TE DEUM LAUDAMUS

Fonte: vatican.va

Te Deum

Nós Vos louvamos, ó Deus, 
nós Vos bendizemos, Senhor. 
Toda a terra Vos adora, 
Pai eterno e omnipotente. 
Os Anjos, os Céus 
e todas as Potestades, 
os Querubins e os Serafins 
Vos aclamam sem cessar: 
Santo, Santo, Santo, 
Senhor Deus do Universo, 
o céu e a terra proclamam a vossa glória. 
O coro glorioso dos Apóstolos, 
a falange venerável dos Profetas, 
o exército resplandecente dos Mártires 
cantam os vossos louvores. 
A santa Igreja anuncia por toda a terra 
a glória do vosso nome: 
Deus de infinita majestade, 
Pai, Filho e Espírito Santo. 
Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, 
Filho do Eterno Pai, 
para salvar o homem, tomastes 
a condição humana no seio da Virgem Maria. 
Vós despedaçastes as cadeias da morte 
e abristes as portas do céu. 
Vós estais sentado à direita de Deus, 
na glória do Pai, 
e de novo haveis de vir para julgar 
os vivos e os mortos. 
Socorrei os vossos servos, Senhor, 
que remistes com vosso Sangue precioso;
e recebei-os na luz da glória, 
na assembleia dos vossos Santos. 
Salvai o vosso povo, Senhor, 
e abençoai a vossa herança; 
sede o seu pastor e guia através dos tempos 
e conduzi-o às fontes da vida eterna. 
Nós Vos bendiremos todos os dias da nossa vida 
e louvaremos para sempre o vosso nome. 
Dignai-Vos, Senhor, neste dia, livrar-nos do pecado. 
Tende piedade de nós, 
Senhor, tende piedade de nós. 
Desça sobre nós a vossa misericórdia, 
Porque em Vós esperamos. 
Em Vós espero, meu Deus, 
não serei confundido eternamente.

Tradução do VaticanNews

Os verdadeiros cristãos são os filhos da Igreja e da Virgem Maria

Há duas frases tradicionais que sintetizam de maneira admirável a necessidade da Fé Católica para agradar a Deus, entre as quais há uma bonita relação de paralelismo que faz com que, uma vez que as tenhamos aprendido (talvez, numa catequese infantil), delas não nos esqueçamos mais. Uma: não pode ter Deus por Pai no Céu quem não tem a Igreja por Mãe na Terra, de São Cipriano de Cartago (De Ecclesiae Catholicae unitate, 6). A outra: quem não tem a Virgem Maria por Mãe, não tem Deus por Pai, de (certamente entre outros) S. Louis de Montfort (Tratado da Verdadeira Devoção, 30).

A Virgem Mãe de Deus e a Igreja, longe das quais não é possível encontrar a Nosso Senhor Jesus Cristo! A Igreja Católica e a Santíssima Virgem, cuja maternidade é essencial àqueles que se pretendam filhos de Deus neste mundo e no vindouro! As frases podem soar um pouco politicamente incorretas nesta época de caricata tolerância religiosa em que vivemos (como se “tolerância” fosse sinônimo de dizer “está tudo muito bem e qualquer coisa é a mesma coisa”); não obstante, são profundamente verdadeiras e atravessam os séculos com o mesmo vigor original – uma vez que obtêm a sua força do sagrado Depositum Fidei, que não muda ao sabor dos ventos de opiniões de cada momento histórico.

Quem quer ser filho de Deus tem que ser filho da Igreja, quem quer ser filho de Deus precisa ser filho da Virgem Maria: é o que dizem os santos de todos os tempos. Trata-se, perceba-se, de uma forma indireta de repetir o dogma – mil-vezes odiado! – de que fora da Igreja não há salvação. É a mesma coisa: dizer que é preciso ser filho da Igreja e filho da Virgem Santíssima é o perfeito equivalente (*) de dizer que é necessário ser Católico Apostólico Romano. Hoje parece ser um pecado imperdoável repetir que fora da Igreja Católica não é possível encontrar salvação. Contudo, parece que o mundo ainda se permite ouvir que é mister ser filho da Igreja e da Virgem Maria.

[(*) A primeira parte – filho da Igreja – exclui, sem sombra de dúvidas, todos os não-cristãos. A Igreja, mesmo em sentido lato, é uma instituição cristã por essência e sequer se concebe usar o mesmo termo para se referir às (eventuais) estruturas institucionais de religiões outras que o Cristianismo. A segunda parte – filho de Maria – exclui, inequivocamente, os protestantes, ao menos a imensíssima maior parte dos protestantes que desconhecem a veneração dos santos – e, em particular, o culto de hiperdulia que é devido à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Sobram, talvez, expandindo a interpretação, os cismáticos orientais, que perfazem Igrejas Particulares e guardam a veneração devida à SSma Virgem. Este sentido é, parece-me, o único em que talvez seja possível afirmar imperfeita a equivalência entre as duas sentenças e o nulla salus. Mesmo assim, elas abarcam a esmagadora maior parte daquilo a que se refere o dogma – e, portanto, dizê-las é já dizer muito.]

Onde ressoam, ainda hoje, essas expressões [que se diriam] tão anacrônicas?! De que obscuro gueto saem essas pregações [consideradas] tão intolerantes? Não é [somente] na blogosfera ultra-radical ou nas seitas cripto-cismáticas dos saudosistas dos tempos passados. Essas palavras reverberam na Praça de São Pedro e, de lá, para todo o orbe. Quem as pronuncia é o homem que sempre se encontra nas capas dos veículos de imprensa mundo afora. É o Papa Francisco – o Papa mais amado e bajulado pelos inimigos da Igreja de todos os naipes – quem o afirma com todas as letras: é preciso ser filho de Maria! Não existe Cristo sem a Igreja!

Deixemos falar o Papa Francisco (itálicos no original, negritos meus):

E, para além de contemplar a face de Deus, podemos também louvá-Lo e glorificá-Lo como os pastores, que regressaram de Belém com um cântico de agradecimento depois de ter visto o Menino e a sua jovem mãe (cf. Lc 2, 16). Estavam juntos, como juntos estiveram no Calvário, porque Cristo e a sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. A carne de Cristo – que é charneira da nossa salvação (Tertuliano) – foi tecida no ventre de Maria (cf. Sal 139/138, 13). Tal inseparabilidade é significada também pelo facto de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário.

Maria está assim tão unida a Jesus, porque recebeu d’Ele o conhecimento do coração, o conhecimento da fé, alimentada pela experiência materna e pela união íntima com o seu Filho. A Virgem Santa é a mulher de fé, que deu lugar a Deus no seu coração, nos seus projectos; é a crente capaz de individuar no dom do Filho a chegada daquela «plenitude do tempo» (Gl 4, 4) na qual Deus, escolhendo o caminho humilde da existência humana, entrou pessoalmente no sulco da história da salvação. Por isso, não se pode compreender Jesus sem a sua Mãe.

Igualmente inseparáveis são Cristo e a Igreja, porque a Igreja e Maria caminham sempre juntas, sendo isto exactamente o mistério da mulher na comunidade eclesial, e não se pode compreender a salvação realizada por Jesus sem considerar a maternidade da Igreja. Separar Jesus da Igreja seria querer introduzir uma «dicotomia absurda», como escreveu o Beato Paulo VI (cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 16). Não é possível «amar a Cristo, mas sem amar a Igreja, ouvir Cristo mas não a Igreja, ser de Cristo mas fora da Igreja» (Ibid., 16). Na verdade, é precisamente a Igreja, a grande família de Deus, que nos traz Cristo. A nossa fé não é uma doutrina abstracta nem uma filosofia, mas a relação vital e plena com uma pessoa: Jesus Cristo, o Filho unigénito de Deus que Se fez homem, morreu e ressuscitou para nos salvar e que está vivo no meio de nós. Onde podemos encontrá-Lo? Encontramo-Lo na Igreja, na nossa Santa Mãe Igreja hierárquica. É a Igreja que diz hoje: «Eis o Cordeiro de Deus»; é a Igreja que O anuncia; é na Igreja que Jesus continua a realizar os seus gestos de graça que são os sacramentos.

Esta acção e missão da Igreja exprimem a sua maternidade. Na verdade, ela é como uma mãe que guarda Jesus com ternura, e O dá a todos com alegria e generosidade. Nenhuma manifestação de Cristo, nem sequer a mais mística, pode jamais ser separada da carne e do sangue da Igreja, da realidade histórica concreta do Corpo de Cristo. Sem a Igreja, Jesus Cristo acaba por ficar reduzido a uma ideia, a uma moral, a um sentimento. Sem a Igreja, a nossa relação com Cristo ficaria à mercê da nossa imaginação, das nossas interpretações, dos nossos humores.

Papa Francisco, HOMILIA.
in Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus
1º de janeiro de 2015.

A Igreja Católica é a fiel depositária de um determinado conjunto de verdades imutáveis, as quais tem o mandato divino de anunciar ao mundo como as recebeu de Cristo – sem as aumentar nem as diminuir. Os dogmas não ficam nunca “ultrapassados”, a Doutrina Cristã não “deixa de valer” jamais. E o Papa – qualquer que seja o Papa! – é o guardião da Fé. Não deveria ser estranho que o Vigário de Cristo agisse como Vigário de Cristo. Nestes tempos que correm, no entanto, e como há um evidente empenho em sequestrar o Papa Francisco, é importante registrar e documentar com bastante cuidado: o Papa Francisco é Papa católico. E, por mais que o desejem os anti-clericais, ele não pode ser outra coisa. Não gostam de ouvir o Pontífice Argentino falar? Que ouçam, portanto, o que fala o Papa Francisco! Que o ouçam e, ouvindo-o, se convertam. Pois – Franciscus dixit! – não é possível separar Cristo de Sua Mãe Santíssima. Porque – Bergoglio garante! – não se encontra a Cristo fora da Igreja Católica e Apostólica.

Que a SSma. Virgem, Aquela «que deu uma face humana ao Verbo eterno, para que todos nós O pudéssemos contemplar» (Papa Francisco, id. ibid.), rogue pela Igreja, pelo Papa Francisco e por todos nós. Que Ela, de novo e mais uma vez, nos traga o Seu Divino Filho, diante do qual as Trevas não podem subsistir. Que Ela nos possa sempre valer, em meio às tentações desta vida conturbada. Que nos livre, sempre, das ciladas que o Maligno nos arma nestes dias difíceis em que vivemos.

Salve, ó Virgem Mãe de Deus!

Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. Realmente, se nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou? Esta verdade nos foi transmitida pelos discípulos do Senhor, embora não usassem esta expressão. Assim fomos também instruídos pelos Santos Padres. Em particular, Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, na terceira parte do livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, dá frequentemente à virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. 

Vejo-me obrigado a citar aqui suas palavras, que têm o seguinte teor: “a Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de Cristo Salvador estas duas coisas: que ele é Deus e nunca deixou de o ser, visto que é o Verbo do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da virgem Maria, Mãe de Deus”. 

São Cirilo, “Tu és Mãe de Deus”

Hoje a Igreja celebra a Maternidade Divina da Santíssima Virgem Mãe de Deus. A solenidade ocorre no primeiro dia do ano, abrindo o ano civil com esta (justíssima) homenagem à Virgem Maria, Àquela que foi escolhida para ser a Mãe do Verbo Encarnado.

Salve ó Virgem Mãe de Deus, Vós que fostes escolhida para trazer a Divindade à terra! Vós que fostes Aquela pela Qual nos veio Nosso Senhor, nosso Deus e nossa salvação!

Salve ó Virgem Mãe de Deus, Vós que destes ao Verbo Divino a natureza humana que possibilitou a nossa salvação! Vós que revestistes a Divindade de carne e de sangue e, gerando no próprio seio o Filho de Deus, entregastes ao mundo a Salvação de que ele precisava mas que não poderia merecer!

Salve ó Virgem Mãe de Deus, Vós que sois verdadeiramente a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, a “Mãe do meu Senhor” (Lc I, 43)! Vós que brilhastes nas trevas do mundo enquanto o mundo jazia no Maligno e, gerando o Autor da Vida, gerastes-nos e entregastes-nos a nossa salvação!

Salve, ó Virgem Mãe de Deus! É a homenagem dos que são Vossos filhos. É a gratidão dos que Vos são infinitamente gratos. É o louvor dos que não podem deixar de Vos louvar.

Sábado, soledad…

Não existe nenhuma cerimônia litúrgica, dentro do Tríduo Pascal, entre a Celebração da Paixão do Senhor de ontem e a Vigília Pascal de logo mais, à noite; nenhuma celebração se faz durante o dia do Sábado Santo. Julgo eu, para acentuar o caráter de ausência: o Senhor não está conosco, porque – como se grita na Via Sacra de Recife, a de José  Pimentel – “nós silenciamos; nós O condenamos; nós O crucificamos”. O Senhor está morto, e a Sua ausência sente-se tão profundamente no dia de hoje que, na Igreja, nenhuma celebração se faz – e o Sacrário permanece aberto e vazio, e a primeira coisa que se vê quando se entra na igreja é a imagem do Senhor morto aos pés da Virgem Santíssima.

O Senhor está morto, mas Alguém ficou conosco. Alguém Ele deixou no mundo, para que o mundo não caísse no desespero enquanto Ele descia à Mansão dos Mortos. O Senhor está morto, mas Ele quis que restasse, ao mundo, algo de Graça, algo de Luz, enquanto a escuridão do sepulcro envolvia o Seu Corpo Santo. O Senhor está morto, mas a Virgem Santíssima permaneceu conosco.

Ele A deixou conosco! Ontem, aos pés da Cruz, quando disse a Ela: “eis aí o Teu filho”, e ao discípulo amado “eis aí a Tua Mãe”. Daquele momento em diante – conta-nos as Escrituras – o discípulo amado A levou consigo. Nosso Senhor, do alto da Cruz do Calvário, entregou-nos a Sua Mãe Santíssima como nossa mãe. Por qual motivo ser-nos-ia difícil aceitar a vontade d’Aquele que é Rei e Senhor de todas as coisas?

Há uma canção que fala sobre isso: “hoje deixo contigo força e direção: / olha pra Ela e espera por Mim”. E gosto de pensar, como tenho a impressão de já ter dito aqui, que também este cuidado teve Nosso Senhor: o de não deixar os Apóstolos completamente desamparados, nem mesmo durante o curto tempo em que Ele esteve morto. Quis deixá-los a Virgem Santíssima; quis deixar-nos a Sua Mãe como nossa Mãe. Porque sabia que, sem Ela, os Seus discípulos cairiam em desespero.

A leitura da Paixão, de ontem, mostra-nos a Virgem Santíssima “de pé”, junto à Cruz. Não era Ela a única de pé – o Evangelho fala-nos que Maria “de Cléofas” e Maria Madalena também estavam -, mas sempre me pareceu revelador que só as “Marias” tenham permanecido fiéis. Só ficaram aos pés da Cruz aquelas que compartilhavam o nome com a Gloriosa Mãe de Deus. Estariam as outras mulheres junto à Cruz, caso a Virgem Santíssima não lá estivesse? Eu duvido.

Porque o terrível espetáculo de ontem era tremendamente doloroso: é quase possível desculpar a fuga dos demais Apóstolos. Eu arriscaria dizer que permanecer “de pé” junto à Cruz de Nosso Senhor era humanamente impossível: o momento era terrível demais, e a “hora das Trevas” era escura demais para ser suportada por seres humanos pecadores. Acho extremamente eloqüente que os únicos a conseguirem ficar “de pé” junto a Cruz de Nosso Senhor tenham sido, precisamente, aqueles que estavam com Maria Santíssima. Todos os outros fugiram.

E esta passagem bíblica nos ensina que somente se estivermos junto à Virgem Santíssima seremos capazes de permanecer junto a Nosso Senhor. Ao contrário, todos os que não permaneceram com Ela – até mesmo Apóstolos e discípulos próximos – fugiram miseravelmente, por não suportarem o sofrimento do Calvário. Ora, se a Virgem Santíssima foi capaz de sustentar o ânimo dos discípulos durante o momento terrível em que Nosso Senhor era Crucificado… acaso não será também Ela capaz de nos sustentar, de pé, junto ao Seu Divino Filho, em todos os demais momentos de nossas vidas?

O Sábado Santo não possui outras celebrações litúrgicas que não a própria Vigília Pascal; mas no Sábado Santo nós podemos – e devemos! – celebrar os mistérios da Vida de Nosso Senhor por meio da recitação do Rosário. Podemos e devemos aceitar Aquela que Nosso Senhor nos deixou como Mãe. Acheguemo-nos a Ela; se Ela foi capaz de manter a Graça no mundo enquanto o Filho de Deus descia aos Infernos, sem dúvidas será também capaz de manter-nos na Graça e na amizade de Deus, independente das aflições pelas quais estejamos passando. Acheguemo-nos a Ela confiantes. E esperemos, junto a Ela, a Ressurreição do Seu Divino Filho.

Benedictus fructus ventris Tui

Et benedictus fructus ventris tui, Iesus (Lc I, 42).

Ontem, celebramos a festa da Virgem Maria Mãe de Deus. Dia santo de guarda. Às vezes, passa despercebido no meio das festividades do Reveillon, e às pessoas parece que estão assistindo “missa de Ano-Novo”. Tecnicamente, não deixa de ser; mas não é esse o nome da festividade nem é o Ano-Novo mais importante que a comemoração da Maternidade Divina de Nossa Senhora. Dia primeiro de janeiro, a Igreja celebra não o novo ano que chega, mas sim Aquela de Quem nasceu Deus.

Como Santa Isabel falou um dia à Virgem Santíssima, e como repetimos todos os dias, todas as horas, na oração da Ave-Maria: bendito é o fruto do Vosso ventre. A excessiva familiaridade com as palavras impede-nos de meditarmos adequadamente no que elas significam. Bendito é Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus Verdadeiro, e que é Verdadeiro Filho de Maria Santíssima. Que é fruto – como rezamos, muitas vezes sem prestar atenção – do ventre da Virgem Imaculada.

“Bem-aventurado o ventre que te trouxe” (cf. Lc 11, 27), disse certa vez uma mulher do meio do povo. É sem dúvidas uma verdade, que inclusive já havia sido dita por Santa Isabel: afinal, bendito é o ventre cujo fruto é bendito. E, bem diferente do que apregoam alguns protestantes, Nosso Senhor não “desdiz” a mulher na seqüência da passagem bíblica. Ao contrário, louva ainda mais Sua Mãe Santíssima, ao afirmar os Seus méritos próprios: afinal, Ela também é Aquela que ouve a palavra de Deus e a observa (cf. id. ibid., v. 28). Como explica São João Crisóstomo na Catena Aurea, de nada nos vale ter um pai, um irmão ou um filho virtuoso, se nós próprios carecemos de virtude. Respondendo à mulher que louvou Maria Santíssima simplesmente pelo Seu parentesco com o Salvador,  Nosso Senhor afirma que não é somente por isso que Ela é  digna de ser louvada: além de ter sido a Mãe do Salvador, a Virgem também permaneceu sempre fiel. Ouviu sempre a palavra de Deus, e a pôs em prática todos os dias de Sua vida.

Porque, afinal de contas, Nosso Senhor ornou a Sua Mãe Santíssima com todas as virtudes passíveis de serem concedidas a uma criatura. Era a Sua Mãe! Que filho não daria à sua mãe todas as coisas boas que pudesse lhe dar? Acaso Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus verdadeiro, o mais perfeito dos filhos, faria por Sua Mãe menos do que um filho terreno qualquer? Se os filhos naturais, que são maus, sabem fazer o melhor para suas mães, o que não faria Deus por Aquela de Quem Ele nasceu?

E, por outro lado, o que Ele, Onipotente, não poderia fazer por Sua Mãe…? Bem-aventurada és, ó Virgem Santíssima, porque o Teu Divino Filho fez de ti a mais graciosa das criaturas. Bem-aventurada és, ó Virgem Santíssima, porque foste escolhida pelo Rei para seres Rainha, e jamais houve majestade que chegasse aos pés desta que Te foi concedida pelo Rei dos reis. Bem-aventurada és, ó Virgem Santíssima, porque Nosso Senhor Te concedeu graças em profusão e, já que foste sempre fiel a Ele, foste e és uma Mãe digna para o Deus que tens por Filho. Bem-aventurada és, ó Virgem Santíssima, porque bendito é o fruto do Teu ventre, porque do Teu ventre nasceu Aquele que foi a Salvação do Mundo e, por isso, todas as gerações até hoje proclamam a Tua  bem-aventurança.

Salve a Santíssima Virgem, salve a Virgem Mãe de Deus, salve a Mãe do Redentor, salve Maria Imaculada. Ó Santa Mãe de Deus, rogai por nós, para que sejamos dignos – ou, ao menos, para que sejamos menos indignos! – das promessas do Vosso Divino Filho.

Nossa Senhora, Mãe de Deus – pe. Júlio Maria

Nossa Senhora, Mãe de Deus.

Resumidamente, podemos dizer que Nossa Senhora é Mãe de Deus e não da divindade. Ou seja, Ela é Mãe de Deus por ser Mãe de Nosso Senhor, pois as duas naturezas (a divina e a humana) estão unidas em Nosso Senhor Jesus Cristo.

A heresia de negar a Maternidade Divina de Nossa Senhora é muito anterior aos protestantes. Ela nasceu com Nestório, então Bispo de Constantinopla. Os protestantes retomariam a heresia que havia sido sepultada pela Igreja de Cristo.

Mas, afinal, por que Nossa Senhora é Mãe de Deus?

(…)

A Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Se perguntarmos a alguém se ele é filho de sua mãe, se esta verdadeiramente for a mãe dele, de certo nos lançará um olhar de espanto. E teria razão.

O homem, como sabemos, é composto de corpo e alma, sendo esta a parte principal do seu ser, pois comunica ao corpo a vida e o movimento.

A nossa mãe terrena, todavia, não nos comunica a alma, mas apenas o corpo. A alma é criada diretamente por Deus. A mãe gera apenas a parte material deste composto, que é seu ser. E como é que alguém pode, então, afirmar que a pessoa que nos dá à luz é nossa mãe?

Se fizéssemos essa pergunta a um protestante sincero e instruído, ele mesmo responderia com tranqüilidade: “é certo, a minha mãe gera apenas o meu corpo e não minha alma; mas a união da alma e do corpo forma este todo que é a minha pessoa; e a minha mãe é mãe de minha pessoa, composta de corpo e alma, é realmente minha mãe”.

Apliquemos, agora, estas noções de bom senso ao caso da Maternidade Divina de Maria Santíssima. Há em Jesus Cristo “duas naturezas”: a natureza divina e a natureza humana. Reunidas, constituem elas uma única pessoa, a Pessoa de Jesus Cristo.

Nossa Senhora é Mãe desta única Pessoa que possui ao mesmo tempo a natureza divina e a natureza humana, como a nossa mãe é mãe de nossa pessoa. Ela deu a Jesus Cristo a natureza humana; não lhe deu, porém, a natureza divina, que vem unicamente do Padre Eterno.

Maria deu, pois, à Pessoa de Jesus Cristo a parte inferior – a natureza humana – como a nossa mãe nos deu a parte inferior de nossa pessoa, o corpo. Apesar disso, nossa mãe é, certamente, mãe de nossa pessoa, e Maria é a Mãe da Pessoa de Jesus Cristo.

Notemos que em Jesus Cristo há uma só Pessoa, a Pessoa divina, infinita, eterna, a pessoa do Verbo, do Filho de Deus, em tudo igual ao Padre e ao Espírito Santo. E Maria Santíssima é a Mãe desta Pessoa divina. Logo, Ela é a Mãe de Jesus, a Mãe do Verbo Eterno, a Mãe do Filho de Deus, a Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Mãe de Deus, pois tudo é a mesma e única Pessoa, nascida do Seu Seio Virginal.

A alma de Jesus Cristo, criada por Deus, é realmente a alma da Pessoa do Filho de Deus. A humanidade de Jesus Cristo, composta de corpo e alma, é realmente a humanidade do Filho de Deus. E a Virgem Maria é verdadeiramente a mãe deste Deus, revestido desta humanidade; é a Mãe de Deus feito Homem.

Ela é a Mãe de Deus – “Maria de qua natus est Jesus”: “Maria de quem nasceu Jesus” (Mt I, 16).

Note-se que Ela não é a Mãe da divindade, como nossa mãe não é mãe de nossa alma; mas é a Mãe da Pessoa de Jesus Cristo, como a nossa mãe é mãe de nossa pessoa.

A Pessoa de Nosso Senhor é divina, é a pessoa do Filho de Deus. Logo, por uma lógica irretorquível, Ela é a Mãe de Deus.

(Extraído, com alguns pequenos acréscimos, do Pe. Júlio Maria, “A Mulher Bendita”, editora “O Lutador”, 1949, Manhumirim, MG). O texto sobre a Mãe de Deus foi basicamente copiado, por se tratar de uma das mais belas páginas de defesa da Maternidade Divina de Nossa Senhora.

Anúncio (informativo da Diocese de Presidente Prudente/SP) – Ano XIII, nº 410, Outubro 2009