A despeito da reeleição da sra. Rousseff no último domingo (com 51,64% dos votos válidos), esta é a primeira vez na história das minhas eleições em que me encontro, num certo sentido, satisfeito. Sim, trata-se de verdadeira tragédia e vergonha, sem dúvidas; mas as condições sob as quais esta ignomínia se abateu sobre o povo brasileiro dão alento e alívio. O opróbrio veio e a mácula negra, desgraçadamente, há de ficar para sempre na nossa história, é verdade; mas há também linhas bonitas e cheias de esperança a serem contadas. Que merecem ser registradas.
Antes de mais nada, a diferença foi pequena, tão pequena que nós quase chegamos lá. Isso, que provoca à primeira vista a maior frustração – e passa talvez uma sensação de que se nadou, nadou e nadou para morrer na praia -, é na verdade um bálsamo quando a decepção primeira esmorece um pouco e dá lugar à serena reflexão sobre o assunto: pela primeira vez desde 1998, nós reunimos cinquenta milhões de eleitores brasileiros contra a máquina de opressão petista. Cinquenta milhões de almas que não suportam mais os desmandos dos nossos governantes! É um contingente grande demais para ser desprezado e, considerando-o, não é possível fugir à sensação de conforto e segurança. Não estamos sós; e isso é um alívio.
Três milhões e meio de votos…! É uma diferença tão pequena que qualquer Região Metropolitana do Recife poderia, matematicamente, fazer a balança pesar pro outro lado. Os votos que foram anulados (cinco milhões) poderiam fazer o candidato derrotado ser eleito. Pouco mais de 10% das abstenções (trinta milhões) poderiam fazer o resultado final ter sido diferente. Em uma palavra: nunca antes havíamos imposto aos bárbaros um risco tão grande e real de derrota. Tremei, ó petistas, que desta vez chegastes ao fim do combate presidencial quase à morte! E não deixaremos as feridas sararem. Nós ainda não terminamos; na verdade, não estamos nem perto de terminar.
Se a moral da sra. Rousseff no atual mandato já estava baixa, agora está a ponto de desaparecer: dos mais de cento e quarenta milhões de brasileiros eleitores, apenas cinquenta e quatro milhões – 38% – querem a Dilma como presidente. Bem menos da metade do eleitorado, portanto. Das eleições de 2010 para cá, a candidatura da oposição cresceu 7,5 milhões de votos, enquanto a Dilma teve um milhão e duzentos mil votos a menos do que conseguiu quatro anos atrás – e isso em números absolutos, sem levar em conta o crescimento do eleitorado! Apesar da derrota, encurtamos a distância de maneira magnífica. Estamos de parabéns. Fizemos história.
Avaaz.org – isso mesmo, Avaaz! – registra, neste momento, um abaixo-assinado para o impeachment da sra. Rousseff que já conta com mais de um milhão de assinaturas, número que aumenta a cada minuto. A imagem da presidente está irremediavelmente desgastada, e não vai ser esta vitória eleitoral apertada (apertadíssima!) que terá o condão de a restaurar. O monstro está ferido de morte. Cumpre-nos, agora, não o deixar convalescer.
E, a nós outros, coragem! Há mais valor no Brasil do que querem nos fazer crer os bárbaros que usurparam o governo. O combate será terrível, e eu posso até aceitar que ele se tenha agora tornado mais difícil: mas, agora, combatemos lado a lado, ombro a ombro, com os outros cinquenta milhões de brasileiros que não querem o PT na presidência da República. Coragem, que ainda há esperança para o Brasil: foi isto e não outra coisa o que resplandeceu quando se abriram as urnas domingo passado. Coragem, perseverança e foco, que ainda há – e muito – o que fazer.