Faleceu esta madrugada o dr. Eduardo Jorge do Carmo Bahia Barreto Campello, ex-presidente do Círculo Católico de Pernambuco, advogado, professor, católico fervoroso, amigo dedicado. Recuperava-se de um transplante de fígado, e se recuperava bem; aprouve no entanto a Deus chamá-lo para junto de Si, para a Eternidade onde — assim cremos e esperamos — hoje recebe a glória que este mundo lhe negou em vida.
Deixa esposa e filhos, e primos e sobrinhos, e uma multidão de amigos que hoje se reuniu — em uma segunda-feira à tarde que “coincidiu” de ser o dia de Nossa Senhora de Lourdes — para lhe prestar as últimas homenagens. A todos consolava a esperança da Ressurreição, a certeza de que a vida não termina com a morte — antes começa! — e a confiança de que os corpos que deitamos nos nossos cemitérios haverão, um dia, de ressurgir livres da corrupção da velhice e da doença. Semeamos as nossas fraquezas para colher, um dia, a Imortalidade.
Estive no velório e no sepultamento, pude rever alguns amigos — uma pena que o tenha sido, assim, em tão pungentes condições…! — e lançar um último olhar ao velho colega, ao guerreiro alquebrado, ao servo fiel de Deus que retorna ao Pai antes de nós. Mas, que digo? Não foi um último olhar. Do Céu, agora que pode mais perante Deus, tenho certeza de que o Dr. Eduardo olha por nós com paternal cuidado. Somos cristãos e as nossas cerimônias fúnebres, com todos os seus laivos de tristeza, são, ainda assim, antes um até-logo do que um adeus definitivo.
Estive no Cemitério de Santo Amaro e pude acompanhar o féretro no seu percurso doloroso pelas ruas da cidade dos mortos. Saindo da capela dos velórios por entre os corredores estreitos dos ossuários — cada um em seu escaninho, / cada um em sua gaveta, / com o nome aberto na lousa, / quase sempre em letras pretas, como canta João Cabral –, chegando às suntuosas avenidas dos mausoléus ([a]s avenidas do centro, / onde se enterram os ricos) e seguindo mais além, passando diante da igreja até uma pequena clareira, em um canto, sem pompa, sem luxo, sem nada, debaixo de uma árvore seca, em uma cova rasa de areia, ali desceu o caixão à terra. Ali se derramaram as últimas lágrimas e as últimas orações. Ali deixamos Eduardo, o grande, buscando talvez um lugar esquecido dos homens para que fosse lembrado de Deus.
Descanse em paz, Dr. Eduardo, e que o Altíssimo possa lhe recompensar o zelo apostólico como o mundo não foi capaz de o retribuir.
Pater Noster + Ave Maria.
Requiem aeternam dona ei, Domine, et lux perpetua luceat ei.
A foto abaixo tornou-se viral na semana passada; não sei exatamente em que contexto ela foi tirada (pelo que li nas redes sociais, teria sido uma manifestação da CUT da qual participou o frei Aloísio Fragoso — isso contudo pouco importa), mas ela se presta bem para falarmos um pouco sobre o que há de errado com determinada visão religiosa contemporânea. Para representá-la, essa imagem é de uma preciosidade ímpar.
A primeira coisa errada nesta foto é a forte conotação político-partidária que ela apresenta. A política, no sentido clássico, da arte relacionada ao cuidado das coisas públicas — da polis, da cidade — é uma coisa conatural ao ser humano: viver em sociedade é, sempre e necessariamente, de algum modo fazer política. Mas não é este o sentido corrente do termo, e (principalmente!) não é este o sentido que se depreende de uma imagem onde se protesta contra uma decisão judicial que condenou um ex-presidente por corrupção e lavagem de dinheiro. O sr. Luís Inácio, ali, não está retratado como um cidadão esmagado sob a tirania estatal: é um líder político a cuja defesa o manifestante empresta o próprio nome, a honra, tudo.
Ora, isso não tem nada a ver com religião e além disso: a religião é tanto mais importante quanto mais consegue fazer as pessoas perceberem a mesquinharia dessas lutas conjunturais pelo poder terreno. A frase da coroação dos papas — sic transit gloria mundi — tem muito a ensinar tanto aos que assumem poderes temporais (os Papas, lembremo-nos, governavam os Estados Pontifícios) como também àqueles que se sujeitam aos poderes constituídos: todas essas coisas passam e, portanto, não vale a pena dedicar-lhes a própria vida com este devotamento religioso tão comum de se encontrar no Brasil de hoje em dia. É saudável manter uma relativa distância das disputas político-partidárias. Quem não o faz corre o risco de passar vexame.
A segunda coisa terrivelmente errada com a imagem é a blasfêmia grosseira em que consiste a comparação. Nosso Senhor Jesus Cristo era verdadeira e propriamente um inocente, no sentido mais próprio, ontológico em que se pode afirmar a inocência de alguém. Ele era a própria Inocência encarnada e pendurada em um madeiro. Ora, quem, por cândido e puro que seja, pode se afirmar inocente assim? Quem ousaria se comparar ao Filho de Deus?
Uma pessoa realmente inocente se sentiria aliás ofendida com a comparação. Algum místico espanhol (Santa Teresa? São João da Cruz? Agora não me recordo…) certa feita estava sendo terrivelmente caluniado. Perguntaram-lhe se eram verdadeiras aquelas coisas. O santo respondeu algo como: “meu filho, essas coisas que estão falando de mim são tudo mentira. No entanto, eu já fiz tantas coisas horríveis e das quais ninguém ficou sabendo que tomo umas pelas outras e ainda saio no lucro”.
Com certeza os nossos tribunais estão repletos de sentenças injustas, e com certezas há inocentes injustamente condenados. Mas o máximo que se pode dizer de qualquer ser humano é que ele seja inocente do crime pelo qual foi condenado. Assumamos, unicamente para argumentar, que o sr. Luís Inácio não tenha realmente nada a ver com o Triplex do Guarujá. Isso o faria inocente, sim, mas de uma inocência por assim dizer relativa: ele seria inocente de ter recebido propina de um construtora. Este é o máximo de inocência a que ele pode aspirar. Aliás, este é o máximo de inocência a que qualquer ser humano pode aspirar.
Coisa completamente diferente é o caso de Cristo — e espanta que um líder religioso não perceba esta coisa tão básica! Ora, Nosso Senhor não era somente inocente da acusação de blasfêmia que os judeus Lhe lançaram: Ele era inocente completamente, inocente simpliciter, inocente de toda e qualquer culpa porque Ele jamais cometeu pecado algum. Não dá, simplesmente não dá para comparar Nosso Senhor nem mesmo com a vítima da maior injustiça que Thêmis tenha algum dia sido capaz de cometer.
A terceira coisa errada, terrivelmente errada com a imagem é a figura nela retratada. Admitir-se-ia, vá lá, mesmo com a impropriedade da comparação, que Cristo Crucificado fosse comparado com a inocência de uma criança covardemente assassinada. Agora compará-Lo logo com o senhor Luís Inácio…! Ninguém em sã consciência acredita de verdade na inocência do ex-presidente. O máximo a que consegue chegar a militância minimamente pensante é dizer que ele foi condenado sem provas. Ora, qualquer pessoa que tenha uma compreensão ainda que rudimentar de como funciona a justiça sabe que uma coisa é não haver provas e outra, completamente diferente, é o acusado ser inocente. Provas por provas, também não as há de que o goleiro Bruno tenha assassinado Eliza Samudio. Alguém cogitaria retratá-lo de coroa de espinhos na cabeça e protestar contra tão aviltante reencenação do Pretório de Pilatos? Tal não seria profundamente ridículo? E quão ridículo não é o presente protesto, onde as imagens de Cristo e de Lula são colocadas juntas em uma cruz no meio da rua?
A respeito de Cristo não se pode simplesmente dizer que os judeus não se desincumbiram do ônus de provar a sua acusação; no Gólgota a questão era verdadeiramente fática, constitutiva, substancial — não era uma reles questão procedimental! Transformar a Paixão em uma “condenação sem provas” é de um reducionismo tacanho, verdadeiramente inimaginável em épocas mais civilizadas. Os dias atuais, no entanto, sempre surpreendem em matéria de estupidez.
Os inimigos da Igreja gostam de dizer que a religião aliena, e a frase segundo a qual ela seria o ópio do povo tem cada vez mais se tornado um lugar-comum entre as classes soi-disant pensantes. O que se percebe, no entanto, no dia a dia, é justamente o contrário: não é a Cidade de Deus quem aliena, mas sim a Cidade dos Homens. O que torna o homem alheio à realidade a seu redor não é a religião e sim a ideologia política. A triste cena que ilustre este artigo dá, disso, uma demonstração perturbadora.
“Será que vai ter Gloria”? Eu me perguntava enquanto o coral entoava o Kyrie da Missa de hoje, Missa da Quinta-Feira Santa celebrada segundo as rubricas de 1962. Era a primeira vez que eu assistia ao Sagrado Tríduo celebrado na Forma Extraordinária do Rito Romano. A Missa do Lava-Pés, a Nova, sei-lo bem, tem Glória sim; o último Glória antes do da Vigília Pascal.
Lembro-me deste Glória em específico por conta da Paróquia da Torre: é apenas após ele que os instrumentos, todos, emudecem, e os cânticos populares serão conduzidos pela voz dos cantores somente — até a Missa de Aleluia. A mudança do barulho para a sobriedade é notória; o contraste chega a ser chocante. Já o disse outras vezes, creio, que a música litúrgica não é lá o ponto forte daquela paróquia querida, onde me crismei e onde fui por anos catequista: mas, de todas as celebrações do ano, as da Semana Santa — mais especificamente as do Tríduo Santo — eram primorosas. Era o Glória que marcava tudo: era a passagem da alegria para a tristeza, dos Ramos para o Tríduo, da Ceia para a Paixão.
Hoje, ao final do Kyrie, o padre imóvel diante do altar, o órgão entoa as notas conhecidas: vai ter Gloria sim. Esboço um sorriso e comento de lado: “faz já uns dois meses…!”. Porque na Missa Tridentina o Hino de Louvor cessa bem antes da Quaresma, já na Septuagesima. Nem me lembro direito de quando fora a última vez que o havia ouvido. E hoje ele foi mais uma vez entoado, como primícias do que há-de vir no Sábado Santo, como o último suspiro de alegria antes do horror da Sexta-Feira Santa. Gloria in Excelsis Deo, enche toda a nave da Igreja, e parece que os anjos estão, de novo, como naquela Noite Feliz de dezembro, anunciando a Redenção que é a mesma coisa que a Encarnação. O que cantaram antes pode ser cantado hoje também e em toda Missa onde o mesmo mistério se celebra: et in terra pax hominibus bonae voluntatis. É o último grito de júbilo! Após, tudo cessa. Após, o silêncio. Após começa a Paixão.
É uma das Missas de que mais gosto, esta da Quinta-Feira Santa. O Evangelho, com aquele início extraordinário onde Cristo, cum dilexisset suos qui erant in mundo[,] in finem dilexit eos (cf. Jo XIII, 1). Logo após o mandato, com o sacerdote — estola atravessada, à diácono, detalhe que só hoje percebi — lavando os pés aos fiéis. O Santo Sacrifício, pela última vez celebrado antes da gloriosa Vigília Pascal: e quando Cristo é elevado à adoração dos fiéis por sobre a cabeça do sacerdote, em vão se espera o toque da sineta de todas as Missas. Os sinos não mais dobram: Cristo elevado da terra, hoje, não recebe mais que a batida seca e abafada da matraca.
E ao final o Traslado.
O Sacrário aberto, os vasos sobre o altar, o sacerdote devidamente paramentado, de pluvial e umeral, a cruz processional — coberta — e os candelabros, o incenso elevando-se maviosamente pela igreja: passa a procissão pela nave central, e os fiéis vão-lhe atrás. Canta-se o Pange lingua, e é por volta de seis e meia da noite, a Igreja no centro da cidade: as pessoas param à porta para olhar. Os passos lentos da procissão e o canto, ritmado apenas pelo barulho rude da matraca de tempos em tempos, e todos aqueles acólitos de batina e sobrepeliz, e todas aquelas mulheres de véu, e a cena toda adquire contornos fantasiosos — parece vinda de muito longe, saída de muito distante no tempo, e é isso o que atrai tanto o olhar dos transeuntes.
Sim, é uma cena de um outro tempo: de há quase dois milênios atrás, em uma outra noite de lua cheia, quando um Homem ceou com Seus discípulos, e depois se retirou para o monte para rezar, e depois foi entregue por um de Seus amigos, e julgado às pressas, no meio da noite e, preso, passou a noite no cárcere. É este drama que hoje se repete ou, melhor, que na Sagrada Liturgia se faz hoje presente: são os contrastes da Quinta-Feira Santa! A Páscoa ritual celebrada. A Eucaristia instituída. O Horto. A Agonia. O Beijo. As correntes, os bofetões, as escarradas. Os julgamentos. A Prisão. E tudo isso expresso em uma celebração única, que começa com um Gloria e termina com um altar vazio. Um Gloria, explosão de alegria que há dois meses não era ouvido; o sacrário aberto e vazio, tristeza que os nossos templos não comportavam desde o ano passado.
Cristo Sacramentado na sacristia, no pequeno Altar da Reposição onde aguardará a Vigília do Sábado Santo. E o altar principal cerimonialmente desnudado, com as toalhas cuidadosamente dobradas e retiradas, enquanto o coral entoa o divisérunt sibi vestiménta mea. Não há bênção, não há despedida, não há nada; as pessoas levantam-se desordenadamente e apenas pouco a pouco deixam a igreja. Fica no ar um desconforto, uma sensação de que as coisas, por algum motivo, não estão terminadas. E de fato não estão. O Tríduo Santo está apenas iniciado. Diferente de todas as outras, esta Liturgia se prolonga para além do tempo normal da cerimônia e se arrasta por três dias. Somente no Sábado de Aleluia ela estará consumada. Até lá teremos muito o que viver.
Hoje é a festa da Imaculada Conceição, e parece que o mundo entra em um saudável afastamento das coisas mundanas para se dedicar, com um pouco mais de afinco, às celestiais. Eu comentava mais cedo: à hora do almoço, a cobertura da Globo não versava sobre a crise econômica, sobre a carta-bomba de Michel Temer, sobre o Impeachment que está às portas, sobre nada disso. Ao contrário, a programação estava, ao vivo, no Morro da Conceição, aqui em Recife, mostrando imagens da festa, entrevistando os fiéis, com reportagens sobre a história da devoção etc.
A religião é o ópio do povo, diz a conhecida máxima marxista. A crítica é fruto de uma má compreensão. Na visão materialista, trata-se de atribuir uma qualidade negativa à religião porque ela “aliena”, porque ela afasta os seres humanos da sua capacidade de lutar por uma vida melhor e mais justa, porque ela tende a “acomodar” os indivíduos, mormente os mais fracos, à opressão que lhes impõem os poderosos: isso a torna o “ópio” que encarcera os miseráveis em sua miséria, que lhes impede assenhorear-se da própria história. À primeira vista parece até fazer sentido; no entanto, a concepção é equivocada. Trago três razões pelas quais ela se equivoca.
Em primeiro lugar, porque não existe verdadeira oposição entre a vida material e a vida espiritual: ambas se complementam e se interpenetram. O homem, que é corpo e alma, tem necessidades espirituais e as tem também materiais, e isso de tal sorte que, faltando uma delas, a outra adquire contornos desordenados. Os exemplos são bastante claros. A ênfase nas necessidades materiais alijadas de uma concepção espiritual degenera no consumismo desenfreado dos nossos dias. Por sua vez, uma supervalorização da espiritualidade — hipótese cuja existência é muito mais complicada e, por isso, mesmo os seus exemplos históricos são escassos — culminaria no desprezo ao mundo, típico dos cátaros medievais ou dos seguidores de Jim Jones. Em última análise, degeneraria no suicídio.
Um parêntese: é aliás interessante como o suicídio é encontrado nestes dois pólos aparentemente opostos, na “espiritualização” excessiva e desordenada como também na ultra-materialização da vida: as altas taxas de suicídio verificadas nos países nórdicos já se tornaram um lugar comum, a questionar incomodamente o mito do bem-estar material como característica suficiente para garantir qualidade de vida.
Em segundo lugar, porque a religião existe no mundo e, em um certo sentido, para o mundo. Sim, é óbvio que a religião é “para Deus” no sentido de que o culto é direcionado a Deus, digno de todo louvor, que o homem voltar-se ao Seu Criador é um dever de justiça et cetera; tudo isto é verdade e está fora de discussão aqui. Mas a religião não elide — ao contrário, pressupõe — os deveres dos homens para com os outros homens, para com a família e a pátria, os pobres e os desvalidos, as autoridades constituídas. É este o sentido da famosa apologia de Santo Agostinho: os que dizem que a Doutrina de Cristo é inimiga do Estado, dêem-nos soldados como a Doutrina de Cristo ensina que devam ser os soldados, pais e filhos como a Igreja ensina que devam ser os filhos e os pais, maridos como aquela Doutrina determina que sejam os maridos, esposas como ela ensina que devam ser as esposas, patrões e empregados, juízes e reis, contribuintes e cobradores de impostos como os forma a Doutrina de Cristo — e, depois, venham falar em oposição entre os interesses do Evangelho e os do Estado (cf. Carta 138, 15). À religião, portanto, ao menos à religião verdadeira, não cabe a censura de afastar os seres humanos dos cuidados do mundo. Ao contrário, ela exige este cuidado como condição para a salvação da própria alma, que é o dever máximo incutido nos espíritos dos fiéis pelos sermões que ecoam o Evangelho de Nosso Senhor.
Em terceiro lugar, por fim, e mais importante, porque a religião tem pretensão de universalidade: os seus destinatários não são somente os pobres e desvalidos (os quais fossem, talvez, induzidos a abaixar a cabeça e aceitar passivamente a injustiça da própria condição), mas igualmente os ricos e poderosos. Ora, a mesma doutrina que manda suportar as adversidades é aquela que diz que os homens devem suportar as cargas uns dos outros. A religião que exalta a pobreza é a mesma que manda os ricos venderem os seus bens para das aos pobres. De que maneira levar a sério a pregação de um, v.g., São João Crisóstomo — «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos» (cf. Catecismo, 2446) — poderia levar à manutenção do status quo degradante e excludente contra o qual a sensibilidade humana, com toda a razão, insiste em protestar? Na verdade, não é os pobres terem religião o que mantém o mundo injusto. Ao contrário, o mundo continua insuportavelmente injusto porque os ricos e poderosos não dão ouvidos ao que prega a Doutrina de Cristo!
Hoje é a festa da Imaculada Conceição; e esta festa, que hoje ganha espaço nos nossos meios de comunicação em meio à turbulência do noticiário político e econômico, tem na verdade uma divulgação muito menor do que mereceria. Se o Brasil acorresse aos pés da mãe de Deus, os males que hoje o afligem dissipar-se-iam qual névoa ao amanhecer. Em meio à atividade febril do dia a dia, portanto, importa que cada um de nós, brasileiros, não nos esqueçamos jamais de colocar no centro de nossa vida, no centro de nossa atenção, aquilo que é verdadeiramente importante: nossa Senhora da Conceição, rogai por nós, salvai o Brasil! Sem esta jaculatória constantemente nos lábios e no coração tudo o mais que façamos será inútil. Sem isso, não lograremos senão fatigarmo-nos em vão.
Chove em Recife, mas isso não impede as pessoas de irem à rua. É festa da padroeira, é a solenidade de Nossa Senhora do Carmo; a bonita basílica, no centro da cidade, hoje recebe uma miríade de devotos. A chuva não os afasta e o feriado não os mantém em casa: o centro apinhado de gente, homens e mulheres, jovens, adultos e crianças, todos unidos no mesmo intento de prestar homenagem à Virgem do Carmelo.
Gosto das festas populares e, vendo-as, tenho a reconfortante sensação de que, a despeito de tudo, apesar de toda a tragédia das últimas décadas, o Catolicismo venceu. Não houve ruptura; perfez-se a tradição e, no dia 16 de julho, as velhas senhoras vão à praça do Carmo junto com suas filhas – já mulheres feitas -, e estas com suas filhas adolescentes, e outras, mais jovens ainda, com crianças de colo, reproduzindo e renovando um costume já ancestral. Todas as gerações ainda se fazem presentes na velha Basílica, e há um quê de vitória nisso: a Fé Católica continua existindo mesmo quando todos se empenham por destruí-la.
Infelizmente não pude assistir a toda a Missa celebrada por S. E. R. Dom Antonio Tourinho Neto, bispo auxiliar da Arquidiocese; peguei-lhe, contudo, a chegada, e a procissão de entrada, e praticamente toda a ante-missa – até a homilia inclusive. Belas palavras: duas coisas se celebram hoje, a festa de Nossa Senhora do Carmo e os 500 anos de nascimento de Sta. Teresa de Jesus.
Da primeira não é necessário falar muito, vez que a devoção do povo é, já, por si só, testemunho eloqüente quer do amor que Lhe tem o povo de Recife, quer das graças com as quais Ela culmina os seus devotos. Mas foi enternecedora a menção a Sta. Teresa: ela foi grande justamente porque não é “de qualquer um”, mas sim “de Jesus”, e é isso o que importa para todos nós.
Importa que sejamos de Jesus, pois Jesus quer ser nosso…! Impossível não lembrar da história de Sta. Teresa no claustro e o seu encontro com Nosso Senhor Menino (que a Ir. Kelly Patrícia musicou). Ser de Cristo é fazê-Lo nosso, e a beleza desta verdade por vezes nos escapa. Somos servos do Rei da Glória, dizia D. Antonio, aqui na terra; nas Moradas Celestes, por sua vez, no convívio dos eleitos, seremos servidos por Aquele a quem servimos.
Porque a verdade é que o Senhor não Se deixa vencer em generosidade; e se Lhe devotamos tudo o que temos e tudo o que somos, poderá Ele não nos recompensar com mais, muito mais do que a Ele demos…? E desta verdade a Virgem Santíssima é testemunha fidedigna: por um “sim!”, por um “faça-se!”, foi feita Rainha dos Céus e da terra. Hoje A celebramos Senhora do Carmelo, uma de Suas muitas glórias, um de Seus muitos títulos. E, como Sta. Teresa – os santos, mesmo os maiores dentre eles, não são senão sombras pálidas da Santíssima Virgem -, também a Virgem Maria foi e é de Jesus. Como ninguém. E, por isso, como de ninguém, Nosso Senhor é d’Ela.
Salve a Virgem do Carmo! Que Ela nos conduza a Nosso Senhor, sempre. Que sejamos d’Ela, a fim de que Ela nos faça d’Ele. A fim de que Ele seja nosso. Nesta vida e na futura.
O meu Crisma foi há muitos anos. Faz já mais de uma década que eu recebi na fronte a cruz perfumada com a qual o Espírito Santo consuma nos Filhos de Deus a graça do Santo Batismo. O tempo passa: já são mais de dez anos nas hostes do Senhor dos Exércitos…
É dever de todo crismado espalhar o doce odor de Cristo pelo mundo. Desde muito cedo dediquei-me a espalhar a fragrância do bálsamo sagrado por outras frontes; desde o início da minha «plenitude do Espírito» quis preparar outras almas para também receberem a unção do Santo Crisma. E ontem fechou-se mais um ciclo. Ontem, uma nova leva de jovens cruzados sentaram praça nos batalhões do Deus Verdadeiro.
Foram apresentados ao Bispo. Fizeram a sua solene tríplice renúncia: ao pecado, à desunião e a Satanás. Professaram majestosamente a Fé da Igreja. Receberam a imposição das mãos de um Sucessor dos Apóstolos. Depois, a Cruz traçada na testa, e estavam crismados! Até o final da noite, espalharam o perfume do bálsamo que rescendia de suas frontes lustrosas; permita Deus que, até o final da vida, espalhem pelo mundo inteiro o perfume do Evangelho exalado de suas almas indelevelmente marcadas com o caráter crismal.
Foram meses de preparação para a noite de ontem. Que digo? Para a noite de ontem, não; para o resto da vida de cada um deles, ontem à noite iniciada. Toda cerimônia de Crisma é o final de um ciclo de catequese, mas precisa ser também e principalmente o início de uma caminhada de maturidade na Fé para aqueles que o bispo unge com o óleo sagrado. Senão não faz sentido. Senão, não vale a pena.
Ontem, por assim dizer já tomaram as rédeas de sua vida espiritual. Se até o último sábado tinham semanalmente as palestras e os coordenadores a conduzir-lhes pela mão rumo ao conhecimento das coisas sagradas, hoje já não têm mais. Hoje precisam caminhar sozinhos. É uma honra e uma responsabilidade; e, justamente por isso, é mais digno e mais meritório. Estão preparados para esta jornada, é certo: com a substância da catequese e principalmente a graça do Sacramento, estão aptos a darem abundantes frutos de santidade para a glória de Deus e da Santa Igreja. Rezo para que o façam. E torno a dizer, ousando falar em nome de toda a equipe: quando precisarem, nós estamos aqui!
Estão prontos para seguirem os passos de Cristo, em meio a este mundo a Ele tão hostil. Estão prontos para O confessarem publicamente, «como em virtude dum encargo oficial (quasi ex officio)» – como diz Santo Tomás citado no Catecismo (§1305). É uma missão sublime: rezo para que a desempenhem com desenvoltura e galhardia. Como Deus os chama a desempenhá-la.
Aos novos soldados de Cristo, meus agradecimentos e minhas congratulações. Obrigado por terem perseverado, a despeito de nossas muitas fraquezas. Parabéns pelo caminho que já ontem começaram a trilhar. Se lhes posso dizer uma última coisa, é que não se afastem dessa santa estrada aberta pelos passos ensanguentados do Divino Salvador. Conservem até o final da vida as boas disposições com as quais, ontem, receberam o Espírito Santo de Deus. E sejam bem-vindos! O futuro reserva maravilhas, não duvidem nunca disso. Uma vida nova e fascinante apenas se inicia.
Atenção aos que moram em Recife ou redondezas: o Cine Rosa e Silva já confirmou que Blood Money vai entrar na sua segunda semana de exibição.
Teremos sessões (pelo menos) até o próximo dia 28/11. O cartaz com os horários – francamente melhores do que os da pré-estréia – segue abaixo:
Agora, quem estuda somente pela manhã pode assistir tranquilamente ao filme na sessão das dez para as três da tarde. Quem trabalha nos dois expedientes, pode com facilidade se dirigir ao Rosa e Silva às nove horas da noite. E, principalmente, temos mais um final de semana para marcar com os amigos e assistir ao documentário.
Quem não sabe do que se trata ou ainda está em dúvidas se vale a pena ir ao cinema, leia a resenha que escrevi e analise a coletiva de imprensa dada pelo produtor do filme. Vamos ao cinema! Importa conhecer esta verdade inconveniente e fazê-la cada vez mais conhecida. Assista ao filme, discuta-o e o divulgue. O mal cresce no mundo enquanto insistimos em lhe dar as costas. Importa encará-lo de frente. Importa impôr-lhe limites. Já é muito o estrago feito até agora. Já é vergonha demais para nós.
Seguem as datas e horários das exibições de Blood Money que até agora estão confirmadas para Recife. Os ingressos já podem ser adquiridos na bilheteria do Cine Rosa e Silva.
Tem sido bastante difícil conseguir salas de cinema para que as pessoas possam assistir a este filme. E, na verdade, temos ainda bem poucas exibições: apenas sete, a maior parte delas com horários bem inconvenientes (dez horas da manhã, really?!). Mas estas «sessões especiais» com certeza servirão como termômetro para o cinema decidir se deixa o filme em cartaz por mais tempo. Por isso, é importante irmos ao cinema.
Há uma certa má vontade com a exibição do filme: muitos donos de cinema pensam que documentários não dão bilheteria. E, de fato, não costumam dar: mas este documentário específico é importante e deve ser visto pelo maior número possível de pessoas. Para que isso ocorra, ele precisa ficar em cartaz por algum tempo – pelo maior tempo possível. E isso só acontecerá se o filme estiver dando uma boa bilheteria.
Os cinemas não vão fazer caridade e nem militância pró-vida. Eles querem lucro, e precisamos dar-lhes lucro se quisermos manter o filme em cartaz. Não basta telefonar, compartilhar nas redes sociais, divulgar o filme: é preciso ir vê-lo nas salas de cinema. Sem isso, nada adianta.
Temos já sete sessões: o melhor seria se as lotássemos antes mesmo da sexta-feira. Quem puder comprar antecipadamente os seus ingressos, que o faça: já estão sendo vendidos desde ontem. Assim o cinema vai perceber que a procura pelo filme está grande. Assim faremos algo concreto para informar a sociedade brasileira sobre os males que a indústria do aborto está espalhando pelo mundo.
O nosso «Sim à Vida» reuniu, segundo estimativa do Jornal do Commercio, “cerca de 50 mil pessoas na orla de Boa Viagem” na manhã deste domingo. Pelo sétimo ano, nós saímos às ruas da cidade para protestar contra o aborto e para reafirmar o direito sagrado e inalienável à vida, desde a concepção até a morte natural.
Foram sete trios elétricos, quatro horas de caminhada, três quilômetros entre o Castelinho e o 2º Jardim. Famílias estavam nas ruas para defender os que ainda não nasceram; crianças – de poucos anos, de colo, ainda nas barrigas de suas mães! – foram dar testemunho da importância das famílias. Em uníssono, defendíamos a vida humana, principalmente a mais inocente e indefesa.
Voluntários da Arquidiocese estavam espalhados por toda a orla recolhendo assinaturas pela aprovação do Estatuto do Nascituro. O Arcebispo Metropolitano participou de toda a caminhada, da abertura ao encerramento. Elba Ramalho também foi; compromissos a impediram de ficar até o final, mas ela fez questão de marcar a sua presença no início do evento e emprestar a sua voz e a sua imagem para defender os que ainda não podem falar por si próprios. Diversas outras autoridades religiosas, de toda a Província Eclesiástica de Pernambuco, estavam presentes, assim como muitos outros cantores e músicos que animaram a beira-mar durante toda a manhã.
Abaixo, algumas fotos da caminhada. E, como escrevi – de lá mesmo – no Facebook, «sigamos firmes, na defesa dos mais indefesos. Que o grito de hoje ecoe ainda amanhã, próxima semana, mês que vem, para o ano. Que ele se faça ouvir principalmente em cada situação de injustiça com a qual nos depararmos. Que a SSma. Virgem Aparecida nos ajude».
– Chego à Praça Oswaldo Cruz bem cedo, pouco antes das 09h00 da manhã para a qual estava marcada a concentração.
– Só há um punhado de gatos pingados. Todos ou quase todos de vermelho. Bandeiras do MST; vejo dois ônibus, que – imagino – devem ter sido utilizados para transportar os militantes. Aguardo.
– Dois mini-trios e um carro de som. Ao lado do maior daqueles, umas meninas tocando alfaias cantam versões próprias de músicas populares. Por exemplo, «ô Eduardo, Eduardo ó! / Não é só por dez centavos, / nossa luta é maior!» (ao som de “Cirandeiro”).
– Vejo uma senhora de hábito. Encontro o pe. Reginaldo Veloso. Vejo outro sacerdote, à paisana, que desaparece e durante a marcha não o torno a encontrar. Um ou dois padres de clergyman (ou coisa parecida com isso). Não vejo religiosos de hábito.
– Panfletos são distribuídos, e continuarão sendo ao longo de todo o percurso d’O Grito. Um se diz contra o Estatuto do Nascituro; outro, alardeia «[t]odo apoio às ocupações dos terrenos urbanos no Recife por parte dos Trabalhadores Sem-Teto». Entre outras coisas afins.
– Chega o pessoal da ONG Gay Leões do Norte. O imenso bandeirão multi-colorido é estendido numa das pontas da praça.
– Encontro os ciclistas nus. São só meia dúzia, e não estão propriamente nus: vestem roupas de banho. Preparam-se para sair à frente d’O Grito.
– Procuro o Arcebispo e não o encontro. Dou graças a Deus.
– Em um dos mini-trios, o rapaz que estava em cima pede que as pessoas que vão falar pelos movimentos sociais se aproximem. Pela “juventude”, fulana, pela “saúde”, sicrano, pela Arquidiocese de Olinda e Recife, Fernando. Estremeço. Penso com os meus botões quem raios é Fernando.
– Neste mesmo mini-trio, em baixo, perto das escadas, está afixado um cartaz. Leio-o. O Fernando é, sim, Dom Fernando Saburido. Ele é chamado por diversas vezes ao longo da caminhada. Não aparece.
– Em respeito à diversidade de gênero, agora o nome do evento mudou. É “Grito dos/as Excluídos/as”. Nos trios, por diversas vezes, é citado o seu nome completo: “Grito dos Excluídos e das Excluídas”.
– A marcha sai às ruas. Começa a chover. À frente, o carro de som, seguido pelo pessoal do Levante Popular da Juventude. Mais algumas pessoas, e o enorme bandeirão gay. Depois, o pessoal do MST com outras diversas bandeiras vermelhas, por “direito à saúde”, “respeito à diversidade sexual” e outras coisas do tipo. Em seguida o mini-trio, atrás o pessoal da Frente de Luta pelo Transporte Público, e o segundo mini-trio no fim. A chuva dá uma trégua.
– Duas bandeiras se destacam n’O Grito. Em número, as bandeiras vermelhas do MST. Em tamanho, a bandeira de arco-íris da Leões do Norte. Há outras menores: CUT, PCB, PSTU. Algumas pessoas protestavam por melhores salários, contra a corrupção, contra Eduardo Campos, contra um sem-número de coisas.
– Penso em ir pra casa. Mas tomo a sério o espírito penitencial: vou até o fim.
– Já no final da Conde da Boa Vista, um dos mini-trios quebra. Olho para o pequeno cartaz, que se transformara num checklist: Dom Fernando ainda não aparecera. Seguem o carro de som e o segundo mini-trio para a grande apoteose no Carmo.
– Chego no Carmo. Mais uma vez, o Festival das Flores montado defronte à Basílica – Deo Gratias – impede que o espaço seja usado para desfraldar a bandeira de Baal, como aconteceu em 2010.
– O pessoal da Leões do Norte esconde a bandeira e some. Não os vejo mais.
– O Arcebispo, Dom Fernando, está no Pátio do Carmo. Sorri e cumprimenta os presentes. Bate fotos.
– Chamam Dom Fernando para falar. Ele fala. Parabeniza os participantes. Fala sobre o dia de jejum e oração que o Papa Francisco convocou. Disse que planejou chegar ao Grito justamente na sua conclusão, e que o tema do Grito era muito «necessário» e muito «profético». Disse que o Grito dos Excluídos só vinha «reforçar este apelo» do Papa, e que era «bonito essa unidade», com «todos voltados para o mesmo objetivo, a mesma meta». O vídeo está abaixo:
– Depois que ele fala, o rapaz diz que vai haver um momento de “mística”. Penso que é alguma oração, ou coisa do tipo.
– Ele chama o pessoal das pastorais da Juventude. A “mística”, na verdade, é uma encenação. Uma menina começa a gritar as palavras de ordem que estavam nas bandeiras vermelhas (neste momento abertas no chão). Fala, no microfone, em alto e bom som: «nós, juventude popular, gritamos pelo respeito à diversidade sexual». O Arcebispo saíra de fininho pouco antes, e estava por detrás do carro de som, falando com alguém.
– Começa uma ciranda. Começa a chuviscar. Volto pra casa. Abaixo, algumas fotos do evento, na ordem em que eu as tirei (e, por conseguinte, na ordem do desenrolar do próprio evento, da praça Oswaldo Cruz ao pátio do Carmo).
Comento: O Grito dos Excluídos não é um evento popular em prol do povo sofredor. É um evento revolucionário e elitista (como o são todos os eventos revolucionários), onde militantes enganados ou comprados, munidos de uma ideologia fracassada, vão às ruas lutar pelas mesmas velhas carcomidas bandeiras do Príncipe deste mundo: o comunismo, a sexualidade livre, a luta de classes, o homossexualismo e toda uma caterva de imoralidades que escravizam e em tudo são contrárias ao Evangelho da Liberdade. O Papa Francisco certamente jamais apoiou e nem apoiaria uma passeata pró-comunismo ou a favor do vício contra a natureza, e portanto não é correto que se diga que este evento veio ao encontro dos pedidos do Romano Pontífice – aliás, “não ser correto” é pouco: trata-se de um escândalo e de uma blasfêmia. Não precisamos de mais pessoas para aplaudir os pecados e louvar a defesa dos vícios – essas, nós já temos de sobra. O verdadeiro profetismo sempre consistiu em denunciar as mazelas do mundo; mazelas que contavam com fervorosos sequazes nas ruas da cidade do Recife esta manhã, sem ninguém que as contradissesse – muito pelo contrário, aliás. Há algo de muito errado em nossa Arquidiocese. Não me consta que ser profeta tenha jamais significado fazer um conluio espúrio com inimigos declarados de Deus Nosso Senhor.