Os primeiros cardeais que serão criados pelo Papa Francisco

Foram hoje pela manhã anunciados os nomes dos novos cardeaisdezenove, ao total – que serão criados pelo Papa Francisco no próximo consistório, marcado para o mês que vem (fevereiro). É o primeiro consistório do Papa Francisco. Os nomes dos que receberão a púrpura cardinalícia são os seguintes:

16 cardeais eleitores:

1 – Dom Pietro Parolin, Secretário de Estado.
2 – Dom Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos.
3 – Dom Gerhard Ludwig Muller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
4 – Dom Beniamino Stella, Prefeito da Congregação per o Clero.
5 – Dom Vincent Nichols, Arcebispo de Westminster (Grã Bretanha).
6 – Dom Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua (Nicarágua).
7 – Dom Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Québec (Canadá).
8 – Dom Jean-Pierre Kutwa, Arcebispo de Abidjã (Costa do Marfim).
9 – Dom Orani João Tempesta, O.Cist., Arcebispo do Rio de Janeiro (Brasil).
10 – Dom Gualtiero Bassetti, Arcebispo de Perúgia-Città della Pieve (Itália).
11 – Dom Mario Aurelio Poli, Arcebispo de Buenos Aires (Argentina).
12 – Dom Andrew Yeom Soo jung, Arcebispo de Seoul (Coreia).
13 – Dom Ricardo Ezzati Andrello, S.D.B., Arcebispo de Santiago do Chile (Chile).
14 – Dom Philippe Nakellentuba Ouédraogo, Arcebispo de Ouagadougou (Burquina Faso).
15 – Dom Orlando B. Quevedo, O.M.I., Arcebispo de Cotabato (Filipinas).
16 – Dom Chibly Langlois, Bispo de Les Cayes (Haiti).

3 cardeais não-eleitores (mais de 80 anos):

1 – Dom Loris Francesco Capovilla, Arcebispo emérito de Mesembria.
2 – Dom Fernando Sebastián Aguilar, C.M.F., Arcebispo emérito de Pamplona.
3 – Dom Kelvin Edward Felix, Arcebispo emerito de Castries.

Na minha vaticana ignorância, achei que os nomes estão dentro do que se devia esperar. D. Parolin é o novo Secretário de Estado; D. Müller e D. Stella, são prefeitos de importantes dicastérios romanos. D. Baldisseri foi criado cardeal à moda antiga, logo após o conclave que elegeu o Papa Francisco. O Rio de Janeiro sempre teve cardeais e, portanto, o nome de D. Orani não é nenhuma surpresa. Não conheço os outros nomes, mas eles estão bem espalhados pelos cinco continentes, sendo muitos de Sés Primaciais.

Talvez alguns tenham estranhado a ausência do nome do Primaz do Brasil, D. Murilo Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia. Bom, sabe-se que há uma lei canônica não-escrita de que uma mesma Sé não tem dois cardeais-eleitores. O Card. Geraldo Majella só muito recentemente (no dia 19 de outubro p.p.) deixou de ser cardeal-eleitor, e – penso eu – essa lista já estava pronta três meses atrás. D. Krieger, assim, provavelmente receberá a púrpura cardinalícia num próximo consistório.

Quanto ao mérito dos novos Príncipes da Igreja… como disse, infelizmente não conheço a maior parte deles. D. Müller e D. Baldisseri, preciso dizer, deixam-me assaz desconfortável; mas, entre todos, esses dois nomes não são nenhuma surpresa, pelas razões já acima expostas. Agora é rezar para que os por mim desconhecidos superem estes contra os quais ao menos algumas objeções se poderiam levantar. E também – por que não? – para que o barrete vermelho faça milagres, e chame estes homens à responsabilidade que doravante lhes cabe. Que o Espírito Santo os faça santos cardeais. Que eles verdadeiramente sirvam – até ao sangue, se necessário, como simboliza o vermelho que passarão a ostentar – ao crescimento da Fé Cristã, à liberdade e extensão da Santa Igreja Católica Romana.

Liga dos Blogueiros Católicos: 11 de janeiro

Aconteceu ontem à noite mais um episódio da Liga dos Blogueiros Católicos, hangout que reúne algumas figuras conhecidas da internet católica para conversar de forma descontraída e sem papas na língua sobre… bem, sobre tudo o que nos der na telha.

Ontem foi o quinto episódio, e foi a primeira vez que este que vos escreve conseguiu participar. Antes já houvera de tudo: problemas técnicos na hora de entrar no ar, viagens para casamento de amigos, estadia forçada no hospital sem internet decente. Ontem eu estava em casa; estava disposto e consegui deixar dois tostões para o programa. Quem não viu ao vivo pode ver no youtube:

Neste episódio, conversamos sobre o Papa Francisco e os “desafios” que o dito “casamento gay” provoca para a Igreja; falamos sobre o “humor” do Porta dos Fundos; discutimos um pouco sobre política e recomendamos alguns filmes e alguns livros. Ouçam lá!

A Liga se reúne mais uma vez no próximo dia 25 de janeiro. A idéia é mantermos a periodicidade quinzenal desses encontros: sábado sim, sábado não, sempre às 22h30. Anotem em suas agendas. Esperamos por vocês!

Papa Francisco: “Confessar a Fé! Toda, não uma parte!”

A fé é confessar Deus, mas o Deus que se nos revelou, desde o tempo dos nossos pais até hoje; o Deus da história. E isto é aquilo que nós todos os dias recitamos no Credo. E uma coisa é recitar o Credo com o coração, outra é fazê-lo como os papagaios, não é? Creio, creio em Deus, creio em Jesus Cristo, creio… Eu creio naquilo que digo? Esta profissão de fé é verdadeira ou digo-a de memória, porque se tem que dizer? Ou creio pela metade? Confessar a fé! Toda, não uma parte! Toda! E esta fé, guarda-la toda, como chegou até nós, pelo caminho da tradição: toda a fé!

Papa Francisco,
Homilia na Domus Sanctae Marthae,
10 de janeiro de 2014

A demagogia barata do Dr. Rosinha

Depois do papelão feito pelo deputado Rosinha na semana passada quando, em seminário pró-aborto realizado na Câmara dos Deputados e diante dos justos protestos de cidadãos brasileiros pagadores de impostos que discordam de ter o seu dinheiro empregado para a promoção do aborto no Brasil, deu um chilique e afirmou que os pró-vida precisavam “aprender a pensar”, eu pensava que o petista havia adquirido algum mínimo senso de ridículo e iria deixar o assunto morrer.

Engano meu. Na mais abjeta vitimização que eu me lembro de ter visto na política recente, o deputado pró-aborto resolveu soltar uma nota no seu site chamando os seus opositores de «mentirosos» e queixando-se da «intolerância» dos cristãos.

Na semana passada fui vítima dos intolerantes e dos mentirosos.

[…]

Por tudo que li do que me enviaram, por tudo que ouvi, sinceramente ainda estou estupefato com o comportamento destes cristãos. Em que Igreja aprendem ou aprenderam? Qual Evangelho leem ou leram? Com certeza não é o mesmo que leio e tampouco é o mesmo que lê o Papa Francisco.

Apenas se “esqueceu” o Dr. Rosinha de entrar no mérito das acusações que lhe foram feitas e responder a duas simples perguntas:

1. O «Primeiro Seminário de parlamentares da América Latina e Caribe para debater a saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil» defendeu ou não defendeu a descriminalização do aborto no Brasil?

2. O deputado Rosinha é ou não é a favor da descriminalização do aborto no Brasil?

É isso e não outra coisa o que interessa aqui. É com a resposta afirmativa ou negativa a cada uma dessas perguntas que se pode saber se o Dr. Rosinha está mesmo sendo vítima de “mentiras” e “intolerâncias” ou se, ao contrário, só está sendo desmascarado, e aí toda essa retórica de botequim de um Cristianismo tolerante está sendo empregada tão-somente para evitar o incômodo assunto principal e o permitir continuar trabalhando nas trevas pela promoção do aborto no Brasil.

Quando à demagógica e cretina referência ao Papa Francisco, vejamos qual é o Evangelho lido por Sua Santidade:

Entre estes seres frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predilecção, estão também os nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações para que ninguém o possa impedir. Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e no entanto esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno. Por si só a razão é suficiente para se reconhecer o valor inviolável de qualquer vida humana, mas, se a olhamos também a partir da fé, «toda a violação da dignidade pessoal do ser humano clama por vingança junto de Deus e torna-se ofensa ao Criador do homem».

Evangelii Gaudium, 213

Este é o Evangelho lido pelo Papa Francisco, este é o único Evangelho que existe! Pretender que exista uma virtude da tolerância evangélica que exija a passividade diante do crime ou que obrigue os cristãos a nada fazerem enquanto políticos inescrupulosos trabalham pela descriminalização do aborto não passa de um palavrório ridículo e vazio. Que ninguém se deixe intimidar por essas patéticas bravatas, que não são senão a última e desesperada cartada de quem foi pego de calças curtas e não possui hombridade o suficiente para assumir em público as conseqüências de suas opções na questão do aborto.

Vox Catholica entrevista Jorge Ferraz – ouça aqui!

Se você perdeu o Vox Catholica de ontem à noite, quando eu e o Rafael Vitola conversamos sobre a Exortação Apostólica do Papa Francisco y otras cositas más, não se preocupe. O programa pode ser ouvido no Soundcloud:

[soundcloud url=”https://api.soundcloud.com/tracks/124239826″ params=”color=ff6600&auto_play=false&show_artwork=true” width=”100%” height=”166″ iframe=”true” /]

É uma conversa informal. Perdoem-me certas tartamudez e expressões descuidadas. Mas acredito que o conjunto da obra esteja bastante aproveitável. Quaisquer dúvidas ou críticas, fiquem à vontade para as manifestar.

Petrus Eni

Ontem foi o fechamento do Ano da Fé, junto com a celebração da Missa de Cristo Rei. Em Roma, o Papa Francisco fez uma coisa extraordinária: rezou a Profissão de Fé tendo nas mãos a urna com os restos de São Pedro Apóstolo, os quais foram depois expostos à veneração dos fiéis. Mais fotos podem ser encontradas no Facebook.

ano-da-fe-petrus-eni

As relíquias de São Pedro, nas mãos do seu sucessor, enquanto ele professava o Credo! Se estamos em tempos onde uma boa imagem vale mais do que mil palavras, foquemo-nos nesta imagem assombrosa: um Papa prestando vassalagem ao primeiro que ocupou o sólio pontifício; invocando o Príncipe dos Apóstolos por testemunha, o Bispo de Roma fazendo a sua solene Profissão de Fé. Passado longínquo e presente unem-se, assim, neste grandioso quadro, e o elemento que une o primeiro século aos dias de hoje é justamente a Fé. A Fé dos Apóstolos, a Fé da qual a Igreja é Mestra e Guardiã Infalível, a Fé que não muda e que é a mesma enquanto o mundo dá voltas. Papa Francisco e São Pedro Apóstolo, unidos na mesma Profissão de Fé. Que o mundo perceba a força dessa imagem e entenda essa verdade.

“Efeito Francisco”: Missas mais cheias e filas mais longas nos confessionários

[Publico uma tradução de um texto do Tornielli (em espanhol aqui) sobre os efeitos que o Papa Francisco tem provocado nos católicos americanos. Parece-me sinceramente difícil negar os bons frutos deste Pontificado.

As coisas não me parecem mais “confusas” do que (p.ex.) no ano passado, a despeito de todos os esforços da mídia anti-clerical para seqüestrar o Papa Francisco. Ao contrário, as informações que o Card. Dolan nos trazem dizem o extremo oposto disso: as missas estão mais cheias, há mais interesse sobre a Fé Católica e os confessionários são mais procurados. Os confessionários! Somos tão ímpios ao ponto de ousar pôr em dúvida a eficácia dos Sacramentos da Igreja Santa de Deus? Perdemos tanto assim o senso do sobrenatural que somos incapazes de ver o horizonte enfeitar-se com as cores do arrebol agora, quando mais e mais almas acorrem ao Sacramento da Penitência?

Olhemos o que acontece a nosso redor. Não deixemos que o azedume de alguns feche-nos os olhos às maravilhas da Graça de Deus que, a despeito das limitações humanas, sempre encontra uma maneira de frutificar. Não nos esqueçamos desta verdade: Cristo Crucificado sempre atrai as almas a Si. Ainda que nos esforcemos por afastá-las d’Ele.]

Cardeal Dolan confirma o “efeito Bergoglio” nos Estados Unidos

Em uma entrevista à  CBS: «Meus párocos falam de mais gente nas missas e de filas maiores nos confessionários»

O “efeito Bergoglio” sente-se também nos Estados Unidos, segundo confirmou o cardeal Timothy Dolan, Arcebispo de Nova York, que chegou ao final de seu mandato como presidente da Conferência Episcopal do país.

O purpurado falou sobre o assunto em uma entrevista com a CBS, na qual disse perceber o efeito do novo pontificado «a cada momento». «Não posso caminhar pelas ruas de nossa amada Nova York – explicou – sem que as pessoas se aproximem e me digam: “Ei, obrigado pelo Papa Francisco. Fizeram um excelente trabalho. Nós o adoramos”.

Tenho ouvido nossos párocos, que sempre estão na linha de frente, dizerem que aumenta o número de pessoas nas missas dominicais e que as filas dos confessionários estão cada vez maiores. Aumentam as perguntas sobre a Fé Católica e também as esmolas».

O Arcebispo de Nova York também respondeu sobre o questionário de 39 perguntas enviado às Igrejas locais em vista do próximo Sínodo da Família: «O que o Papa nos está perguntando é: como podemos apresentar melhor o ensino da Igreja? Como podemos ser mais eficazes em ensinar? E como podemos alcançar com o amor e a compaixão aqueles que têm dificuldades em viver a doutrina da Igreja?».

As Verdades Eternas estão aí: ouçamo-las!

Trago aqui algumas recentes palavras do Papa Francisco, nas suas homilias na capela da Domus Sanctae Marthae. Ponho no original italiano (com a respectiva tradução logo abaixo) porque gostei sobremaneira das expressões originais; «ma, guardi» e «se ne fanno tanti», entre outras, são de uma sonoridade deliciosa. Quase imagino o Papa falando.

Não lembro quem foi que me disse ter ficado encantado com o Papa Francisco logo ao final da «Urbi et Orbi» do Habemus Papam, quando ele disse «buona notte e buon riposo». Digam o que disserem a respeito desta informalidade que não raro parece uma intimidade excessiva: há muitas pessoas carentes no mundo, as quais espero serem capazes de melhor assimilar o Evangelho de Cristo nestes termos do que no (inobstante tão necessário) latim eclesiástico das fórmulas solenes.

Veja-se, à guisa de exemplo, o discurso sobre supostas aparições marianas abaixo. A gente pode gastar um bocado de latim para justificar o porquê de certas aparições precisarem ser tratadas no mínimo com reservas; mas um meme do Vigário de Cristo dizendo que a SSma. Virgem não é chefe dos Correios tem um impacto incomparavelmente maior. A gente pode escrever tratados e mais tratados sobre a ditadura do relativismo, mas nada se compara a Sua Santidade chamando de adúlteros os que decidem fazer o que todo mundo faz. Podemos falar diuturnamente contra a maldição do aborto, mas muitas pessoas não vão assimilar o nosso discurso até ouvirem o Sumo Pontífice falar em leis modernas que protegem sacrifícios humanos. Obrigado, Santo Padre!

Sem mais delongas, ouçamos o Papa Francisco:

«Ma, guardi, la Madonna è Madre! E ama tutti noi. Ma non è un capo ufficio della posta, per inviare messaggi tutti i giorni. [Q]ueste novità allontanano dal Vangelo, allontanano dallo Spirito Santo, allontanano dalla pace e dalla sapienza, dalla gloria di Dio, dalla bellezza di Dio» (14 de novembro de 2013).

[«Mas, olhem, Nossa Senhora é Mãe! E nos ama a todos. Mas [Ela] não é chefe dos correios para mandar mensagens todos os dias. Esta novidade nos afasta do Evangelho, afasta-nos do Espírito Santo, afasta-nos da paz e da sabedoria, da glória de Deus, da beleza de Deus.»]

– «Questa gente — ha proseguito il Papa tornando al racconto biblico — ha trattato con il re, ha negoziato. Ma non ha negoziato abitudini… ha negoziato la fedeltà al Dio sempre fedele. E questo si chiama apostasia. I profeti, in riferimento alla fedeltà, la chiamano adulterio, un popolo adultero. Gesù lo dice: “generazione adultera e malvagia” che negozia una cosa essenziale al proprio essere, la fedeltà al Signore» […] Farà bene anche a noi, ha suggerito il Pontefice, pensare a quanto raccontato dal libro dei Maccabei, a quanto è accaduto, passo dopo passo, se decidiamo di seguire quel «progressismo adolescenziale» e fare quello che fanno tutti (18 de novembro de 2013).

[«Esta gente – prosseguiu o papa voltando ao relato bíblico [dos Macabeus] – tratou com o rei, negociou [com ele]. Mas não negociou [meros] costumes… negociou a fidelidade ao Deus sempre fiel! E isto se chama apostasia. Os profetas, referindo-se à [falta de] fidelidade, chamaram-na de adultério, um povo adúltero. Jesus o disse: “geração adúltera e malvada” que negocia uma coisa essencial ao próprio ser: a fidelidade ao Senhor» […] Far-nos-á bem, disse o Pontífice, meditarmos naquilo que é contado no livro dos Macabeus: nisto que ocorre, pouco a pouco, se decidimos seguir aquele «progressismo adolescente» e fazer o que todo mundo faz.»]

– «Voi pensate che oggi non si fanno sacrifici umani? Se ne fanno tanti, tanti. E ci sono delle leggi che li proteggono» (id. ibid.).

[«Pensais que hoje não se fazem sacrifícios humanos? Fazem-se tantos, tantos…! E há leis que os protegem!»]

São palavras duras e verdadeiras. Ouçamo-las! Depois, não poderemos dizer em nossa defesa que não sabíamos. Não poderemos nos justificar dizendo que pensávamos ser o novo Papa diferente dos anteriores. As Verdades Eternas estão aí; e, em um certo sentido, de um modo até mais acessível do que estavam nos lábios dos seus predecessores.

O questionário preparatório para a Assembléia do Sínodo dos Bispos sobre a Família

Em preparação para a Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos – que acontecerá no próximo ano e abordará o urgente tema da Família -, foi recentemente tornado público um questionário que o Papa preparara para supostamente ser respondido por todos os católicos do mundo. O citado questionário trazia perguntas sobre casais de fato, casais em segunda união, duplas gays e a doutrina da Humanae Vitae, entre outras coisas.

Vi primeiro a notícia no Facebook, ainda na semana passada, e a idéia de se consultar todos os católicos do mundo sobre o tema me pareceu duplamente absurda. Primeiro pela (evidente) virtual impossibilidade logística de uma consulta desta magnitude, e segundo porque semelhante “democracia direta” era obviamente estranha à constituição da Igreja.

Depois, vi a notícia no Infovaticana. O absurdo escopo da pesquisa continuava presente:

O Papa Francisco preparou uma pesquisa mundial para todos os católicos do mundo [sic: a todos los católicos del mundo] que, segundo o Annuarium Statisticum, são no total 1,214 bilhão [1214 millones].

Ora, a notícia fazia questão de informar o número de católicos atualmente existentes no mundo, o que era um indicativo bastante claro de que seriam todos estes, afinal de contas, os destinatários da pesquisa! O que continuava me parecendo totalmente nonsense.

Fui procurar. Na verdade, trata-se de um procedimento absolutamente normal para a preparação das assembléias do Sínodo dos Bispos: estas reuniões são precedidas por um Instrumentum Laboris elaborado a partir de – entre outras coisas – consultas enviadas às Conferências Episcopais a respeito do tema sobre o qual o Sínodo se vai debruçar. Por exemplo, o último Sínodo dos Bispos, de 2012, dizia o seguinte em seu Instrumentum Laboris (grifos meus):

[1.] Com o intuito de facilitar a preparação específica deste evento foram preparados os Lineamenta. Aos Lineamenta e aos questionários responderam as Conferências Episcopais, os Sínodos dos Bispos das Igrejas Católicas Orientais sui iuris, os Dicastérios da Cúria romana e da União dos Superiores Gerais. Acresce também as observações de Bispos, sacerdotes, membros de institutos de vida consagrada, leigos, associações e movimentos eclesiais. Um processo de preparação muito participado que confirma quanto este tema escolhido pelo Santo Padre está no coração dos cristãos e da Igreja hodierna. Todos os pareceres e as reflexões alcançadas foram recolhidas e sintetizadas neste Instrumentum laboris.

Ou seja, não se trata de nenhum “questionário inédito”, uma vez que este é o procedimento padrão universalmente adotado na preparação das Assembléias do Sínodo dos Bispos. A menos, é claro, que o “ineditismo” aqui se refira ao conteúdo da pesquisa – afirmação que é uma verdadeira platitude, uma vez que as perguntas são tão “inéditas” quanto é a primeira vez que o Sínodo se reúne pra tratar deste tema específico…

O documento de preparação pode ser encontrado em português aqui. Ele consta de uma introdução e do questionário. São diversas perguntas, algumas das quais muito interessantes, como por exemplo:

  • Em que medida – e em particular sob que aspectos – este ensinamento [da Bíblia, da “Gaudium et spes”, da “Familiaris consortio” e de outros documentos do Magistério pós-conciliar sobre o valor da família segundo a Igreja católica] é realmente conhecido, aceite, rejeitado e/ou criticado nos ambientes extra-eclesiais? Quais são os fatores culturais que impedem a plena aceitação do ensinamento da Igreja sobre a família?
  • Como é contestada, na prática e na teoria, a lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, em vista da formação de uma família? Como é proposta e aprofundada nos organismos civis e eclesiais?
  • Em todos estes casos [convivência ad experimentum; uniões livres de facto, sem o reconhecimento religioso nem civil; os separados e os divorciados recasados]: como vivem os batizados a sua irregularidade? Estão conscientes da mesma? Simplesmente manifestam indiferença? Sentem-se marginalizados e vivem com sofrimento a impossibilidade de receber os sacramentos?
  • Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união [homossexual]?
  • No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?
  • Qual é o conhecimento real que os cristãos têm da doutrina da Humanae vitae a respeito da paternidade responsável? Que consciência têm da avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos? Que aprofundamentos poderiam ser sugeridos a respeito desta matéria, sob o ponto de vista pastoral?
  • Como promover uma mentalidade mais aberta à natalidade? Como favorecer o aumento dos nascimentos?
  • Em que medida as crises de fé, pelas quais as pessoas podem atravessar, incidem sobre a vida familiar?

Trata-se de perguntas pertinentes e incômodas; fico imaginando a cara de certos prelados brasileiros quando, por exemplo, forem responder sobre «[c]omo favorecer o aumento dos nascimentos» em suas dioceses…

São perguntas que delineiam de forma bastante clara a tônica das discussões das quais será palco a Cidade Eterna no ano que vem. Muito bem elaboradas, cirúrgicas até, sem dar margens para tergiversações. Excelentes.

No entanto, como não poderia deixar de ser, há os espíritos de porco. Por exemplo, o Janer Cristaldo expôs sobre o assunto esta boçalíssima análise:

É a Igreja sondando seus bispos para ver se pode ampliar o rebanho sem causar muitos estragos na instituição. A interdição ao homossexualismo não é dogma. Dogmas só tratam de questões de fé. Ocorre que faz parte da doutrina da Igreja, uma doutrina tão sólida quanto os dogmas. Não seria de espantar que, num esforço insólito de “aggiornamento” – e de ampliação de mercado – a Santa Madre desse o salto inesperado.

“Esqueceu-se” apenas o articulista de que a Igreja é infalível em Fé e em Moral e, portanto, a interdição aos atos de homossexualismo é tão irreformável quanto a crença «na ressurreição do Cristo, na virgindade de Maria e no deus três-em-um». Simplesmente não há “aggiornamento” possível aqui, e nem se pode compreender sob qual lógica uma pergunta sobre «atenção pastoral» aos homossexuais poderia indicar uma “abertura” da Igreja ao homossexualismo que não fosse imediatamente fechada por outra pergunta sobre o aprofundamento da «lei natural sobre a união entre o homem e a mulher (…) nos organismos civis e eclesiais». A superficialidade desta análise seletiva do Cristaldo chega a ser deprimente.

Se ainda fosse possível haver alguma dúvida sobre o objetivo deste documento preparatório, a sua apresentação feita pelo Cardeal Erdö exorcizaria definitivamente qualquer espírito de confusão. O prelado explica com todas as letras; nele,

a família aparece como uma realidade que desce da vontade do Criador e constitui uma realidade social. Portanto, não é uma mera invenção da sociedade humana, muito menos de qualquer poder puramente humano, mas sim uma realidade natural, que foi elevada por Cristo Nosso Senhor no contexto da Graça divina… O documento, assim como a própria Igreja, une estritamente a problemática da Família com a do Matrimônio.

E o arcebispo Bruno Forte arremata, citando João XXIII:

Não se trata, em definitivo, de debater assuntos de doutrina, em outras partes já explicados pelo Magistério recente… O convite que se faz a toda a Igreja é o de escutar os problemas e expectativas que estão vivendo hoje em dia tantas famílias, mostrar-se próxima delas e oferecer-lhes de forma crível a misericórdia de Deus e a beleza da resposta ao Seu chamado.

É este e não outro o caminho da Igreja de todos os séculos, é este e não outro o caminho da Igreja de hoje. Rezemos pela próxima Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos! Que ela possa ajudar a luz de Cristo a resplandecer com renovado fulgor; que possa fazer a beleza da resposta ao chamado de Deus ser apresentada aos homens modernos em toda a sua formosura.

Notas avulsas sobre o 31 de outubro

– Hoje é Haloween. Ao contrário do que é comum pensar, não é uma festa pagã. Trata-se da All Halows’ Eve, a Vigília de Todos os Santos, festa catolicíssima portanto. Só se comemora hoje o Haloween porque amanhã nós celebraremos a Solenidade de Todos os Santos, não convém esquecer. “Gostosuras ou travessuras”, com os olhos fitos na Festividade de amanhã, não fazem assim mal a ninguém.

– Parece que é também “Dia do Evangélico” em alguns lugares do Brasil; p.ex., aqui no Cabo de Santo Agostinho, é o «Dia Municipal da Reforma Protestante e Ação de Graças». Isso porque as bruxas já estavam soltas nos idos de 1500, e os demônios pagãos que voavam pelos ares alemães daquela época inspiraram Lutero a pregar as suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg exatamente no Dia das Bruxas. São uma dessas ironias históricas que dão o que pensar.

– Hoje, no almoço, alguém comentava que amanhã devia ser feriado. E de fato era; como os feriados civis dos países católicos (como o Brasil) seguiam o calendário litúrgico da Igreja e como o Dia de Todos os Santos é dia santo de guarda (cf. CIC, Cân. 1246, §1), era igualmente feriado civil. Não sei quando foi que o deixou de ser no Brasil; em Portugal, este é o primeiro ano em que o 1º de novembro não é feriado.

– Há três anos, em 2010, o Haloween caía num domingo. Segundo turno de eleições presidenciais. Outra ironia eloqüente… No dia das Bruxas daquele fatídico ano, para a nossa desgraça, a sra. Rousseff era eleita presidente da República. Desde então, afundamos cada vez mais.

– Hoje, o Papa Francisco celebrou (ao que me conste pela primeira vez) uma Missa versus Deum junto ao túmulo do Beato João Paulo II. O Rorate Caeli discordou das razões expostas pelo Fratres e disse (com o que concordo, aliás) que um altar improvisado se poderia facilmente arranjar caso o Papa assim solicitasse. De minha parte, acho que o Sumo Pontífice não estava acostumado a celebrar dessa maneira. Espero que ele tenha gostado.