Eu ouvira que a igreja da Penha, aqui em Recife, depois de mais de quatro anos fechada para reformas, havia – enfim! – aberto as portas para expôr aos fiéis a parte concluída das suas obras de restauração. Hoje estive casualmente no centro da cidade, e aproveitei para passar na igreja. Infelizmente, ela não estava aberta; conversando com alguém, soube que a visitação noticiada aconteceu somente na sexta-feira, 01 de setembro. O templo segue fechado para reformas.
Diante da fachada do templo, na praça Dom Vital, vi a placa que noticiava o início das obras de reparo. Conclusão prevista para agosto de 2008; isso mesmo, quatro anos atrás! E, hoje, em 2012, a grande igreja – uma das mais bonitas, senão a mais bonita da cidade – permanece com as portas trancadas. É inevitável deixar-se abater por uma sombra de desânimo. Eu gosto daquela igreja.
Quando trabalhava no centro da cidade, costumava correr à Penha nas sextas-feiras: os capuchinhos confessavam. Hoje eles ainda confessam, mas é diferente: fazem-no nos corredores internos do convento, em cadeiras plásticas improvisadas próximas às quais formam-se morosas filas. Antigamente, as filas formavam-se dos dois lados dos confessionários antigos que havia no interior da igreja, e que eram utilizados pelos padres. Chego a pensar que elas eram até maiores; mas eram também indiscutivelmente mais rápidas. Era possível confessar-se com mais freqüência, mesmo de supetão, animado talvez por um amigo que de repente dissesse “ei, bora ali na Penha”. A praticidade da coisa proposta por si só já afastava as desculpas que a nossa malícia talvez tentasse fazer surgir. Se a procrastinação é um dos males dos nossos tempos, deixá-la embaraçosamente sem justificativas é uma forma amiúde eficaz de a exorcizar.
Passei hoje pela frente da Penha, e fui tomado por uma doce nostalgia. Senti vontade de entrar, mas as portas estavam cerradas; fechei os olhos e entrei na velha igreja pelas portas da memória, que estas costumam-se ainda abrir quando eu nelas bato. Por detrás das pesadas portas do templo, vislumbrei os antigos confessionários de madeira que eu nem sei se ainda lá estão depois de tantos anos, corroídos talvez que tenham sido à conta dos tantos pecados que eu neles tantas vezes despejei. Eram a primeira coisa em que eu punha os olhos…! Mas, ao levantar-me, filho de Deus, cabeça erguida, eu podia contemplar a imensidão da Basílica, a ampla nave, as grossas colunas, as cúpulas quase tão altas quanto a própria abóbada celeste, o presbitério e o altar, os mortos em seus túmulos a sussurrar-nos “memento mori” pelo caminho, os afrescos pelas paredes, a capela do Santíssimo, as imagens dos santos e, sobre todos eles, a Virgem Santíssima, Nossa Senhora da Penha, no antigo altar central da Basílica a interceder por nós. E tudo fazia sentido. E havia paz.
E era tudo tão simples e corriqueiro e, ao mesmo tempo, tão sobrenaturalmente eficiente. Tão gratificante! Abri os olhos e estava de novo na praça. A Basílica, continuava fechada; mas eu estava grato pela visita. Valera a pena, apesar das portas fechadas. Que Dom Vital – cujo túmulo se encontra justamente nesta igreja – olhe com cuidado pela Sé que um dia foi dele. E que estas obras de restauração da Basílica onde respousam os seus restos mortais sejam o quanto antes levadas a bom termo. A cidade merece. E os fiéis precisam.