Avisos

– O Deus lo Vult! está agora disponível em uma aplicação para celulares Android, graças à gentileza da Maite Tosta que me avisou ontem sobre o serviço e o plugin. É um app bem simples, resumindo-se a um leitor de feeds personalizado; mas é bem útil para acessar rápida e facilmente o conteúdo do blog, de qualquer lugar onde você esteja. Para baixá-lo e testá-lo, utilize o QR-Code da barra lateral (à direita do blog), ou clique aqui. Quaisquer problemas com ele, por favor me avisem.

– Eu deveria ter viajado ontem, mas Recife estava caótica das chuvas. Viajo hoje, Quinta-Feira Santa, para uma cidade do interior de Pernambuco, acompanhando o pessoal da Juventude Missionária. Não estou certo de como será o meu acesso à internet lá e, portanto, é possível que haja alguma descontinuidade no serviço prestado aqui. Em todo caso, retorno no Domingo de Páscoa, se o bom Deus permitir.

– Uma santa Semana Santa a todos, são os desejos sinceros do Deus lo Vult!. Que, acompanhando a Cristo nestes dias de agonia, possamos receber do Altíssimo a graça de, um dia, com Cristo também ressuscitarmos para a Glória. Feliz Páscoa!

Na Ascensão do Senhor

Hoje é a solenidade da Ascensão do Senhor Jesus aos Céus. Após a leitura do Evangelho, o Círio Pascal – que desde o Sábado de Aleluia ardia em nossas igrejas – é apagado. Isto significa (conforme explicou o reverendíssimo sacerdote na Missa que assisti pela manhã) que a Santíssima Humanidade de Nosso Senhor agora Se esconde aos nossos olhos. O Senhor subiu ao toque da trombeta, e encerrou aquela particular página da História iniciada na Encarnação. Hoje se celebra o último Mistério do Verbo Encarnado.

Volta ao Pai, mas permanece conosco: na Graça Santificante semeada nas almas dos que n’Ele creram, na força do Espírito Santo cuja vinda celebraremos na próxima semana, e de um modo especialíssimo na Sagrada Eucaristia – onde está com Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Mas a Sua Humanidade agora está escondida, até mesmo na presença real do Santíssimo Sacramento do altar. Como cantamos no Adoro Te Devote: “In cruce latebat sola Deitas / At hic latet simul et humanitas”. Na versão brasileira mais conhecida: “lá na Cruz Se escondia a Tua Divindade, / mas aqui também Se esconde Tua Humanidade”. Na festa de hoje, celebramos a ocultação aos nossos olhos da Santíssima Humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Está escondida a nós, acessível somente pela Fé, até o dia da Sua Segunda Vinda Gloriosa.

Mas a festa de hoje não faz as vezes de uma “Revelação às avessas”, como se poderia pensar à primeira vista. A Ascensão de Nosso Senhor não é para torná-Lo inacessível a nós. Ao contrário; Ele subiu aos Céus – como disse expressamente nos Evangelhos – para preparar-nos um lugar. Subiu aos Céus para, na expressão clássica, entronizar a nossa humanidade no seio da Trindade Santa. Na festa de hoje, a natureza humana é exaltada de uma maneira tal que seria inconcebível fora da Revelação Cristã: Nosso Senhor, que é Deus, participa da mesma humanidade da qual nós participamos.

E a leva conSigo aos Céus, quer dizer: a humanidade de Nosso Senhor não se trata meramente de um “instrumento” temporário do qual Deus fez uso em algum momento da História, para algum propósito, e depois descartou. Não; na Encarnação, é como se a natureza humana se tornasse parte constituinte de Deus. Ao voltar aos Céus, o Verbo não volta “como veio”, i.e., puro espírito: volta com o Seu Corpo e Sua Alma. Volta 100% homem.

Volta aos Céus com a nossa natureza! Além de nos inflamar com um profundo desejo do Céu – afinal de contas, a nossa natureza humana, elevada à esfera sobrenatural graças à Encarnação do Verbo, tende agora para o infinito, tende agora para a Vida Eterna -, a consideração destas verdades deve também provocar em nós um profundo senso de respeito para com a nossa humanidade. Afinal, é um corpo como este, são olhos como estes, são mãos como estas, pés como estes, enfim, é uma natureza humana como a minha que está hoje sentada à direita de Deus Pai. E, como corruptio optimi pessima est, o mau uso da nossa humanidade é hoje abissalmente mais degradante e mais grave do que o era, p.ex., para os pagãos que viviam antes da Encarnação do Verbo. Cuidemos com atenção e zelo daquilo que compartilhamos com o Deus Todo-Poderoso!

E que a Virgem Santíssima nos ajude neste Vale de Lágrimas. Que Ela – ainda estamos no mês de Maio a esta Boa Senhora dedicado – possa ser em nosso favor, e que por Seus méritos e preces mereçamos um dia alcançar o lugar que Nosso Senhor foi aos Céus preparar para nós.

Buona Pasqua, Dolce Cristo in Terra!

Buona Pasqua, Padre Santo! Buona Pasqua, Dolce Cristo in terra! La Chiesa è con te!

Meu italiano não é bom o suficiente para que eu me arrisque a uma tradução completa do aúdio. Mas o vídeo é bem bonito, de modo que vale a pena vê-lo mesmo que não se entenda perfeitamente o italiano. Saiu também na VEJA.

Repito – é bonito o vídeo! O semblante cansado do Papa, as palavras ditas pelo cardeal, o sorriso do sucessor de Pedro quando ele se levanta, ao final, para cumprimentar o purpurado. “Nesta festa solene da Páscoa, a liturgia da Igreja nos convida a uma santa alegria” – começa o cardeal. E, naquela “histórica praça”, com o sol resplandecendo sobre “os nossos corações”, o cardeal Angelo Sodano chama o Papa de “sucessor de Pedro, Bispo de Roma, rocha indefectível da Santa Igreja de Cristo”, e diz que os cristãos lá estão reunidos para cantarem com ele “o aleluia da Fé e da Esperança cristãs”. Agradece pela “fortaleza de ânimo” e pela “coragem apostólica” com as quais o Papa anuncia o Evangelho de Cristo. Cita o Vaticano II – a Gaudium et Spes – e diz que toda a Igreja, por meio dele, deseja dizer-lhe “boa páscoa, amado Santo Padre. Boa Páscoa! A Igreja está com o senhor”.

“Com o senhor estamos os cardeais, seus colaborares na Cúria Romana. Com o senhor estão os irmãos bispos espalhados pelo mundo, que guiam as 3.000 circunscrições eclesiásticas do planeta. Estão particularmente com o senhor nestes dias os 400.000 sacerdotes que servem generosamente o povo de Deus, nas paróquias, nos oratórios, nas escolas, nas hospedarias, nas Forças Armadas e em numerosos outros ambientes, como os curas nas missões nas partes mais remotas do mundo. Padre Santo, está com o senhor o povo de Deus, que não se deixa impressionar com o burburinho [?] do momento”.

“No mundo haveis de ter tribulações” – lembra o Cardeal das palavras de Nosso Senhor – “mas, coragem! Eu venci o mundo!”; lembrança extremamente apropriada para o momento que hoje atravessa a Igreja. Bonito o gesto do cardeal Sodano. Faço minhas as suas palavras. Gostaria de também manifestar, publicamente, a minha completa adesão ao Vigário de Cristo.

“Santo Padre! (…) Nesta solenidade pascal, nós rezaremos pelo senhor, para que o Senhor, bom Pastor, continue a sustentá-lo na sua missão, a serviço da Igreja e do próprio mundo. Feliz Páscoa, Santo Padre! Feliz Páscoa, Doce Cristo na Terra! A Igreja está contigo!” Assim termina o purpurado. E nós, rezemos pelo Papa. Para que o Senhor o possa guardar e fortalecer, e lhe dar felicidade na terra, e não o entregar nas mãos de seus inimigos. Feliz Páscoa, Doce Cristo na terra!

Domingo, Regina Caeli, Laetare!

O Exsultet é um dos cantos litúrgicos que eu mais gosto de ouvir. Não seria de modo algum exagero dizer que eu passo o ano esperando a missa da Vigília Pascal, para escutá-lo. Exsultet jam angelica turba caelorum; / exsultent divina mysteria: / et pro tantis Regis victoria / tuba insonet salutaris. Na tradução para o português que possuo no meu missal (tridentino) de bolso: “Exulte agora a milícia angélica; celebrem-se, com júbilo, os divinos mistérios. E que a tuba da salvação proclame a vitória do grande Rei!”.

O cântico é triunfal: é a proclamação da Páscoa, já no início da Vigília. Cristo ressuscitou, aleluia: que se alegrem os anjos no Céu e os homens na terra. As imagens evocadas pelo cântico são belíssimas: haec nox est, in qua, destructis vinculis mortis, / Christus ab inferis victor ascendit. / Nihil enim nobis nasci profuit / nisi redimi profuisset. Na tradução do Missal (de Paulo VI) brasileiro: “Ó noite em que Jesus rompeu o Inferno, / ao ressurgir da morte vencedor… / De que nos valeria ter nascido / se não nos resgatasse em Seu amor?” E eu precisaria ficar citando e traduzindo cada um dos versos do cântico, para ser justo. É maravilhoso – de uma grandeza adequada à grandeza da noite da Vigília Pascal.

É a Noite feliz na qual nós celebramos o Sepulcro Vazio, a vitória sobre a morte, a Gloriosa Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, o mais eloqüente testemunho de Sua divindade! E, digam o que disserem os céticos dos nossos dias, a Ressurreição de Nosso Senhor é um fato histórico, acessível às ciências humanas tanto quanto é possível que fatos históricos o sejam. São Paulo nos disse que, se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa Fé. Ora, é óbvio que a Fé Cristã não foi “vã”, posto que ela, de uma região obscura do Oriente Médio dominada pelo Império Romano dois mil anos atrás, expandiu-se a ponto de construir o mundo no qual, hoje, nós vivemos. Qual é a causa de fecundidade tão extraordinária, sem absolutamente nenhum paralelo na história da humanidade? Se a razão de ter “vingado” o Cristianismo não é – como os próprios cristãos sempre afirmaram – a Sua origem sobrenatural, então qual é? Aqui, calam-se os céticos. Que se calem! Que deixemos os sinos proclamarem a razão da nossa esperança, e o duplo aleluia triunfal que ecoa em nossas igrejas anunciar que Cristo ressuscitou dos mortos.

Porque, sim, “a erva medicinal contra a morte existe” – como disse o Papa Bento XVI na homilia da Vigília Pascal de ontem. “Cristo é a árvore da vida, que se fez novamente acessível”. Temos motivos suficientes para nos alegrarmos – nós, que não somos nada, que somos miseráveis e pecadores, foi por nós que Cristo morreu e, como se isso já não fosse muito mais do que merecemos, foi por nós que Ele ressuscitou. A parábola do Filho Pródigo vem-me à mente: o pai não apenas perdoa as ofensas do filho, como também põe-lhe roupa nova, anel no dedo e sandália aos pés, e inicia uma grande festa. Cristo não apenas perdoa os nossos pecados, como nos convida a participar da Sua alegria, como nos abre as portas da Vida Eterna.

Porque, se morremos com Cristo, também com Cristo ressuscitaremos. É este o segredo da alegria pascal, este é o motivo do júbilo que hoje invade as nossas igrejas: temos acesso à árvore da Vida, e podemos ter a Vida Eterna que não merecemos, e podemos viver na Bem-Aventurança da Trindade Santa da qual não somos dignos. Ó mistério luminoso, que as palavras não são capazes de descrever como convém! Alegremo-nos. Alegremo-nos no Senhor, porque Ele ressuscitou verdadeiramente. Como se diz na antífona mariana que iremos cantar durante todo este tempo pascal: alegrai-Vos, Rainha do Céu, Aleluia, porque Aquele que merecestes trazer no Vosso seio, Aleluia, ressuscitou, como havia dito, Aleluia! Rogai por nós a Deus, Aleluia. Sim, ó Rainha do Céu, rogai por nós a Deus, para que também alcancemos, um dia, a Vida Eterna de Bem-Aventurança que, no dia de hoje, o Vosso Divino Filho alcançou para nós.

* * *

Ler também: Mensagem Urbi et Orbi do Papa Bento XVI – Páscoa 2010. “A Páscoa não efectua qualquer magia. Assim como, para além do Mar Vermelho, os hebreus encontraram o deserto, assim também a Igreja, depois da Ressurreição, encontra sempre a história com as suas alegrias e as suas esperanças, os seus sofrimentos e as suas angústias”.

“Lisboa amanhece”

[Publico um texto do João Pereira Coutinho, que um amigo fez a gentileza de me enviar por email – acredito que só esteja disponível na internet para assinantes – e que é muito valioso. A despeito do tom debochado do articulista em alguns trechos, ele evoca um misto de nostalgia e de tristeza, de admiração e de frustração: salta aos olhos na leitura do texto a enorme quantidade de coisas que foram perdidas no intervalo de uma geração, a ponto do Coutinho precisar dizer que a sua infância – o tempo onde a Semana Santa era vivida realmente em Portugal – é um “território distante”.

O quanto distante? Quinze anos, vinte, trinta anos? Como o meu amigo que enviou-me o texto, não sei a idade do Coutinho. Mas não pode ser muito mais do que isso, e é de se espantar que, em tão pouco tempo, tanto de costumes e de tradições tenha sido perdido! A narrativa que faz o autor da Semana Santa da sua infância contrasta fortemente com a última frase do artigo: “uma cadência de festa que anuncia a ressurreição de Cristo a homens que dormem”. Cristo ressuscita, e ninguém parece se importar: os homens dormem. É triste, muito triste. Que Nossa Senhora de Fátima Se compadeça de Portugal, e que Deus tenha misericórdia de nós todos.]

Lisboa amanhece

A minha infância é um território distante. E os rostos desse passado são apenas memórias

ESCREVO NO domingo de Páscoa, minutos depois de perder o compasso. Adormeci. Quando acordei, o compasso já tinha passado.

Não sei se os brasileiros conhecem o termo. “Compasso”. A simples palavra evoca uma infância inteira sob educação católica no Portugal do pós-25 de Abril. O compasso era o momento em que um padre e quatro ou cinco ajudantes entravam nas casas da cidade, anunciando que Jesus ressuscitara.

Lembro-me: acordava cedo, vestia-me, esperava. E quando se ouvia um sino nas proximidades, a casa vestia-se com flores à porta. O compasso chegava. A família, então alargada a primos, avós e tios, recebia o grupo e beijava o corpo de Cristo na cruz. Eu, hipocondríaco desde tenra idade, sempre alimentei reservas sanitárias sobre o ato. E se aquilo transmitisse doenças? E quantas bocas já tinham beijado Jesus? E se a nossa vizinha, uma repugnante dona Mafalda (com bigode), beijara o crucifixo antes de mim?

Cheguei a partilhar estas inquietações heréticas com o meu avô, e ele, um liberal com humor intocável, dizia que a ideia era inconcebível porque o corpo de Cristo fazia milagres e exterminava qualquer doença.

A tese nunca me convenceu. Procurei, como sempre procuro, uma segunda opinião. Falei com a minha tia Estefânia, mulher devota, e disse que só beijaria Jesus se o padre usasse crucifixos descartáveis e rigorosamente esterilizados. Pobre tia. Foi a primeira vez que vi alguém desmaiar à minha frente.

Mas a Páscoa não era apenas o compasso. A Páscoa começava na Quarta-Feira de Cinzas, depois do Carnaval. Todas as sextas eram dias de jejum. Não de jejum em sentido rigoroso. Apenas em sentido lato: nenhuma carne. Só peixe. E ovos?

Iniciava-se novo debate teológico na família. A tia Estefânia dizia que os ovos estavam rigorosamente excluídos. “A galinha nasce do ovo”, dizia ela, benzendo-se. “Galinha é carne, menino.” O meu avô, sempre ele, entrava em cena e disc ordava. “É precisamente o contrário: o ovo é que nasce da galinha”. O concílio durava algumas horas: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Chegava-se a um consenso: eu poderia comer a clara, mas não a gema. Ou vice-versa, não sei bem.

E eu comia. Clara, gema. E, às vezes, por esquecimento, uma fatia de presunto ao lanche. Mastigava tudo. E quando me lembrava da transgressão, fazia-se um nó no estômago e eu corria em busca de absolvição. Na pessoa do meu avô, claro. Ele ouvia tudo e, quase sem disfarçar o riso, perguntava: “Mas esse presunto tinha sabor a peixe, certo?” Eu, de tão confuso, dizia que sim. Ele declarava-me absolvido e eu regressava, de cabeça limpa, às brincadeiras do pátio.

Que terminavam na Sexta-Feira Santa. Dia sério. Na rádio, música fúnebre de manhã à noite: a marcha de Chopin, o “Réquiem” de Mozart, as sete últimas palavras de Cristo, por Haydn. A televisão acompanhava o espírito e aparecia inundada com filmes bíblicos que eu via e revia com reverência cinéfila. Um “biopic” de Franco Zefirelli, “Jesus de Nazaré”, iniciava as hostilidades todos os anos. Seguiam-se “Os Dez Mandamentos” e o monumental “Ben-Hur”, com sua corrida de bigas. Charlton Heston, para mim, não era ator. Era santo.

E, às três da tarde, um minuto de silêncio. Na rádio. Na televisão. Em casa. No mundo. Tudo parava. Jesus morria na Cruz, dizia-se. O tempo do verbo era tudo: “morria”, não “morreu”. Era presente, não passado. Era notícia, não história. Naquele momento, no Gólgota revisitado, Jesus entregava-se, uma vez mais, nas mãos do Pai para remissão de todos os pecados. E quando eu levantava nova questão teológica (“Mas Jesus está sempre a morrer e a viver como os vampiros?”), nem o meu avô me salvava de um tapa.

A minha infância é um território distante. E os rostos desse passado são apenas memórias felizes. Memórias que serão rapidamente esquecidas na sucessão dos meus dias. Mas não já, não agora. Agora, domingo de Páscoa, há apenas saudade, essa palavra sem tradução exata que os portugueses inventaram para dar nome a uma tristeza sem nome.

Levanto-me da cama, abro a janela e saio para o balcão. Lisboa amanhece. Um dia cinzento e frio, com chuva pequena, quase de choro. Ao fundo da rua, vislumbro o compasso: quatro figuras indiferentemente vestidas, que passam por portas indiferentemente fechadas. Não há crentes no bairro. Só o sino é o mesmo: uma cadência de festa que anuncia a ressurreição de Cristo a homens que dormem.

Retrospectiva…

Comentando as notícias que me chegaram durante a Semana Santa e só agora pude ler:

– A IstoÉ (!) publicou uma reportagem em defesa do sacerdócio feminino – incrível! O que sabe a IstoÉ sobre o assunto para se prestar a fazer esta propaganda de baixíssimo nível contra a Igreja Católica? A julgar pela reportagem, bem pouca coisa. Limito-me a indicar os que já se deram ao trabalho de pôr a descoberto os erros grosseiros da revista: Marcio Antonio [“uma das piores coisas da matéria é ignorar completamente a existência do documento Ordinatio Sacerdotalis, de 1994, onde João Paulo II fecha a questão definitivamente”] e Marcelo Moura Coelho [“[n]enhuma mulher pode ser ordenada, mesmo participando numa ordenação. Só homens podem ser ordenados. Caso uma mulher esteja sendo “ordenada”, o máximo que acontece ali é uma encenação, um teatro”].

– Excelente artigo do pe. Lodi publicado no blog da Julie Maria: Onde estão os gêmeos? Verdadeiramente, “a pergunta que incomoda os abortistas”. Destaco o seguinte trecho, que traz dados relevantes: “Em 2006 (último ano sobre o qual o SUS dispõe de estatísticas sobre nascidos vivos), 27.610 meninas da faixa etária de 10 a 14 anos deram à luz. Desse total, 260 deram à luz gêmeos”. Portanto [e mais uma vez], é mentira que a menina de Alagoinha simplesmente “ia morrer” se continuasse a gravidez.

– O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, bispo católico que recebeu dispensa para assumir o cargo político para o qual foi eleito, admitiu ter tido um filho “quando ele ainda era bispo da Igreja Católica”. A Reuters chama isso de “surpreendente revelação”. Eu não vejo nada de surpreendente nisso, vindo de um bispo traidor do episcopado, mancomunado com política e adepto da Teologia da Libertação. Não há nenhuma surpresa aqui: surpresa seria se ele recebesse os estigmas de Cristo.

– O Rio de Janeiro criou o “conselho para defesa de direitos de homossexuais”, por determinação do Governador Sérgio Cabral. Segundo a notícia, servirá para “elaborar, monitorar, fiscalizar e avaliar a execução de políticas públicas para o chamado público LGBT, destinadas a assegurar a esta parcela da população o pleno exercício de sua cidadania”. Todos nós sabemos o que isso significa: mais perseguição contra os que não concordam com o gay way-of-life. Rezemos.

Bebê morre sem receber alimento porque não dizia “amém” – só registro a minha profunda irritação com os comentários feitos à notícia: “as religiões, de um modo geral, só servem para alienar as pessoas”, “todo dia existem atos ligados a todos tipos de religião q matam crianças”, “religião envenena tudo”, etc., etc. Como se a Religião Verdadeira tivesse alguma coisa a ver, ainda que de longe, com este tipo de sandice. Fizeram um comentário muito oportuno na lista de emails onde foi veiculada a notícia: “Chamem o Torquemada”…

– ONGs abortistas não querem ser investigadas: é o que diz esta carta pela não instalação da CPI do aborto. Sem nenhuma surpresa, publicada no site das “Católicas pelo Direito de Decidir”. Aborto é crime; no entanto, estas ONGs não querem que ele seja investigado e nem muito menos punido, e têm a pachorra de pedir ao “Líder” [da Câmara dos Deputados] “que não indique membro para compor a CPI do Aborto” – dá para acreditar nisso?! Um tal pedido, em qualquer país sério, levantaria suspeitas e provocaria a imediata investigação destas organizações que ousam pedir que os crimes não sejam investigados. No Brasil, no entanto, é bem capaz que elas sejam aplaudidas. Que Nossa Senhora da Conceição Aparecida livre o Brasil da maldição do aborto.

– A Folha de São Paulo publicou esta maravilha de reportagem sobre a Administração Apostólica São João Maria Vianney. “[O] material divulgado na igreja [DVD ensinando a celebrar a missa tridentina] contraria o próprio papa e classifica judeus como assassinos de Deus” – não dá para não ver má fé nesta reportagem irresponsável e caluniosa. Em primeiro lugar (e mais evidente), é óbvio que as mudanças do Papa às orações da Sexta-Feira Santa não mudam a doutrina nelas contida; em segundo lugar, o material em questão foi editado antes das mudanças feitas por Bento XVI. Não há, portanto, sombra de discórdia doutrinária ou de desobediência litúrgica em Campos. Há a má vontade – pra variar… – da Folha.

Mensagem de Páscoa do Papa Bento XVI: “[A] ressurreição não é uma teoria, mas uma realidade histórica revelada pelo Homem Jesus Cristo por meio da sua «páscoa», da sua «passagem», que abriu um «caminho novo» entre a terra e o Céu (cf. Heb 10, 20). Não é um mito nem um sonho, não é uma visão nem uma utopia, não é uma fábula, mas um acontecimento único e irrepetível: Jesus de Nazaré, filho de Maria, que ao pôr do sol de Sexta-feira foi descido da cruz e sepultado, deixou vitorioso o túmulo. De facto, ao alvorecer do primeiro dia depois do Sábado, Pedro e João encontraram o túmulo vazio. Madalena e as outras mulheres encontraram Jesus ressuscitado; reconheceram-No também os dois discípulos de Emaús ao partir o pão; o Ressuscitado apareceu aos Apóstolos à noite no Cenáculo e depois a muitos outros discípulos na Galileia”. Que a alegria do  Ressuscitado seja a nossa força.

O vere beata nox…

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=YUpKM4gucxU]

[Nem o áudio é dos melhores e nem o latim “americano” é a melhor coisa do mundo, mas foi o único Exultet inteiro que encontrei no youtube…]

O vere beata nox,
quae sola meruit scire tempus et horam,
in qua Christus ab inferis resurrexit!

Estes versos, nós os ouvimos logo no início da Vigília Pascal. Sempre os achei fabulosos: a Igreja cantando as alegrias d’Aquela Noite na qual Nosso Senhor ressuscitou dos mortos. Aquela Noite que nós até hoje lembramos, precisamente no Sábado Santo: a Noite que marcou a vitória definitiva de Cristo sobre a morte, a Noite que é para nós causa de grande júbilo e alegria, a Noite sem a qual não haveria Igreja, não haveria esperança para nós, vã seria a nossa Fé e vazia a nossa pregação.

Lembramos esta Noite, e A chamamos feliz: verdadeiramente feliz! Única a merecer saber o tempo e a hora em que Cristo ressuscitou dos mortos. Única testemunha presencial da Ressurreição. Única a quem foi dado conhecer o momento exato da grande vitória de Nosso Senhor, da manifestação mais clara de Sua Divindade. A Ressurreição deve ter sido, realmente, um espetáculo magnífico de ser contemplado: ver Cristo romper os grilhões da morte, subir vitorioso dos Infernos…! Somos felizes, porque Ele ressuscitou; porque o Sepulcro Vazio o atesta, porque esta Noite abençoada – verdadeiramente abençoada! – no-lo segreda. Esta Noite viu Nosso Senhor vencer a morte. E, até hoje, a Igreja canta esta vitória.

Sim, vere beata nox, sem dúvidas. Sem Ela, nada nos restaria. Sem Ela, nada poderíamos esperar. Sem Ela, ainda estaríamos nos nossos pecados. Mas Cristo ressuscitou, como disse – aleluia! -, e é isto o que nós celebramos na noite do Sábado Santo, é esta a alegria que preenche todo o Tempo Pascal. Alegremo-nos, com toda a Igreja; anunciemos esta tão estupenda verdade. Ressuscitou verdadeiramente.

Uma feliz páscoa para todos!