Desprendimento dos parentes – Santo Afonso de Ligório

DESPRENDIMENTO DOS PARENTES,

SOBRETUDO QUANTO À VOCAÇÃO

1. Para alguém chegar à perfeição com Deus, deve desapegar-se totalmente das criaturas, e, em particular, renunciar ao amor desregrado dos parentes. Disse Jesus Cristo: Se alguém vem a mim, e não aborrece seu pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e até a sua vida, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26). E por que esse ódio, isto é, desapego dos parentes? É porque muitas vezes, no referente ao bem da nossa alma, não temos inimigos maiores do que os nossos parentes: Cada um, diz ainda o Salvador, terá por inimigos os da sua própria casa (Mt 10,36). S. Carlos Borromeu dizia que, sempre que ia à casa dos parentes, voltava mais frio de espírito. Quando perguntavam ao P. Antônio Mendonza por que não visitava a casa dos parentes, respondeu: “Sei por experiência que em nenhum lugar os religiosos perdem tanto a devoção como na casa dos parentes”.

2. Em se tratando da escolha de estado, é certo, como o ensina S. Tomás, que não somos obrigados a obedecer aos nossos progenitores. Se os pais dum jovem chamado ao estado religioso se opõem à sua vocação, este deve preferir a vontade de Deus à deles; porque, segundo observa o mesmo doutor, os pais fazem muitas vezes obstáculos ao bem espiritual de seus filhos, visando fins pessoais e interesseiros. Preferem vê-los condenarem-se com eles, diz S. Bernardo, a permitir que se salvem longe deles. É coisa estranha ver pais e mães, aliás tementes a Deus, deixarem-se cegar pela paixão ao ponto de tudo fazer e nada omitir para entravar a vocação dum filho que deseja entrar em religião; o que exceto algum caso raríssimo, não se pode escusar de culpa grave.

3. Mas dirá alguém: “É então impossível salvar-se quem não se faz religioso? Então todos os que ficam no mundo se condenam? Respondo: Os que não são chamados por Deus ao estado religioso, salvar-se-ão no mundo, cumprindo os deveres de seu estado; quanto aos que a ele são chamados e não obedecem à voz de Deus, poderão, sim, salvar-se, porém dificilmente se salvarão por falta dos socorros especiais que o Senhor lhes prepara no estado religioso; privados desses meios, não chegarão ao salvar-se. Escreve o teólogo Habert que quem não obedece à vocação divina fica na Igreja como um membro fora do lugar, e assim não poderá, sem muitas dificuldades, cumprir os seus deveres e salvar-se.

4. A escolha de estado é chamada pelo P. Luís de Granada a roda-mestra da vida; no relógio, gasta a roda-mestra, tudo se atrapalha; assim, quanto à vocação, errando-a, a vida inteira ficará em desordem. Quantos moços, por haverem perdido a vocação por culpa dos pais, tiveram mau fim e se tornaram a ruína da sua família! Um moço, chamado ao estado religioso, ficou no mundo para agradar a seu pai; mas depois, desavindo-se com ele, matou-o com a própria mão e morreu no cadafalso. Um outro, já no seminário, resistiu à voz de Deus que o convidava a deixar o mundo. Começou por abandonar os exercícios de piedade, a oração, a comunhão, depois entregou-se aos vícios; e, enfim, uma noite que saía duma casa de tolerância, foi assassinado por um rival. Vários sacerdotes acorreram para socorrê-lo, mas encontraram-no morto. Quantos exemplos semelhantes não poderia eu citar!

5. Mas voltemos ao nosso assunto. S. Tomás exorta os que são chamados a uma vida mais perfeita a não se aconselharem nesse ponto com seus pais, porque, nesse particular, eles se tornam nossos inimigos, segundo a palavra do Senhor: Cada um terá por inimigos os de sua própria casa. E se os filhos não são obrigados a se aconselharem com seus pais sobre a vocação a um estado mais perfeito, muito menos o são para esperar a sua permissão para segui-la, e nem a pedi-la sempre que possam temer seja-lhes ele injustamente negada e assim entravada a vocação. S. Tomás de Aquino, S. Pedro de Alcântara, S. Francisco Xavier. S. Luís Bertrand, e muitos outros entraram no convento sem os próprios pais o saberem.

Santo Afonso Maria de Ligório,
Prática do Amor a Jesus Cristo, capítulo XI.

Os bons exemplos que não viram notícia

Não sei exatamente qual é a origem desta carta de um sacerdote missionário em Angola – diz a notícia que foi enviada ao The New York Times (não diz a data) que, até o presente momento, não a respondeu. Merece, no entanto, ampla divulgação, porque mostra uma face do sacerdócio que não ganha os louvores da mídia, o reconhecimento da opinião popular – não vira notícia.

Não é só na vida sacerdotal – é em todos os lugares. Os acertos não são reconhecidos da mesma maneira que os erros são condenados. Quase ninguém agradece com a mesma rapidez com que lança pedras. Nos estudos, somos cobrados mais por nossas faltas do que pelas inúmeras presenças; mais pelas poucas reprovações do que por todas as aprovações. No trabalho, os erros que cometemos implicam em reclamações e advertências; os acertos diários e as coisas que sempre fazemos bem não recebem agradecimentos na mesma medida. A vida é assim.

E, em um certo sentido, talvez tenha que ser assim mesmo. Espera-se do estudante que estude, espera-se do profissional que trabalhe, espera-se do sacerdote que seja santo e que santifique. Quando as coisas fogem do que esperamos que elas sejam, é até natural que venham manifestações: o estudo irresponsável, o trabalho mal-feito, o pecado do sacerdote… estas coisas revelam falhas, revelam uma inadequação da realidade ao ideal, ao modelo que se tem e que se almeja. É natural que seja assim: isso nos estimula a nos aperfeiçoarmos cada vez mais. A fazermos cada vez mais melhor.

No entanto, somos humanos, e erramos, e temos necessidade não somente de tapas e reprimendas – mas também de reconhecimentos. Reconhecer o êxito nos estudos, o trabalho – ainda que ordinário – bem feito, ou a resposta generosa à vocação sacerdotal, o testemunho de amor a Jesus Cristo dado por tantas e tantas almas sinceras marcadas indelevelmente pelo Sacramento da Ordem.

E estas existem. Graças a Deus, existem, e existem muitas – leiam o texto acima. E é uma questão de justiça reconhecer o bem que elas fazem, muitas vezes “na surdina”, longe dos olhares dos homens. É necessário contrapôr, ao mau testemunho de uns poucos padres, o exemplo de tantos outros que se esforçam por levar uma vida em conformidade com as promessas que fizeram no dia de sua ordenação. Como eu dizia acima, em um certo sentido, é natural que os erros ganhem mais visibilidade do que os acertos; mas não é natural nem é justo que as coisas sejam julgadas com lentes de aumento nos erros e vista grossa feita aos acertos – que, aliás, são em número incomparavelmente maior.

Sim, o missionário está correto: o bem não vira notícia. Nunca virou. E, aliás, nem é bom que vire – porque o Pai, que está nos Céus e vê o que está oculto, saberá com certeza recompensar a todo bem que foi feito nesta terra. Mas, às vezes, é importante darmos a conhecer o bom exemplo de alguns, não por vaidade, não para buscar louvores do mundo, mas simplesmente por uma questão de Justiça. A Igreja é Santa, e contém em Seu seio pecadores – mas contém também inumeráveis exemplos de santidade, e em uma profusão muito maior do que os que provocam escândalos. É justo que isto seja dito às claras. Logicamente, não é uma tentativa de se minimizar a gravidade dos pecados cometidos por quem deveria ser sempre um “outro Cristo”. Mas é para mostrar que Cristo está na Igreja, também em seres humanos falhos. Para mostrar que não há somente falhas. E – é necessário dizer – quem não enxerga isso não pode se dizer jamais comprometido com a Verdade.

P.S.: Recebi por email a carta original em espanhol, e a encontrei na internet. Foi escrita pelo pe. Martín Lasarte.

Hierarquia e autoridade – Bento XVI

Nas últimas décadas, utilizou-se frequentemente o adjetivo “pastoral” quase em oposição ao conceito de “hierárquico”, assim como foi interpretada na mesma oposição a idéia de “comunhão”. […] Prevalece na opinião pública, para a realidade “hierarquia”, o elemento de subordinação e o elemento jurídico; por isso, para muitos a idéia de hierarquia aparece em oposição à flexibilidade e à vitalidade do senso pastoral e também contraria à humildade do Evangelho. Mas este é um sentido mal compreendido de hierarquia, também causado historicamente pelo abuso de autoridade e pelo carreirismo, que são exatamente abusos e não derivam do próprio ser da realidade “hierarquia”.

A opinião comum é que a “hierarquia” é sempre alguma coisa ligada ao domínio e, portanto, não corresponde ao verdadeiro sentido da Igreja, da unidade no amor de Cristo. Mas como disse, esta é interpretação errada, que se originou em abusos da história, mas não corresponde ao verdadeiro significado daquilo que é a hierarquia. Comecemos com a palavra. Geralmente, diz-se que o significado da palavra “hierarquia” seria “sacro dominio”, mas o verdadeiro significado não é esse, mas sim “sacra origine”, isto é: esta autoridade não vem do próprio homem, mas tem suas origens no sagrado, no Sacramento; submete-se, então, a pessoa à vocação, ao mistério de Cristo; faz do indivíduo um servo de Cristo e só enquanto servo de Cristo ele pode governar, guiar por Cristo e com Cristo. Por isso, aquele que ingressa na sagrada Ordem do Sacramento,  a “hierarquia”, não é um autocrata, mas entra em um novo vínculo de obediência a Cristo: é ligado a Ele em comunhão com os outros membros da sagrada Ordem, do sacerdócio.

Bento XVI,
Audiência Geral da quarta-feira, 26 de maio
Tradução do Fratres in Unum
Original italiano: Il Magistero di Benedetto XVI

Evo Morales, o católico

Eu já tinha visto que o Evo Morales havia sido recebido pelo Papa Bento XVI, em audiência, na semana passada. O que eu ainda não lera foram as duas sandices que só hoje vi publicadas no Unisinos.

Primeira: Evo Morales disse que era católico, e que havia sido convidado pelo próprio Papa para esta audiência. Segundo o presidente da Bolívia: “Saúdo o pedido do núncio apostólico (o arcebispo Gianbattista Diquattro) da Bolivia – estou certo de que é uma mensagem do Papa – de me convidar. Em 2007, eu busquei uma audiência, me recusaram. Agora, ele pediu uma audiência. Eu saúdo. Será um encontro interessante”.

No entanto, uma agência de notícias católica apressou-se a desmentir. “Segundo fontes bem informadas do Vaticano – indicou a Infodecom –, não é certo – para não dizer ilógico – que o Papa Bento XVI tenha pedido uma audiência a Evo Morales”.

Segunda: na tal audiência, Evo Morales pediu a abolição do celibato. Conforme foi noticiado:

O presidente da Bolívia, Evo Morales, entregou nas mãos do Papa uma carta na qual pede a abolição do celibato, o acesso da mulher ao sacerdócio e a “humanização e democratização da estrutura clerical”.

Nela, Morales se apresenta como “membro da Igreja Católica” e “cristão de base” e propõe “muito respeitosamente” a Bento XVI “a necessidade de superar a crise da Igreja, que, como o senhor disse, está ferida e em pecado”.

Para superar essa crise, Morales considera “imprescindível democratizar e humanizar sua estrutura clerical”. E acrescenta: “Democratizá-la para que sejam reconhecidos a todas as filhas e filhos de Deus os mesmos direitos religiosos e que as mulheres possam ter as mesmas oportunidades que os homens para exercer plenamente o sacerdócio”.

É com coisas assim que eu vejo como é difícil ser Papa. Receber este tipo de proposta e, depois, ainda precisar agradecer as lembranças bolivianas… Rezemos pelo Santo Padre, para que Nosso Senhor lhe ajude a carregar a sua cruz. E pelo presidente da Bolívia, para que tenha noção da realidade. Que esta audiência possa, ao menos, alcançar graças para os cristãos da Bolívia. Esqueceram-se disso? Eu ainda lembro.

Comentários ligeiros

Terrorismo contra o DCE da UFRGS. “O Diretório Central dos Estudantes da UFRGS foi vítima de ato criminoso, quando na madrugada desta quarta-feira seu hall de entrada foi incendiado. A ação, assumida por um grupo intitulado ‘Comando de Caça aos Reacionários’, demonstra o desprezo de determinados grupos radicais pela livre escolha dos estudantes da Universidade, pelo patrimônio público e Estado Democrático de Direito”.

Vejam só, Comando de Caça aos Reacionários! Há também um pequeno vídeo no youtube mostrando o estado em que ficou o DCE. Lá, o estudante fala que a chapa vencedora das últimas eleições “é composta por uma maioria de estudantes que não têm vinculo a partidos políticos e principalmente estudantes que querem representar de fato o corpo discente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e não interesses político-partidários ou ideológicos como, infelizmente, vinha ocorrendo nas últimas décadas aqui na Universidade Federal do Rio Grande do Sul”. Interessante a “democracia ideológica” dos revolucionários. Que a Virgem Santíssima possa ser em favor dos estudantes sérios da UFRGS.

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– É do início do mês, mas eu não posso deixar de referenciar o texto da Dicta: “Algo extraordinário está acontecendo”. Sobre o Papa Bento XVI enquanto intelectual: “Com candura e gentileza, Bento XVI mostra que as respostas da Modernidade são insuficientes. Ele valoriza o que elas têm de positivo, não é um adversário, e sim alguém que deseja compartilhar com os outros as soluções mais ricas e abrangentes que sabe possuir. Isso humilha os intelectuais, que julgavam o cristianismo uma caveira à espera de ser enterrada e não admitem que nele possa haver tal vigor. E nada irrita tanto quanto mostrar que somos incompletos; preferimos estar rotundamente errados na grandeza, do que estar na mediocridade de quem ‘não chegou lá’. Por isso, não tenho esperança de que essas censuras injustas terminem tão cedo; se não o conseguirem atacar de uma maneira, descobrirão outra”.

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Uma freira que participou da decisão de um comitê de ética americano para autorizar um aborto em uma mulher “gravemente doente” incorreu em excomunhão latae sententiae, como disse o bispo Thomas J. Olmsted. Leiam lá, porque é interessantíssimo. A mulher estava grávida de 11 semanas e sofria de hipertensão pulmonar, o que acarretaria um altíssimo risco de morte [near-certain risk of death] caso a gravidez fosse levada adiante. Isto foi explicado ao bispo. Mas ele retrucou: “a morte direta de uma criança não nascida é sempre imoral, não importam as circunstâncias, e isto não pode ser admitido em uma instituição que se afirma autenticamente católica”.

“Sempre imoral”, e “não importam as circunstâncias”. Excelente! Enche-nos o coração de alegria encontrar bispos zelosos pela Doutrina da Igreja, e que não estão dispostos a fazer concessões à mentalidade moderna. Que a Virgem Maria abençoe o ministério episcopal do bispo Olmsted. E que Ela consiga bispos assim para o Brasil.

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Padre Demétrio 1: “O último cume”, filme de Juan Manuel Cotelo sobre a vida do pe. Pablo Domínguez, que recentemente faleceu em um acidente de montanhismo.

Na espanha laicista, como muito bem disse o pe. Demétrio! Um corajoso filme sobre a vida de um padre católico. Vejam lá os primeiros cinco minutos do filme, e vejam a abertura: um sacerdote sendo crucificado pela turba enquanto as crianças choram e têm seus olhos fechados, os manifestantes gritam, a imprensa filma e bate fotos. Diz Cotelo: “Os especialistas me disseram claramente: ‘Se hoje crucifico a um sacerdote em público, vou ter êxito, e vão dar-me importantes prêmios’. Se, ao contrário, falo bem de um padre, vão crucificar-me”. Corajoso! Quero assisti-lo.

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Padre Demétrio 2: “Os sacerdotes que abusaram de mim”. Trata-se de um relato assinado por Gustavo Caro. Assim se inicia: “Quanto era muito criança, sem ter consciência, sem liberdade, sem poder defender-me, um deles me fez filho de Deus, herdeiro da Vida Eterna, Templo do Espírito Santo e membro da Igreja, nunca poderei perdoar-lhe por ter-me feito tanto bem”. Sim, estes são a maioria. Que o Ano Sacerdotal possa dar frutos para o sacerdócio, para a Igreja.

Aos sacerdotes e religiosos [da Irlanda] que abusaram dos jovens

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens

Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus omnipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas acções. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.

Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas acções. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

Bento XVI,
Carta pastoral aos católicos da Irlanda
19 de março de 2010 – solenidade de São José.

Curtas

Oração de Pio XII pelos sacerdotes. “Concedei-lhes, oh Senhor, desprendimento de todo o interesse terreno e que só busquem a vossa maior glória. Concedei-lhes ser fieis às suas obrigações com a pura consciência até ao posterior alento”. Convém rezarmos. Que nos empenhemos em pedir ao Altíssimo pela santificação do clero.

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– Sobre o feriado nacional muçulmano-cristão libanês, no IHU e na Canção Nova. O texto é o mesmo. A parte referente ao Papa: “Recebido em audiência pelo Papa Bento XVI em 21 de fevereiro, logo depois do decreto de criação da festa islamo-cristã, o primeiro-ministro aproveitou seu compromisso a favor da coexistência pacífica entre cristãos e muçulmanos. Os dois chefes de Estado fizeram votos para que ‘através da coexistência exemplar das diversas comunidades religiosas que compõem o Líbano, o país continue a ser uma mensagem para a região do Oriente Médio e para o mundo inteiro'”.

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O Tigre confessa, do João Pereira Coutinho. “A privacidade; a existência de um espaço meu e dos meus, onde a multidão não entra, é talvez a maior conquista da civilização judaico-cristã. Destruir essa barreira sempre foi e sempre será o princípio da tirania”.

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El coma andante gosta mesmo é da Nike, sobre a hipocrisia cubana. “A Nike, não custa lembrar, representa um ícone do ‘imperialismo ianque’, segundo os perfeitos idiotas latino-americanos. Quer dizer então que o ditador pode usar símbolos do capitalismo americano numa boa? Além disso, não há um embargo econômico dos Estados Unidos à ilha-presídio? Onde foi que Fidel comprou este uniforme? Será que o povão cubano, o gado bovino de propriedade dos irmãos Castro, pode comprar um desses também?”. E o Lula lá. Ao lado do ditador. Enquanto um cubano morria após quase três meses de greve de fome.

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“Alcides morreu porque era um negro”. Data maxima venia, senhores sacerdotes, NÃO. Não morreu porque era negro. Não são só os negros que morrem injustamente. Este assassinato específico não teve nada a ver com racismo. Não foi este o porquê da sua morte. Por favor, não desonrem a  memória do meu conterrâneo transformando a tragédia em uma versão racista imbecil da luta de classes socialista.

Alcides morreu por causa do descaso das autoridades públicas com a segurança, porque o Brasil é um país violento, onde os marginais não são punidos como deveriam e onde a população de bem não pode se proteger e nem tem quem a proteja. Aliás, dos dois criminosos que assassinaram Alcides, um é ex-presidiário e o outro, por ser de menor, vai para uma unidade da “Fundação de Atendimento Socioeducativo” – nem sei por quanto tempo, provavelmente por um ou dois anos, e depois vai voltar às ruas. Este é o problema, senhores sacerdotes, e não a cor da pele do meu amigo.

Santidade e vocações

Hoje, 31 de janeiro, recordamos em particular São João Bosco, fundador da Família Salesiana e padroeiro dos jovens. Neste Ano Sacerdotal, eu gostaria de invocar sua intercessão para que os sacerdotes sejam sempre educadores e pais dos jovens; e para que, experimentando esta caridade pastoral, muitos jovens acolham o chamado a dar a vida por Cristo e pelo Evangelho.

– Bento XVI, Angelus, 31 de janeiro de 2009

Achei este pedido do Papa particularmente feliz. Vocações, e fidelidade à vocação. Não apenas que os jovens decidam seguir a Cristo; mas também que, uma vez que o façam, sejam sempre educadores e pais dos jovens.

Educadores da educação verdadeira, que nada tem a ver com a mera “informação” sobre assuntos diversos tão comum nos nossos dias. Educação que é verdadeira formação, e formação do ser humano integral – não mera erudição.

Pais, de paternidade espiritual, daquela que fala São Paulo. Há carência de pais espirituais, de homens sábios e santos que possam ser, para a vida espiritual, aquilo que os pais naturais são para a vida física. Na ordem da natureza, todo mundo precisa de pais. Isso não é menos verdade na ordem da graça; mas, infelizmente, é muitas vezes menosprezado.

Não basta que haja vocações, é preciso que sejam vocações santas. E, mesmo assim, é preciso que haja vocações, porque ninguém é insubstituível neste mundo, nem vai perdurar para sempre. Mas a santidade é difusiva de si mesma e, por isso, o Papa assim pede, nesta ordem: que os sacerdotes sejam santos, e que os jovens atendam aos chamados do Altíssimo. Se os sacerdotes forem santos, não faltarão vocações. A “crise de vocações” bem pode ser vista como uma crise de santidade no clero. Padre santo, povo piedoso – e a veracidade deste ditado é empiricamente verificável nos nossos dias.

Lembrei-me daquele texto sobre os coroinhas – profundamente verdadeiro! – que nem sei se cheguei a citar aqui; caso contrário, faço-o agora, fazendo coro aos pedidos do Papa Bento XVI: que os ministros do Deus Altíssimo sejam santos, e que os jovens possam dar generosa resposta a Nosso Senhor que os chama.

De fato, convivendo com o sacerdote, os pequenos iam percebendo a importância daquele homem que era tão procurado: visitava os doentes, confessava os penitentes, aconselhava casais em crise, julgava dissídios na comunidade, pregava o Evangelho, celebrava a Santa Missa. E mais: os pequenos viam a piedade do padre, breviário em punho, mergulhado na oração.

Talvez esse tempo se recupere. Talvez não. Pode ser que, neste século pós-moderno, outras atividades mais importantes gastem todo o tempo dos novos sacerdotes, competindo com sua missão específica. Pode ser que agendas entupidas tornem incômoda a presença daqueles pardais. Pode ser que o pároco pareça um homem infeliz, um burocrata do altar, permanentemente irritado e insatisfeito, um autêntico “espanta-nenê”….

Nesse caso, é melhor que não haja mesmo crianças por perto.

São Francisco de Assis, pelo Papa Bento XVI

É interessante notar, por um lado, que não é o Papa quem ajuda para que a Igreja não caia, mas um religioso pequeno e insignificante, que o Papa reconhece em Francisco quando este o visita. Inocêncio III era um papa poderoso, de grande cultura teológica, como também de grande poder político e, no entanto, não é ele quem renova a Igreja, e sim um pequeno e insignificante religioso: é São Francisco, chamado por Deus. Por outro lado, no entanto, é importante observar que São Francisco não renova a Igreja sem ou contra o Papa, mas em comunhão com ele. As duas realidades estão juntas: o Sucessor de Pedro, os bispos, a Igreja fundada sobre a sucessão dos apóstolos e o carisma novo que o Espírito Santo cria nesse momento para renovar a Igreja. Na comunhão se dá a verdadeira renovação.

[…]

O Pobrezinho de Assis havia compreendido que todo carisma dado pelo Espírito Santo deve ser colocado ao serviço do Corpo de Cristo, que é a Igreja; portanto, agiu sempre em comunhão plena com a autoridade eclesiástica. Na vida dos santos não há contraposição entre carisma profético e carisma de governo e, se houver alguma tensão, estes sabem esperar com paciência os tempos do Espírito Santo.

[…]

Neste Ano Sacerdotal, quero também recordar a recomendação dirigida por Francisco aos sacerdotes: “Ao celebrar a Missa, ofereçam o verdadeiro sacrifico do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, pessoalmente puros, com disposição sincera, com reverência e com santa e pura intenção” (Francisco de Assis, Escritos). Francisco mostrava sempre um grande respeito pelos sacerdotes e recomendava respeitá-los sempre, inclusive no caso de que pessoalmente fossem pouco dignos. A motivação do seu profundo respeito era o fato de que eles receberam o dom de consagrar a Eucaristia. Queridos irmãos no sacerdócio, não nos esqueçamos jamais deste ensinamento: a santidade da Eucaristia nos pede que sejamos puros, que vivamos de maneira coerente com o Mistério que celebramos.

Bento XVI, Audiência Geral, 27 de janeiro de 2010.

Entrevista do pe. Fábio de Melo ao “Valor”

Gostaria de ter mais tempo para comentar a entrevista concedida pelo pe. Fábio de Melo ao jornal “Valor” e reproduzida pelo IHU. Ao lado de declarações profundamente verdadeiras – p.ex., “o bem e a beleza são traços de uma mesma verdade” -, o reverendíssimo sacerdote faz algumas outras que, proferidas por um sacerdote, são de se lamentar.

O texto do Ecclesia Una está realmente muito bom, fazendo as perguntas pertinentes e cotejando as respostas dadas pelo padre Fábio com os documentos do Magistério da Igreja. Vale muito a leitura e eu próprio não teria muito o que acrescentar. Música, literalidade das Escrituras, homossexualismo, Teologia da Libertação, cenário político brasileiro: nada escapou ao crivo do Everth Oliveira. Eu só acrescentaria mais um comentário, feito por um amigo em uma lista de emails: que o pe. Fábio não tenha vindo ao mundo para dividir, é talvez a raiz de todos os seus problemas. Porque Nosso Senhor veio dividir: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa” (Mt 10, 34-36).

Como pode ser possível que o mesmo sacerdote a identificar o Bonum, o Pulchrum e o Verum seja capaz de elogiar o socialismo, é um mistério que me escapa à compreensão. Rezemos pelos sacerdotes! Que a Virgem Santíssima possa interceder ao Seu Divino Filho pela santificação do clero.