Recebi, hoje, por email, uma notícia do Terra com a chamada “Lula critica Igreja e propõe dia contra a hipocrisia”. Nem li. Não, quando se trata do Presidente da República, do alto de sua sabedoria nossa velha conhecida, eu tinha de ler o que ele tinha dito, com as suas palavras. O discurso deu-se na abertura do Seminário “Mais Mulheres no Poder: Uma Questão da Democracia”, e a íntegra todos podem conferir no site da Presidência. A parte que nos interessa, e aqui reproduzo, é a parte em que o presidente comenta o lamentável caso de aborto aqui em Pernambuco. Pois bem, terminado o exórdio a essa obra de sabedoria suprema… aí vai:
“Recentemente, vocês viram aquele problema da menina de Pernambuco, que engravidou. Vocês viram? [Há! Viram mesmo? O problema da menina já não mais é ter sido estuprada, mas estar grávida] É mais do que absurdo. Como é que se pode proibir a medicina de cuidar de uma menina que ficou grávida indevidamente? [Olha, eu nunca vi gravidez ser tratada como doença, mas mesmo considerando-a assim, alguém aqui quis impedir os médicos de prestar-lhe assistência? Eu só queria que a medicina tivesse cuidado também dos bebês!]Eu fui questionado porque no Carnaval, eu estava no Carnaval, o Temporão apareceu lá, ele e a equipe de Saúde, distribuindo preservativos. E eu joguei preservativos. Ora, eu não posso, como pai e como presidente da República, fingir que distribuir preservativos é ruim. [Opa! Então quer dizer que o pai agora já não pode mais negar que a distribuição de preservativos é ruim!] Quem sabe o que significa a Aids, quem sabe o que significa a doença, tem mais é que levantar a cabeça e falar: “o governo tem que tratar dessas coisas, sim”. [Opa, aqui eu fico em dúvida se o presidente errou a preposição e quis dizer “tratar essas coisas”, se referindo a AIDS, ou se em algum sentido quase perdido no meio da frase mal construída ele quis dizer que o governo tem de falar disso… Sei lá! O que eu sei é que ninguém no mundo — acho eu, talvez algum lunático seja uma exceção — acha que o governo não deve tratar a AIDS ou tratar da AIDS. O problema é o “como”]
Se perguntarem para mim: “Lula, você, homem, é contra ou a favor do aborto?” Eu falo: como cristão, eu sou contra o aborto – poderia dizer. Agora, como chefe de Estado eu tenho que tratar como uma questão de saúde pública. Não pode ser diferente.” [“Ai, Amara! Jogasse o sabonete, pegou na minha cara!” Mais liso, impossível. Lula, então, tem três pessoas. Eu sempre achei que endeuzavam o presidente, especialmente depois que construíram um parque aqui em Recife em homenagem à Lindu, sua mãe, sendo que ela sequer morou em Recife. O mérito de Lindu é ser mãe de Lula, e o parque lhe é merecido pelos méritos do seu divino excelentíssimo filho! Aqui Lula, homem, cristão e chefe de Estado tem três posições sintomáticas:
Quando perguntam ao homem Lula, o homem Lula responde como cristão, sem antes de terminar fazer a ressalva de que “poderia dizer”. Óbvio, o homem Lula não pode se comprometer com a posição cristã do cristão Lula! Então, o homem Lula diz que o cristão Lula poderia dizer que era contra o aborto. Ok. Mas o presidente Lula — como é da essência do seu gênero, os políticos, ser escorregadio — diz que tem que tratar como uma questão de saúde pública.
Recapitulando: o homem Lula, que nada fala de si mas fala pelos outros, diz que como cristão Lula poderia dizer que é contra o aborto (sabe-se lá o que isso significa “poder dizer ser contra o aborto”), mas como presidente é uma questão de saúde pública. Ora, eu, Erickson, indivíduo uno, sou contra o aborto e também acho que é uma questão de saúde pública… Uma questão de saúde dos bebês, saúde psíquica da mãe que aborta e de a saúde mental da população que parece ser emburrecida a ponto de engolir um absurdo desses!
Não pode ser diferente…