Kermit Gosnell, aborteiro, assassino

Uma das mais reconfortantes notícias da semana é a de que Kermit Gosnell foi considerado culpado pela justiça americana. A pena ainda não saiu, mas pelo que entendi oscila entre pena de morte e prisão perpétua.

Se alguém está lendo este texto e não sabe quem é Kermit Gosnell, é devido ao silêncio criminoso com o qual os órgãos de imprensa (não só brasileiros) estão tratando o assunto. O Dr. Gosnell, pasmem, é «um médico da Pensilvânia que matava bebês nascidos vivos depois de procedimentos abortivos mal sucedidos» (cf. Blog da Vida – praticamente o único veículo de mídia nacional a repercutir o caso, a propósito). Contra ele pesam 260 acusações.

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O próprio fato de um médico montar uma clínica de abortos já é algo intrinsecamente repulsivo, e para quem mantém o seu senso moral intacto é lógico que um aborto já é em si mesmo uma coisa repugnante. No entanto, o caso do dr. Gosnell nos ajuda a ilustrar esta verdade de modo insofismável. O que se sabe do aborteiro americano é o seguinte (id. ibid.):

As maiores atrocidades, no entanto, ocorriam quando algo dava “errado” na mesa de cirurgia. Conforme conta a colunista Kirsten Powers, do jornal USA Today, Gosnell decapitava os bebês sobreviventes, e os guardava em jarras, na geladeira.

Stephen Massof, um ex-funcionário de Gosnell detalhou em seu testemunho como o médico usava tesouras para perfurar a parte traseira do pescoço e cortar a medula espinhal do bebê, separando o cérebro do corpo. Assim como outras testemunhas, Massof também se declarou culpado por ter participação em várias execuções, e contou ter visto pelo menos 100 bebês serem assassinados por seu ex-chefe. Outra ex-funcionária, Adrienne Moton, chegou a fotografar alguns dos bebês mortos e confirmou que Gosnell lhe ensinou a técnica.

Ora, se somos tomados de horror quando imaginamos o médico cortando o pescoço de bebês recém-saídos do útero de suas mães, como é possível que não nos indignemos quando o mesmo médico faz a exata mesma coisa dentro do ventre materno? É horrendo decapitar crianças? Concordaríamos facilmente que ninguém possa reclamar para si tão macabro direito – o de decapitar os próprios filhos? Ora, que assombrosa deficiência intelectual é esta, então, que nos faz omitirmo-nos (ou, pior ainda, apoiarmos com entusiasmo!) face ao mesmíssimo assassínio se ele se nos apresenta sob o pomposo nome de “direito de decidir”? Se o Dr. Gosnell é culpado por estraçalhar bebês recém-nascidos, como é possível que ele tenha o direito legal de estraçalhar bebês por nascer?

Um crime horrendo não se torna menos horrendo pelo fato de ser praticado longe dos nossos olhos, e não é virtude defender o assassinato bárbaro de bebês indefesos contanto que isso seja feito com o consentimento da mãe e o bebê em questão se encontre dentro do ventre materno: ao contrário, isto é somente incoerência ou hipocrisia. A Justiça Americana condenou Kermit Gosnell; mas quantos outros Kermits não existem mundo afora, em cada clínica de aborto clandestina à qual os cidadãos e as autoridades fazem vista grossa? E quantas pessoas não estão por aí militando pelo direito do Dr. Kermit de fazer o que fez? Acaso pensam que as suas mãos estão menos manchadas do sangue de inocentes? Acaso julgam que esta é uma questão acadêmica passível de ser assepticamente resolvida a nível abstrato? Ora, os cadáveres das crianças abortadas são bem reais – e é exatamente por isso que os pró-aborto se esforçam tanto por escondê-los.

A despeito da vergonhosa omissão da mídia, o Dr. Gosnell foi condenado. E se isso nos servir para alguma coisa, que seja para mostrar o quanto o aborto é odioso. Se formos aprender alguma lição dessa tragédia, que seja esta: a importância de combater com todas as forças o extermínio de vidas humanas inocentes. Que o horror da Pensilvânia sirva ao menos para desmascarar a retórica abortista e mostrar ao mundo o aborto em toda a sua fealdade.

Miscelânea: aborto, relativismo, pedofilia, Papa Francisco

Gostaria de comentar com mais vagar cada um dos temas abaixo, mas a escassez de tempo mo impede. Prefiro, então, simplesmente indicar os assuntos agora, remetendo às leituras das quais disponho; pois, se não o fizer, temo que a agitação do dia-a-dia me leve a passá-los em silêncio.

– O julgamento de um monstro e a omissão da grande mídia nos EUA: «Embora não fosse obstetra, nem ginecologista, apenas clínico geral, Gosnell era proprietário de uma clínica de abortos. Ele atendia mulheres que queriam abortar seus filhos mesmo depois da 24ª semana de gestação, o limite imposto por uma lei estadual. Sua clínica não seguia várias normas sanitárias, contratava pessoas sem formação e desprezava os procedimentos pré-abortivos, que preveem uma lista de exames e orientações à mãe. As maiores atrocidades, no entanto, ocorriam quando algo dava “errado” na mesa de cirurgia. Conforme conta a colunista Kirsten Powers, do jornal USA Today, Gosnell decapitava os bebês sobreviventes, e os guardava em jarras, na geladeira». Também no Wagner Moura: «Nunca é fácil falar sobre aborto. E por isso mesmo é normal que nos reconheçamos quase que obrigados a ridicularizar católicos pró-vidas de cultura inglesa que nessa questão de defesa da vida parecem tão… Tão pouco diplomáticos!».

– O relativismo relativo ou a justa relatividade da verdade: «Sendo assim, quando uma afirmação é verdadeira a sua contraditória necessariamente será falsa. Isso quer dizer que se uma pessoa diz “isso que está diante de mim é um computador”, não pode dizer no mesmo tempo “isso que está diante de mim não é um computador”. Quem está certo da verdade da primeira afirmação, não pode aceitar a verdade da segunda. Isso é o princípio básico de coerência do pensamento e da linguagem humana. Quem nega esse primeiro princípio se torna incapaz de fazer qualquer afirmação, de raciocinar, de dialogar, de viver em sociedade. Se torna, para continuar com o exemplo de Aristóteles, semelhante a um vegetal, com quem não é educado discutir». Trata-se de mais um texto sobre o tema da lavra do revmo. pe. Anderson Alves, de quem eu já tive o prazer de recomendar outros textos aqui no blog.

Sobre Igreja, celibato e pedofilia: «O celibato mete medo, causa pavor. A castidade e a pureza dos padres e das freiras humilham-nos, desconcertam-nos. Não nos sentimos capazes de imitá-los. Desconfio que também os que vivem a homossexualidade sintam-se confundidos pelas pessoas continentes. Estas acusam a nossa sociedade encharcada de sexo. A mesma TV que promove a sacanagem, hipocritamente, condena a pedofilia. O celibato é um incômodo feixe de luz atirado aos olhos de quem está no breu, cambaleando, trôpego, embriagado pelo prazer dos sentidos (gostaria de perguntar a Arnaldo Jabor se prazer e alegria são a mesma coisa). A luz em si é boa, mas incomoda a quem está nas trevas. A continência sexual em si é um bem, mas agride quem quer comer o alimento dos porcos. Quem deplora o celibato é porque se sente incapaz de vivê-lo. Julga impossível aos outros o que é impossível para si. O inepto julga os demais ineptos».

– ¡Alerta tradis y conservadores, Dios no lo quiera, pero cualquier cosa mala que le pase a Francisco la culpa será vuestra!, que peço perdão por não traduzir. A idéia, simultaneamente cômica e cretina, é insinuar a existência de um complô conservador para ferir o Papa – ou, melhor dizendo, é pintar com cores tão tétricas a figura dos tradicionalistas que eles possam ser facilmente usados como bodes expiatórios naturais para qualquer coisa que aconteça com o Santo Padre. A insídia talvez mais cretina sai da pena do Leonardo Boff, que menciona João Paulo I e dispara: «Es un peligro, porque hay una historia en el Vaticano de muchos asesinatos, hace mucho tiempo. Él debe tener cuidado porque donde hay disputa del poder no hay amor, y el poder siempre busca más poder».

– O primeiro golpe contra o Papa Francisco: «Diga-se contra o dogma relativista que não há afirmação sem a negação do seu contrário. Não dá para confirmar na fé, sem negar o que se opõe a ela. Penso que o próximo passo dos bispos americanos é partir para o ataque contra um jornal que se apresenta com o nome “católico” e, sob esta fantasia, promove o seu oposto. Os católicos precisam conhecer sob que vestes o diabo se apresenta, pois eles sabem atacar, e como! Quando alguma mínima reação é esboçada, apelam para a caridade fraterna, numa versão tão melíflua quanto antievangélica». O autor fala sobre a confirmação, feita recentemente pelo Papa Francisco, das reformas na vida religiosa feminina americana: «Muitos esperavam que o Papa Francisco adotasse uma posição paternalista e transigisse com o império das freiras. […] Mas o Papa Francisco reafirmou o resultado do trabalho, chamado “Doctrinal Assessment” (Avaliação Doutrinária), e o programa de reformas desta mesma conferência de religiosas. E ao que parece, a Congregação para os Religiosos ficou à margem do processo».

A inaudita pretensão de mudar o mundo. Trago apenas as palavras do Papa Francisco no dia 06 de abril, recolhidas por Sandro Magister, que foram proferidas em uma de suas homilias espontâneas e, por isso, não constam no site do Vaticano, de modo que nós só temos acesso a elas de segunda mão: «“A fé não se negocia. Esta tentação sempre existiu na história do povo de Deus: cortar um pedaço da fé, ainda que não seja muito. Mas a fé é assim, tal como a recitamos no Credo. É necessário superar a tentação de fazer o que todos fazem, não ser tão, tão rígidos, porque precisamente daí começa um caminho que acaba na apostasia. De fato, quando começamos a destroçar a fé, a negociá-la, a vendê-la à melhor oferta, começamos o caminho da apostasia, da não fidelidade ao Senhor”».