A vitória de Trump: o aborto

Alguns dos meus amigos, verdadeiramente eufóricos com a vitória de Trump, parecem convencidos de que ele será o melhor presidente dos Estados Unidos desde Reagan. Eu, profundo ignorante a respeito da política americana, não tenho condições de compartilhar do mesmo entusiasmo deles; no entanto, sobre a vitória do bilionário republicano há duas ou três coisas que eu julgo poder dizer.

Muitos trataram essas eleições como se elas fossem uma disputa entre o Diabo e Satanás; houve até quem as comparasse com uma eleição disputada, no Brasil, entre Dilma e Crivella. Aquela história de que “a boa notícia de hoje é que Hillary perdeu; a má, que Trump ganhou” foi repetida milhões de vezes desde as primeiras horas da madrugada. Sem compartilhar nem da euforia de alguns nem do alarmismo histérico de outros, penso que eu próprio, se americano fosse, não pensaria duas vezes antes de votar no candidato do Partido Republicano.

https://www.youtube.com/watch?v=llzgxOY92NA

O motivo é muito simples: Trump pode ter todos os defeitos do mundo de que lhe acusam, pode ser grosseiro e xenófobo, pode insuflar nacionalismos, provocar corridas armamentistas, pode ser imprudente, sonegador de impostos, pode haver conflito de interesses entre ser multiempresário e presidente da maior economia do mundo, tudo isso: Hillary defende o aborto até o nono mês da gravidez, e Trump não. Isto por si só é motivo mais do que suficiente para votar contra ela, independente de quaisquer outras questões de governo das quais se possa legitimamente divergir no programa político do GOP. Nenhum assunto que faça parte da disputa política contemporânea é mais premente do que a questão do aborto; nenhuma pessoa que defenda o assassinato de crianças no ventre das suas mães tem suficiente integridade moral para merecer confiança em qualquer outra área de atuação pública.

No último debate presidencial, há menos de um mês, Hillary Clinton defendeu o partial-birth abortion. Para quem não sabe do que se trata, o «aborto por nascimento parcial» é uma “técnica” aplicada no último trimestre da gravidez e que consiste em induzir o parto até o ponto de o feto, ainda vivo, começar a nascer; neste momento, quando está parcialmente fora do corpo materno, o aborteiro lhe faz uma incisão na base do crânio que lhe provoca a morte. Em outras palavras, trata-se de pegar uma criança plenamente formada (com sete, oito ou nove meses de gestação), puxar-lhe pelos pés para fora do útero (mantendo apenas a cabeça ainda no interior do corpo da mãe), enfiar uma tesoura na sua nuca até o interior da caixa craniana (matando-a portanto) para, pelo buraco assim formado, introduzir um aspirador, sugar-lhe o cérebro e depois retirar o corpo com a cabeça murcha. Macabro assim.

O Pontifício Conselho para a Família assim se manifestou em 2003 a respeito do tema:

A expressão partial-birth abortion, aborto com nascimento parcial, designa uma técnica de aborto utilizada nos últimos meses de gravidez, durante a qual é praticado um parto intravaginal parcial do feto vivo, seguido de uma aspiração do conteúdo cerebral antes de completar o parto.

[…]

Segundo os seus promotores, trata-se de um gesto rápido, podendo ser praticado sem hospitalização, com anestesia local. A intervenção é precedida de uma preparação de três dias, com dilatação mecânica do cólon uterino. A operação desenvolve-se em cinco fases: num primeiro tempo, quem opera, guiado por ultra-sons, depois da eventual inversão, se necessário for, da posição do feto no útero, prende os seus pés com uma pinça. Em seguida, com uma tracção tira o feto para fora do útero e provoca o parto, extraindo todo o corpo da criança, excepto a cabeça. Quem pratica o aborto executa então um corte na base do crânio do nascituro, através do qual faz passar a ponta de umas tesouras para furar a caixa craniana. Depois, introduz no orifício assim predisposto a extremidade de um tubo fino evacuativo, através do qual é aspirado o cérebro e o conteúdo da caixa craniana do menino. A este ponto, para concluir o aborto, só falta extrair a cabeça reduzida de volume.

É evidente que isso se trata de uma coisa profundamente demoníaca, asquerosa, diante da qual nenhum homem de bem pode nem mesmo ficar indiferente — muito menos defendê-la! Tal monstruosidade é ainda praticada nos Estados Unidos; ainda que não o fosse mais, contudo, Hillary Clinton votou a favor dela quando era senadora e, no mês passado, defendeu esta sua posição ao vivo durante um debate presidencial. Uma pessoa dessas deve, sim, ser combatida de todas as formas possíveis, inclusive por meio do voto presidencial, independente de quem esteja contra ela concorrendo (a menos, é lógico, que o outro candidato defendesse alguma outra imoralidade equiparável — o que absolutamente não era o caso). A magnitude deste volutabro é tão grande que obscurece quaisquer outras questões sobre assuntos normais como política econômica, defesa interna ou restrições imigratórias.

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Hillary Clinton foi derrotada nos Estados Unidos, e isso é uma coisa a agradecer a Deus. Foi derrotado o aborto, o assassinato de crianças no ventre das mães, o promíscuo financiamento federal à Planned Parenthood; estando em jogo coisas assim importantes e explícitas não cabe nem discutir o eventual simbolismo machista, homofóbico, xenófobo ou whatever que o voto em Donald Trump alegadamente represente. Não tem nem cabimento entrar nesse mérito. Obviamente Trump não é o cavaleiro de armadura reluzente que a Cristandade espera; isso no entanto perde completamente a relevância quando se está diante de alguém que defende late-term abortions.

Penso que muitos dos eleitores americanos não queriam votar no magnata nova-iorquino; mas quero pensar que muitos quiseram votar contra a despudorada defesa do assassinato de crianças que a sra. Clinton trouxe para o centro de sua campanha presidencial. A voz das urnas, assim, não foi uma vitória do liberalismo sobre o globalismo ou do conservadorismo sobre o progressismo nem nada do tipo, mas da civilização sobre a barbárie e da defesa da vida sobre o assassinato dos inocentes. Neste ponto sim, sem dúvidas, os resultados hoje apresentados ao mundo são alvissareiros e dignos de comemoração.

Blood Money: coletiva de imprensa e entrevista exclusiva com o produtor do filme em Recife

[O autor do Exsurge, Gustavo Souza, esteve presente à coletiva de imprensa que o produtor do filme Blood Money, David Kyle, concedeu aqui em Recife. É o autor da reportagem seguinte, que me foi enviada por email, inclusive da entrevista exclusiva com o produtor do filme que vai ao final. Agradeço pelo material, que espero ser útil àqueles que estão acompanhando a repercussão do documentário no Brasil.]

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Uma coletiva de imprensa

“Coletiva de Imprensa”: uma porção de jornalistas sabatinando alguém que – quase sem tempo para respirar – tenta responder a perguntas cujas premissas são mais longas que os questionamentos em si. Esta, talvez, seja uma descrição bem verossímil do que é uma entrevista coletiva. Mas com um detalhe: as perguntas (frise-se: enormes!) muitas vezes são feitas com uma, digamos, “sagacidade jornalística”… Se o entrevistado não tomar cuidado, corre o sério risco de cair em armadilhas ideológicas.

David Kyle – escritor, produtor e diretor de Blood Money: Aborto Legalizado – parece ser um especialista em “campo minado”: com seriedade, clareza, objetividade e sinceridade, livrou-se de alguns dardos que lhe foram lançados ontem (13) pela manhã, no Marante Plaza Hotel, em Boa Viagem (Recife – PE), durante uma coletiva que durou pouco mais de uma hora.

Nela estavam presentes Marcos Toledo, do Jornal do Commércio; Júlio Cavani, do Diário de Pernambuco; Marcos Fernandes, do LeiaJá; E eu, um “jornalista” católico. Marcaram presença também: o diretor da Estação Luz Filmes (produtora que adquiriu os direitos de exibição do documentário no Brasil), Luís Eduardo Girão; Iraponan Arruda, do movimento “Brasil sem Aborto”; a assessora (local) de imprensa, Joana Aquino; e a tradutora, Érica Bandeira.

Respostas de David Kyle

Ao ser questionado sobre a participação de religiosos no filme, respondeu:

A intenção nunca foi fazer um filme religioso. Mas, inevitavelmente, quem está ligado a este tema é religioso. Os não-religiosos em geral evitam falar sobre isso. Não acham que seja importante. Os religiosos, por sua vez, não estão promovendo sua religião, mas a causa da vida. Mesmo que no filme haja sacerdotes, o intuito foi preservar a causa científica. Todos os argumentos apresentados são lógicos, fáticos, sem “causas” religiosas.

Ao ser questionado sobre quais as expectativas que tinha com relação à recepção do filme no Brasil, respondeu:

Espero que vá muita gente. Não só para assistir ao filme, mas para promover a causa da vida. É preciso quebrar o tabu que a sociedade criou. É preciso falar do polêmico.

Sobre o forte teor negativo de alguns depoimentos dados (que associam, por exemplo, o aborto ao nazismo, ao racismo, etc.):

Apenas mantivemos as câmeras ligadas. Não manipulamos nenhum testemunho. Apenas demos o espaço para as pessoas falarem, e elas – livremente – se acusaram em alguns momentos. Esta é a avaliação e a sensação que elas têm sobre o que fizeram. A mídia americana apresenta apenas um lado da história e ninguém diz nada. Fiz o filme para adolescentes (para os quais o uso de imagens é importante). Por isso é que apresento as imagens de Hittler, de Obama, de Ronald Reagan, etc. A concepção ideológica da Planned Parenthood guarda, efetivamente, uma estreita relação com a mentalidade nazista. São fatos, não suposições.

Sobre sua escolha por fazer um documentário mais “leve”, isto é, sem as cenas chocantes e sanguinárias que outras obras a este respeito trazem, afirmou:

Alguns grupos até me criticaram por não colocar cenas mais fortes. Eu acho que não é necessário. Prefiro gráficos e palavras. A expressão das mulheres que falam em Blood Money já é chocante. Então basta. Eu vi pessoas chorando no cinema, em certas cenas. Portanto, imagino que tenha sido atingido o objetivo de tocar as pessoas mais profundamente. Mas sem recorrer a cenas de grande impacto.

Acha que o filme tem a capacidade de mudar a realidade?

Várias pessoas serão atingidas, de modo que isso pode acontecer. O maior desejo é informar. Nada vai mudar se nos calarmos. É preciso escutar os dois lados. Eu espero que nos EUA se torne ilegal novamente. Mas não exatamente por causa do filme e sim por causa da consciência social. As chances são reais: lá, 51% de pessoas são contrárias ao aborto atualmente. Os jovens são, em grande medida, responsáveis por isso. Desde 1973, 52 milhões de abortos foram praticados nos EUA. Isso é o que acontece nos EUA. Estes são os fatos que precisam mudar.

Sobre a Planned Parenthood:

A Planned Parenthood implantou-se no Afeganistão e funciona com a mesma sistemática dos EUA. Ela tem um modelo – que veio ou virá para o Brasil se o aborto for liberado. Nada da visão do filme é inaplicável ao Brasil. A Planned Parenthood é a maior instituição promotora do aborto no mundo e dita as regras onde quer que esteja.

Sobre a necessidade de “mostrar o outro lado”, isto é, um lado positivo na realização de abortos, foi enfático:

Quando foi a última vez que você viu um documentário sobre o lado bom da Alemanha nazista ou serial killers? Não há justificativa para tais comportamentos.

Sobre se a promoção e realização de abortos está concentrada apenas nas grandes fundações (Ford, Rockfeller, etc), respondeu:

Há médicos que faziam isso individualmente. E outras organizações também. Marie Stopes, por exemplo, é uma fundação independente que promove isso.

Sobre a indústria abortista:

Os anticoncepcionais não são feitos para funcionar 100%. A maioria das que abortavam usavam-nos. Assim a indústria ganha dinheiro ao vender o anticoncepcional e também, depois, quando precisava corrigir a falha por ele provocada com o aborto.

Sobre se teve alguma motivação pessoal – surgida a partir de algum episódio de sua história de vida) – para produzir o filme, alegou:

Não.

Sobre o aspecto legal do aborto nos EUA:

A constituição americana é o limite sobre até onde o governo pode ir. Diversos grupos tentam fazer algo para mudar isso. Alguns estados colocam mais restrições sobre o modo e o período de praticar o aborto. Mas, abolir de vez ainda é difícil – por causa do lobby abortista.

Sobre a associação de Obama ao movimento pró-aborto, esclareceu:

Associo as ideias de Obama às de outro político porque é claro. Ambos mostraram publica e abertamente qual o seu pensamento a respeito do aborto.

Sobre os frutos que o filme tenciona produzir, falou:

Toda a mulher que assistir ao filme vai lembrar as cenas e vai manter sua gravidez.

Sobre ultrassonografia:

Uma das leis é tornar o ultrassom obrigatório antes do aborto. As instituições de planejamento familiar não querem isso. Por quê? Porque a maioria das mulheres desiste diante da imagem de seus bebês na tela do monitor de vídeo usado na ultrassonografia.

Sobre o filme “bruto”, declarou:

Ao fim, tinha 5 horas de filme. Precisei editar bastante…

Sobre se havia tentado maior divulgação do filme entre os canais de TV aberta ou por assinatura, disse:

Não é uma grande companhia. Não quer fazer muito dinheiro. Não tentou penetração em grandes canais e em TV por assinatura.

Sobre as vendas de DVD com o filme, informou:

Desde janeiro de 2011, todos os dias vendeu um DVD. Apenas em um dia não vendeu.

Luís Eduardo Girão – Diretor da Estação Luz Filmes

O diretor da Estação Luz Filmes também deu algumas breves declarações. Segundo Girão, os veículos midiáticos no Brasil têm auxiliado a instigar o debate sobre o aborto. Ele avalia isto positivamente. Para ele, trazer este tema à tona, tirá-lo da gaveta, lançar luzes sobre os diversos aspectos que o envolvem, é fundamental. O diretor da Estação Luz Filmes informou que, até o momento, 10 salas, em 9 cidades do Brasil, exibirão o filme. Apenas o Rio de Janeiro conta com duas salas. De acordo com ele, a mobilização popular é o que garante a permanência do filme em cartaz. Nos Estados Unidos, ele recorda, este filme circulou apenas por salas alternativas. O Brasil está sendo o primeiro país em que a película entra no circuito comercial, concorrendo – inclusive – com outras produções norte-americanas mais populares (como Thor 2 – O Mundo Sombrio, atualmente em exibição).

Luís Eduardo Girão complementou em alguns momentos a explanação de Kyle. Chamou a atenção para alguns detalhes subjacentes, mas fundamentais, que – em sua opinião – devem ser enfatizados ao se falar de aborto: primeiramente, recordou o caráter eugênico deste “planejamento familiar” propalado por instituições abortistas (de acordo com ele, não é coincidência que o maior índice de abortamento nos EUA esteja entre os negros). Em seguida, recordou que a implementação de um controle de natalidade a nível mundial (que já vem ocorrendo sorrateiramente) pode afetar a soberania das nações. Por fim, alertou que falar do aborto como questão de “saúde pública” implica não em oferecer meios de abortar, mas em tratar doenças como o alcoolismo, a dependência química e a depressão – que muitas vezes acometem as mulheres que se submetem a um abortamento.

Girão aventa a possibilidade de, em breve, produzir algo relacionado ao trabalho do Dr. Bernard Nathanson, que se tornou um ícone do movimento pró-vida depois de filmar, na década de 80, o documentário “Grito Silencioso”. O Dr. Nathanson faleceu em fevereiro de 2011.

Entrevista exclusiva com Gustavo Souza

Ao final da coletiva, David Kyle permitiu-se responder a ainda algumas perguntas. Confira.

Tradução: Érica Bandeira

Como foi conseguir financiamento para Blood Money?

Não recebi dinheiro de instituição nenhuma. O financiamento da obra se deu integralmente por meio de doações recebidas de pessoas físicas. Não recebi dinheiro de nenhuma empresa.

Você sofreu algum tipo de perseguição (política, social, religiosa, etc.) por causa do filme?

Não. Nunca sofri nenhuma ameaça nem perseguição alguma. Nos EUA esta discussão é aberta. Fala-se disso naturalmente.

E como fez para obter os dados que precisava para produzir o documentário?

Os dados científicos eu obtive por meio de consulta a especialistas de diversas áreas. Os depoimentos, evidentemente, eu colhi de pessoas que haviam praticado o aborto.

Mas como o senhor chegou até estas pessoas?

A maior parte delas está ligada a movimentos pró-vida nos EUA. Algumas tinham receio de falar, é verdade. Mas fui atrás daquelas que eram indicadas por seus próprios parentes e amigos. Eles as estimulavam a que contassem sua história. E elas relatavam os fatos a mim na esperança de que, ao expor o que ocorreu em suas vidas – e as consequências que advieram de seus atos – pudessem ajudar outras mulheres a não cometer aborto.

Pensou em fazer outro tipo de filme sobre a mesma temática? Um romance baseado em fatos reais, por exemplo.

Sim. Isto é uma possibilidade. Existem situações novas que surgem a todo o momento e que me motivam a fazer outras produções neste sentido. Mas não a nada definido até o momento.

Se tivesse oportunidade de gravar novamente o filme, faria algo diferente?

Como se trata do meu primeiro filme, certamente há coisas a melhorar. Mas não me recordo agora de algo específico que eu modificaria.

Acha que é possível produzir uma obra semelhante aqui no Brasil, onde a indústria do aborto ainda é clandestina?

Sim, claro. Se quiserem, podem fazê-lo. Uma obra neste sentido terá efeitos em qualquer país onde for produzida.

Resenha: Blood Money

Cinema lotado, com pessoas sentadas inclusive ao chão. Amigos dos mais diversos lugares reunidos em peso no Cine Rosa e Silva. Presenças ilustres, como a do produtor americano David Kyle e a do diretor da Luz Filmes, Luís Eduardo Girão. Assim foi a première de «Blood Money» em Recife à qual tive o privilégio de assistir hoje à noite.

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O filme me surpreendeu muito positivamente. Trata-se de um documentário e, como todo documentário, não tem o apelo intrínseco de um blockbuster de ação; mas tem o seu ritmo próprio que é bastante cativante. Há uma história que se descortina diante dos olhos dos espectadores, e ela não é trivial: chegamos – por diversas vezes – a nos perguntar o que virá depois. A história da indústria do aborto é-nos contada como em camadas, e quando parece que atingimos o fundo do poço o filme nos surpreende com um outro aspecto da questão ainda mais tenebroso do que aquele que acabáramos de assimilar.

Há uma frase logo no início do filme que o resume bem: nós reconhecemos a vida quando a vemos, e a reconhecemos ainda melhor quando a vemos ser tirada. Mais adiante, uma das mulheres entrevistadas – que já trabalhou numa clínica de abortos – vai dizer que ninguém pode lidar todos os dias com mortes e mentiras sem que isso o afete profundamente. E penso ser este o ponto central do documentário: as nefastas conseqüências – individuais e sociais – de um império de mentiras, da mais radical negação da realidade.

A história começa, claro, com Roe v. Wade. A conhecida farsa gerou um precedente, mas há uma questão de fundo muitas vezes negligenciada: por que deveríamos defender um precedente somente por ele existir? Isso não faz sentido em ciência alguma e também não faz sentido em nenhum dos ramos do Direito, à única exceção das decisões dos Tribunais. As coisas devem ser defendidas por serem corretas, e não meramente porque são antigas. Mas, curiosamente, embora o monstruoso erro de Roe v. Wade já seja amplamente reconhecido, ainda se insiste em seguir uma jurisprudência sabidamente injusta. E as conseqüências disso o documentário passa então a apresentar.

A mudança de enfoque é sempre sutil. Os sucessivos aspectos do problema parecem se encadear, chamam-se uns aos outros, como abyssus ad abyssum invocat in voce cataractarum. O aborto é apresentado sucessivamente como um negócio lucrativo, como um instrumento de controle racial (sabiam que a Planned Parenthood prefere abrir suas clínicas de aborto em bairros de minorias, e que crianças negras são abortadas em proporção muito maior do que as brancas?), como uma violência contra a mulher, como causa de inúmeras seqüelas físicas e psicológicas. Ao final do filme, é impossível disfarçar a revolta: é tudo inadmissível.

É inadmissível que direitos humanos básicos sejam assim violados ao arbítrio de terceiros. É inadmissível que se possa livremente lucrar milhões de dólares com a desgraça de mulheres fragilizadas. É inadmissível que o mais escancarado racismo encontre um campo vasto de ação no aborto legalizado. É inadmissível que as mulheres não recebam nenhuma espécie de apoio no momento em que se encontram mais vulneráveis – diante de uma gravidez inesperada. É inadmissível que o Governo avise aos cidadãos sobre os malefícios de tudo, do cigarro à gordura hidrogenada, mas silencie criminosamente quanto aos males causados pelo aborto. É inadmissível que esta história macabra seja verdadeira e, longe de fazer parte d’algum passado distante e tenebroso, tenha plena cidadania no nosso mundo moderno e dito civilizado.

Causam particular comoção os testemunhos das mulheres que praticaram aborto. Uma delas diz que jamais teria abortado se o seu companheiro dissesse por um momento que eles poderiam ter aquela criança. Outra afirma que, longe de encontrarem compreensão e apoio, elas se deparam com homens que dizem “eu posso te dar 300 dólares e nós continuamos bem, ou tu podes decidir ter este filho e a porta da rua é aquela ali”. A outra, aos prantos, diz que sua família toda ficava o tempo inteiro dizendo que ela tinha que resolver isso, que precisava ir pra clínica, que tinha que se apressar. Todas, em suma, relatam em uníssono a mesma coisa: nunca se tratou de uma «escolha». Elas foram empurradas para o aborto porque não lhes havia mais nada o que fazer. Nunca lhes foi dada nenhuma outra opção.

http://www.youtube.com/watch?v=mx3ZHc54RE4

E esta é talvez uma das maiores sacadas deste documentário: trazer à luz todo o sofrimento das mulheres que abortam, transformando-as em verdadeiras protagonistas da película. No fundo, é sim sobre mulheres que nós estamos falando: mulheres cujas vidas foram destruídas por hipócritas interesseiros que se aproveitaram de um momento de fragilidade para lhes vender uma “solução” que só fez agravar ao infinito os seus problemas. Mulheres nas quais os pró-aborto não pensam jamais. Mulheres que também são vítimas dessa ideologia assassina, cujos tentáculos se estendem igualmente sobre crianças abortadas e mães coagidas a abortar.

É por isso que é importante assistir Blood Money: porque ele trata sobre a talvez mais inconveniente das verdades que interesses escusos tudo fazem para manter na penumbra e na obscuridade. Como disse o produtor do filme antes do início da exibição: trata-se de mostrar a verdade às pessoas que não têm noção do que está por trás do lobby pró-aborto. Trata-se de uma luta travada com base no engodo e na desinformação, contra os quais é necessário levantar a verdade dos fatos. Este documentário que estréia no próximo dia 15 de novembro presta-se muito bem a desmistificar o aborto, e só isso já seria o bastante para valer uma ida ao cinema. Acrescente-se a isso a envergadura dos testemunhos, a qualidade técnica, a envolvente trilha sonora e a empolgante capacidade narrativa, e não pode mais haver desculpas para permanecer em casa. Assista e divulgue, e com isso colabore para um mundo melhor.

Rede de fast-food se diz abertamente contra o casamento gay: as repercussões deste “crime”

Ainda esta semana eu informei aqui que diversas empresas mundo afora haviam deixado de contribuir com a Planned Parenthood por conta do boicote de cidadãos pró-vida. Isto, como eu disse, é uma notícia muito boa, uma vez que é perfeitamente legítimo que as escolhas dos cidadãos a respeito dos produtos que eles vão comprar ou deixar de comprar levem em consideração (entre outras coisas) também o que aquela empresa vai fazer com os seus recursos financeiros. Claro que cada um gasta o seu dinheiro com o que quiser, mas isto vale tanto para as empresas que contribuem para o aborto quanto para os consumidores que sustentam aquelas empresas.

[A propósito, sobre o mesmo assunto, a Boycott List é, como eu falei, protegida por direitos autorais – o que significa que só é possível ter acesso a ela diretamente com a LDI e mediante uma doação. Isto pode não parecer a forma mais eficaz do mundo de mobilizar consumidores para um boicote de proporções suficientes para que seja economicamente relevante como instrumento de pressão política; no entanto, a própria LDI expõe aqui as razões desta sua política, e elas são pelo menos razoáveis. Uma das minhas preocupações com estas listas (há uma aqui) sempre foi a fidedignidade dos dados contidos nelas. Quem as mantém? Quem as atualiza? Como eu confirmo que as informações lá são verdadeiras? A julgar pela forma como a LDI trata o seu trabalho, ela também leva bastante a sério estas questões, o que é bom para todo mundo. É melhor fazer assim do que perder a credibilidade com a divulgação de dados não-confiáveis.]

Curiosamente, uma coisa bem parecida está acontecendo neste momento nos Estados Unidos. A rede de restaurantes fast-food Chick-fil-A está no meio de uma terrível polêmica com ativistas gays porque um CEO da companhia fez algumas declarações contrárias ao casamento homossexual. Em português, saiu na Folha de São Paulo.

Houve conservadores que rapidamente se mobilizaram contra o boicote. P.ex., vi no Facebook hoje pela manhã uma figura do Willy Wonka dizendo algo como “então você vai deixar de comer na Chick-Fil-A porque o dono dela é contra o casamento gay? Conte-me como você está deixando de comprar gasolina no posto tal que vende gasolina para que queimem homossexuais” [p.s.: na verdade não é bem isso]. Aqui é preciso distinguir com cuidado as coisas.

O simples boicote (entendendo por isso o pacífico não-consumo de produtos da empresa, unido talvez à (também pacífica) contrapropaganda para que se deixe de comprar nela) não pode ser condenado. Primeiro porque, ao que parece, não foi simplesmente o CEO da Chick-Fil-A dizendo que “era contra” o homossexualismo; a empresa doou dinheiro para campanhas contrárias à legalização do casamento gay – o que (não podemos esquecer de dizer) é uma coisa legítima e aliás muito boa: se eu soubesse de um restaurante assim em Recife, faria questão de comer lá sempre que possível.

Segundo que a comparação do Willy Wonka é descabida: não existe (que eu saiba) nenhuma rede de postos de combustível que direciona institucionalmente uma quota da sua gasolina para queimar homossexuais ou quem quer que seja (e, se existisse, um boicote a semelhante empresa seria perfeitamente justificável): entre uma política institucional e um uso indevido de um produto pelo consumidor após ele ter deixado a empresa vai uma diferença tão grande que beira a desonestidade intelectual. Terceiro: é perfeitamente razoável que os militantes gays queiram deixar de comer numa rede de restaurantes que milita contra a ideologia gay: cabe aos que apoiam a política da empresa suprir, por meio do consumo e da propaganda positiva, a lacuna deixada pelos consumidores descontentes com o emprego que a Chick-Fil-A faz dos seus lucros. Isto é natural, e o que não faz o menor sentido é pretender obrigar os militantes gays a continuarem freqüentando uma rede de restaurantes que é abertamente contra o gay-way-of-life.

Claro que há exageros (vejam este link, que inclusive cita uma carta do prefeito de Boston à Chick-Fil-A dizendo que não havia lugar para a loja em sua cidade), mas é preciso tomar cuidado para não cairmos no exagero oposto. A coerência é uma virtude necessária. É sem dúvidas um absurdo pretender que a empresa americana não tenha o direito de ser contra o casamento gay, mas é também um absurdo condenar em bloco os gays que simplesmente organizem um boicote ordeiro à empresa. Dizer diferente disso, além de não fazer sentido, é pôr em dúvida o nosso próprio direito de boicotar empresas que contribuem com a Revolução.

Burke & Planned Parenthood

Cardeal rezando em frente à maior empresa de abortos e contracepção do mundo. Agradeço ao pe. Demétrio por ter compartilhado o vídeo, que eu recomendo com alegria; mesmo para quem não entende inglês (infelizmente, está sem legendas), as imagens (principalmente a partir dos 2m34s) falam por si sós.

Trata-se do cardeal americano Raymond Burke rezando diante da Planned Parenthood! O gesto tem uma força simbólica imensa, e remete quase inevitavelmente à clássica figura bíblia de Davi diante de Golias. A desproporção da luta revela-se a cada cena: o cardeal de batina e faixa diante do prédio moderno; a pequenez do representante da Igreja diante da imponência do edifício assassino! Mas Davi confiou no Senhor e venceu o gigante Golias. Também nós colocamos a nossa esperança nas mãos do Altíssimo: “Para os montes levanto os olhos: de onde me virá socorro? O meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra” (Sl 120, 1-2). Porque, sem Ele, nada podemos fazer.

Importa, portanto, rezarmos. Rezarmos a Deus para que tenha misericórdia de nós. Rezarmos a Deus para que Ele venha em nosso auxílio e nos leve para além dos limites das nossas fraquezas. Rezarmos a Deus para que Ele vence as batalhas que nós, por nossas próprias forças, somos incapazes de vencer. Rezarmos ao Senhor dos Exércitos por todos nós.

Porque, contra todos os prognósticos, Davi venceu Golias. Por qual o motivo então o embate entre o Cardeal Burke e a Planned Parenthood deveria ter um desfecho diferente? Acaso a luta é menos justa…? O Deus que olhou benevolente para Davi, acaso não nos olhará também a nós com benevolência?

E o gigante já começa a cair. Hoje faz uma semana que foi aprovada a No Taxpayer Funding for Abortion. Esta lei “impede o financiamento direto ou indireto por parte do governo federal [americano] para qualquer tipo de aborto”. E, ontem, saiu no LifeSiteNews.com que Indiana foi o primeiro estado americano a cortar o financiamento público à Planned Parenthood. O primeiro de muitos, assim esperamos. Não nos deixemos desanimar! Que seja em nosso favor a Virgem Soberana. Que Ela nos livre do inimigo com o Seu valor. Que São Miguel Arcanjo nos defenda no combate.

No Taxpayer Funding for Abortion

Feminismo agressivo e conversão de abortista

Católicos ao redor das igrejas para evitar possíveis ataques; feministas com os seios de fora, jogando garrafas e cuspindo nos cristãos. Foi assim na Argentina, no XXIV Encontro Nacional de Mulheres, que teve lugar em Tucumán entre os dias 10 e 12 de outubro p.p.

Os católicos lá estavam, como no ano passado em Neuquén: “La única voz que se oyó fue la de los católicos rezando mientras [las manifestantes] les interpelaban con blasfemias y provocaciones”. Que a Virgem os recompense.

Enquanto isso, NOTÍCIA MUITO IMPORTANTE: ex-diretora da Planned Parenthood abandona os abortos e se converte em militante pró-vida. “Com receio da repercussão da mudança de Abby, a Planned Parenthood entrou na justiça para garantir que o sigilo de clientes e profissionais da indústria do aborto não sejam prejudicados pelas manifestações das quais Abby possa participar”. Graças a Deus, engrossam as fileiras dos ex-abortistas. Graças a Deus, cada vez mais as pessoas percebem o absurdo que é a defesa do assassinato de crianças inocentes.