Com a devida vênia, não gosto da expressão “Papa emérito” e imagino que não a devamos empregar para se referir a Bento XVI. Ao contrário, penso que “Bispo Emérito de Roma” é suficientemente descritivo e deve ser preferido àquela.
A razão é simples: “Papa Emérito” me parece uma imprecisão terminológica. O adjetivo “emérito” implica em conceder ao que o detém algumas características ou privilégios do substantivo ao qual ele se refere. Um “bispo emérito” continua sendo bispo, e aqui a expressão se justifica; um “Papa emérito” não é Papa sob nenhuma circunstância, e aqui chamá-lo assim induz ao erro.
Logo após a renúncia de Bento XVI ter sido anunciada, ZENIT publicou uma interessante reportagem do [padre?] Manuel Jesus Arroba, dizendo que um Papa Emérito não podia existir. A justificativa dada pelo professor de Direito Canônico da Lateranense é esta: «Juridicamente só existe um Papa. Um “papa emérito” não pode existir: o cargo ocupado por ele é supremo, ou seja o mais alto em responsabilidade». Poucos dias depois, o anúncio de que Bento XVI seria Papa Emérito pegou a todos de surpresa e – alguém poderia dizer – fez o professor da Lateranense morder a língua. Eu penso que não.
Porque o sentido em que se pode chamar Bento XVI de “Papa Emérito” é um sentido todo particular, sui generis, e justamente por isso eu penso que ele deveria ser evitado. Dizer “Emérito” a Sua Santidade é dizer, simplesmente, que ele fora Papa e agora já não é mais; ao contrário dos outros casos, aqui não cabe falar em nenhum privilégio próprio do ministério petrino que Bento XVI tenha mantido após renunciar. O Papado não é como o Sacramento da Ordem, que imprime caráter indelével na alma de quem o recebe: um bispo validamente ordenado nunca deixa de ser bispo, mas um Papa validamente eleito pode deixar de ser Papa caso renuncie. Os dois casos não são nem minimamente análogos e, portanto, chamar a um e a outro de “emérito” é insinuar um paralelismo totalmente descabido.
Parece que João Paulo II teria dito não haver “lugar na Igreja para um papa emérito”, e penso que ele tinha razão. Não sei quem determinou que Bento XVI fosse chamado de “Papa Emérito”; e quando a notícia saiu eu pensei simplesmente em ignorá-la. No entanto, tenho visto da semana passada pra cá muitos usos da expressão, o que – pelas razões que expus acima – pode confundir. Assim, convido a todos a usarem outra forma de se referir àquele que foi Papa e ainda está vivo: simplesmente “Bento XVI” ou mesmo “o bispo emérito de Roma, Bento XVI”. A expressão é um pouco mais longa, mas é mais rigorosa e mais precisa – e por isso vale a pena usá-la.