelizmente, porém, parece que os judeus amiúde supervalorizam e distorcem a fraternidade, em detrimento da seriedade e da honestidade, através de uma postura intransigente de simplesmente bater o pé e rasgar as vestes quando se faz qualquer referência ao Holocausto que não seja para fazer o papel de carpideira dos judeus. Isso, sim, é de se lastimar.

P.S.: sugestão de leitura: Judeus tradicionalistas afirmam: A religião do Holocausto é uma criação fraudulenta sionista.

“Jesus em defesa dos pobres”

[Publico artigo do pe. Nilo, da série “como esvaziar o Evangelho da sua substância espiritual”, publicado no Semanário Litúrgico Catequético O Domingo, Ano LXXVII, Remessa IV, 15-3-2009, nº 13. Entre colchetes, os comentários são meus.]

JESUS EM DEFESA DOS POBRES

O Jesus do evangelho [sim, com minúsculas mesmo] de hoje não tem muito que ver com a imagem que muitas vezes fazemos dele: mansinho e bonzinho [de fato, o Jesus “ursinho carinhoso” no qual muitas pessoas acreditam é realmente um erro; no entanto, praticamente cessam aqui os pontos positivos que podem ser encontrados neste exemplar do Semanário Catequético da Paulus…]. Neste evangelho, demonstra inconformismo e reage contra todo tipo de exploração [!!!] – sobretudo aquela praticada pelos vendedores de pombas em prejuízo dos pobres [meu Deus!! De acordo com o pe. Nilo, então, o que provocou a justa indignação de Nosso Senhor não foi a desvirtuação do Templo Sagrado (transformado em local de comércio, ao invés de local de oração), e sim a exploração dos pobres!]. Com efeito, estes, por não terem condições de comprar um boi ou uma ovelha, deviam comprar um par de pombas ou rolinhas para com elas satisfazer sua oferta [e qual o problema com isso, se é a própria Lei de Deus a prescrever a possibilidade do oferecimento de duas rolinhas caso não se possa obter “uma ovelha ou uma cabra” (cf. Lv 5)? Por que o pe. Nilo abomina a existência mesma daquilo que as Escrituras Sagradas prescrevem?] – assim como aconteceu com a família de Jesus quando ele [de novo, com minúsculas] foi apresentado no templo (Lc 2, 24) [sim, em perfeita observância à Lei Judaica – veja-se o capítulo 12 de Levítico; de novo, qual o problema com a apresentação dos dois pombinhos? Qual o problema com os pobres? A ira do pe. Nilo deveria ser dirigida não contra os vendedores de pombas (que também aos pobres possibilitavam o cumprimento da Lei), mas contra as próprias Escrituras Sagradas que prescreviam o sacrifício de quem não tinha posses…].

Deus não suporta ver seu povo sendo explorado [note-se que, para o pe. Nilo, no caso em pauta, não é mais “o zelo da tua casa me consome” (cf. Jo 2, 17), e sim a “exploração” do povo – aliás, exploração cuja existência o texto do Evangelho nem de longe insinua – o que motiva a ira de Nosso Senhor!]. No segundo livro da Bíblia, lemos: “Deus disse: ‘Eu vi a miséria do meu povo [a Vulgata diz “adflictionem populi mei”…] que está no Egito. Ouvi seu grito por causa dos seus opressores. Por isso, desci a fim de libertá-lo das mãos dos egípcios e para fazê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel” (Ex 3, 7-8). Deus vê a miséria do povo, ouve seu grito de dor e desce para libertá-lo [fazer acreditar que o problema dos judeus no Egito era a “miséria” e a pobreza é uma empulhação exegética grosseira – no deserto, após saírem da escravidão, houve judeus que reclamaram com saudades do Egito, dizendo que se lembravam “dos peixes que comíamos de graça no Egito, os pepinos, os melões, os alhos bravos, as cebolas e os alhos” (Nm 11, 5)!].

A exemplo do Pai e como seu [mais uma vez, as minúsculas são da lavra do reverendíssimo sacerdote…] fiel seguidor, Jesus não se cala diante da exploração do seu povo [ah! E eu que sempre achei que Ele não tivesse se calado diante da desvirtuação do sentido do Templo!] e reage indignado contra os que querem levar vantagem sobre o pobre [e eu que sempre achei que Nosso Senhor havia reagido – como diz o Evangelho – contra os que faziam “da casa de meu Pai uma casa de negociante”…]. A Igreja, fiel a Jesus e a exemplo dele, não pode ficar indiferente ao sofrimento do povo [acho que o pe. Nilo quer empurrar a sua exegese TL por força da repetição – Jesus não Se indignou, no caso em pauta, por causa do “sofrimento do povo”, e sim porque o Templo Sagrado estava sendo transformado em uma “casa de negociante”, como diz o Evangelho!]. E é por isso que, na América Latina [epa! Não foi a Igreja, Universal, e sim a Igreja “na América Latina”! Conclusão imediata: já que a Igreja “na América Latina” fez isso para ser “fiel a Jesus e a exemplo dele”, segue-se que a Igreja Universal não é fiel a Nosso Senhor!], fez a opção pelos pobres. Isso significa não aceitar que sejam explorados [mentira: isso significa fomentar a luta de classes e pregar o marxismo] e desejar que melhorem de vida em todos os sentidos [à exceção do espiritual, já que a religião é o ópio do povo…].

O Documento de Aparecida foi feliz ao retomar Medellín e Puebla e reafirmar a opção em favor dos pobres [aqui, pronto: foi-se embora de vez o comentário sobre o Evangelho, que começou sendo distorcido e, agora, é simplesmente posto de lado para a propaganda comunista descarada]. Mas esse documento também nos alerta: “Nossa opção pelos pobres corre o risco de ficar em plano teórico ou meramente emotivo, sem verdadeira incidência em nossos comportamentos e em nossas decisões. É necessária uma atitude permanente que se manifeste em opções e gestos concretos e evite toda atitude paternalista. Solicita-se dedicarmos tempo aos pobres, prestar a eles amável atenção, escutá-los com interesse, acompanhá-los nos momentos difíceis, (…) procurando, a partir deles, a transformação de sua situação” (n. 397) [arrematando a “catequese” com uma citação descontextualizada, que nada tem a ver com o Evangelho comentado e que é torcida para servir de propaganda comunista disfarçada de doutrina católica. Maravilha…].

Pe. Nilo Luza, ssp

Gregório X – Decreto de proteção aos judeus

[Fonte: Montfort]

GREGÓRIO X, BISPO, SERVO DOS SERVOS DE DEUS

Gregório, bispo, servo dos servos de Deus, estende saudações e bênção apostólica aos seus amados filhos em Cristo, os fiéis Cristãos, aqueles daqui e de hoje, e aqueles no futuro.

Por mais que não seja permitido aos judeus, em suas assembléias, presunçosamente, assumirem para si mais do que lhes é permitido por lei, ainda assim eles não devem sofrer nenhuma desvantagem nesses [privilégios] que lhes foram garantidos . Embora eles prefiram persistir em sua intransigência a reconhecer a palavra de seus profetas e os mistérios das Escrituras,  e, dessa maneira, chegarem ao conhecimento da Fé Cristã, e da salvação; contudo, porquanto eles fizeram um apelo à nossa proteção e ajuda, nós, portanto, admitimos tal petição e lhes oferecemos o escudo da nossa proteção pela clemência da piedade Cristã. Agindo de tal forma, nós seguimos os passos de nossos predecessores de abençoada memória, os papas de Roma – Calixto, Eugênio, Alexandre, Clemente, Inocêncio, e Honório.

Além disso, nós decretamos que nenhum Cristão deve compelir a eles ou qualquer um do grupo deles ao batismo, sem o desejo. Mas, se algum deles, por convicção, se refugiar entre os Cristãos, por sua própria vontade, após manifestar sua intenção, ele deverá ser feito Cristão sem nenhuma intriga. Porque, de fato, não se pode considerar que tenha a Fé Cristã, aquela pessoa que tenha se tornado Cristão coagido, sem vontade própria, nem desejo.

Ainda mais, nenhum Cristão deve atrever-se a apanhar, aprisionar, ferir, torturar, mutilar, matar, ou infligir qualquer violência a eles; além disto, exceto por ação judicial das autoridades do Estado,  ninguém deve atrever-se a mudar os bons costumes na terra em que vivem para o propósito de tomar o dinheiro ou bens deles ou de outros.

Ainda mais, ninguém deve perturbá-los de qualquer forma durante a celebração de seus festivais, seja de dia ou de noite, com paus, pedras, ou qualquer outra coisa. Também, ninguém deve extrair nenhum serviço compulsório deles, a não ser que tal serviço seja o que eles estejam acostumados a oferecer desde tempos anteriores.

Da mesma forma que os Judeus não podem prestar testemunho contra Cristãos, nós decretamos em adição que o testemunho dos Cristãos contra os Judeus não será válido, a não ser que existam entre estes Cristãos alguns Judeus que lá estejam com o propósito de oferecer o testemunho.

Já que ocorre que alguns Cristãos perdem suas crianças e os Judeus são acusados, por seus inimigos, de, secretamente, as levarem a força e matarem-nas, e, ainda, fazerem sacrifícios com o sangue e coração destas crianças. Ocorre, ainda, que os pais destas mesmas crianças, ou outros inimigos Cristãos destes Judeus, secretamente, escondem estas crianças com o intuito de poder fazer mal a tais Judeus, e, com isso, ter a possibilidade de extorquir deles certa quantia de dinheiro para redimi-los.

Falsamente, clamam tais Cristãos, que os Judeus, secretamente e furtivamente, tomam tais crianças e matam-nas, e que os Judeus oferecem sacrifícios com o coração e sangue de tais crianças, uma vez que a lei deles, a respeito desta matéria, precisa e expressamente, proíbe os Judeus a sacrificarem, comerem ou beberem o sangue e carne de animais que tiverem garras. Isso foi demonstrado várias vezes em nossa corte por Judeus convertidos à Fé Cristã; no entanto, muitos Judeus são apanhados e detidos injustamente por causa disto.

Nós decretamos, portanto, que os Judeus não precisam obedecer a Cristãos em uma situação como essa, e ordenamos que  todo Judeu aprisionado sob um pretexto tolo como esse  seja imediatamente libertado, e que eles não sejam presos de agora em diante sob tão miserável pretexto, a não ser que – o que não acreditamos que ocorra – sejam pegos enquanto cometam o crime. Decretamos que nenhum Cristão fomente nada novo contra eles, mas que eles devem ser mantidos no status e posição em que eles estavam na época de nossos predecessores, da antigüidade até agora.

Decretamos, para parar a malvadeza e avareza dos homens maus, que ninguém deve se atrever a devastar e destruir os cemitérios dos Judeus, ou desenterrar corpos humanos para ganhar dinheiro .

Ainda mais, se alguém, após ter tomado conhecimento do presente decreto, atentar – o que, esperamos, não ocorrerá – audaciosamente contra ele, sofra a punição em sua categoria e posição, ou, seja punido pela excomunhão, a não ser que faça reparações por sua ousadia por meio de devida compensação. Ainda, desejamos que somente os Judeus, os quais não tenham atentado em fazer nada visando a destruição da Fé Cristã, sejam fortificados pelo suporte de tal proteção.

Dado em Orvieto, pelas mãos do Mestre João Lectator, vice-chanceler da Santa Romana Igreja, no 7º dia de Outubro, no primeiro indicto , no ano de 1272 da Divina Encarnação, no I ano do pontificado de nosso mestre, o Papa Gregório X.

[Tradução: Marcos Vinicius Mattke. Texto original em latim no Vaticano].

[A presente tradução para língua portuguesa do Decreto de Proteção Papal aos Judeus não é a versão portuguesa oficial da Santa Romana Igreja, inexistente até o momento da presente tradução].

Dom Williamson no Der Spiegel

Julgo oportuno voltar ao assunto da “negação do Holocausto” de Dom Williamson, à luz da recente entrevista que o bispo deu ao Der Spiegel e cuja tradução para o português foi publicada pela mídia tupiniquim. Antes de mais nada, é de enojar a atitude dos entrevistadores, com as perguntas as mais estúpidas possíveis, como se estivessem falando com algum delinqüente ou alguma criança irresponsável que não tem capacidade de avaliar o alcance de suas próprias posições, sendo necessário corrigi-la. Perguntas como “o senhor então está ciente (…)” ou “o senhor ao menos reconhece (…)” deixam entrever a posição de superioridade na qual se colocam os jornalistas alemães, o que é lamentável, porque perde-se a chance de se produzir uma matéria interessante e fica-se (de novo) na superficialidade da conversa fútil e pueril, cuja informação mais relevante, para os jornalistas, é – a julgar pela manchete dada à reportagem – sobre a agenda turística do bispo inglês: “eu não viajarei para Auschwitz”…

Acho importante insistir num ponto que vem sendo sistematicamente ignorado: é um absurdo, de proporções descomunais, silenciar a priori a discussão histórica sobre o número de vítimas do regime nazista  ou qualquer outra. Tudo bem, a Segunda Guerra Mundial é um acontecimento relativamente recente, e os seus horrores ainda estão vivamente pintados na memória da Europa, de modo que é possível dar-lhe um desconto graças ao – se é que existe isso – “estado psicológico alterado” da civilização européia e entender que certos temas provoquem muito mais reações passionais do que um esforço intelectual sério e compromissado com a verdade histórica; no entanto, o presente caso ultrapassa todos os limites do razoável.

O Holocausto não é um dogma, é um fato histórico, e o que é mais importante nele não é o mero fato em si considerado, e sim ele enquanto violação concreta de alguns princípios morais básicos, em particular, o fato auto-evidente de que as pessoas não podem ser gratuitamente assassinadas, muito menos por questões raciais. Suponhamos, apenas para argumentar, que Dom Williamson tivesse realmente dito que o Holocausto nunca aconteceu. Qual é o problema moral intrínseco com isso? Nenhum. O problema estaria na afirmação de que é lícito e a coisa mais normal do mundo matar judeus simplesmente por eles serem judeus. Negar [ou questionar, como é o caso, a proporção d]o fato histórico não é a mesma coisa de rejeitar o princípio. As pessoas precisam deixar os sentimentos exacerbados de lado e entender que matar judeus não é errado por causa do Holocausto, mas exatamente o contrário: o Holocausto é errado porque é errado matar judeus. Se nunca houvesse existido Holocausto, continuaria sendo um absurdo matar judeus por questões raciais. Anti-semitismo é – como disse Dom Williamson – “uma rejeição aos judeus por causa de suas raízes judaicas”, é preconceito racial. Anti-semitismo é errado, mas questionar fatos históricos não é necessariamente anti-semitismo.

Como eu falei acima, entende-se que a discussão suscite paixões, que ela seja ofensiva à memória e à sensibilidade dos mortos durante a Guerra e seus familiares, que ela seja inoportuna e desnecessária, que se argumente não haver evidências históricas suficientes para se fazer revisionismo, etc; tudo isso é verdadeiro e precisa ser levado em consideração, sem dúvida alguma. Mas há uma clara desproporção entre a entrevista de Dom Williamson e as reações a ela, e as acusações de anti-semitismo lançadas à face do bispo não decorrem de suas palavras: é questão de Justiça dizê-lo. A irracionalidade  passional não pode ser imposta como única atitude razoável, estigmatizando todo o resto. Tal linha de “raciocínio” pode conduzir a conclusões aberrantes.

Por exemplo: quem nunca ouviu dizer que os índios da América pré-colombiana foram exterminados pelos colonizadores espanhóis? Se os índios tivessem o mesmo poder que têm os judeus do século XX, negar que houve este “extermínio” seria uma espécie de “anti-indigenismo”, equivalente a justificar o preconceito racial contra os índios, a sua escravidão e extermínio, e capaz de fazer rasgar as vestes qualquer cidadão de bem. Ora, este tipo de pensamento casuístico é disparatado, porque a moralidade dos atos não depende dos fatos históricos. Completamente ao revés, é o próprio julgamento dos fatos históricos que depende desta moralidade. É errado assassinar judeus, é errado assassinar índios, é errado assassinar negros, e ponto final. E é errado negar que isso seja errado – questionar se isso aconteceu ou não num dado momento histórico, não. São duas coisas completamente diferentes.

É preciso levantar-se em defesa de Dom Williamson, porque não é necessariamente anti-semitismo fazer questionamentos sobre fatos históricos. A proporção que o assunto vem tomando, com um verdadeiro frisson dos abutres anti-católicos lançando-se vorazmente sobre um espantalho por eles próprios criado, exige que se dê um basta a este simulacro de debate. Com o intuito de semear a discórdia e lançar confusão sobre o importante momento que vive hoje a Igreja, calunia-se um bispo por algo que ele não fez e ataca-se a Igreja por meio de um duplo boneco-de-palha: atribuindo ao bispo da FSSPX uma posição que não é sua, e atribuindo ao Papa e à Igreja a posição anteriormente atribuída ao bispo da FSSPX. Na verdade, o ponto mais importante (o mais lúcido, mais sensato, mais verdadeiro) da entrevista ao Der Spiegel – que bem merecia as manchetes dos jornais – não é o suposto anti-semitismo de Dom Williamson, e sim a resposta final dada pelo bispo: “Não, eu sou apenas o instrumento aqui, de forma que uma ação possa ser realizada contra a SSPX e o papa. Aparentemente o catolicismo esquerdista da Alemanha ainda não perdoou Ratzinger por ter se tornado papa”.