O Sakamoto (sim, ele de novo!) critica a posição católica sobre os preservativos e propõe ironicamente entregar a saúde pública à Igreja. É uma piada. Esta bravata pueril é apenas mais um sintoma da miséria intelectual na qual se encontra o anti-clericalismo moderno: sim, Sakamoto, foi a Igreja quem inventou a saúde pública, ora bolas!
Bastaria ler (p.ex.) o Thomas Woods Jr. para aprender «[c]omo a Igreja criou praticamente todas as instituições de assistência que conhecemos, dos hospitais à previdência» [a propósito, também valeria a pena mencionar a Régine Pernoud, sobre o ensino medieval]. Mas não seria necessário tanto.
Bastaria saber o que é uma Santa Casa de Misericórdia. Bastaria, aliás, saber que Nosso Senhor mandou “curar os doentes” (cf. Mt 10, 8) e que, desde então, o cuidado dos enfermos sempre esteve entre as obras de misericórdia corporal.
Bastaria procurar o verbete “Hospital” na Wikipedia para saber que, após o Concílio de Nicéia, começaram a ser construídos hospitais em todas as dioceses católicas em profusão jamais vista (aliás, convém lembrar que “Hospital”, na França, se diz “Hôtel-Dieu”). E ainda (na mesma Wikipedia) que «[h]istoricamente, os hospitais foram fundados e financiados por ordens religiosas ou indivíduos e líderes caridosos» [cf. também “O hospital medieval como expressão institucional da caridade cristã”].
Bastaria saber quem são os alexianos, ou São Camilo de Lelis, ou Madre Teresa de Calcutá. Bastaria ter lido o Luis María Anson, miembro de la Real Academia Española (em português aqui), falando (há dois anos) precisamente sobre a Igreja e a AIDS. Bastaria saber que existe no Vaticano um Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde e que, em 2006, pertenciam «à Igreja Católica 26,7% dos centros no mundo para tratar os enfermos de Hiv/Sida». E que, de acordo com os dados de maio deste ano, há 117.000 centros da Igreja servindo os doentes de AIDS em todo o mundo.
Enfim, bastaria usar quinze minutos de Google. Bastaria ser menos ignorante e menos preconceituoso! Mas parece que isso é exigir muito de alguns “livres-pensadores” que, na sua patética cruzada anti-religiosa, não conseguem se desvencilhar das trevas de 1789.