O primeiro de nós que se vai

Já fazia bastante tempo que eu não escrevia neste espaço; a internet mudou nos últimos anos — bem debaixo dos nossos olhos! — e o interesse das pessoas por textos compridos, publicados em sites particulares, deu amplamente lugar ao conteúdo consumido no feed do Facebook ou, mais ainda!, nos stories do Instagram. É um fenômeno que manipula com extrema maestria o nosso senso de prioridades: a palavra escrita na areia da praia muito em breve será apagada pelas ondas do mar, enquanto a palavra gravada na pedra estará sempre disponível para nossa consulta futura. Posto o problema nestes termos abstratos, é natural que se dê preferência à escrita arenosa, efêmera e volátil. No entanto, quando temos legiões de escribas lutando freneticamente contra o avanço das marés — não no sentido de prolongar no tempo a escrita, mas no de não deixar, nem por um segundo sequer, um palmo de areia lisa após a passagem das ondas –, quando os homens se entregam com todas as forças ao éter das redes sociais elevado ao paroxismo, aí é natural que as pedras sejam deixadas de lado e, recobertas de musgos, somente a um observador mais atento — ou a um visitante dos tempos passados — revelem as mensagens que nelas costumavam ser gravadas.

Este sítio estava assim, mais como um monumento às batalhas do passado que como palco das lutas do presente. No entanto, hoje sou forçado pelas circunstâncias da vida a retornar a estas paragens, a soprar a poeira destas páginas e a empunhar a pena mais uma vez, para me desincumbir de uma tarefa que eu desejara não cumprir. Hoje sou constrangido a escrever um pungente necrológio, e aos obituários não fica bem a volatilidade das redes sociais: cai-lhes melhor a palavra grafada em pedra, sem luzes, sem cores, sem espalhafatos, mas duradoura. Gostaríamos que os nossos entes queridos não se fossem! Incapazes, no entanto, de fazer frente à imperiosidade da morte, esculpimos laboriosamente os seus nomes no mármore dos cemitérios — a fim de que ao menos alguma coisa deles permaneça conosco, no nosso mundo, para a qual nos possamos voltar de quando em vez, quando nos cansarmos do vaivém das ondas do mar.

Na manhã deste 30 de julho, na véspera do seu sexagésimo aniversário, aprouve ao Senhor chamar a Si o Seu filho Wagner Marchiori — esposo, pai e avô dedicado, amigo fiel. Os mais antigos do Deus lo Vult! certamente hão de se lembrar dele, se não pelo nome de Batismo, ao menos pelo pseudônimo de Lampedusa com o qual ele costumava abrilhantar a área de comentários deste site. Há anos o meu amigo lutava contra uma grave doença neurológica — um tipo de esclerose amiotrófica — que lhe roubava paulatinamente o movimento do corpo, preservando-lhe no entanto intacta a mente. Não sou capaz de imaginar o sofrimento pelo qual ele passou — perdendo pouco a pouco o controle dos músculos, logo a força dos braços, o movimento das pernas, a sensibilidade dos dedos da mão. No entanto, com quanto garbo ele soube entornar o cálice até o fim, até o fundo, sem derramar uma gota sequer, sem murmurar! O corpo padecia, mas a alma se agigantava. Se é verdade que há heroísmo na vida ordinária dos cristãos, há uma espécie de super-heroísmo em quem atravessa dificuldades extremas sem esmorecer, sem titubear.

Conheci Wagner na época do Orkut, na pré-história da internet. Dividimos, junto com outros amigos, a moderação da melhor comunidade “Católicos” em língua portuguesa daquela rede social. Daquela época nos ficou uma seleta lista de e-mails, de nome sigiloso, por meio da qual nos correspondemos — por vezes, todos os dias — ao longo dos anos. Também as listas de discussão tiveram o seu ocaso; fomos para os grupos de WhatsApp. E assim, ano após ano, em meio a plataformas de comunicação à distância que surgiam e caíam no esquecimento, nós continuamos amigos próximos. É por isso que, hoje, mesmo tendo sido recebida pelo celular, a notícia do seu falecimento me abate como se tivesse sido um familiar que nos deixasse.

Wagner Marchiori, Fernando Tavolaro, Luís Guilherme Pereira e Jorge Ferraz.
Indaiatuba, 2009.

Quanto tempo, e tão depressa! Em um feriado prolongado de sete de setembro, em 2009, Wagner convidou-nos, a mim e a uns amigos comuns, para passarmos uns dias em uma casa de férias que ele possuía no interior de São Paulo. Já lá se vão mais de dez anos; mas quanta coisa mudou de lá para cá! Desejamos repetir a experiência daqueles dias outras vezes; chegamos até mesmo a comentar, mais de uma vez, que deveríamos achar uma oportunidade para marcar um grande encontro, onde cada um pudesse levar a sua família, para lembrarmos os velhos tempos. Éramos jovens e tolos. Toda uma vida passou por debaixo dos nossos olhos, e o desejado encontro nunca veio. Resta-nos agora esperar que as lágrimas vertidas pelos que ainda aqui ficamos possam comover o coração de Deus, a fim de que Ele, olhando para a amizade cultivada entre os Seus filhos aqui nesta terra, digne-Se preparar um dia, no Céu, os encontros que aqui não se puderam realizar.

Em 2018 voltei a São Paulo depois de muitos anos; fui com a esposa para um congresso de Direito. Wagner nos convidou para jantar, e graças a Deus conseguimos acertar a nossa agenda para tornar possível o encontro! Foi uma noite bastante agradável, com bom vinho e boa comida e boa conversa até tarde. Surpreendeu-me, na ocasião, como Wagner estava debilitado: já em uma cadeira de rodas motorizada, só movia as mãos e a parte superior do tronco. Mas falava com tanta vivacidade, e conversava conosco com tanto interesse, e sorria com tanta jovialidade que um transeunte ocasional que porventura escutasse por detrás da porta certamente diria ser ele o menos enfermo dos que ali se encontravam.

Despedimo-nos nos desejando ver mais uma vez em breve, e os anos correram de novo. Chegou 2020 e o Coronavírus atirou para o futuro distante qualquer possibilidade de viagens a lazer. Aquele jantar foi a última vez em que estive com Wagner, e sou grato a Deus por me ter proporcionado esta oportunidade de me despedir do meu amigo sem que o soubéssemos. Ou pelo menos sem que eu o soubesse; Wagner provavelmente já tinha então uma consciência mais nítida da fragilidade da sua condição. Mas ele não permitiu que nenhuma sombra de tristeza tisnasse a alegria daquele último reencontro.

Jamais o permitiu. Daquele grupo de católicos que se conheceu no antigo Orkut (e alguns de nós antes mesmo disso, no mIRC), tenho a alegria de dizer que uma parte considerável de nós manteve e mantém até hoje um contato frequente, quase diário. E Wagner, cujo corpo se deteriorava dia a dia, jamais deixou que a sua doença monopolizasse as nossas conversas: era de uma discrição heroica. E jamais deixou de conversar conosco, e de se importar, e de agir com toda a generosidade e grandeza de alma que lhe eram próprias. Na última mensagem que nos mandou, ontem mesmo, manifestava condolências a outro amigo, cujo sogro falecera recentemente. E hoje, no início da tarde, a próxima mensagem quem nos manda é a esposa, de posse do celular dele, dizendo que ele falecera pela manhã…

É o primeiro de nós que se vai, e isso provoca em mim uma tristeza profunda. Que a Virgem Santíssima o receba, meu amigo! Que você possa um dia desfrutar, na presença de Deus, do corpo são que lhe foi tão dolorosamente negado nos seus últimos anos nesta terra. E que a alegria dos anjos e santos com a sua chegada possa suplantar infinitamente a tristeza que a sua partida nos causa aqui. Descanse em paz.

Uma Ave-Maria por Wagner, para que seja recebido depressa no Paraíso, e para o consolo dos familiares e amigos, é o que peço aos que chegaram até aqui.

Quando morre um sacerdote do Deus Altíssimo…

Faleceu, na noite da última segunda-feira (12), aos 88 anos, o padre salesiano José Rolim Rodrigues. Recebi por WhatsApp o “santinho” abaixo, e reconheci pela fotografia o sacerdote de quem não me lembrava pelo nome: provavelmente a maior parte dos católicos que se confessaram, nos últimos anos, na igreja do Salesiano daqui de Recife, tem um débito espiritual para com o padre Rolim.

pe-rolim-rip

Sim, eu o conheço…! Ouviu minha confissão por diversas vezes ao longo de anos. Entrar na portentosa Basílica antes do início da Missa vespertina e encontrá-lo, lá, na salinha que faz as vezes de confessionário, era um verdadeiro bálsamo para as chagas adquiridas na peregrinação espiritual nossa de cada dia. Ia haver confissão! Somente entenderão a alegria contida nessas simples palavras aqueles que já experimentaram a tristeza de se deparar com um confessionário vazio (*) num momento em que sua alma, estraçalhada, reunia as últimas forças para lançar aos Céus um desesperado grito de socorro – que se perdia no vazio.

[(*) “Confessionário vazio”, claro, é uma metáfora. Refiro-me a padres disponíveis para ouvir confissões. Praticamente não há mais confessionários em lugar algum, e infelizmente a igreja do Salesiano não é exceção a essa regra. Aos que tinham o costume de frequentá-la, talvez a imagem que lhes provoque semelhante desolação seja a da estola roxa posta sobre o genuflexório… esperando um sacerdote que a envergasse…]

Lembro-me das vezes em que com ele me confessei. “Quanto tempo que não se confessa?”, ele sempre perguntava. “Mora com seus pais?”, “é solteiro ou casado?”, “trabalha?”, “estuda?”, “tem ido à Missa?”, e tantas outras perguntas que o hábil médico de almas manejava para, mediante elas, conquistar aos seus penitentes uma confissão bem feita. E lá se iam os meus pecados, horrendos, sucedendo-se em assustadora profusão, desfilando tetricamente diante dos olhos da memória…! Ao final, ele, sereno, sorria e dizia – tocando-me paternalmente o braço – quase invariavelmente: “Tá bom. Arrependido de todos, todos os seus pecados diante de Deus, como você se encontra agora, peça o perdão e diga, por sua penitência, um pai-nosso e dez ave-marias. Diga o ato de contrição”.

E eu o rezava. Ato contínuo, em voz suficientemente alta para ser ouvido, iniciava o reverendíssimo sacerdote: «Deus, Pai de Misericórdia, que pela Morte e Ressurreição do Seu Filho reconciliou o mundo consigo…» – não era em todo lugar que se conseguia a fórmula completa da Absolvição! «E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». E eu respirava, enfim aliviado. E a Redenção acontecia de novo. E havia paz.

Eu costumo frequentar aquela igreja do Salesiano, onde me casei. E, agora, fico imaginando como vai ser passar ao lado da salinha de confissões e não mais encontrar lá, sentado, o sacerdote através de cujas mãos eu recebi, tantas e tantas vezes, o perdão de Deus e uma nova chance de Lhe ser fiel. O padre Rolim foi um fiel dispensador das graças do Altíssimo, e agora eu fico dividido entre dois sentimentos antagônicos: por um lado, o temor de não saber quem irá ocupar-lhe o posto (virá alguém?) e, por outro, a esperança de que ele esteja, agora, colhendo os frutos de uma vida dedicada à messe de Cristo. Mas a serenidade é maior do que a tristeza. As boas lembranças sobrepujam a ausência. A esperança é maior do que o temor do futuro. Obrigado, padre Rolim.

Quando morre um sacerdote do Deus Altíssimo e, dele, os seus fiéis se recordam com carinho e gratidão, é sinal de que ele pode dizer, diante do Justo Juiz, ter combatido o bom combate e terminado a sua carreira guardando a Fé. Que a Santíssima Virgem – a quem o padre Rolim tanto me fez rezar! – possa recebê-lo o quanto antes nas moradas celestes. Que as minhas feridas, tantas vezes saradas pelas mãos dele, possam pesar em favor do reverendíssimo sacerdote no seu julgamento. E que ele, que tantas vezes perdoou os meus pecados enquanto esteve aqui na terra, possa se lembrar de mim e de minha família, um pouco que seja, agora que pode mais diante de Deus.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in pace,
amen.

Nota de Falecimento: Fernando Castro, “pai” das Famílias Numerosas

Recebi de um amigo de Portugal a notícia do falecimento do sr. Fernando Castro, «fundador e principal motor (…) da Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN)».

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Eu não o conhecia pessoalmente, mas já havíamos trocado emails. Foi ele quem disponibilizou os vídeos sobre envelhecimento da população que eu divulguei certa vez aqui no blog. Buscando agora as mensagens transatlânticas que dele recebi, encontrei numa delas um gentil post scriptum dizendo «[s]e calhar, qualquer dia, teremos oportunidade de nos conhecermos pessoalmente».

Infelizmente essa oportunidade não chegou. O Sr. Fernando foi convocado à Casa Paterna antes que eu pudesse encontrá-lo pessoalmente aqui neste Vale de Lágrimas; mas as nossas peregrinações se cruzaram ao menos por um instante, ao menos no combate comum a uma cultura decadente e suicida que leva as pessoas a enxergarem nos filhos uma ameaça ao presente ao invés da esperança do futuro. E isso foi engrandecedor para mim.

Quem não conhece o trabalho realizado pela APFN pode visitar o site da Associação. E faço eco ao que escreveu um amigo do Sr. Fernando por ocasião da sua morte:

É uma perda a sua morte, mas também um ganho: um reforço no Céu. Imagino-o espantado e contente (tinha um coração puro e ingénuo como uma daquelas criança das que nos falam os Evangelhos) junto de Deus  a Quem sempre serviu e já inquieto e mobilizador a ajudar-nos desde esse posto onde um dia, todos juntos, pela Sua Misericórdia, faremos uma grande festa!

Sim, que a Virgem Santíssima o receba depressa nas Moradas Celestes, e que de lá ele continue a interceder por nós outros que continuamos nessa caminhada, esperando merecer chegar também um dia ao Encontro definitivo com o Deus para Quem fomos criados.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace,
Amen.

Morre Neil Armstrong – R.I.P.

Morreu no último sábado (25 de agosto), aos 82 anos, o astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Considerado um verdadeiro herói pelos de sua geração e também pelos das que se lhe seguiram, Armstrong nunca gostou muito deste tipo de fama e era, na verdade, uma pessoa bastante reservada. A notícia reproduzida por G1 fala um pouco desta característica do viajante do espaço: «Armstrong viveu uma vida de reclusão após a Apollo 11. Convidado frequentemente por partidos americanos, ele se recusou a concorrer a um cargo político. Armstrong também raramente era visto em público e quase nunca dava entrevistas, além de não costumar tirar fotos ou dar autógrafos, porque não gostava que eles eram vendidos por valores que ele considerava “absurdos”. Sua única biografia autorizada foi publicada em 2005. Ele também costumava processar empresas que usavam sua imagem sem autorização e doar as indenizações recebidas à faculdade em que se formou».

Dentre os seus muitos feitos dignos de admiração, merece destaque um que li hoje pela manhã no Meio Bit. Era 1966; a viagem à Lua não se concretizara ainda. Armstrong estava em uma missão espacial tripulada com outro astronauta, o David Scott, e testava um procedimento de acoplamento espacial entre duas naves, a pilotada pelos cosmonautas e uma não-tripulada. O acoplamento foi um sucesso; mas, durante o reposicionamento, ocorreu um problema com os foguetes de rotação e a nave não parava de girar. No vácuo, onde não existe ar para oferecer resistência, o resultado foi que o módulo passou a girar cada vez mais rápido, colocando em risco a vida dos astronautas e, muito provavelmente, de todo o programa espacial americano:

Após a conexão, o computador da Agena [nave não-tripulada] iniciou um comando para girar o conjunto das duas naves em 90 graus. O giro foi efetuado, mas não parou. Neil comandou os jatos de manobra e cessou o giro, mas assim que ele parou, o giro voltou. Imediatamente desligaram o Agena, mas alguns minutos depois o giro reapareceu.

Consultando os instrumentos, descobriram que só tinham 30% de combustível nos jatos de manobra da Gemini [nave dos astronautas], e o giro aumentava. O consenso era que havia algo de errado com a Agena. Ejetaram a nave automática, Houston a comandou pra se afastar, nas o giro só aumentou. Sem a massa extra, logo a Gemini girava a 60 rotações por minuto.

[…]

Era evidente que o problema estava na Gemini. A nave se aproximava do limite de integridade estrutural, os astronautas já apresentavam visão de túnel e logo perderiam a consciência. Só havia uma coisa a fazer:

Usando de seu treinamento Neil Armstrong desligou os jatos de manobra, passando para controle manual os jatos de controle de reentrada, um sistema independente que controlaria a posição da nave quando retornasse para a Terra.

Tendo aprendido a pilotar antes de aprender a dirigir, com 78 missões na Coréia e experiência de piloto de testes do X15, Neil Armstrong conseguiu identificar, reverter e anular o giro, revertendo um pesadelo de desorientação espacial, evitando um desastre certo.

Com semelhantes feitos no currículo, não é de se espantar que o astronauta provoque a admiração de milhões de pessoas no mundo afora. Isto é perfeitamente justo: afinal de contas, o que é admirável merece receber admiração, e a impressionante habilidade do primeiro homem a pisar na Lua é um fato incontestável, atestado pelos diversos episódios de sua carreira de astronauta (dos quais o exemplo acima é bem representativo).

O que não é justo é utilizar a ida do homem à Lua para se fazer um idiota proselitismo anti-religioso. E não é justo por uma razão bem simples: historicamente, a corrida espacial não foi utilizada com esta conotação, e transformá-la em um baluarte contra o obscurantismo religioso é falsificar a história e trair o pensamento dos seus protagonistas. O fato é que Armstrong não quis jamais emancipar o homem de Deus e provar que “o homem pode fazer coisas maravilhosas sem ajudas sobrenaturais”. Ao contrário de alguns dos seus fãs, Armstrong não era ateu militante. Ao que consta, aliás, não era nem mesmo ateu ou agnóstico: muito pelo contrário.

O Free Republic nos traz um fato interessante sobre a vida do astronauta, que me permito traduzir:

O astronauta americano foi [certa vez] levado para um passeio na cidade antiga de Jeruslalém, na companhia do arqueólogo israelita Meir Ben-Dov. Quando eles chegaram ao “Hulda Gate”, que fica no topo das escadas que levam ao Monte do Templo, Armstrong perguntou a Ben-Dov se Jesus havia pisado em algum lugar por ali.

“Estes são os degraus que levam ao Templo”, Ben-Dov lhe disse, “então Ele deve ter caminhado por aqui muitas vezes”.

Armstrong perguntou se aqueles eram os degraus originais, e Ben-Dov confirmou que sem dúvidas eram.

“Então Jesus pisou bem aqui”, Armstrong perguntou”. “Exatamente”, respondeu Ben-Dov”.

Ao que Armstrong, o cristão devoto, respondeu: “Eu tenho que lhe dizer, eu estou mais excitando pisando nestas pedras do que quando eu estava pisando na Lua”.

O mundo secular lembra de Armstrong como, entre outras coisas, um engenheiro espacial, um professor de universidade, um piloto de guerra e, naturalmente, como o primeiro homem na história a voltar para a Terra após estar na superfície da Lua.

Mas aqueles que eram mais próximos do famoso astronauta – sua viúva, Carol, seus dois filhos, Erik e Mark (de um casamento anterior), seu irmão e sua irmã, e outros sobreviventes – lembram de Neil Armstrong como um homem de fé.

A Wikipedia anglófona também se refere ao fato, apenas alterando ligeiramente a frase do astronauta: ele teria dito que estava tão excitado naquelas pedras quanto estava quando pisou na Lua [he was just as thrilled to stand on this staircase as he had been when he took his first steps on the moon]. Mas tanto uma forma quanto a outra serve para desmascarar a farsa anti-religiosa. O primeiro homem a pisar na Lua realizou o seu “grande passo para a humanidade” rendendo graças a Deus, e não na atitude de desprezo a Ele que alguns dos seus fãs gostam de adotar. É importante o registro histórico, para respeitar a memória do herói recém-falecido.

A Armstrong, nossas homenagens e nossas orações. Que ele inspire as pessoas a perceberem que progresso científico e religiosidade sincera podem perfeitamente coexistir em uma única pessoa. Que a família e os amigos sejam confortados na dor da perda. Que o primeiro homem a pisar na Lua descanse em paz.

Nota de Falecimento: Dom Eugênio Cardeal Sales

[Eu soube esta madrugada do falecimento de Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Dom Eugenio de Araújo Sales; reproduzo a pequena nota que consta no site da Arquidiocese do Rio de Janeiro – no qual, a propósito, o cardeal sempre colocava os seus artigos e cujo acervo se encontra agora à disposição, como um legado, aos que por aqui ficamos ainda mais um pouco, deste que era o mais antigo cardeal da Santa Igreja.

A CNBB também emitiu uma nota de pesar. O Deus lo Vult! faz coro às lamentações que ressoam por todo o orbe católico, pedindo à SSma. Virgem, Porta do Céu, que receba D. Eugenio nas Moradas Celestes o quanto antes, a fim de que aquele que tanto lutou pela Igreja cá na terra possa continuar intercedendo por Ela diante de Deus.

Requiem aeternam dona ei, domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace,
Amen.]

Dom Eugenio Sales entra na Glória Eterna

É com pesar que a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro noticia o falecimento de seu Arcebispo Emérito Cardeal Dom Eugenio de Araujo Sales, no final da noite desta segunda-feira, 9 de julho de 2012.

O corpo de Dom Eugenio chegará à Catedral de São Sebastião às 12h desta terça-feira, dia 10 de julho, onde acontecerá o velório do Cardeal, com missas de duas em duas horas. Na quarta-feira, dia 11 de julho, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, presidirá a Missa Exequial seguida do sepultamento, na cripta da mesma Catedral.

Dom Eugenio de Araujo Sales, o mais antigo Cardeal da Igreja Católica, era Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, do Título de São Gregório VII. Seu lema, fundamentado na Carta de São Paulo aos Coríntios, foi: “Impendam et Superimpendar”, tirado de 2Cor 12,15: “Quanto a mim, de bom grado despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor. Será que, dedicando-vos mais amor, serei, por isto, menos amado?”

Curtas

Morre a filha de Stalin que se converteu ao catolicismo. Morreu sozinha no último dia 22 de novembro, em um asilo nos Estados Unidos. Leiam lá o testemunho dela contando a sua conversão (está em espanhol, mas é belíssimo). Só um trecho: «Há uma coisa que aprendi pela primeira vez nos conventos católicos: a bênção da existência quotidiana, inclusive da mais escondida; de cada pequena ação e até mesmo do silêncio. Geralmente sou felicíssima em minha solidão; na tranqüilidade do meu departamento eu sinto vivamente a presença de Cristo».

E subscrevo o final do texto de HazteOir.org: Sobra cualquier glosa al texto. Svetlana Iósifovna Stálina, gracias por tu testimonio. Descansa en paz.

* * *

Corra, Edir Macedo, que o Papa vem aí – sobre a recente campanha calhorda da Record para colocar o povo brasileiro contra a próxima Jornada Mundial da Juventude que acontecerá no Rio de Janeiro em 2013. Vejam lá os comentários do Porta Fidei. A reportagem original está aqui. Desta, eu cito: «O texto é claro: são R$ 5 milhões para a realização e divulgação da Jornada. O deputado estadual Édino Fonseca é contra a utilização do dinheiro do contribuinte para a promoção de um evento católico, advertindo que o Estado é laico. A deputada Myrian Rios, autora da emenda, foi procurada, mas não se pronunciou sobre o caso».

Sinceramente, eu não sei nem o que comentar. Todo mundo sabe que a JMJ é um evento que praticamente se auto-sustenta e que é extremamente benéfico para a economia dos países onde se realiza (ao contrário de Olimpíadas ou de Copas do Mundo). A JMJ Madrid, p.ex., movimentou 354 milhões de euros! E «custou, em âmbito organizacional, em torno de 50 milhões de euros advindos de recursos gerados pela própria organização». Eis os fatos que fazem calar a tagarelice da Record. É isto o que tem que ser apresentado aos cariocas, e não a insidiosa cortina de fumaça levantada pela emissora protestante.

* * *

Padres brasileiros invadem o Novo Mundo. A reportagem de Terra fala sobre o novo Anuário Católico, cujos dados são animadores: «apesar de ainda haver pouco padre por habitante (um para cada 8.624), o número de paróquias e de sacerdotes está em crescimento. Segundo o Anuário, há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que em 2000».

Vale também a pena passar os olhos por esta Análise sociológica da evolução numérica da presença da Igreja no Brasil. O estudo apresenta tabelas e gráficos muito interessantes, embora quase todas as explicações sejam perfeitamente dispensáveis.

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Alento aos desolados com a Igreja, por Genésio “Frei Leonardo” Boff. É um lixo completo. Destaco só o último parágrafo para fazer uns ligeiros comentários:

O problemáti[c]o na Igreja romano-católica é sua pretensão de ser a única verdadeira. O correto é todas as igrejas se reconhecerem mutuamente, pois todas revelam dimensões diferentes e complementares do Nazareno. O importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual. É ele que pode sustentar a tantos cristãos e cristãs face à mediocridade lamentável e à irrelevância histórica em que caiu a Igreja atual.

1. Como está bastante óbvio para qualquer pessoa que mantenha intacta a sua capacidade de reconhecer os princípios elementares da lógica, qualquer coisa que se afirme ser verdade precisa, necessariamente, excluir todas as coisas que lhe contradigam. Não dá para dizer que uma coisa é verdade e, ao mesmo tempo, que o(s) contrário(s) desta coisa é(são) também verdade.

2. “Todas as igrejas” (e o Genésio inclui aqui também as seitas) “se reconhecerem mutuamente” é uma coisa que só é possível pela destruição de todas as igrejas, uma vez que (ao contrário do que disse o Genésio) a pregação do Nazareno inclui sim uma (e somente uma) Igreja que era “coluna e sustentáculo da Verdade”. O que o Boff realmente quer é inaugurar a sua própria Igreja – que seria radicalmente diferente de todas as manifestações cristãs em 2.000 anos de Cristianismo! Ele é mesmo o único cristão verdadeiro desde São Francisco!

3. Esta tese idiota do Boff de que – p.ex. – “o importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual” em detrimento de sua organização visível e hierárquica, por acaso o ex-frei não a considera como a única visão verdadeira do Cristianismo? Sim ou não? Se sim, como ele tem a hipocrisia de condenar na Igreja aquilo que ele próprio faz? Se não, por qual motivo está errado – e é problemático – o posicionamento de sempre da Igreja Católica?

4. “Mediocridade lamentável” e “irrelevância histórica”, como disse um amigo em uma lista de emails sobre o assunto, é a contribuição acumulada do sr. Leonardo Boff para a humanidade. Tão medíocre e tão irrelevante que passa a impressão de que ele pensava em si próprio quando escrevia estas linhas.

* * *

Gherardini responde a Ocariz – vi no Fratres in Unum. Gostei do texto. Destaco apenas

1. que o Mons. Gherardini não se furta a usar “linguagem conciliar” e diz, explicitamente, que [grifo meu] «a Igreja é e opera no tempo como sacramento de salvação» (cf. LG 1); e

2. que ele não nega ao Concílio o caráter magisterial e doutrinal, aceitando inclusive que «o magistério do Vaticano II, como se diz e rediz a todos os que têm ouvidos para ouvir, é um Magistério solene e supremo».

A despeito de pôr em dúvidas “a sua continuidade com a Tradição”, ele não o faz com o tom dos rad-trads. Em particular, que diferença para o sermão de D. Fellay (apud Tornielli)! Nestes dias em que esperamos a resposta da FSSPX à proposta da Santa Sé, rezemos pela unidade da Igreja. Para que todos se ponham, o quanto antes, cum Petro et sub Petro.

* * *

– Muito ruim este texto [p.s.: aparentemente foi removido; encontrei-o ainda disponível aqui] que alguém me pediu por aqui para comentar. Não tem coesão, não segue um raciocíno reto, não justifica as suas posições (“jogadas” no meio do texto), não apresenta alternativas… em suma, é perfeitamente inútil. Apenas comento à guisa de exemplo:

  • «No final desse mesmo século [IV], o cristianismo ascendeu ainda mais, pois, doravante, por decreto do imperador, tornou-se a única religião oficial do império» – como assim “única”? E por acaso existe/existiu algum império que em algum momento tivesse mais de uma religião oficial?!
  • «[S]omente as pessoas que de fato eram convertidas tinham coragem de se assumirem como cristãs, em virtude dos desdobramentos perigosos de professar a fé no Filho de Deus» – isto não é propriamente verdade, o que se demonstra pelo número enorme dos Lapsi dos primeiros séculos (que gerou inclusive disputas na Igreja sobre a forma como eles deveriam ser tratados). Cristãos “frouxos” sempre houve. Se é possível dizer que o número de covardes aumentou com o fim das perseguições, por outro lado não se pode esquecer dos bons cristãos que, contudo, não tinham a têmpera dos mártires e só puderam seguir com maior tranqüilidade a sua consciência após o Edito de Milão. Teodósio não obrigou ninguém a ser cristão.
  • «[A] partir dessa oficialização por decreto, muita gente inconversa e interesseira tornou-se “cristã”, pois, a dobradinha igreja e Estado era prato cheio para quem quisesse se dar bem» – exemplos? Nenhum. O cara simplesmente cospe a afirmação gratuita, e os seus leitores são obrigados a aceitar. Ademais, ainda concedendo que o articulista estivesse correto quanto a este dado factual, esta deturpação religiosa seria devida à cretinice destes falsos cristãos específicos, e não por causa da união entre Igreja e Estado.
  • «[A] verdadeira fé (…) cada vez mais se afastava da única fonte de vida da igreja, a Palavra de Deus registrada na Bíblia Sagrada» – quem disse que a “única fonte de vida da igreja” é “a Palavra de Deus registrada na Bíblia Sagrada”? Esta digressão teológica herética e nonsense no meio do texto [com as minúsculas e maiúsculas em “igreja” e “Palavra”…] revela o protestantismo do articulista – o qual está deixando a sua heresia influenciar sua apreciação do assunto e esta deve, portanto, ser ao menos olhada com suspeição.
  • «Fazer com que a sociedade pare por causa de uma data significativa para uma parcela da mesma é arbitrário, desrespeitoso e contra a constituição» – o cara é contra os feriados religiosos! Mesmo estes feriados sendo parte dos costumes da população brasileira há séculos, e mesmo correspondendo aos anseios da maioria da população! Pela sua lógica, ele devia também fazer uma campanha para acabar com os domingos (afinal, o mesmíssimo Mandamento que manda descansar no Domingo é o que manda guardar os feriados religiosos) e com os feriados laicos (por que nós paramos com a proclamação da República, que é uma data significativa para uma parcela muitíssimo menor da população do que a que se interessa pela Páscoa?). Mas ele não tem propostas e nem lógica no próprio discurso – só sabe reclamar.
  • «Se a igreja hoje fosse parecida com o profeta João Batista, quem sabe os políticos teriam um pouquinho de temor e tremor diante de Deus» – típico de hereges protestantes colocar a culpa “nos outros” e não em si mesmos. Antes de reclamar da “igreja” (seja lá de qual seita ele estiver falando), o sr. Jorge Max deveria cuidar de melhorar a si próprio. Como os católicos são ensinados a fazer.

Sobre o falecimento de Dom Clemente Isnard

Faleceu anteontem (quarta-feira 24/08), aqui em Recife, aos noventa e quatro anos de idade, Sua Excelência Dom Clemente Isnard, arcebispo emérito de Nova Friburgo. Espantei-me ao ler hoje esta nota de pesar publicada pelo Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner.

Antes de mais nada porque a epígrafe não serve de epitáfio para Sua Excelência. É, aliás, uma tremenda falta de caridade para com o prelado recém-falecido, que precisa urgentemente é de orações de sufrágio e de súplicas ardentes ao Todo-Poderoso para que se tenha arrependido de tanto mal que causou à Igreja durante a sua vida. Dom Clemente precisa é da misericórdia do Altíssimo por ter perseguido a Cristo, e não de “preces de gratidão” como se houvesse sido em vida um Defensor Fidei.

O texto de Dom Steiner fala que Dom Clemente foi “o responsável direto pela reforma litúrgica no Brasil”. Isto é verdade; mas, antes de ser motivo de orgulho, é causa de vergonha e de opróbrio para ele próprio, para a Ordem de São Bento, para o Episcopado Brasileiro e para a Igreja Católica nesta Terra de Santa Cruz. É precisamente graças a Dom Clemente Isnard que nós sofremos, até hoje, com uma tradução porca do Missale Romanum (para cuja aprovação a Santa Sé foi enganada por Dom Isnard) que o Vaticano tenta em vão melhorar, e com uma babel litúrgica universalmente generalizada de fazer inveja à Europa pós-Reforma de Lutero. Nós, hoje, amarguramos os frutos podres das desonestidades de Dom Isnard que, antes de ser sentinela zeloso pela preservação da Fé Católica e pelo decoro do culto a Deus, foi inimigo da Igreja que Lhe abriu as portas por dentro para os assaltos das tropas de Satanás.

Para não me alongar muito e para os leitores que não estejam a par do terrível mal que Dom Clemente fez à Igreja no Brasil, remeto a este texto do Oblatvs e a estes dois testes do Exsurge, Domine! (parte 1 e parte 2) sobre “O Inclemente Isnard”. E, aos que passarem por aqui, peço que rezem ao menos uma ave-maria por este homem recém-falecido aqui na minha terra, que foi chamado a se apresentar diante do Justo Juiz tendo nas costas tantas culpas por tantos e tão graves males provocados à Igreja à Qual ele jurou servir. Que Ele tenha se arrependido de seus crimes, e que o Todo-Poderoso não perca esta chance de mostrar como é de fato Rico em Misericórdia para além de quaisquer medidas humanas.

R.I.P.