Assassinato em curso

A garota de nove anos que foi estuprada pelo padrasto e está grávida de gêmeos terá a qualquer momento – ou já teve – os seus filhos assassinados. O Diário de Pernambuco diz que ela continua internada esperando o aborto; o Jornal do Commercio, idem. A Folha de Pernambuco dá informações mais detalhadas: diz que a menina – que é de Alagoinha – “vai ter que interromper a gravidez de gêmeos”, que tomará medicamentos e, depois, submeter-se-á a uma curetagem.

Rezemos pelas três crianças: a que foi violentada e as que serão assassinadas. Rezemos, para que as pessoas não achem normal responder a violência com mais violência e, a estupros, reagir com assassinatos. Rezemos, para que Deus tenha misericórdia de nós todos, e Nossa Senhora livre o Brasil da maldição do aborto.

João do Morro e cultura média

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Até a sexta-feira passada, nunca tinha ouvido falar neste sujeito. No entanto, as músicas dele literalmente tomaram conta de todo o Carnaval de Olinda e Recife! A música acima é uma das maiores pérolas musicais de toda a discografia recifense moderna. A letra é como segue:

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
só porque
eu chamei ela de
Amara.

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
Só porque
eu chamei ela de
Amara.

Comprei um vestido pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um trancelim pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um sabonete pra ela
e ela não aceitou não

Ela gritou na minha cara
que eu não era o homem do seu coração!

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra!
Ela pegou o sabonete
jogou na minha cara…

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra:
Ela pegou o sabonete
esfregou na minha cara…

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo do chupa-cabra

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo…

Mas dali eu saí correndo,
dali eu saí correndo
com meu pobre violão…

e de repente eu caí
e ouvi uma palavra:
era a menina, tava com medo,
com medo do chupa-cabra…

e de repente eu caí
ouvi uma palavra:
era as menina, tava com medo,
chupa-chupa

Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]
Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]

Lembro-me de que um amigo de Brasília, após ter escutado isso 200 vezes (sim, tocou MUITO no Carnaval), comentou que não havia entendido esta música: afinal, por que raios a mulher havia batido no cara?! Eu comecei a rir. Acho que ele não havia ainda sido contaminado com o nonsense do cenário musical pernambucano. E, da segunda parte da música (que começa com “vinha saindo do beco”…), ele comentou que era a mesma música, mas não era a mesma história… e que estava até agora tentando saber qual era “a palavra” que Amara disse…

Bom, João do Morro – isso é meio óbvio porque, afinal, caso contrário provavelmente não faria lá tanto sucesso… – não é lá o melhor exemplo de música recomendável. O show dele no Carnaval foi, ao que dizem, apoteótico. Ele – e isso é um ponto positivo – sofreu um processo de uma ONG gayzista por conta de uma suposta homofobia em uma de suas músicas politicamente incorretas. Mas, biografia à parte, o ponto que me interessa aqui é outro: o que raios explica a decadência musical (e, por extensão, cultural) moderna? A futilidade erigida como padrão máximo de arte aceitável e desejável? Eu reconheço que dá para rir (eu mesmo ri à beça) com a música da Amara e com algumas outras também, mas duas coisas me incomodam profundamente (e isso é apanágio de toda a música moderna, ao menos em Recife, e apenas tomo João do Morro como estudo de caso): um, a existência de imoralidades gritantes que não me atrevo a reproduzir aqui mas, no entanto, são cândida e publicamente entoadas como se fossem a coisa mais natural do mundo; e, dois… o monopólio da futilidade e o local de destaque que lhe é dado. É claro que nem tudo precisa ser sério o tempo todo – um pouco de bom humor é sem dúvidas importante -, mas me incomoda a… seriedade que se aplica à falta de seriedade das coisas.

E talvez seja este um dos maiores problemas da “cultura” moderna: ela está preenchida, em sua virtual totalidade, com coisas fúteis! Parece haver um empenho organizado, um esforço conjunto, para que as pessoas fiquem ocupadas com coisas sem nenhuma importância, que aprendam a gostar delas, e que – por ausência de padrão comparativo – passem a considerá-las como parte substancial de suas vidas. Há incontáveis exemplos, da música ao Big Brother, passanto pelas novelas da Globo, etc, etc. Com a cabeça cheia de entulho, como se pode esperar que as pessoas se ocupem de coisas sérias?

Às vezes, fico desanimado, porque tenho a quase irresistível impressão de que é simplesmente impossível conversar com algumas pessoas sobre as coisas que realmente são importantes. É necessário um dedicado trabalho de… alargamento intelectual, para que coisas como, digamos, metafísica possa ser acomodada em mentes que foram acostumadas, desde a mais tenra infância, à futilidade. E este trabalho não pode ser feito unilateralmente. Não adianta discutir com quem não quer discutir e, muitas vezes, as pessoas simplesmente não são capazes de discutir sem um grande esforço para sair da pocilga e ousar elevar os olhos para o mundo… e muitos, muitos, muitos não estão dispostos a empreender este necessário esforço…

O que é possível fazer? Na minha opinião, oferecer resistência, e oferecer educação, não da maneira mágica e demagógica como falam os nossos políticos, mas educação cristã verdadeira, desde a mais tenra infância, às pessoas mais próximas de nós, em respeito à subsidiariedade, e com um verdadeiro esforço para preservarmos os educandos do ambiente deseducativo no qual eles estão inseridos. Não consigo vislumbrar uma possibilidade mágica de conversão da geração que hoje está aí; é somente nas gerações futuras que está a nossa esperança. E, aliás, urge trabalharmos, apressando a vinda destas, pois não sei ainda quantas gerações como as nossas o mundo é capaz de suportar.

Recife livre do fumo: 1 ano

Ontem completou um ano a lei (municipal, suponho) que regulamenta a fiscalização da 9294/96 – Lei Federal que proíbe o fumo em ambientes fechados. Algumas reportagens saíram nos jornais locais – como esta do Jornal do Commercio (para assinantes), saudando o fato e apresentando Recife como “exemplo a ser seguido por outras cidades brasileiras”, posto que a cidade “começa a trilhar o caminho da civilidade” e – como diz a manchete – os bares estão “livres da fumaça incômoda”. Vitória do progresso: “Da resistência inicial, reclamações e discursos inflamados contra a lei, os fumantes, carimbados como inimigos número um da sociedade, passaram a entender e respeitar o direito de quem não fuma”.

Uma garota da CBN Recife entrevistou-me anteontem no Shopping Boa Vista; não ouvi o que foi ao ar, mas lembro-me de que eu me segurei para não chamar a lei de nazista e não provocar uma antipatia ainda maior pelos “fumantes mal-educados”. Respirei fundo e disse apenas que a lei era ineficaz no combate ao fumo, que criava “cidadãos de segunda classe”, que estimulava a intolerância, que era desproporcional. Um colega de trabalho ouviu-me e, informando para a sala inteira que eu era contrário à lei anti-tabagista, à hora do almoço, comecei um pequeno arranca-rabo por aqui.

Mantenho: a lei, do jeito que é aplicada, é nonsense. Concordo que exista uma “tensão” entre fumantes e não-fumantes – tensão artificial, criada pela demonização do cigarro feita pelo terrorismo da síndrome do “Paulo Cintura” que acometeu a sociedade nos últimos anos, mas isto são outros quinhentos -, mas não concordo, de nenhuma maneira, que a solução para o “problema” seja simplesmente escantear os fumantes. Afinal de contas, ao que me conste, o Estado dito democrático deveria levar em conta os anseios (lícitos, óbvio, como é o caso) de todos os seus súditos, e não simplesmente escutar unilateralmente uns em detrimento de outros. “Ah, mas os fumantes são minoria”, pode alguém dizer; bom, se somos minoria, então [isto é sarcasmo] por que não temos quotas à semelhança de outras minorias?

Para mim é claríssimo que há uma diferença muito grande entre um elevador e um barzinho aberto, por exemplo – coisa que é absurdamente ignorada pela lei brasileira. Eu estou disposto a ser transigente e aceitar que alguns lugares tenham alguns ambientes livre de fumo, mas espero um mínimo de reciprocidade; o que considero um desrespeito sem tamanhos é sermos obrigados a fumar nas calçadas!

[Aliás, immo, a sanha persecutória dos discípulos de Paulo Cintura é ilimitada e, dados os pressupostos utilizados para justificar o exílio dos fumantes para as calçadas, logo logo vai ser proibido fumar em ambientes abertos e públicos como, p.ex., pontos de ônibus. Afinal, a bendita lei 9294/96 estabelece, no seu artigo segundo, que é “proibido o uso de cigarros (…) em recinto coletivo, privado ou público, salvo em área destinada exclusivamente a esse fim, devidamente isolada e com arejamento conveniente” e, embora “recinto” signifique, a meu ver, “local fechado”, não duvido nada que algum gênio venha com uma interpretação malabarista para incluir “no espírito da Lei” os recintos abertos…]

Mas o problema principal com esta discussão toda não é uma questão de respeito dos direitos dos não-fumantes ou implicância dos fumantes, porque isso importa bem pouco; o que de verdade me irrita profundamente é – como eu acho que já falei aqui – a substituição, no inconsciente popular, da Moral Verdadeira por uma anti-moral, arbitrária e inimiga da verdadeira. Trago um único exemplo bem eloqüente: comentei aqui em novembro passado uma lei aprovada no Rio de Janeiro que multava e cassava o alvará de funcionamento de estabelecimentos que proibissem o “beijo gay”. Já que a lei anti-fumo é Federal, suponho que esteja sendo aplicada na Cidade Maravilhosa também. Ou seja: dois marmanjos se agarrando no bar, pode, e ai de quem proibir. Acender um cigarro, aí não pode, de jeito nenhum, e ai de quem ousar fazê-lo!

É uma completa inversão de valores. Uma colega de trabalho que discordava de mim à hora do almoço disse exatamente isso: que preferia, a um fumante, uma dupla de gays se agarrando ao seu lado num barzinho. É um exemplo encarnado da nova moral politicamente correta: o que é moralmente neutro é execrado e, o que é imoral, é louvado e protegido. Não se pode subestimar o efeito deseducativo e deformador de crescer e viver numa sociedade dessas. Tenha Deus misericórdia de nós.

Recife, padre Cosmo, obediência

Mais um episódio da série “como não ser um bom católico”: aqui, em Recife, foi retirado recentemente de sua paróquia o pe. Cosmo, da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios. O motivo eu não sei ao certo, porque a Arquidiocese, ao que me conste, não divulgou nota oficial sobre o ocorrido. Mas sei que o padre portou-se como se espera de um sacerdote do Deus Altíssimo: “Devo obediência ao arcebispo na hierarquia da Santa Igreja”. Escrevamos esta frase em letras garrafais nas igrejas! Tenhamo-la sempre bem diante dos olhos, gravada no coração!

Obediência! Virtude tão importante e tão esquecida, nos nossos dias. Como já falei aqui, não há dúvidas de que seja possível imaginar uma situação na qual seja legítimo desobedecer; no entanto, quando na prática a desobediência é a regra e os motivos levantados são (para dizer o mínimo) questionáveis, então não estamos diante de uma virtude e sim de um gravíssimo vício.

O sacerdote obedeceu – graças a Deus! No entanto, uma senhora resolveu apontar os seus canhões contra a Arquidiocese, “defendendo” o padre que certamente não o pediu e, aliás, não precisa de defesa porque está fazendo exatamente o que deveria fazer. O mundo chora e lamenta a volta da “santa inquisição”, é a retórica de supletivo da sra. Nair Menezes. É impressionante como até mesmo os que se dizem católicos vêm a público para levantar espantalhos [diga-se de passagem, já velhos e caducos] contra a Santa Igreja!

O mundo não “chora e lamenta” nada, porque retirar um pároco de uma paróquia é a coisa mais natural do mundo. O padre comportou-se como se esperaria de um sacerdote. No entanto, parece que sempre precisa vir alguém para fazer uma tempestade num copo d’água, com hipérboles exorbitantes e figuras de linguagem estratosféricas, mesmo nos atos mais corriqueiros de uma administração arquidiocesana.

No domingo dia 11 choravam homens, mulheres, jovens, crianças e idosos, todos indignados com o comportamento do inquisidor-bispo que deve procurar um psiquiatra para trata-se e deixar a mania de ser um perseguidor. Claro. Acho que quem precisa procurar um psiquiatra é a senhora Nair Menezes, para largar de sua mania de perseguição e aprender a tratar com o devido respeito um Sucessor dos Apóstolos, que foi à frente desta Arquidiocese colocado para pastorear o povo de Deus.

E, por fim, termina a senhora com uma convocação absolutamente ridícula: Convoco a todos os paroquianos de Nossa Senhora dos Remédios, a deixar de pagar o dízimo e destiná-lo a Padre Cosmo, assim como procurar outras paróquias até a volta de Padre Cosmo. É cômico! Não contente em fazer o seu próprio teatro trágico, ainda quer esta senhora angariar adeptos para a sua pequena revolução anti-católica, convocando os fiéis para que troquem a Barca de Pedro por sua canoa furada! Queira Deus que ninguém dê importância às sandices da sra. Menezes. Que as ovelhas saibam seguir o exemplo do seu pároco, e que os fiéis católicos aprendam a virtude da obediência, permanecendo sempre bem unidos ao seu bispo diocesano, para que estejam em comunhão com a Igreja de Nosso Senhor.

O Baile do Menino Deus

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Nos últimos cinco anos, todo natal, acontece no Marco Zero a encenação do Baile do Menino Deus, espetáculo natalino que conta a história do nascimento de Jesus por meio de elementos da cultura e do folclore regionais. Já havia assistido à apresentação nos outros anos; este ano, fui por acaso, ontem à noite, porque fui convidado de última hora por uma amiga.

O que falar sobre o espetáculo recém-assistido? Creio que se o pode ver sob dois ângulos. Alguém pode reclamar que o tom lúdico da peça, junto com uma espécie de “sincretismo cultural” com os elementos folclóricos que são estranhos à tradição católica, unidos à irreverência dos protagonistas, formam um todo pouco recomendável. Concedo aos críticos esta visão. No entanto, deixem-me hoje ser um pouco “Poliana”, e falar sobre os pontos positivos da cantata.

Em primeiro lugar, só o fato de se fazer uma apresentação pública do nascimento de Jesus é já uma coisa extraordinária e digna de louvor. No meio do laicismo feroz, sobrevive a cultura “tradicional” – o espetáculo tem vinte e cinco anos – e, no meio das festividades de fim de ano, é aberto um espaço para se falar em Jesus, em Belém, em José, em Maria. Em segundo lugar, o espetáculo é de censura livre (de verdade), de modo que se apresenta como uma das poucas alternativas de lazer público familiar: não há cenas de violência nem de apelo sexual. Em terceiro… bom, há coisas bem aproveitáveis no espetáculo!

Os dois protagonistas estão procurando a casa onde nasceu Jesus. Procuram, cantam, dançam, encontram; a porta está fechada, e eles não conseguem abri-la. Após muitas idas e vindas, finalmente a porta se abre e aparecem José, Maria e o Menino. O espetáculo praticamente inteiro gira em torno desta busca: é necessário encontrar o Menino Jesus que nasceu e, para tanto, é fundamental que se O busque com diligência e com esforços. Algumas vezes um dos protagonistas fala em desistir e ir pra casa; o outro, prontamente, fala que eles não podem voltar sem antes ver o Menino. Como se quisesse dizer – aqui cogito eu – que não podemos voltar para casa, no meio das festividades natalinas, sem encontrar o Menino Jesus.

Os personagens não são propriamente religiosos; em um certo momento, um deles diz que nunca aprendeu a rezar a ave-maria, e que passou a vida a “virar bunda-canastra pelo mundo”. Nem sei se os que são de fora do nordeste sabem o que é “bunda-canastra”: é “cambalhota”. No entanto, é este o personagem que está procurando a casa onde nasceu Jesus; como se dissesse – de novo, cogito eu – que não importa quantas idas-e-vindas se deu pelo mundo, não importa o quão desordenada foi a vida pregressa: quaisquer que sejam os antecedentes que se tenha, o Natal é a época de “endireitar as veredas”, e aquele que virou bunda-canastra mundo afora, hoje, procura o Deus recém-nascido.

Uma das peças é um caboclinho – José com Maria e o Menino já estão na porta da casa. Entram três figuras pomposamente adornadas – a indumentária é pagã, sem sombra de dúvidas, de matriz africana. Sincretismo? Não me pareceu. Enquanto se cantava alguma coisa como “somos reis da terra e do mar” (não lembro com exatidão a música), as três figuras (para mim, são os três reis magos) entram no palco e, voltando-se para a Sagrada Família – dando as costas ao público – fazem uma profunda vênia. O último deles, aliás, faz uma genuflexão teatral maravilhosa: volta-se para o Menino, ajoelha-se apoiado no cajado, puxa o manto para a frente do corpo, inclina profundamente a cabeça, assim permanece alguns segundos antes de se levantar. Aqui, cogito eu: quando Deus vem ao mundo, todos os grandes dos povos prostram-se diante d’Ele. O Menino nascido põe os pagãos de joelhos aos Seus pés.

Senhores donos da casa,
Jesus, José e Maria;
queremos fazer um baile
que emende a noite no dia.
(…)
Senhores donos da casa,
Jesus, José e Maria!
Sem vosso consentimento,
O baile não principia…

José consente. E começa a festa.

Em um certo momento, entram em cena umas personificações da natureza; o sol dizendo que veio “aquecer o menino”, a lua dizendo uma coisa da qual não me recordo, a estrela dizendo que veio mostrar o caminho até Ele; cogito eu, “narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 18, 2). Após a peça, recita-se uma bela quadrinha em honra da Virgem Santíssima (esta, é literal, e não minha cogitação): Passa o sol pela vidraça, / já passou, sem tocar nela; / assim foi a Virgem Pura, / levou Luz, ficou donzela.

E tem o Jaraguá! Não faço idéia do que seja este personagem – é o que aparece no vídeo acima – e, mesmo perguntando aos meus pais hoje de manhã (eles de ordinário sabem das coisas), não mo souberam dizer. Surge ele após a casa ser perdida: os personagens pegaram no sono e, ao despertar, a casa “havia sumido” (lembro-me eu: “Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora!” – Mc 14, 37). Então, no meio das buscas, aparece o Jaraguá “com a boca aberta”, “pra pegar Mateus”. Para mim, é figura de Satanás, que aparece quando se perde o Menino Jesus, quando se dorme – “sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (1Pd 5, 8). Ao final, no entanto, sai ele de cena, e a casa reaparece, e termina o espetáculo com o baile recomeçando: a alegria natalina que, embora tenha no Nascimento do Salvador as suas raízes, espalha-se a partir do Natal e cresce estendendo-se por toda a vida (e, cogito eu, também para além dela):

Senhores donos da casa,
Jesus, José e Maria!
O baile aqui não termina,
O baile aqui principia.
Do mesmo jeito que o sol
Se refaz a cada dia,
Da mesma forma que a lua
Por quatro vezes se cria
(…)
continuemos o baile,
agora e em cada dia!

Feliz Natal a todos!

Convite – Nossa Senhora de Guadalupe [2008]

Aos que moram em Recife, repasso o convite que recebi sobre as festividades em honra de Nossa Senhora de Guadalupe [p.s.: em dezembro de 2008].

* * *

convite-dez-08

Muito estimados em Cristo,

O Dia 12 de dezembro está próximo!

Vamos honrar a Nossa Mãe Morena de Tepeyac, Nossa Senhora de Guadalupe!
Vamos agradecer pelas inúmeras graças concedidas através de suas mãos intercessoras!

Será na Igreja de Belém!
Reza do Terço: às 18h20
Missa: às 19h

Vejam no convite anexo o seu rosto lindo, delicado, com um olhar cheio de amor por nós!

Divulguem!

Com carinho,
Inez
Apostolado Virgem Peregrina da Família/PE

A violência de Recife

Recife é uma cidade violenta. De acordo com o último estudo que eu vi sobre o assunto, no início do ano passado, é a capital mais violenta do país. Lembrei-me disso porque recebi um email hoje que citava alguns dos últimos assassinatos ocorridos na capital pernambucana, e alertava as pessoas para que repensassem os planos de visitarem (ou morarem em) Recife. Eis um trecho:

Amigos e Amigas,
aproxima-se o período de férias, época de viagens, de turismo.  Preocupados com a segurança e a vida de vocês, peço-lhes encarecidamente que não venham passear e muito menos morar em Pernambuco, sobretudo no Recife. Aqui  não existe mais segurança, é uma terra sem lei, onde os marginais condenam pessoas, sobretudo da classe média,  à morte e ficam impunes.
Aqui os bandidos são vistos como vítimas. Aqui não existe solidariedade com os cidadãos assassinados e muito menos com as famílias enlutadas! Aqui a pena de morte existe, mas contra nós da classe média, que pagamos impostos,  pessoas decentes, honestas e trabalhadoras.

O alarmismo não é infundado; os dados mostram. Existe uma equipe de jornalismo que se dedica a “contar” as pessoas assassinadas no Estado. Acabei de acessar e, este ano, estamos com 4042; 29, neste mês de dezembro (isso mesmo, nestes últimos quatro dias). Havia um projeto análogo no Rio de Janeiro, mas acho que foi desativado.

Não sou expert em criminalidade no Brasil e só estive no Rio de Janeiro poucas vezes, a passeio; mas acredito que a principal diferença entre a Veneza Brasileira e a Cidade Maravilhosa é que, lá, há muitos assassinatos relacionados à guerra do tráfico. Aqui, também os há, mas a proporção é bem menor. Aqui morrem pessoas de bem que não têm nada a ver com a criminalidade. Aqui, suspira-se aliviado quando “não acontece nada” em um assalto.

Lembro-me da última vez em que fui assaltado, no início do ano, e da terrível frustração que senti. Caminhava, junto com um amigo, em direção à parada de ônibus, no domingo à noite; o carro parou um pouco à nossa frente, na avenida deserta, e abriu a porta traseira. Vi o assalto segundos antes de sofrê-lo, e não havia nada que pudesse fazer. Desceu o meliante apontando-nos um revólver, levou-nos carteiras e celulares, entrou no carro e foi-se embora. Fomos à delegacia prestar queixa e – horror e vergonha! – o policial que nos atendeu censurou-nos por estarmos andando de noite por aí (!!). Disse-nos ainda que ele próprio “não era doido” de andar em Recife de noite, e que gostava de sair mas estava “sempre em casa às seis horas da noite” (!!!).

Quando a única assistência que um policial pode prestar às vítimas da violência é aconselhá-las a ficarem em casa, e diz que ele próprio não tem coragem de sair às ruas, estamos no fundo do poço. É principalmente por isso, na minha modesta opinião de cidadão recifense, que a cidade está mergulhada no caos: porque as autoridades são pusilânimes, e não cumprem com o seu dever, e não coram de vergonha ao dizê-lo. A Veneza Brasileira afunda por causa da covardia institucionalizada e vista como virtude. Acostumado com estes fatos, eu fico sinceramente feliz quando leio uma notícia de que um assaltante foi morto porque a vítima (ou algum transeunte) reagiu a bala: afinal, deparo-me com alguém que – ao contrário do policial que me atendeu – ainda tem senso de responsabilidade. Mostra-me que ainda há esperança de escaparmos ao naufrágio.

Recife – Adoração ao SSmo. Sacramento

Esta eu vi no The Blogger, que reproduzia uma reportagem do Diário de Pernambuco: Católicos de volta às igrejas. O “fenômeno” relatado pelo jornal é a redescoberta do valor da Adoração Eucarística pelos católicos da cidade – as igrejas onde há exposição do Santíssimo Sacramento estão atraindo cada vez mais fiéis em profusão, sedentos de Deus, desejosos das graças do Alto.

Comento algumas das coisas que foram ditas pelo Diário (algumas boas, muitas nem tanto):

Nesse momento acontece a Adoração do Santíssimo, quando o padre leva aos fiéis a hóstia consagrada, considerada o corpo de Cristo.

Bom… não. A menos que o jornal esteja chamando a exposição/procissão do SSmo. de “levar (…) a hóstia consagrada”, o momento em que os fiéis recebem o Corpo de Cristo é a comunhão, que é no interior da Missa, e não após ela (a reportagem está falando da adoração que ocorre após a missa).

Para os católicos, apenas o toque no ostensório seria suficiente para conseguir um milagre.

Não, para os católicos o milagre não necessita de “toques” no ostensório (para quem não sabe, é a custódia onde se coloca o Santíssimo Sacramento para ser exposto e/ou levado em procissão) ou onde quer que seja, pois depende somente de Deus. As pessoas que vão à adoração não vão para conseguirem um “toque no ostensório” como condição para alcançarem milagres. Vão para rezar.

Alguns especialistas acreditam que esse ritual seja um retrocesso da igreja, já que foge do catolicismo mais racional e remete à magia, ao encantado.

Não sei quais “especialistas” disseram uma besteira dessas (talvez seja o gênio citado mais abaixo na reportagem), mas não há retrocesso algum em se adorar a Deus, no Santíssimo Sacramento do Altar, coisa que a Igreja sempre fez há séculos.

Um pouco semelhante ao que acontece em alguns cultos evangélicos.

Claro… vá dizer a algum evangélico que uma igreja cheia de pessoas de joelho dobrado em adoração ao Deus escondido sob as espécies do Pão Consagrado é parecido com o que ocorre nos cultos dele! Qual é a semelhança? A que ambos rezam? Nossa!

Para os fiéis que lotam as igrejas (…) esse é um momento de fé e nada tem a ver com o sobrenatural.

Considerando que a fé é por definição sobrenatural, estou até agora tentando entender o que o jornal quis dizer…

A Adoração do Santíssimo vem acontecendo em pelo menos cinco igrejas (Santa Luzia, Torre, Espinheiro, Boa Viagem e Piedade).

Acrescento a igreja da Imbiribeira (também na quinta à noite) e a igreja Matriz de Santo Antônio (igreja do Santíssimo Sacramento), que tem exposição diária do Santíssimo.

A pequena Capela São Francisco de Assis, na Vila Santa Luzia, comunidade de baixa renda no bairro da Torre, vem se destacando. A cerimônia atrai centenas de católicos de outros bairros de classe média alta. Lado a lado, advogadas, médicas e merendeiras, unidas na mesma fé.

Sim, conheço a capelinha de São Francisco. Atrai, realmente, muita gente. E felicíssima a última frase do jornal, que mostra a catolicidade da Igreja e a comunhão dos santos: “lado a lado, advogadas, médicas e merendeiras, unidas na mesma fé”. Excelente!

O especialista em religião e professor de filosofia da Universidade Federal de Pernambuco, Inácio Strieder, acredita que essa prática seja uma maneira de atrair as pessoas para a igreja, mas critica a cerimônia. “Voltar a incentivar esse tipo primitivo de religiosidade é um retrocesso. Essas iniciativas são mais parecidas com rituais que os evangélicos fazem, quando os pastores benzem água pela televisão, por exemplo. Trazer objetos diante do santíssimo exposto é algo questionável, pois dá um certo aspecto de magia. Isso é uma negação da religiosidade cristã que tem um culto racional”

Ahh, deve ser esse o “especialista” citado acima. O que o Strieder fala não se escreve, nós já sabemos disso; a cerimônia de adoração ao Santíssimo Sacramento faz parte da tradição da Igreja Católica e é uma coisa muito boa e muito santa. Não sei de onde vem a comparação com “pastores [que] benzem água pela televisão”, porque nem a Eucaristia é a mesma coisa (nem mesmo semelhante) a água benta, e nem as cerimônias citadas pela reportagem são feitas “pela televisão”. Tenho as minha próprias críticas ao modo como são conduzidas (em Recife, ao menos) a Adoração ao SSmo. n’algumas igrejas, mas elas não têm nada a ver com a cerimônia em si. Esta, é santa, justa e agradável a Deus. Que o Altíssimo possa abençoar o nosso país, em atenção aos milhares de fiéis que se aproximam para vê-Lo na Hóstia Consagrada; e que a presença diante de Deus em contemplação possa transformar as almas cada  vez mais n’Aquele que é contemplado.

“A flor da Magnólia…”

Estas ruas são do centro da cidade do Recife – conheço-as. Passo por elas freqüentemente, pois ficam relativamente próximas do local onde trabalho. Este é o Bloco da Saudade; toca frevo de bloco, bem diferente do frevo de rua que estamos acostumados a ver nas apresentações culturais onde os passistas dançam Vassorinhas. Mas também é frevo e, por frevo, eu tenho um particular apreço.

O carnaval não precisava ser a depravação moral que nós, muitas vezes, vemos. Poderia ser uma bela festa: vejam só as fantasias que o pessoal da velha guarda usa para desfilar nas ruas do Recife! Nas mesmas ruas do mesmo carnaval onde vemos, muitas vezes, violência, depravação, drogas, excessos…

A imagem do carnaval não é muito bonita. Concedo que – como escrevi num blog antigo um dia – pode até haver uma certa razão nisso. Mas há o outro lado, o lado que me fascina e encanta: a brincadeira sadia nas ruas da cidade, ao som de músicas que têm décadas, e que a cada ano são cantadas com alegria, dando forte testemunho contra as “músicas descartáveis” que fazem sucesso estrondoso por pouquíssimo tempo nas nossas rádios. O frevo que é tradição, porque os nossos pais e avós cantavam. A festa que é o povo que faz – se o povo não saísse / não havia carnaval, como canta o Hino da Pitombeira. E o povo não precisa destruir o carnaval, sufocando-lhe com tudo o que não presta. Porque há muita coisa que presta.

Não fui às ruas de Recife nem às ladeiras de Olinda este ano, pois estava viajando no carnaval. Mas cantei frevo em Toulouse com meus dois amigos que comigo estavam. Os franceses devem ter pensado que éramos malucos, mas que importa? Frevo é muito bom, e é impossível passar o carnaval sem lembrar dele. Os comentários dos visitantes do Deus lo Vult!, hoje, trouxeram-me boas lembranças. Obrigado! :-)

Mudando a conversa…

Lembram-se da notícia de ontem, sobre o pe. João Carlos, que foi obrigado pela justiça a devolver a paróquia à Arquidiocese? Lembram que eu comentei que era pura calúnia dizerem, sem mais, que os fiéis haviam sido expulsos por “funcionários da arquidiocese”?

Na notícia de hoje – “Padre celebra missa fora de igreja” -, a conversa já mudou. Segundo o Jornal do Commercio desta quinta-feira, ao contrário do que foi dito ontem por ele mesmo, “[n]o dia em que a reintegração de posse foi cumprida, policiais retiraram fiéis que se preparavam para assistir a uma celebração do terço, gerando protestos”. A menos, claro, que a Arquidiocese tenha policiais no seu quadro de funcionários…

Não vi nenhuma errata, e a notícia de ontem continua lá, falando nos “funcionários da Arquidiocese”. Acaso isto é jornalismo?