Neymar, o COI e as manifestações religiosas nas Olimpíadas

A história envolvendo Neymar, a faixa com “100% Jesus” e a reclamação do Comitê Olímpico Internacional é uma falsa polêmica — ou melhor, uma polêmica à qual se está dando mais atenção do que ela merece. Resumindo a história, o Brasil ganhou no último sábado a sua primeira medalha de ouro de futebol nas Olimpíadas. Durante a cerimônia de premiação, o capitão do time brasileiro subiu no pódio com uma faixa amarrada na cabeça com a inscrição “100% Jesus” — não é a primeira vez que ele o faz. O COI disse que iria enviar uma carta de protesto à delegação brasileira afirmando que o ato era inaceitável no evento. Houve protestos por parte da mídia cristã.

Como já antecipei, penso que se trata de uma falsa polêmica. Primeiro porque a manifestação não é a melhor expressão de Fé do mundo; segundo porque não vale a pena mendigar o reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional; terceiro porque o próprio COI disse que não haveria sanções associadas ao incidente — ou seja, tudo se trata de mera vontade de espezinhar.

A primeira questão é talvez a mais relevante aqui. Sinceramente, eu desconheço o testemunho público da Fé Cristã de Neymar — ou ao menos o testemunho público que vá além de usar uma bandana com o Santíssimo Nome de Nosso Senhor nas cerimônias onde ele é premiado. O craque parece levar uma vida em tudo indistinguível da de todos os outros atletas jovens, ricos e famosos — festas, mulheres, brigas. Neste último fim de semana mesmo, com o nome de Cristo na testa e tudo, o atleta ganhou as manchetes dos jornais por conta de ter xingado um torcedor! É certo que a Fé Cristã deve ser difundida; mas será que não estamos fazendo isso errado? Sinceramente eu não sei quem presta maior desserviço ao Cristianismo: o COI, que não quer atletas fazendo referências a Cristo, ou o atleta que, fazendo questão de dar mostras públicas da sua Fé, comporta-se de ordinário como alguém que nada deve à mensagem evangélica!

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Não se trata de condicionar o apostolado à perfeição moral, evidentemente. O ponto é preservar o Evangelho do escândalo. Irritamo-nos, e com toda a razão do mundo, quando os burocratas ateus do COI desprezam a Fé do povo e querem afastar dos olhos do mundo quaisquer referências públicas ao Divino Salvador; ora, por que razão não nos irritaríamos, também e com até maior medida, quando um atleta amarra uma faixa com o nome de Cristo na testa e vai arrumar confusão com os torcedores a ponto de precisar ser contido por seguranças? Porventura isso não é também um desprezo terrível para com os símbolos cristãos?

[O medalhista Usain Bolt é outro atleta que deu recentemente muito mau testemunho ao ser filmado nas boates cariocas de maneira bem pouco casta, para dizer o mínimo: o mesmo Bolt que há bem poucos dias foi divulgado como sendo devoto de Nossa Senhora das Graças. Aqui, no entanto, a questão é toda outra; não me recordo de ter visto o velocista ostentando a sua Fé Católica pelos pódios nos quais subiu durante as Olimpíadas. A Medalha Milagrosa cai muito bem sobre o peito dos pecadores: que a Virgem da Rue du Bac proteja o jamaicano das brasileiras oportunistas! O problema não é ser cristão e cometer pecados — ser pecador é aliás pré-requisito para ser cristão. O problema é preocupar-se mais com dizer-se cristão do que com portar-se, ou ao menos tentar portar-se, de acordo com as exigências deste nome. Sigamos.]

Há uma outra razão pela qual a revolta parece errar o alvo: parece que, com ela, concede-se aos organizadores dos jogos olímpicos uma autoridade e um prestígio que eles, absolutamente, não detêm. O que tem o COI a ver com a Fé dos atletas, com os símbolos que eles usam, com os gestos que eles fazem, com as preces que eles recitam? Que necessidade existe da aprovação destes senhores?

É bem sabido que as normas do Comitê não têm nada a ver com nenhuma “neutralidade religiosa” (como se isso fosse possível). Trata-se, é notório, de uma deliberada e seletiva perseguição aos símbolos e manifestações do Cristianismo, e não de qualquer religião. Isto é muito fácil de ver. Aqui, no Rio de Janeiro, no início da competição, é impossível não lembrar da mulher que jogou vôlei de praia coberta da cabeça aos pés sob o sol escaldante de Copacabana. A vestimenta, que destoava do contexto muitas ordens de grandeza mais do que a pequena faixa do jovem Neymar, era evidentemente um símbolo religioso — no caso, do islamismo. Não lembro de ter visto o COI reclamar de Doaa Elghobashy. Mais ainda: na mídia houve até festa, dizendo que as atletas estavam quebrando um tabu. Se certos símbolos religiosos são aceitos sem maiores polêmicas enquanto outros ensejam reclamações formais, então é óbvio que o objeto da norma proibitória não é a generalidade das religiões, mas sim uma religião (ou algumas religiões) específica(s).

Ora, se o COI está visivelmente empenhado em uma cruzada anti-cristã sob a desculpa da neutralidade religiosa, o que mais é necessário fazer além de desmascarar-lhe a parcialidade? Apontar a medonha contradição já não é suficiente? Exigir de um órgão incoerente e tendencioso… o quê?, o reconhecimento da licitude dos símbolos e gestos cristãos?, a autorização para falar o nome de Jesus Cristo?, não é dar-lhe uma importância desmedida? Por que os atletas cristãos precisariam da autorização do COI para falar de sua Fé? Por que Nosso Senhor teria que pedir licença aos burocratas de um comitê para subir no pódio conquistado pelos Seus seguidores? Ora, que o Comitê Olímpico se limite àquilo que lhe diz respeito! Quanto aos atletas, que sigam ignorando os seus (do COI) queixumes, que mais que isso é rebaixar a Fé aos caprichos dos organismos internacionais.

A situação seria diferente se o órgão estivesse falando em alguma espécie de punição. Se os atletas estivessem sendo minimamente coagidos na manifestação de suas crenças, se estivessem sob a ameaça de alguma sanção, aí sim seria o caso de dizer com voz altiva que compete obedecer antes a Deus que aos homens, que os comitês organizadores não têm jurisdição sobre a consciência alheia e não podem determinar a quem os atletas oferecem suas vitórias ou a quem deixam de as oferecer. Mas nada disso é assim. Sabendo que não tem legitimidade alguma para impedir o uso de uma faixa com o nome de Jesus por um jogador cristão ao mesmo tempo em que placidamente permite indumentárias islâmicas completas a uma atleta muçulmana, o COI não teve nem mesmo a coragem de ameaçar com sanções. Por outra: disse taxativamente que não haveria sanção alguma. É apenas um protesto vazio, digno de adolescentes birrentos, ao qual não convém conceder mais do que um solene desprezo.

Em suma: se há alguma coisa de censurável na atitude do menino Neymar, tal é o uso meramente externo de um símbolo cristão sem que a isso sejam acrescentados alguns mínimos sinais de que se tem em verdadeira conta a seriedade da mensagem evangélica. A pretensão do Comitê Olímpico de censurar as celebrações dos atletas é descabida e, além do mais, incoerente com a própria atitude do COI diante de outras manifestações análogas — e por isso não merece ser levada a sério. A despeito dos maus exemplos dos atletas cristãos e das picuinhas dos burocratas ateus, o fato é que a Fé não depende nem da coerência daqueles nem do beneplácito destes para ser vivida. E vivê-la inclui professá-la em particular como em público — direito natural contra o qual nada podem as cartas de protesto enviadas por todos os comitês do mundo.

A JMJ e a união dos povos

Há quem pense que o esporte é capaz de unir os povos e as culturas. As grandes competições internacionais (como a Copa do Mundo ou, mais atualmente, as Olimpíadas) são por vezes apresentadas como um modelo de congraçamento pacífico e profícuo entre pessoas de diferentes origens e nacionalidades, como um território comum onde os seres humanos podem interagir independentemente das eventuais divergências — políticas, econômicas, ideológicas, religiosas — que possuam.

Sem dúvidas o estabelecimento de regras internacionalmente válidas para os esportes permite que, neles, compitam pessoas que — por conta de barreiras linguísticas, sociais etc. — teriam muita dificuldade de interagir de qualquer outra maneira. No entanto, a pretensão de uma união fundamental de todos os homens sob — p. ex. — a chama dos jogos olímpicos parece-me estar acima das capacidades do espírito esportivo humano. É possível, sem dúvidas, jogar em paz; não significa que se possa edificar a paz sobre os jogos. A fraternidade universal é um anseio da humanidade; calcá-la sobre os esportes, contudo, é edificar sobre a areia. É uma espécie de pareidolia ideológica, que em tudo imagina enxergar a unidade humana perdida.

Existem eventos que melhor atendem a estes anseios (em tudo legítimos) de interação frutuosa e congraçamento de culturas por sobre as barreiras linguísticas, políticas, nacionais: são as Jornadas Mundiais da Juventude católicas. Estes eventos — de cuja magnitude as copas do mundo ou os jogos olímpicos são apenas um reflexo pálido — conseguem atrair multidões vindas dos quatro cantos do planeta, de todos os idiomas, de todas as raças e nacionalidades. Essas pessoas, durante os dias da Jornada, trocam experiências, fazem amizades, ajudam-se mutuamente — em suma, convivem, em união verdadeira, daquela união que torna a dar esperança no futuro da humanidade. Uma união que revela que, por debaixo da diversidade das línguas e das vestimentas, somos todos humanos, somos todos irmãos.

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Infelizmente não pude estar na JMJ da Cracóvia que se encerrou no último domingo. Estive em Madrid, em 2011, e estive no Rio de Janeiro, em 2013; há textos aqui no blog que contam as gratificantes experiências destas duas viagens. Não acompanhei a passagem da «juventud del Papa» pela Polônia, nem mesmo de longe; mas tenho certeza de que aqueles rapazes e moças cumpriram o seu papel e souberam fazer ecoar a mensagem do Evangelho por entre as ruínas da civilização européia. Eu já os vi e sei do que são capazes.

Toda a programação do evento — com todos os pronunciamentos de Sua Santidade — está disponível no site do Vaticano ad perpetuam rei memoriam. Vale uma passagem pela página. De todos os textos disponíveis eu olhei um: o encontro do Papa com os bispos polacos. São quatro perguntas, respondidas pelo Pontífice argentino com toda a informalidade de uma conversa entre amigos. O que me levou a este texto em específico foi uma manchete que vi na mídia secular: “Papa lamenta que crianças aprendam na escola que podem escolher gênero”. Esta colocação do Vigário de Cristo está já no final do encontro, no contexto de uma pergunta sobre como agir diante dos refugiados que chegam à Europa — problema candente e da mais atual importância.

Separemos as coisas. Primeiro a ideologia de gênero. É significativo que o Papa tenha falado sobre o assunto, principalmente se considerarmos que a intervenção pontifícia parece descontextualizada. Ninguém o perguntou sobre isso; ele, espontaneamente, trouxe o assunto à baila. É este o parágrafo que nos interessa aqui:

E aqui gostaria de concluir com um aspeto concreto, porque por detrás dele estão as ideologias. Na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, na África, nalguns países da Ásia, existem verdadeiras colonizações ideológicas. E uma delas – digo-a claramente por «nome e apelido» – é o gender! Hoje às crianças – às crianças! –, na escola, ensina-se isto: o sexo, cada um pode escolhê-lo. E porque ensinam isto? Porque os livros são os das pessoas e instituições que te dão dinheiro. São as colonizações ideológicas, apoiadas mesmo por países muito influentes. E isto é terrível. Em conversa com o Papa Bento – que está bem e tem um pensamento claro – dizia-me ele: «Santidade, esta é a época do pecado contra Deus Criador». É inteligente! Deus criou o homem e a mulher; Deus criou o mundo assim, assim e assim; e nós estamos a fazer o contrário. Deus deu-nos um estado «inculto» para que o fizéssemos tornar-se cultura; e depois, com esta cultura, fazemos as coisas que nos levam ao estado «inculto»! Devemos pensar naquilo que disse o Papa Bento: «É a época do pecado contra Deus Criador»! E isto ajudar-nos-á.

Veja-se que interessante: em primeiro lugar, o Papa chama as questões de gênero de «colonização ideológica», ou seja, de uma imposição feita por determinados grupos poderosos sobre populações menos capazes de se defender. Isto coloca a discussão nos seus termos devidos: não se trata de ciência nem de progresso, mas sim de voluntarismo de um determinado grupo de pessoas influentes.

Depois, o Papa Francisco chamou Bento XVI para cerrar fileiras consigo nesta investida. Ao que parece, foi a única fez que o Pontífice reinante citou o emérito nesta viagem. E a referência a Bento XVI nos traz à lembrança aquele discurso de 2012, onde o então Papa, falando sobre este assunto, afirmou claramente que «onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem» — aforismo que deveríamos ter sempre muito claro na memória. O que está em jogo não são os gostos e preferências individuais. É a dignidade humana que é aviltada quando se diz que o sexo pode ser livremente escolhido.

Ainda: o Papa Francisco falou em Estado e em cultura. Ou seja, não se trata de um preceito de católicos voltado somente para católicos. É questão que diz respeito ao Estado, portanto ao direito, às legislações temporais: o fetiche do Estado Laico não nos deve assustar aqui. Identificando o «gender» com o estado «inculto», Sua Santidade afirma ainda que se deixar conduzir por esta colonização ideológica é incultura, é incivilização e selvageria, é, em suma, barbárie.

Finalmente, a referência ao «pecado contra Deus Criador» revela a magnitude deste equívoco. Ora, o Deus «Criador» é o “primeiro Deus” — quero dizer, é a primeira e mais básica compreensão que o homem tem do Ser Supremo. A Santificação (a capacidade de participar da vida de Deus) ou mesmo a Redenção (o perdão dos pecados e o merecimento da vida de glória) são conceitos teológicos razoavelmente refinados. A Criação não. Esta chega às raias de uma evidência: é a própria razão humana natural, sozinha, que é capaz de alcançar o Criador. Revoltar-se «contra Deus Criador», assim, é algo muito mais fundamental e significativo do que rejeitar a Igreja ou Jesus Cristo. Arrisco-me a dizer que se aproxima de um pecado contra o Espírito Santo (na modalidade “negar a verdade conhecida como tal”) — o que expõe a gravidade da situação e a miséria em que se encontra o homem contemporâneo, longe não apenas da Fé Revelada como também dos rudimentos da teologia natural.

Mas volto à questão dos imigrantes — e concluo. Sobre eles basicamente o Papa fala três coisas: primeiro, que o problema está na terra deles; segundo, que cada um precisa acolhê-los na medida da própria capacidade; e, terceiro, que é preciso integrá-los bem. Isso não é um discurso para o Estado ateu; aqui o Papa está falando para bispos católicos. E estes três passos, que para os poderes de César podem significar apenas algumas políticas públicas burocráticas, para a Igreja têm um significado todo diferente.

O problema dos que batem à porta da Igreja está no lugar de onde eles vieram: nas suas falsas religiões, portanto. Embora não seja possível estabelecer formas universais de receber os pecadores, a ninguém é lícito desprezá-los: todo católico está obrigado, na medida de suas capacidades, a acolhê-los. Finalmente, é preciso integrá-los bem; e integrar na Igreja Católica outra coisa não significa que converter.

Porque o problema não é a «cultura», entendido este termo como o conjunto de hábitos, vestimentas, língua, comidas típicas etc.; o problema é a «religião» ou, antes, o problema são as falsas religiões. Há um único multiculturalismo válido e possível: é o da Igreja Católica, que é Universal e, portanto, abraça todos os homens de todos os povos, raças e nações. O Catolicismo não é uma «cultura»; ele transcende a todas elas e a todas integra em si. As bases comuns sobre as quais é possível construir a fraternidade de todos os povos não podem ser outras que as bases da Fé verdadeira. Desta unidade na diversidade — única possível! — dão testemunho, a cada três anos, os católicos que se reúnem nas Jornadas Mundiais da Juventude. Esta concórdia, esta união, esta paz, que os homens em vão buscam nos torneios de futebol ou nas competições olímpicas, somente em torno ao Papa se podem encontrar.

Curtas

Morre a filha de Stalin que se converteu ao catolicismo. Morreu sozinha no último dia 22 de novembro, em um asilo nos Estados Unidos. Leiam lá o testemunho dela contando a sua conversão (está em espanhol, mas é belíssimo). Só um trecho: «Há uma coisa que aprendi pela primeira vez nos conventos católicos: a bênção da existência quotidiana, inclusive da mais escondida; de cada pequena ação e até mesmo do silêncio. Geralmente sou felicíssima em minha solidão; na tranqüilidade do meu departamento eu sinto vivamente a presença de Cristo».

E subscrevo o final do texto de HazteOir.org: Sobra cualquier glosa al texto. Svetlana Iósifovna Stálina, gracias por tu testimonio. Descansa en paz.

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Corra, Edir Macedo, que o Papa vem aí – sobre a recente campanha calhorda da Record para colocar o povo brasileiro contra a próxima Jornada Mundial da Juventude que acontecerá no Rio de Janeiro em 2013. Vejam lá os comentários do Porta Fidei. A reportagem original está aqui. Desta, eu cito: «O texto é claro: são R$ 5 milhões para a realização e divulgação da Jornada. O deputado estadual Édino Fonseca é contra a utilização do dinheiro do contribuinte para a promoção de um evento católico, advertindo que o Estado é laico. A deputada Myrian Rios, autora da emenda, foi procurada, mas não se pronunciou sobre o caso».

Sinceramente, eu não sei nem o que comentar. Todo mundo sabe que a JMJ é um evento que praticamente se auto-sustenta e que é extremamente benéfico para a economia dos países onde se realiza (ao contrário de Olimpíadas ou de Copas do Mundo). A JMJ Madrid, p.ex., movimentou 354 milhões de euros! E «custou, em âmbito organizacional, em torno de 50 milhões de euros advindos de recursos gerados pela própria organização». Eis os fatos que fazem calar a tagarelice da Record. É isto o que tem que ser apresentado aos cariocas, e não a insidiosa cortina de fumaça levantada pela emissora protestante.

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Padres brasileiros invadem o Novo Mundo. A reportagem de Terra fala sobre o novo Anuário Católico, cujos dados são animadores: «apesar de ainda haver pouco padre por habitante (um para cada 8.624), o número de paróquias e de sacerdotes está em crescimento. Segundo o Anuário, há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que em 2000».

Vale também a pena passar os olhos por esta Análise sociológica da evolução numérica da presença da Igreja no Brasil. O estudo apresenta tabelas e gráficos muito interessantes, embora quase todas as explicações sejam perfeitamente dispensáveis.

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Alento aos desolados com a Igreja, por Genésio “Frei Leonardo” Boff. É um lixo completo. Destaco só o último parágrafo para fazer uns ligeiros comentários:

O problemáti[c]o na Igreja romano-católica é sua pretensão de ser a única verdadeira. O correto é todas as igrejas se reconhecerem mutuamente, pois todas revelam dimensões diferentes e complementares do Nazareno. O importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual. É ele que pode sustentar a tantos cristãos e cristãs face à mediocridade lamentável e à irrelevância histórica em que caiu a Igreja atual.

1. Como está bastante óbvio para qualquer pessoa que mantenha intacta a sua capacidade de reconhecer os princípios elementares da lógica, qualquer coisa que se afirme ser verdade precisa, necessariamente, excluir todas as coisas que lhe contradigam. Não dá para dizer que uma coisa é verdade e, ao mesmo tempo, que o(s) contrário(s) desta coisa é(são) também verdade.

2. “Todas as igrejas” (e o Genésio inclui aqui também as seitas) “se reconhecerem mutuamente” é uma coisa que só é possível pela destruição de todas as igrejas, uma vez que (ao contrário do que disse o Genésio) a pregação do Nazareno inclui sim uma (e somente uma) Igreja que era “coluna e sustentáculo da Verdade”. O que o Boff realmente quer é inaugurar a sua própria Igreja – que seria radicalmente diferente de todas as manifestações cristãs em 2.000 anos de Cristianismo! Ele é mesmo o único cristão verdadeiro desde São Francisco!

3. Esta tese idiota do Boff de que – p.ex. – “o importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual” em detrimento de sua organização visível e hierárquica, por acaso o ex-frei não a considera como a única visão verdadeira do Cristianismo? Sim ou não? Se sim, como ele tem a hipocrisia de condenar na Igreja aquilo que ele próprio faz? Se não, por qual motivo está errado – e é problemático – o posicionamento de sempre da Igreja Católica?

4. “Mediocridade lamentável” e “irrelevância histórica”, como disse um amigo em uma lista de emails sobre o assunto, é a contribuição acumulada do sr. Leonardo Boff para a humanidade. Tão medíocre e tão irrelevante que passa a impressão de que ele pensava em si próprio quando escrevia estas linhas.

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Gherardini responde a Ocariz – vi no Fratres in Unum. Gostei do texto. Destaco apenas

1. que o Mons. Gherardini não se furta a usar “linguagem conciliar” e diz, explicitamente, que [grifo meu] «a Igreja é e opera no tempo como sacramento de salvação» (cf. LG 1); e

2. que ele não nega ao Concílio o caráter magisterial e doutrinal, aceitando inclusive que «o magistério do Vaticano II, como se diz e rediz a todos os que têm ouvidos para ouvir, é um Magistério solene e supremo».

A despeito de pôr em dúvidas “a sua continuidade com a Tradição”, ele não o faz com o tom dos rad-trads. Em particular, que diferença para o sermão de D. Fellay (apud Tornielli)! Nestes dias em que esperamos a resposta da FSSPX à proposta da Santa Sé, rezemos pela unidade da Igreja. Para que todos se ponham, o quanto antes, cum Petro et sub Petro.

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– Muito ruim este texto [p.s.: aparentemente foi removido; encontrei-o ainda disponível aqui] que alguém me pediu por aqui para comentar. Não tem coesão, não segue um raciocíno reto, não justifica as suas posições (“jogadas” no meio do texto), não apresenta alternativas… em suma, é perfeitamente inútil. Apenas comento à guisa de exemplo:

  • «No final desse mesmo século [IV], o cristianismo ascendeu ainda mais, pois, doravante, por decreto do imperador, tornou-se a única religião oficial do império» – como assim “única”? E por acaso existe/existiu algum império que em algum momento tivesse mais de uma religião oficial?!
  • «[S]omente as pessoas que de fato eram convertidas tinham coragem de se assumirem como cristãs, em virtude dos desdobramentos perigosos de professar a fé no Filho de Deus» – isto não é propriamente verdade, o que se demonstra pelo número enorme dos Lapsi dos primeiros séculos (que gerou inclusive disputas na Igreja sobre a forma como eles deveriam ser tratados). Cristãos “frouxos” sempre houve. Se é possível dizer que o número de covardes aumentou com o fim das perseguições, por outro lado não se pode esquecer dos bons cristãos que, contudo, não tinham a têmpera dos mártires e só puderam seguir com maior tranqüilidade a sua consciência após o Edito de Milão. Teodósio não obrigou ninguém a ser cristão.
  • «[A] partir dessa oficialização por decreto, muita gente inconversa e interesseira tornou-se “cristã”, pois, a dobradinha igreja e Estado era prato cheio para quem quisesse se dar bem» – exemplos? Nenhum. O cara simplesmente cospe a afirmação gratuita, e os seus leitores são obrigados a aceitar. Ademais, ainda concedendo que o articulista estivesse correto quanto a este dado factual, esta deturpação religiosa seria devida à cretinice destes falsos cristãos específicos, e não por causa da união entre Igreja e Estado.
  • «[A] verdadeira fé (…) cada vez mais se afastava da única fonte de vida da igreja, a Palavra de Deus registrada na Bíblia Sagrada» – quem disse que a “única fonte de vida da igreja” é “a Palavra de Deus registrada na Bíblia Sagrada”? Esta digressão teológica herética e nonsense no meio do texto [com as minúsculas e maiúsculas em “igreja” e “Palavra”…] revela o protestantismo do articulista – o qual está deixando a sua heresia influenciar sua apreciação do assunto e esta deve, portanto, ser ao menos olhada com suspeição.
  • «Fazer com que a sociedade pare por causa de uma data significativa para uma parcela da mesma é arbitrário, desrespeitoso e contra a constituição» – o cara é contra os feriados religiosos! Mesmo estes feriados sendo parte dos costumes da população brasileira há séculos, e mesmo correspondendo aos anseios da maioria da população! Pela sua lógica, ele devia também fazer uma campanha para acabar com os domingos (afinal, o mesmíssimo Mandamento que manda descansar no Domingo é o que manda guardar os feriados religiosos) e com os feriados laicos (por que nós paramos com a proclamação da República, que é uma data significativa para uma parcela muitíssimo menor da população do que a que se interessa pela Páscoa?). Mas ele não tem propostas e nem lógica no próprio discurso – só sabe reclamar.
  • «Se a igreja hoje fosse parecida com o profeta João Batista, quem sabe os políticos teriam um pouquinho de temor e tremor diante de Deus» – típico de hereges protestantes colocar a culpa “nos outros” e não em si mesmos. Antes de reclamar da “igreja” (seja lá de qual seita ele estiver falando), o sr. Jorge Max deveria cuidar de melhorar a si próprio. Como os católicos são ensinados a fazer.

Perseguição à Igreja na China

Recebi por email de um sacerdote amigo e disponibilizo, com os grifos que recebi. Procurando a referência no google, vi que já havia sido publicado por dois blogs que eu não conhecia:

Pesadelo Chinês
Fátima em Foco

A propósito: todos conhecem o Ajuda à Igreja que Sofre? Vejam o “Fé e Esperança da China”, do último boletim que eu recebi.

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Anexo: recebido por email

Hostilidade ao catolicismo bate recordes nas Olimpíadas

“Eles têm rostos de pedra. Eles encaram carrancudos os estrangeiros em Pequim. É preciso fazer algo. O fato de andarem armados e com um ar sinistro piora as coisas”, alertou Gerhard Heiberg membro norueguês do Comitê Olímpico Internacional (COI) a respeito dos policiais e soldados que garantem a segurança da Olimpíada.

Mas os membros do colaboracionista COI riram dele, noticiou o norueguês Aftenposten.

Nos mesmos dias os bispos e sacerdotes católicos fiéis a Roma da área de Pequim e circunvizinhanças recebiam ordem dos policiais marxistas de “cara de pedra” para não distribuírem os sacramentos durante os Jogos. Nem sequer a Unção dos Enfermos para os agonizantes.

As igrejas “patrióticas” ? i. é, do cisma socialista montado pela ditadura ? permaneceram abertas e exibem faixas convidando a rezar pelo bom sucesso dos Jogos. Sacerdotes e bispos “patrióticos” sorriem aos visitantes estrangeiros, dão entrevistas aos jornalistas elogiando a liberdade religiosa sob o socialismo e distribuem Bíblias com o imprimatur do regime ateu!

Mas, no aeroporto, a alfândega confisca as Bíblias trazidas por turistas estrangeiros.

Mons. John Tong, bispo coadjutor de Hong Kong, informou AsiaNews, foi convidado a assistir à inauguração. O prelado compareceu em espírito de diálogo e de distensão com o comunismo. Em Pequim, ele quis visitar o arcebispo. Resposta imediata: NÃO. Mons. Tong, como convidado, foi para o hotel indicado. Ali soube que devia ficar pelo menos duas noites, mas ele tinha visto só para uma noite! O hotel o pôs na rua. Foi salvo por um fiel que lhe deu hospedagem…

Os bons sacerdotes da capital tiveram que se exilar temporariamente no interior. O fluxo contrário está proibido. Os policiais de “ar sinistro” impedem que os provincianos ingressem em Pequim de medo que sejam portadores de germens de denúncia.

Os policiais vasculham áreas residenciais e centros de transporte à procura de indesejáveis “infiltrados”, informou UCANews, agência que recebe muitos dados por vias extra-oficiais desde a capital e o interior da China.

Em Tianjin, na província de Hebei, onde está Pequim, os bispos fiéis foram postos em prisão domiciliar sob estrita vigilância, e proibidos de ter contato com seus sacerdotes. Só os padres “patrióticos” podem administrar os sacramentos.

Os leigos católicos foram ameaçados caso recebam bons padres nas suas casas.

Proibições semelhantes vigoram nas províncias de Anhui e Shandong, na China oriental, acrescentou UCA News. No nordeste da China, o bispo Joseph Wei Jingyi de Qiqihar disse ter recebido advertência telefônica oficial para interromper as atividades religiosas durante os Jogos.

Em Wuqiu, condado de Jinxian, Hebei, – sempre segundo UCANews – o esquema represivo marxista montou um posto de controle frente à catedral do bispo fiel a Roma D. Julius Jia Zhiguo a fim de vigiá-lo 24 horas sobre 24. Cada duas horas, quatro agentes entram na residência do bispo perseguido para monitorar o que está fazendo. O prelado, corajosamente segue celebrando a Missa todos os dias.

Na Mongólia Interior um sacerdote fiel a Roma contou a UCA News que os padres tiveram quer cancelar as aulas de catecismo e as romarias no mês de agosto.

As comemorações da festa da Assunção de Nossa Senhora – 15 de agosto – corriam sério risco de serem canceladas.

Chineses nas olimpíadas

Muito feliz o artigo do João Pereira Coutinho publicado hoje na FOLHA DE SÃO PAULO. Nas Olimpíadas, a China segue no topo do Quadro de Medalhas, com a considerável diferença [hoje] de 17 medalhas de ouro para os Estados Unidos, que ocupam a segunda colocação. Eu não tenho acompanhado os jogos olímpicos, mas o Coutinho sim, e diz que chama a atenção a expressão dos atletas chineses – “o rosto exibe uma tensão e uma infelicidade que não se encontram nos outros”. Acredito nele, porque não se conseguem quase quatro dezenas de medalhas douradas sem esforços. E compartilho a mesma visão do articulista sobre as explicações do fenômeno. Basicamente, duas.

A primeira, é o fato de que o esporte é usado como “arma política”, para mostrar a superioridade de verniz do regime fracassado perante todos os países do orbe terrestre. O fato não é inusitado, porque a mesma política foi usada na antiga União Soviética e é usada hoje em Cuba [inclusive, esta reportagem atual, deste ano, diz a mesma coisa sobre os esportes na ilha de Fidel: “Usando o sucesso esportivo como arma de marketing da revolução, os cubanos deixaram de ser uma nação insignificante no cenário olímpico para se tornar uma das maiores potências esportivas do planeta”]. Se o regime produz vencedores, ergo ele não é fracassado, é a lógica utilizada pelos comunistas. O problema é que nem mesmo o ponto mais alto do pódio é capaz de satisfazer os dissidentes do regime ditatorial. Direto do túnel do tempo: De volta ao exílio, VEJA, dez anos atrás. Em comparação com as notícias atuais, nada de novo debaixo do sol.

A segunda [interessantíssima] explicação, ainda segundo o articulista, é a política de filho único da China adotada há 30 anos. Nas palavras de João Coutinho,

essa política tem um preço: quando os casais têm um único filho, a pressão e as expectativas de sucesso aumentam, esmagando os desgraçados.

O filho único! Realidade inexistente há alguns anos (ou, pelo menos, circunscrita à casualidade biológica), cujas implicações ainda não foram totalmente identificadas [“42 por cento de alterações de caráter” segundo uns, ou até “maior tempo para amadurecimento da identidade heterossexual” segundo outros]; hoje, os filhos são caros e escassos [vale a leitura]. Filhos, muitos filhos [também vale a leitura] são raros, mesmo fora da China; esta conseguiu criar “uma juventude admirável: pequenos monstros que jogam a existência, sua e dos progenitores, em cada prova desportiva ou académica” – que nos sirva de exemplo a não seguir. Que o Brasil se livre dessa cultura; não importemos o que não presta!

Diz, por fim, o articulista:

Moral da história? Para começar, o suicídio é a primeira causa de morte entre os chineses mais jovens (entre os 20-35 anos); e só entre os universitários, 25% têm recorrentes pensamentos suicidas (nos EUA, por exemplo, só 6%).

É este o paraíso que nos acena? É este o futuro que nós queremos para os nossos filhos? Livre-nos Deus. Da já citada aqui Casti Conubii:

Se uma mãe verdadeiramente cristã meditar nestas coisas, compreenderá certamente que se lhe aplicam, no sentido mais alto e cheio de consolação, estas palavras do Nosso Redentor: “A mulher… quando deu à luz uma criança, já não recorda os seus sofrimentos, pela alegria que sente porque um homem veio ao mundo” (Jo 16, 21); tornando-se superior a todas as dores, a todos os cuidados, a todos os encargos da maternidade, muito mais justa e santamente do que aquela matrona romana, mãe dos Gracos, gloriar-se-á no Senhor de uma florescentíssima coroa de filhos. Ambos os cônjuges olharão estes filhos, recebidos das mãos de Deus, com alvoroço e reconhecimento, como a um talento que lhes foi confiado por Deus, não já para o empregar somente no seu próprio interesse ou no da pátria terrestre, mas para Lho restituir depois, com o seu fruto, no dia do Juízo Final. [CC 15]

Nossa Senhora, Rainha da Família,
rogai por nós!

Olimpíadas 2008

Tocha Olímpica faz última parada antes de Pequim. Quarta-feira (amanhã) ela chega à capital da República Popular da China, onde serão oficialmente abertas as Olimpíadas 2008 dois dias depois (na sexta-feira). Terá percorrido então a tocha 137.000 km, ao longo de 130 dias.

“Eu vim lançar fogo à terra” (Lc XII, 49a). Quem dera fosse este o fogo – e não o olímpico – a ser acesso no coração da China, na próxima sexta-feira! Num país que ainda mantém um regime assassino, é triste encontrarmos, na charge abaixo, um reflexo que seria cômico [se não fosse trágico] da realidade:



[Fotos: bored-bored]

A propósito, ao contrário da Índia, a China ainda não aprendeu a lição da Uganda. A campanha contra a AIDS nas Olimpíadas consiste na distribuição de 100.000 preservativos. Oremos.