A Gazeta do Povo, na esteira da brilhante polêmica jornalística inaugurada há duas semanas por ocasião da “Marcha das Vadias” de Curitiba, publicou hoje duas opiniões bem distintas sobre o assunto. Jogada de mestre: basta passar a vista por ambos os artigos para que salte aos olhos a diferença entre ambos – bem como a diferença entre as maneiras como cada uma das posições encara não apenas a mulher, mas o próprio ser humano.
O primeiro se chama “O futuro já chegou” e é da lavra da profa. Maria Rita de Assis César. Duro e rebuscado ao limite do intragável. Nele, palavras de ordem e chavões totalmente estranhos ao dia-a-dia do brasileiro médio: “minorias sociais-sexuais”, “estruturalista, pós-estruturalista”, “movimentos sociais de inspiração queer”, etc. E, no meio da bazófia, camuflada e quase imperceptível, a concepção de “feminismo” que as mulheres brasileiras teriam tanta dificuldade para aceitar: para a articulista, «fazer política no presente é colocar em cena o corpo e o desejo (…), politizando o corpo, a sexualidade e o desejo». Ou seja: segundo alguns expoentes do feminismo contemporâneo, o corpo da mulher não é um recinto sagrado cuja intimidade deve ser valorizada, muito pelo contrário: é um objeto de luta política que deve ser exposto nas ruas. É desta maneira que as intelectuais do movimento feminista dizem defender as mulheres.
O segundo texto intitula-se “Diversidade e identidade” e é assinado pela pedagoga Sueli Caramello Uliano. O texto é doce e suave, este sim representativo dos verdadeiros anseios das brasileiras que, no seu dia-a-dia, não estão nem um pouco interessadas nos faniquitos das anarco-feministas que monopolizaram o discurso dito “em defesa das mulheres”. Ao contrário, este texto é um bálsamo que chega a dar vontade de citar na íntegra e, se não o faço, é para que os acessos sejam direcionados a quem é de direito: cliquem, leiam, curtam, compartilhem, divulguem. À guisa de exemplo, um parágrafo somente:
Lutar contra a violência, principalmente quando é praticada contra os mais fracos fisicamente, sempre terá respaldo popular. Mas o despudor não tem esse respaldo porque expõe do ser humano apenas o seu lado de animal fisiológico, omitindo a pessoa na sua integridade, coisa que só a elegância pode preservar. Ser livre não é ser vadia, como afirma o artigo citado. Ser livre é uma condição da pessoa, que traz consigo longa lista de responsabilidades, aspirações, direitos e deveres. Há que se discutir a questão em outro nível.
É esta a verdadeira valorização da mulher, cuja defesa não pode ser deixada nas mãos de senhoras alienadas que confundem impudicícia com liberdade e para as quais o mundo perfeito realizar-se-á somente quando o ser humano for capaz de encarar um desfile histérico de tetas baloiçantes ao vento com a mesma serenidade com a qual contempla as folhas caindo no outono. É importante dizer com clareza o quanto esta idéia é estúpida. É importante deixar claro que, independente do que disserem, estas senhoras não representam as mulheres.