Não há mais argumentos, se você é gay é porque você nasceu gay.
[G1 – “Estudo vê semelhança entre cérebro de gays e do sexo oposto”]
La homosexualidad no nace, se hace.
[Courage Latino – “La homosexualidad no nace, se hace; lo vivido en la infancia influye, según un estudio”]
Quando dois estudos chegam a duas respostas diametralmente opostas (como é o caso acima), nós temos um forte motivo para colocarmo-nos em alerta e passarmos um olhar crítico sobre as informações que nos estão chegando, a fim de separarmos o que é estudo sério do que é desinformação ideológica.
Começo com uma simples comparação entre as duas notícias acima: o estudo citado pelo G1 foi realizado “em 90 pessoas” e, o segundo, “a partir de 2 millones de personas”. Isso, para quem tem noções mínimas de estatística, por si só já basta para mostrar que o segundo estudo tem, provavelmente, muito maior relevância.
Mas tal constatação por si só não é dirimente. Vejamos, pois, uma outra coisa: a (suposta) relação entre o formato cerebral e a orientação sexual. Eu não entendo absolutamente nada de neurociência e, embora me pareça estranha a afirmação (subentendida por trás do estudo do “você-nasceu-gay”) de que a simetria ou assimetria dos hemisférios cerebrais mantém-se desde o estágio fetal até a vida adulta, não vou entrar neste pormenor. O ponto é outro. Eu não entendo de anatomia cerebral, mas entendo um pouco de lógica, e sei quando um argumento não prova aquilo que diz provar.
Relações de causa-efeito podem ser expressas na forma “SE causa ENTÃO efeito”. Utilizando um exemplo simples: a rua está molhada [efeito] porque choveu [causa]: portanto, SE choveu ENTÃO a rua está molhada. Mas a construção reversa não é necessariamente verdadeira [só o seria se o efeito em análise tivesse uma única causa] e, embora sirva como hipótese investigativa, definitivamente não serve para postular verdades incontestáveis.
Em outras palavras: dizer SE a rua está molhada ENTÃO choveu (invertendo causa e efeito) não é necessariamente verdadeiro. E o erro aqui está em se considerar que a única causa da rua molhada é a chuva, o que não é verdade. A rua pode estar molhada porque um caminhão-pipa estava vazando. Pode estar molhada porque estourou um encanamento. Pode estar molhada porque alguém estava lavando a calçada. Ou por quaisquer outros motivos. Neste exemplo, embora haja nexo causal entre “chuva” e “rua molhada”, este não poderia ser provado simplesmente partindo da “rua molhada”.
Voltemos ao estudo do “você-nasceu-gay”. Para esta expressão fazer sentido, então “ser gay” é efeito e a causa é uma dada disposição anatômica congênita (como, no caso do estudo, a diferença entre os hemisférios cerebrais). A forma correta da relação seria, então, a seguinte: SE o cérebro é de tal formato ENTÃO o sujeito é gay. Mas acontece que – segundo o G1 – o que se investigou foi o contrário! Pois a notícia diz textualmente:
Ao analisar os resultados, os especialistas observaram que homens homossexuais e mulheres heterossexuais têm os hemisférios cerebrais simétricos, enquanto os dois lados do cérebro de lésbicas e homens heterossexuais são assimétricos, com o hemisfério direito consideravelmente maior do que o esquerdo.
Ou seja: percebeu-se que homens homossexuais têm hemisférios cerebrais simétricos, e não que homens que têm hemisférios cerebrais simétricos são homossexuais! Isso não é um “dilema Tostines”; é exatamente o que permite passar da hipótese investigativa para a existência do nexo causal! É exatamente a investigação partindo da causa para os efeitos o que permite identificar a existência de relações de causalidade entre duas coisas.
A proposição “SE o cérebro é assim ou assado ENTÃO o sujeito é gay” só poderia ser demonstrada verdadeira se se verificasse a ocorrência do efeito sempre (ou, pelo menos, quase sempre) que fosse identificada a existência da causa – ou seja, se todos ou quase todos os homens que tivessem os hemisférios cerebrais simétricos fossem gays. Pelo caminho reverso, só se poderia no máximo concluir pela veracidade da proposição se o efeito tivesse uma única causa; mas, neste caso, é uma clara Petição de Princípio, pois o que o estudo quer provar é exatamente isso e, assim sendo, não o pode usar como premissa para chegar à sua conclusão.
O formato cerebral, então, não pode ser demonstrado como a única causa do homossexualismo pelos meios que o estudo realizou. Vamos adiante: será que se pode provar que ele é, ao menos, uma causa? A resposta é não, de novo, pois a conclusão do estudo pode ser demonstrada falsa muito facilmente.
Vejamos: de acordo com esta tese de doutorado (que versa sobre outra coisa, mas reproduz uma informação relevante), 35% da população possuem hemisférios cerebrais simétricos. A porcentagem de homossexuais na população, segundo os próprios homossexuais, varia de 4 a 10%. Considerando que há um número mais ou menos proporcional entre homens e mulheres na população mundial e considerando o melhor cenário para os defensores da teoria do “você-nasceu-gay”, teríamos:
- 50% homens, 4% gays => 2% população mundial é masculina e gay.
- 50% mulheres, 10% lésbicas => 5% população mundial é feminina e lésbica.
Somando:
- Homens heterossexuais + lésbicas = 48% + 5% = 53%
- Mulheres heterossexuais + gays = 45% + 2% = 47%
Ou seja, se o estudo estivesse certo, 53% da população deveria ter “assimetria cerebral” e, 47%, “simetria cerebral”; números que são de, respectivamente, 65% e 35%. São doze pontos percentuais de diferença entre os dados reais e os dados que o estudo esperaria encontrar – e isso no cenário mais extremo em favor dos defensores da teoria noticiada por G1. Temos, então, um motivo forte o suficiente para rejeitar tal estudo, pois o mesmo simplesmente não condiz com a realidade. Portanto, a anatomia cerebral não é nem mesmo uma causa do homossexualismo – muito menos a única causa. A única coisa que este estudo mostra é (no máximo) que, dentro do grupo de amostragem utilizado, os homossexuais têm o cérebro semelhante aos heterossexuais do sexo oposto; mas não prova nenhuma relação de causa-efeito entre a anatomia cerebral e a “orientação sexual” do indivíduo.
Em suma: não há determinismo no comportamento dos homens. Os atos humanos, como tais, permanecem sempre dependentes da liberdade humana. Tendências ou inclinações para qualquer coisa não significam que o homem esteja inelutavelmente preso à mecânica realização daquilo para o qual ele se sente inclinado. No fundo daquilo que é a própria essência do homem, está o livre arbítrio; e este, dom sagrado do Criador à Sua criatura, não lhe pode ser arrancado.
Permanece, portanto, plenamente atual aquele ensinamento do Catecismo da Igreja Católica:
As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.
[CIC 2359]
E a castidade é possível, pois é escolha humana, e o homem sempre pode escolher; não há determinismo biológico ou imposição ideológica que seja capaz de retirar do homem esta sua capacidade que é sagrada.
Sugestão de visita: National Association for Research & Therapy of Homossexuality.