Eu detesto chegar a esta conclusão, mas ela infelizmente é imperativa: as sucessivas declarações do Reinaldo Azevedo sobre o celibato clerical chegaram a um tal ponto que se torna possível questionar ou a sua boa fé, ou a sua sanidade intelectual. Não é possível. Após a vergonha do texto de ontem pela manhã que eu comentei aqui ontem mesmo, ele voltou à carga, ontem a noite, com um novo texto no qual a sua fúria anti-clerical é agora dirigida para as pessoas que – como eu – defendem o celibato e não conseguem ver lógica nenhuma nos disparates ad nauseam repetidos pelo articulista.
A Igreja, o celibato e o poste de Chesterton é o título do novo artigo. Esbraveja o Reinaldo (todos os gritos são dele):
Defendi, sim, o fim do celibato na Igreja Católica — que não é e nunca foi matéria doutrinária.
Eu não cometo é o erro estúpido de considerar o celibato uma questão doutrinária.
Até quando uma escolha — QUE NÃO É DOUTRINÁRIA, REITERO, OU ME PROVEM O CONTÁRIO —, tornada deletéria ao longo da história, continuará a deitar a sua sombra sobre a instituição (…)?
Quem se dispõe a provar que o celibato está entre as verdades que podemos dizer reveladas?
O CELIBATO É UMA ESCOLHA; NÃO É MATÉRIA DE DOUTRINA E JAMAIS FOI INSPIRADO POR DEUS!
Ora bolas, e quem foi que disse jamais que o celibato é matéria doutrinária? Este nunca foi o ponto. O Reinaldo, com este espantalho pueril e esta cortina de fumaça grosseira, quer enganar a si mesmo ou quer enganar aos seus leitores? Quem é mesmo o brucutu que está imbuído de espírito petralha? Nós, que defendemos – junto com o Papa – o celibato eclesiástico, ou o articulista que inventa teses (no mínimo) não provadas e, depois, quer se defender dando piti e levantando uma cortina de fumaça que nada tem a ver com a discussão?
Vamos tentar esquematizar quais são os problemas aqui.
Primeiro disparate defendido pelo Reinaldo Azevedo: “Não sou da hierarquia católica, apenas um católico. Como tal, não só posso como devo debater o que não for matéria dogmática”, aqui. Quem disse ao Reinaldo que os leigos têm o dever de debater o celibato eclesiástico? Ele que prove esta afirmação gratuita. Como eu falei ontem, os leigos até “podem” discutir a disciplina da Igreja. Mas nem isto é uma obrigação, nem isto pode ser feito do jeito irresponsável que faz o Reinaldo. Aquilo a que os leigos estão obrigados – aí sim – é a respeitar a Suprema Autoridade de Governo da Igreja e se submeter às disciplinas que Ela prescreve. Coisa na qual o Reinaldo falha miseravelmente.
Segundo disparate defendido pelo Reinaldo Azevedo: “Mas é evidente que [o celibato] se tornou um malefício, um perigo mesmo, fonte permanente de desmoralização”, aqui. Não, não é “evidente”. Quem disse? O próprio Reinaldo? Reinaldo locuta, causa finita, é isto? Bento XVI discorda do articulista da Veja: para o Papa, o celibato sacerdotal é “uma riqueza inestimável” e “uma bênção enorme para a Igreja e para a própria sociedade” (cf. Sacramentum Caritatis, 24). Será que o Papa não consegue perceber uma “evidência”? Percebe-a, aliás, exatamente ao contrário? O Reinaldo Azevedo está chamando o Papa de burro, uma vez que este “não consegue” ver uma evidência? Ou o articulista simplesmente está em uma aiatolesca crise de megalomania que o impede de diferenciar os próprios preconceitos da realidade objetiva?
Terceiro disparate defendido pelo Reinaldo Azevedo: “Não é preciso ser muito agudo para perceber que os padres vivem uma realidade que absolutamente os aparta da vida real”, aqui. Por acaso “vida real” é sexo, Reinaldo? De onde, de novo, esta besteira monumental foi tirada? De que tratado de antropologia? Mutatis mutandis, então, um oncologista que não tem câncer leva uma vida absolutamente apartada da “vida real”? E um ginecologista homem? Um sujeito que seja contra as drogas sem nunca ter sido um drogado? Quem disse que é preciso fazer sexo para se ter uma vida real? Esta tese, nada surpreendentemente, é… do próprio Reinaldo! Por que eu deveria simplesmente aceitá-la sem mais nem menos? Quem está com petralhice aqui?
Quarto disparate defendido pelo Reinaldo Azevedo (e talvez o ponto nevrálgico da questão): o celibato está entre as “práticas que concorrem para os desvios de conduta”, aqui. Quem foi que disse que os escândalos sexuais são causados, favorecidos, facilitados, propiciados, catalisados ou o que quer que seja pelo celibato clerical? Tese absurdamente gratuita e completamente apartada da realidade. Por acaso existem menos escândalos sexuais entre os protestantes, cujos ministros são casados, Reinaldo? É empírico que não. Basta, portanto, isso para derrubar a tese do articulista da Veja. No entanto, parece que, se a realidade não se adequa à visão de mundo do Reinaldo, pior para a realidade…
Em resumo: se o celibato eclesiástico é uma disciplina em vigor desde Nosso Senhor Jesus Cristo (o fato de só ter sido tornada obrigatória depois não muda o fato de que a Igreja já nasceu com um clero celibatário – e, aliás, o celibato episcopal sempre foi obrigatório na Igreja, quer no Oriente, quer no Ocidente); se não existe a mais remota ligação entre esta disciplina e os escândalos que atualmente se precipitam sobre a Igreja; se o Papa, que é quem detém o supremo poder de governo da Igreja, recentemente corroborou a obrigatoriedade do celibato para a tradição latina em documento oficial (cf. Sacramentum Caritatis, 24); tendo tudo isso em vista, então, o que justifica a artilharia pesada que o Reinaldo – que se diz católico – está descarregando sobre o celibato dos sacerdotes do Deus Altíssimo?
O problema nunca foi doutrinário. Afinal de contas, não é só em matéria doutrinária que um católico pode falar besteira e se comportar como um perfeito inimigo da Igreja de Cristo – e, disto, os textos do Reinaldo Azevedo sobre o celibato são prova incontestável.
Afinal , devemos quebrar todos os paradigmas.
Os dogmas antigos e ultrapassados precisam ser
esquecidos.
De fato ela atende as necessidades do povo
oprimido.
Por isso é importante dialogar com aqueles
que representam o povo sofrido.