“The day after” – repercussões sobre o discurso do Papa

A repercussão do discurso de ontem de Sua Santidade foi realmente impressionante. Quando o Papa fala, todos escutam e todos comentam – os fiéis católicos, para serem dóceis à voz do seu pastor e, os inimigos da Igreja, para deixarem cair as máscaras e revelarem quem são realmente. Mas a voz de Cristo ressoada na voz de Pedro repercute no mundo inteiro. Provoca o regozijo dos bons, ao mesmo tempo em que faz os maus estrebucharem.

O Wagner Moura registrou algumas das muitas coisas que, ao longo do dia de ontem, foram ditas sobre Sua Santidade. E, como ele mesmo diz, é pouco; muito mais poderia ser citado. Em particular, vale a pena mencionar também a matéria do El País, lamentando que Bento XVI tenha entrado nas eleições brasileiras. Mas o conhecido jornal espanhol não é o único caso em que podemos ver a peçonha escorrendo pelo canto da boca. Aqui no nosso Brasil, o Everth já ontem notava que os petistas reagiram com violência ao discurso do Papa. E, sobre isso, o trabalho feito no Twitter foi tão bem feito, mas tão bem feito, que não deixa possibilidade de dúvidas sobre quem são as pessoas que estão contra Sua Santidade.

Sob a pitoresca hashtag “pérolas da turba”, foram reunidas algumas das manifestações indignadas e violentas dos opositores do Papa. Naveguem por lá, tem bastante coisa. É agressivo e muitas vezes chulo, mas é importante que seja conhecido – para que saibamos com que tipo de gente estamos lidando. Colho alguns exemplares ao acaso, apenas para fins de exemplificação (e registro, porque parece que, infelizmente, o Twitter só mantém as últimas 24 horas):

  • Até qndo religião vai ser motivo cego pra votarem. Votem por ideais! Igreja na política ñ dá! Bento XVI idade média acabou
  • Bento XVI se intrometendo na nossa Política, não têm mais o quê fazer não? Assume que Gay logo, enrustido!
  • Pq algumas pessoas acham q o papa deveria ter relevância na eleição? Cadê o estado laico?
  • Bento XVI,ex-membro da juventude hitlerista e hoje Papa no TT.Tudo por uma tentativa de ingerência na eleição do Brasil
  • Pq o Bento XVI não investiga os casos de pedofilia dentro da igreja? Vem querer discutir politica no Brasil.. ah vá…
  • Nós mulheres devemos ser escravas de posicionamento religioso dentro do Estado LAICO?! [CENSURADO], Bento XVI

Estas são as pessoas que estão contra o Papa Bento XVI e a favor da candidata petista! E olhe que o Papa não citou nomes de candidatos, não citou partidos políticos, não citou nem mesmo as eleições de domingo próximo. A carapuça, no entanto, foi rapidamente vestida pelos militantes do PT. Eles confessam, assim, a própria política de desrespeito à dignidade humana (da qual o aborto é notável expoente) condenada pelo Papa. A sua agressividade histérica revela quem eles são.

Mas, enquanto os cães ladram, a caravana passa: Bento XVI ganhou hoje manchete (pelo menos) nas versões impressas d’O Globo, da Folha de São Paulo e da Gazeta do Povo (de novo; aliás, sobre a excelente cobertura que o jornal está fazendo do caso – foi quem deu o furo, antecipando na sua manchete de ontem a notícia que, hoje, está nas capas de todos os jornais… -, não deixem de ler este artigo). Pedro fala, e o mundo escuta! O Coturno Noturno fala que os institutos serão salvos pelo Papa… Não deixem de navegar também pelos outros textos do blog do coronel. E intensifiquemos as nossas orações pela salvação do Brasil; alguém tem ainda alguma mínima dúvida de que as nossas preces estão sendo ouvidas?

Ontem foi um grande dia. Um dia sem dúvidas histórico. Demos graças a Deus. E obrigado, Santo Padre!

Um conto de Carnaval

No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo…
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo…
No contato desfeito e no rumor já mudo…
No prazer que passou… Nesse nada que é tudo.

(Arlequim)

* * *

É tão doce sonhar!… A vida , nesta terra,
vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra.
(…)
não tocar a que se ama e deixar intangida
aquela que resume a nossa própria vida.

(Pierrot)

* * *

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma!

(Colombina)

Menotti del Picchia,
Máscaras

Arlequim saiu de casa na manhã colorida do sábado, a sua roupa refulgindo com todas as cores do carnaval. Saiu sozinho, porque assim se divertia mais; dirigiu-se apressado às ladeiras repletas de frevo. Tinha pressa, pois sabia que os quatro dias de folia passam rápido, e não queria perder nada. Gostava das máscaras, que enchiam os olhos de beleza e de alegria.

No caminho esbarrou em um palhaço apagado, mais adequado a um velório que ao carnaval. Não deu importância e seguiu o seu caminho, sorrindo diante das fantasias coloridas, olhando com indisfarçado desejo para as garotas que enchiam de graça as ruas de paralelepípedos, disparando gracejos a cada passo que dava. Uma delas, mais que as outras, chamou-lhe a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar deslumbrado de quem se depara pela primeira vez com um mundo de beleza até então desconhecida.

Arlequim olhou-lhe e sorriu-lhe, e ela percebeu o seu interesse. Ele aproximou-se, puxou-a e a beijou, como já tinha feito tantas vezes antes; ela não lhe resistiu. Sem dizer-lhe uma palavra ele foi embora, deixando a jovem atônita: ela não conseguia entender como era possível ser tão sem graça a ponto de não merecer nem mesmo um olhar mais demorado. Arlequim não chegou a perceber a lágrima que escorria do rosto belo de Colombina enquanto ele seguia as bandas de frevo ladeira acima.

* * *

Pierrot saiu de casa na manhã triste chuvosa do domingo, sua roupa preta e branca como se fosse um pálido reflexo do dia cinzento. Saiu sozinho, porque sempre fora diferente dos outros, e não gostava da companhia dos demais personagens carnavalescos. Dirigiu-se devagar e pesaroso às ladeiras abarrotadas de ilusões. Não tinha pressa, pois sabia que não encontraria nada nos quatro dias de festa. Não gostava das máscaras, que eram ilusórias e escondiam aquilo que as coisas realmente eram.

No caminho viu um palhaço colorido que ensaiava alguns passos de frevo e atraía a atenção dos foliões que passavam; mas não viu graça. Seguiu andando, olhando com indisfarçado desinteresse para um lado e para o outro, sem responder aos sorrisos que, de vez em quando, eram-lhe endereçados. Encontrou, no entanto, uma garota que lhe chamou a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar decepcionado de quem percebe, pela primeira vez, a efemeridade da beleza do mundo.

Pierrot olhou-a e se espantou ao ver que a moça lhe olhava de volta. Sustentou o olhar apenas por alguns segundos, tempo suficiente para que o rubor se lhe assomasse às faces pálidas. Sem dizer-lhe uma palavra ele foi embora, deixando a jovem atônita: ela não conseguia entender como era possível ser tão sem graça a ponto de não merecer nem mesmo um gracejo de carnaval. Pierrot, descendo a ladeira sem olhar para trás, não chegou a ver a lágrima que escorria pelo rosto jovem de Colombina.

* * *

Colombina saiu de casa, e era uma segunda-feira bonita. Saiu sozinha sem saber o porquê; aproveitava os dias da festa de Momo, sem pressa e sem tédio. Seu humor oscilava entre o deslumbramento e a decepção: o carnaval era-lhe uma experiência nova e estranha. Estava ainda se acostumando com as máscaras.

Passou por algumas esquinas com o pensamento distante; uma chuva de confete e serpentina impediu-lhe de ver o palhaço colorido, e um bloco de frevo que passava escondeu-lhe o palhaço preto e branco. Alguns jovens lhe lançavam sorrisos, e para alguns ela sorria de volta: nenhum deles, no entanto, prendia-lhe muito a atenção. Era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar indeciso de quem não sabe se ama o prazer pelo ímpeto com o qual ele vem ou se o odeia pela rapidez com a qual ele vai embora.

Colombina irritou-se consigo mesma, com sua própria inconstância, com sua própria indecisão. E, hoje, não havia ninguém que pudesse ter visto a lágrima que escorria pelo seu rosto loiro.

* * *

Arlequim, Pierrot e Colombina encontraram-se na terça-feira gorda. Olharam-se demoradamente.

O sorriso de Arlequim enaltecia o prazer carnavalesco. As lágrimas de Pierrot lamentavam as ilusões de Momo. O olhar de Colombina, oscilando entre um e outro, era indeciso: ela não queria os exageros de Arlequim, nem conseguia a indiferença de Pierrot.

Neste instante, o frevo silenciou. Findara-se o carnaval. O rosto de Arlequim era somente desespero: se não havia máscaras, não havia mais nada para ele. O rosto de Pierrot era sereno: ele não se iludira com as máscaras, chorara a sua quota de lágrimas e, agora, ficava feliz em ver as coisas face a face. Colombina nem se desesperava nem se alegrava: deixara-se enganar pelas máscaras, embora não tanto quanto Arlequim, e ainda teria lágrimas a derramar para limpar os olhos, mas conseguiria enxergar o mundo que se esconde por debaixo das fantasias.

Pierrot seguiu em frente. Colombina, embora cambaleante, seguia-lhe à distância. Arlequim ficou no chão, na espera vã de outros carnavais que lhe devolvessem o sentido da vida, irremediavelmente perdido para ele, pois sempre esteve escondido sob as máscaras para além das quais ele nunca conseguiu olhar. E, na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, Pierrot esboçava um sorriso, Colombina derramava lágrimas, e Arlequim chorava amargamente.