[A coluna do Carlos Ramalhete de hoje – sobre o recente lamentável episódio do Laerte querendo usar o banheiro feminino de uma pizzaria em São Paulo – está tão bem escrita e é tão adequada às absurdas situações modernas com as quais nós deparamos hoje em dia que eu me permito reproduzi-la aqui na íntegra. Tentei escolher algum trecho para destacar, mas não consegui: o texto é coeso de uma ponta a outra e é assim que deve ser lido.
A razão da separação dos banheiros entre os sexos tem a ver com a preferência sexual de cada um, sim, mas tem também – e principalmente – a ver com o dado objetivo (biológico e psicológico) das evidentes diferenças entre os homens e as mulheres. É claro que não dá para saber se o homem que entra no banheiro masculino é gay e vai se aproveitar daquele ambiente para se excitar com o seu distorcido objeto de desejo; e, contanto que ele não vá bolinar ou constranger os demais usuários do espaço público, isto não interessa. No entanto, é injusto obrigar uma senhorita ao constrangimento de dividir a sua intimidade com um marmanjo, ainda que este marmanjo não tenha interesse sexual nenhum por ela. O mundo não se resume aos interesses sexuais dos indivíduos. Isto, aliás, não tem nenhum interesse objetivo e não pode ser usado para conferir novos direitos aos possuidores de parafilias, ao contrário do que os gayzistas gostam de alardear.
Um amigo, muito sagazmente, apontou que este caso do Laerte é emblemático para demonstrar que o Movimento Gay reivindica, sim, privilégios extras que mais ninguém tem. Um homem normal, vestido de homem e não-gay, seria obrigado a usar o banheiro masculino ainda que estivesse sujo. O Larte, pelo simples fato de estar de saias, quer ter o direito de usar tanto o banheiro masculino quanto o feminino. Isto é evidentemente um privilégio, pois se trata de um “direito” que os heterossexuais obviamente não possuem e ninguém jamais pretendeu que eles tivessem.
São revolucionários inimigos do gênero humano, que estão se transformando em uma casta de incriticáveis e violando cada vez mais os espaços dos que não compartilham com o seu estilo de vida. Hoje o Larte quer violar os direitos das mulheres; o que mais não irão querer? É urgente que o bom senso possa tomar o lugar do politicamente correto que invadiu a nossa sociedade. Já foram longe demais.]
Napoleão ou Tartaruga Ninja?
O escritor inglês Chesterton dizia que o louco é quem perdeu tudo, menos a razão. Um louco que esteja convencido de ser um cachorro andará de quatro, comerá ração e lamberá as pessoas que ama. E teria toda a razão do mundo em fazê-lo se fosse realmente um cachorro. O que não é razoável é sua crença inicial de ser um cachorro, mas o comportamento que dela decorre faz todo sentido.
Um ser humano que esteja convencido de ser um cachorro terá mais dificuldade em viver em público que um que esteja convencido de ser Napoleão, por exemplo. Um chapeuzinho de três pontas e uma mão dentro do casaco podem ser consideradas excentricidades toleráveis, até que o sujeito resolva chicotear o balconista da padaria por demorar a trazer a média e o pão com manteiga.
Os familiares de alguém com esse tipo de problema, evidentemente, devem procurar evitar que esse tipo de situação ocorra. Infelizmente, semana passada, caso semelhante ocorreu com um dos maiores nomes da arte brasileira. O genial desenhista Laerte, já um senhor de idade, decidiu andar vestido não de Napoleão, mas de senhora bem comportada, com saia abaixo do joelho, sandálias abertas com unhas suavemente pintadas e cabelos com um penteado feminino.
Quando, no banheiro feminino de um restaurante, uma menininha encontrou aquele senhor, fantasiado de senhora como se estivesse vestido de Napoleão ou Tartaruga Ninja, ela reclamou ao dono do restaurante, que, com tato, pediu ao artista que usasse o banheiro apropriado. Como não há banheiro específico para Tartarugas Ninja, foi a sua fantasia – em ambos os sentidos – que o fez convencer-se de que poderia usar aquele toalete.
Ao invés de sua família tentar poupar este grande nome da arte dessas situações constrangedoras, contudo, o que aconteceu foi o contrário: o dono do restaurante é que foi ameaçado de processo por constrangimento ilegal, como se o uso de marias-chiquinhas e saiotes fizesse com que homens devam dividir banheiros com menininhas.
A mania atual de resumir a identidade das pessoas a suas preferências sexuais ou – no caso – de vestuário, mais uma vez, se choca com o bom senso mais elementar. Banheiros são separados para evitar situações constrangedoras; se um senhor de idade está com dificuldades em perceber algo tão evidente, compete a seus familiares protegê-lo de seu próprio desatino, não ao Estado forçar a aceitação do absurdo e punir quem zela pela boa ordem de um estabelecimento. Só assim pode ser preservado o justo renome desse grande artista.