Veni, Sancte Spiritus!

É Pentecostes! Celebramos a vinda do Espírito Santo, o Consolador, a Força do Alto. Aquele que vem em auxílio às nossas fraquezas e que faz a Igreja nascente, abandonando o medo, sair para anunciar destemidamente o Evangelho.

É Pentecostes, festa do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo junto com a Virgem Maria. Ensinando-nos a importância de perseverar em união de orações. Ensinando-nos que Deus sempre cumpre as Suas promessas. E ensinando-nos também – por que não dizê-lo? – a importância de estarmos juntos d’Aquela que nos foi deixada como Mãe. Um dia o Espírito Santo A cobriu com Sua sombra e, no dia de hoje, mais uma vez o Espírito Santo desce precisamente onde Ela está.

É Pentecostes, e Aquele que um dia veio à Virgem Santíssima para dar Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo vem mais uma vez sobre Ela, para consolidar a Igreja no mundo. É d’Ela que nasce Cristo – cabeça da Igreja – e é junto a Ela que o restante do Corpo Místico de Cristo estava em oração no dia de hoje. É d’Ela, portanto, que nasce a Igreja, tanto por ser Ela a Mãe d’Aquele que é a Cabeça da Igreja quanto por Ela estar, mais uma vez, presente neste dia em que a edificação do Corpo de Cristo completa-se de maneira maravilhosa. Se o Espírito Santo é a alma da Igreja, certamente não pode pretender fazer parte desta Igreja quem se recusar a estar com Aquela que é a Esposa do Espírito Santo. Pentecostes nos ensina, mais uma vez, a importância de estarmos profundamente unidos Àquela sobre a Qual o Espírito Santo sempre vem.

Gosto particularmente da Sequência da Missa de hoje, que ponho logo abaixo – retirada do blog “Suma Teologica”, onde podem ser encontrados tanto um vídeo da música quanto uma sua tradução. Ainda mais em particular, gosto bastante de dois versos: “Veni, pater pauperum” e “Lava quod est sordidum”.

Pater Pauperum! O Pai dos Pobres. Afinal, “pobre” é aquele que nada tem – como somos todos nós, pobres de graça, pobres de virtudes, pobres de qualquer coisa que possa ser agradável a Deus – e “pai” é aquele que provê, que dá. Nós somos pobres, e é o Espírito Santo que, qual pai, dá-nos aquilo que de outra maneira não poderíamos obter. E, por não termos nada, terminamos pecando: acumulando sujeiras, imundícies… mas as quais é também o Espírito Santo que lava! A tradução para o português verte para “sujo” o termo latino; mas prefiro usar a tradução imediata de “sórdido” mesmo, que possui carga maior de malícia. Nós não temos nada, a não ser imundícies; e o Espírito Santo não apenas nos lava estas como também nos dá todo o resto…! A oração é perfeitamente adequada: Pai dos pobres, lava o que é sórdido! É uma súplica desesperada de quem sabe que só em Deus pode esperar. E o Altíssimo, em Sua magnificência, sempre nos concede ainda mais – muito mais! – do que ousamos pedir… Vinde, Espírito Santo! Manda do Céu um raio de Tua luz! É o pedido dos que não merecemos os Teus favores. É o pedido dos pobres que não temos a quem recorrer. É o pedido dos criminosos que não temos direito algum de Te suplicar nada. Vinde, e fazei maravilhas.

Um santo Pentecostes a todos!

* * *

VENI SANCTE SPIRITUS

Veni, Sancte Spiritus
et emitte caelitus
lucis tuae radium!

Veni, pater pauperum
veni, dator munerum
veni, lumen cordium.

Consolator optime
dulcis hospes animae
dulce refrigerium.

In labore requies
in aestu temperies
in fletu solatium.

O lux beatissima
reple cordis intima
tuorum fidelium.

Sine tuo numine
nihil est in homine
nihil est innoxium.

Lava quod est sordidum
riga quod est aridum
sana quod est saucium.

Flecte quod est rigidum
fove quod est frigidum
rege quod est devium.

Da tuis fidelibus
in te confidentibus
sacrum septenarium.

Da virtutis meritum
da salutis exitum
da perenne gaudium.

Amen, Alleluia.

RCC: a apologia necessária

Pediram-me os meus comentários sobre o vídeo do pe. Fortea aqui publicado recentemente (e, mais especificamente, sobre os assim chamados “dons carismáticos” da RCC). Trago-os à consideração.

Antes de mais nada, é preciso dizer ser verdade que há elogios dos Papas à Renovação Carismática. Nestes, no entanto, há pouca (ou nenhuma) menção específica aos carismas extraordinários. Vale lembrar que os “carismas”, na Doutrina Católica, não se confundem com os dons extraordinários pregados pela RCC. Ensinar é um “carisma”, a vocação à vida comunitária é um “carisma”, etc. Em poucas palavras: existem muitos “carismas” perfeitamente naturais e ordinários e, quanto a estes, não imagino haver nenhuma controvérsia. O problema são os “carismas” entendidos como dons sobrenaturais e (teoricamente) extraordinários.

A RCC me parece ser uma coisa bastante diversificada mundo afora. Em 2008 estive em Roma e fiquei hospedado na casa de uma família que fazia parte da Renovação Carismática; e juro que eu não teria percebido se isto não me tivesse sido contado expressamente. Creio (e aqui é apenas a minha impressão) que existe um “modus vivendi” carismático que é próprio do Brasil (e talvez – não sei – de outros países da América Latina), o qual infelizmente às vezes se confunde (muito) com o de um protestante pentecostal. E este “modus vivendi” não é, de nenhuma maneira, referendado por Roma.

Eu já vi os papas louvarem, por diversas vezes, muitas coisas na RCC que são sem sombra de dúvidas louváveis. A oração particular e em grupo, a tomada de consciência da própria vocação batismal, a devoção ao Espírito Santo, a Lectio Divina, etc. Estas coisas – repito – não me parecem ser objeto de controvérsias entre os católicos. Por outro lado, há um outro grupo de coisas (como a bagunça litúrgica e má formação doutrinal, o sentimentalismo exacerbado, etc.) que, ao contrário, não me parecem ser defendidas nem mesmo pelos carismáticos. Aqui, também há consenso. Onde há discordância parece ser quase exclusivamente com relação à existência e ao uso dos carismas extraordinários. Vamos, portanto, a eles.

Quanto aos carismas extraordinários, sinceramente, eu não lhes consigo dar crédito da maneira como eles são apresentados e praticados. Fiquemos tão-somente no (assim chamado) “dom de línguas”, que me parece ser o mais massificado e o mais controvertido. É um dom extraordinário ou ordinário? Se é extraordinário, por qual motivo acontece ordinariamente nas reuniões da RCC? Se é ordinário, por que foi que deixou de ser extraordinário e, depois de vinte séculos de Cristianismo, começou a aparecer em profusão exatamente em um dos momentos mais críticos da História da Igreja e – isto é o fundamental! – sem dar os frutos de conversão e santidade que seriam esperados? Afinal, no Pentecostes “original”, o Espírito Santo provocou conversões profundas e verdadeiras aos borbotões. Por qual motivo, agora, o “Novo Pentecostes” já existe há décadas e não vemos nada parecido com o que aconteceu em Jerusalém da primeira vez?

Mais: estes dons são sobrenaturais ou são naturais? Se são sobrenaturais, por que motivo eles parecem acontecer (de novo, fico somente no “dom de línguas”) de acordo com a vontade de quem reza, e não como um fenômeno espontâneo? Se são sobrenaturais, por qual motivo eles podem ser ensinados?

Se, ao contrário, forem naturais – e eu já vi alguém defender que a oração em línguas seria, na verdade, não “o dom das Línguas” do Espírito Santo da maneira como ele foi historicamente conhecido, e sim apenas uma “modalidade de oração” -, então é urgente parar de apresentá-los como se houvesse uma identidade entre eles os fenômenos relatados no Novo Testamento. E, ainda neste caso, caberia perguntar: que espécie de oração natural é esta onde ninguém sabe o que se está rezando [afinal, em sendo natural, é preciso abandonar a explicação de “língua dos anjos que Deus entende” (uma vez que isto seria claramente sobrenatural) e considerar que se estão apenas balbuciando sons sem significado algum], e por qual motivo isto deveria ser incentivado?

Enfim, as perguntas são muitas. É óbvio que, em teoria, Deus (que, afinal de contas, é Deus) poderia perfeitamente Se manifestar de forma extraordinária também nos dias de hoje, e não me parece nem mesmo ser possível excluir a priori que estas manifestações possam se tornar ordinárias. O que elas não podem, de nenhuma maneira, é serem irracionais e sem propósito. É a este ponto que, parece-me, a apologia dos carismáticos precisa se dirigir, caso acreditem sinceramente naquilo que pregam e estejam imbuídos de verdadeiro amor à Verdade, e não às próprias opiniões.

Há pessoas que defendem a veracidade dos dons (supostamente) presentes na Renovação Carismática? Sim, há. Mas não me consta que estas pessoas tenham alguma vez respondido a questionamentos como os que eu coloquei acima, que considero bastante justos e pertinentes. Sem uma explicação satisfatória sobre estes alegados dons, causa porventura alguma surpresa que eles sejam recebidos (no mínimo) com desconfiança por alguns católicos? Os que alegam possuírem dons extraordinários do Espírito Santo precisam responder em sua defesa e corrigirem as suas práticas naquilo que for necessário. Caso contrário, não poderão se surpreender com a estranheza e incredulidade que provocam em católicos não pertencentes à RCC.

“Só o Amor redime” – Bento XVI

Portanto, vale a pena deixar-se tocar pelo fogo do Espírito Santo! A dor que nos chega é necessária à nossa transformação. É a realidade da Cruz: não por acaso, na linguagem de Jesus, o “fogo” é sobretudo uma representação do mistério da Cruz, sem o qual não existe Cristianismo. Por isso, iluminados e confortados por estas palavras de vida, elevemos nossas invocações: vinde, Espírito Santo! Acendei em nós o fogo do Vosso amor! Saibamos que esta é uma oração audaciosa, com a qual pedimos ser tocados pelas chamas de Deus; mas saibamos sobretudo que estas chamas – e somente estas – têm o poder de nos salvar. Não queiramos, para defender a nossa vida, perder aquela Eterna que Deus nos quer doar. Nós temos necessidade do fogo do Espírito Santo, porque só o Amor redime. Amen!

Bento XVI
Cappella papale nella Solennità di Pentecoste – Omelia del Santo Padre Benedetto XVI
Domenica, 23 maggio 2010

Podcasting – Teste

Testando tanto o editor de áudio, quanto o plug-in de podcasting, quanto a minha própria reconhecida inabilidade com a palavra falada. Caso alguém tenha problemas em escutar isso, por gentileza me avise.

[podcast]https://www.deuslovult.org//wp-content/uploads/2010/05/podcast-001-teste-pentecostes.mp3[/podcast]

P.S.: Sim, eu sou recifense. =)