A coluna de ontem do Paulo Sant’ana, publicada no Zero Hora, é pertinente. Falando sobre o escandaloso “Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT” já aqui comentado, o articulista aborda uma só das dezenas de diretrizes absurdas que o documento contém: o recolhimento de mulheres transexuais e travestis aos presídios femininos.
O Paulo lança uma série de perguntas que, de tão óbvias, espanta-se que aparentemente ninguém tenha pensado nelas, preferindo atirar a pecha de “homofóbico” a quem ouse formulá-las: pela mesma lógica, e tendo em vista o “princípio carcerário de que não podem ser recolhidos a uma mesma unidade prisional indivíduos de sexo oposto” [para evitar que “mantenham atividade sexual dentro de um presídio indivíduos de sexos opostos”], as lésbicas não deveriam ir para os presídios masculinos? Os homossexuais masculinos não deveriam ser encaminhados também para os presídios femininos? E – essa não fez o Paulo, mas bem poderia ter feito, e faço eu – os bissexuais ficariam onde, em presídios “de um indivíduo só”?
O que afinal justifica esta diretriz estúpida? Aparentemente ninguém sabe, porque ninguém diz. Este blog chamado “Homomomento” fica irritado com o Paulo Sant’ana e publica uma carta enviada ao Zero Hora, avisando o motivo pelo qual a esposa do autor vai cancelar a assinatura do jornal: “se um colunista pode falar deste jeito ofensivo e baixo numa coluna dominical, logo a mais vendida, então é porque considera os gays como cidadãos que não merecem respeito”. Ao invés de procurar responder às perguntas do articulista, atira-lhe logo à cara a pecha de homofóbico e insinua que, para o jornal, os gays “não merecem respeito” – evocando assim o terrível peso da pressão do politicamente correto.
Esquece-se a autora da carta que “respeito” não significa concordância irrestrita com todas as posições de quem quer que seja. Agarrando-se a um único termo chulo usado pelo articulista, ela se julga no direito de, por causa daquele, escusar-se de entrar na discussão por este levantada, atribuindo-se a priori a razão. E, sem saber separar indignação subjetiva de argumentos objetivos, intenta silenciar o jornal por meio do protesto histérico. Expediente, aliás, que parece ter se transformado no supra-sumo dos debates públicos tupiniquins, infelizmente. E olhe que a lei da Mordaça Gay não foi aprovada ainda…