Saiu em ZENIT: “Sínodo acolhe magistério de patriarca ortodoxo pela primeira vez”. A notícia contém duas imprecisões: uma quanto à afirmação e outra quanto à expressão utilizada. Comecemos pela expressão, que é o mais grave.
Não existe “magistério de patriarca ortodoxo”. Os ortodoxos são hereges e cismáticos e, por conseguinte, não têm autoridade magisterial – dado que o Magistério da Igreja compreende o Papa e os bispos em comunhão com o Papa (cf. CIC 85). É, portanto, impreciso e pode induzir ao erro a utilização da palavra “magistério” (que tem um sentido estrito muito bem definido dentro da Doutrina Católica) referindo-se a coisas que não têm nada a ver com o Magistério Católico. Infelicíssima escolha.
Uma intervenção sinodal – como a feita pelo Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I – é somente isso: uma intervenção. Não é um “magistério”. O que é magistério é o ensino que o Papa dá à Igreja com base nas intervenções que foram feitas, e mesmo neste caso o que é magisterial é o ensino do Papa, e não a intervenção que originou o ensino. Qualquer pessoa pode dizer alguma coisa correta em algum momento da vida e não está “exercendo um magistério” por causa disso. A intervenção de Bartolomeu I, portanto, mesmo estando teologicamente precisa, não é um “magistério” do patriarca ortodoxo, e sim um ensino da Igreja [porque um cismático não pode dizer nada de correto que a Igreja já não saiba, dado que Ela e somente Ela possui a plenitude da Verdade Revelada] repetido pelo cismático.
A segunda imprecisão (e mais sutil) só se descobre quando se lê o texto. Pois, nele, está escrito:
A proposição 37 (das que o Sínodo adotou por pelo menos dois terços dos votos – o resultado exato da votação é secreto) recolhe o ensinamento que o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, apresentou aos padres sinodais.
[…]
Em caso de que seja incluída esta proposição no documento, será a primeira vez que o magistério de um patriarca ortodoxo é acolhido explicitamente por este tipo de documentos magistrais da Igreja Católica.
Ou seja: as proposições aprovadas pelos padre sinodais (no caso, esta específica do Patriarca Ortodoxo – não encontrei a lista das proposições apresentadas) serão apresentadas ao Papa e ele as utilizará ou não para a escrita da exortação apostólica pós-sinodal, que é – esta sim! – o que pode ser chamado de “resultado do Sínodo”. A lista de proposições é um instrumento intermediário do Sínodo dos Bispos (todo Sínodo é assim) que é apresentado ao Papa para que este, por sua vez, produza o documento magisterial resultante do Sínodo. É muitíssimo provável que o Papa se utilize da proposição 37 na elaboração da exortação apostólica pós-sinodal, mas isso ainda não foi feito e a manchete da notícia dá a entender que já o foi. E – repetimos! – ainda que o Papa a utilize, não será um “magistério de patriarca ortodoxo”, e sim o ensino da Igreja repetido pelo patriarca ortodoxo.
É de se lamentar que uma conhecida agência católica de notícias tenha veiculado uma reportagem com estas imprecisões. Esperemos que a imprensa católica não “relaxe” no seu papel – ímpar – de informar fielmente sobre os acontecimentos importantes da vida da Igreja. Afinal, não temos outra fonte fidedigna, posto que são já bastante conhecidos os defeitos da mídia secular no que se refere a assuntos religiosos.