Lutero e o orgulho de se salvar sozinho

Aproveitando o ensejo dos quinhentos anos da Reforma Protestante, penso que é oportuno voltar os olhos para Martinho Lutero. Debruçando-nos sobre os escritos do velho heresiarca, penso que é possível a nós, católicos, aumentarmos a nossa Fé — ainda que por contraposição.

Por exemplo, eu muitas vezes me pego a explicar, em aulas de catequese, que aprouve a Deus tornar-nos colaboradores d’Ele na ordem da Redenção. Isso se aplica em primeiríssimo lugar à nossa própria salvação (aqui, a frase de Santo Agostinho, tão antiga mas nunca gasta: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti”); aplica-se, também, à Mediação Universal da Virgem Santíssima (e, aqui, o título d’Ela, justíssimo, de “Medianeira de todas as graças”), mas se aplica também a muitas outras coisas comuns e ordinárias. A intercessão mútua é o dia-a-dia dos cristãos. Somos todos, em alguma medida, co-responsáveis pela sorte eterna uns dos outros.

Deus tem duas obras: a Criação e a Redenção. Ora, Ele não determinou que a transmissão da vida natural se desse mediante o concurso do homem e da mulher, através da relação sexual? Sem dúvidas a alma é criada diretamente por Deus, mas o corpo é transmitido dos pais. Não é o homem corpo e alma? Sem corpo, pois, não há homem. A conclusão aqui é assombrosa, mas inelutável: sem o concurso humano cessa a obra criadora de Deus.

E assim como a transmissão da vida natural — a continuação da obra criadora de Deus — não se dá sem a colaboração humana, assim também, mutatis mutandis, a continuação da obra salvífica de Deus — a redenção das almas, a comunicação da vida sobrenatural — não ocorre sozinha, exigindo também ela a cooperação voluntária dos filhos de Deus. A conclusão aqui é ainda mais assombrosa, mas não é menos certa: sem que os homens cooperem, portanto, mesmo o Sacrifício da Cruz queda estéril.

(Veja-se, é possível admitir que, no reino das meras possibilidades metafísicas, as coisas até poderiam ser de outra maneira. No entanto, não cabe a nós discutir com o Altíssimo sobre a melhor maneira de estabelecer a ordem do Universo: sim, as coisas poderiam ser de outro modo, mas o fato é que elas são assim, e a nós não compete senão reconhecê-lo, a fim de agimos conforme o que as coisas são e não o que poderiam ser.)

É este o fundamento da intercessão dos santos, é isto que justifica o múnus santificador da Igreja encarnada, é à luz dessa verdade que fazem sentido as palavras de Nossa Senhora em Fátima: “Muitas almas vão para o inferno por não haver quem se sacrifique e reze por elas”. Sim, Deus poderia fazer sozinho todas as coisas; não o quis, no entanto, preferindo em tudo depender da liberdade de suas criaturas.

Ocorre que Lutero não entende nada disso. Para Ele Deus faz tudo sozinho e o homem está sozinho diante de Deus, nem existe cooperação do homem com a graça divina e nem existem intermediários na relação do homem com Deus. O heresiarca simplesmente não compreende que Deus possa querer redimir os homens à força das boas obras de outros homens. Veja-se, para o ilustrar, esta reveladora passagem das 95 teses:

82. Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas -, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?

Ora, a resposta a isso é bastante óbvia. Deus não esvazia o Purgatório sozinho pela exata mesma razão que Ele não salva sozinho as almas: porque Ele quer que os homens cooperem com a salvação uns dos outros. O dinheiro, em si, não tem nenhuma relevância nesta questão, o que está em jogo é a boa obra alheia. Esta pode ser uma obra indulgenciada (como, no caso do séc. XVI, era o auxílio material para a construção da Basílica de São Pedro) como pode ser qualquer outra coisa, uma oração ardente, uma tribulação suportada com paciência, um copo de água dado a um pobre, um ponto de costura dado na roupa: se por amor de Deus, se ordenada, é meritória e tem valor salvífico para nós e para o nosso próximo.

Veja-se, o problema de Lutero não é com o dinheiro. É com a “intromissão” de um terceiro na relação entre a alma e Deus. Não é que o monge atormentado achasse que o dinheiro era uma coisa suja ou que havia muita corrupção no clero da sua época, o que Lutero não aceitava era que alguém pudesse ser salvo graças a uma boa ação de uma outra pessoa. O que Lutero achava era que as pessoas deviam se salvar sozinhas. Um dos «erros de Martinho Lutero» condenados na Exsurge Domine é o seguinte:

As almas libertas do purgatório pelos sufrágios dos vivos são menos felizes do que se elas prestassem satisfação por elas mesm[as].

Não era, portanto, pelo dinheiro. Era pela noção de “boa obra”, cujo valor sobrenatural Lutero não admitia. Era por conta dos «sufrágios dos vivos» que, na concepção tortuosa de Martinho Lutero, apequenavam os mortos que os recebiam. Era, em suma, por conta do extremo individualismo do monge alemão, incapaz de aceitar que somente as mãos estendidas de outros homens (todos pecadores) poderiam resgatá-lo da danação eterna. Alegando ter acesso direto a Deus, o que Lutero desprezava era o auxílio dos seus irmãos; sob a rejeição da intercessão dos santos estava o orgulho de pretender se salvar sozinho.

Extremada loucura. É exatamente assim que acontece com todos nós: somos levados ao Céu graças somente ao trabalho incessante de uma miríade de pessoas desconhecidas, cujas orações e sacrifícios, cujas boas obras, cujos méritos aproveitam a nós e se não fosse por eles nós sem dúvidas pereceríamos miseravelmente. Esta é a realidade que Cristo nos revelou e Lutero não quis aceitar. Esta é a Fé Cristã, à qual o pai do Protestantismo tão desgraçadamente deu as costas — arrastando séculos afora uma multidão de almas à perdição atrás de si.

Por quê, afinal de contas, um Deus amoroso criou o Inferno?

Recentemente, iniciou-se uma interessante discussão no Deus lo Vult! a respeito da existência real (e eterna) do Inferno, bem como da sua compatibilidade com a noção de um Deus justo e amoroso. Como o assunto vez por outra surge aqui e em outros lugares, vale talvez a pena buscar sistematizá-lo um pouco.

Basicamente, as objeções dos incréus são duas:

a) é totalmente desproporcional impôr uma punição infinita por uma ofensa finita; e

b) um Deus amoroso não poderia torturar eternamente um Seu filho no inferno.

É até possível respondê-las por via direta. Assim, parece-me que a apologética tradicional tem se esmerado por mostrar a) que uma ofensa à majestade infinita de Deus não é “finita” e sim infinita, uma vez que a gravidade da ofensa mede-se, também, pela dignidade do ofendido (e assim, v.g., um mesmo murro que eu desferisse contra três homens diferentes seria gradativamente mais grave conforme o esmurrado fosse um jovem colega de trabalho, um ancião ou o meu pai) – e a justiça exige alguma proporção entre crime e castigo. Do mesmo modo, b) Deus é amor mas é também, em igual – e infinita – medida, justiça, e é precisamente o amor d’Ele que permite aos Seus filhos optarem por O renegar; de modo que, rigorosamente falando, é possível dizer, em alternativa a “Deus condena as almas ao tormento eterno”, que “as almas rejeitam a Deus e se condenam, portanto, à separação definitiva d’Ele”.

Mas fica parecendo que essas coisas não se compreendem perfeitamente quando não se tem uma noção clara dos seus fundamentos: dito de outra maneira, as perguntas acima estão mal-formuladas. O que importa, na verdade, não é que Deus tenha criado o Inferno, e sim que Ele tenha feito homens livres e, portanto, capazes quer de mérito, quer de culpa. Quando se entende isso com todas as suas necessárias consequências, todo o resto do quebra-cabeça se encaixa sem maiores dificuldades intelectuais.

O que é ser «livre»? É poder ser responsabilizado por suas escolhas e, por conseguinte, ser por elas premiado ou castigado. É evidente que a liberdade humana não é “absoluta” porque o seu conhecimento é limitado e a sua vontade é fraca; isso não está em discussão. O fato é que existe alguma liberdade no homem e, portanto, em alguma medida ele é capaz de mérito ou demérito, de prêmio ou de castigo.

 «Mérito» e «culpa» estão aqui empregados no sentido mais direto de um prêmio devido por uma ação moralmente virtuosa e uma punição imposta em consequência de uma atitude moralmente condenável. As duas coisas estão em estreita relação de mútua dependência: uma vez que ambas dependem daquela liberdade fundamental de optar pelo bem ou pelo mal, não é possível haver mérito se não existir possibilidade de culpa (uma vez que a virtude de uma escolha reside precisamente na rejeição à possibilidade de se fazer a escolha oposta – caso contrário, não haveria liberdade verdadeira) e não é possível existir culpa se não houver possibilidade de mérito (vice-versa). Ambas emanam, direta e imediatamente, da liberdade humana: só há mérito/culpa porque há liberdade e, se há liberdade, há também e necessariamente mérito e culpa.

A raiz, portanto, do prêmio e da punição está na liberdade humana, é-lhe inerente e, aliás, faz parte da sua própria definição: ser livre é ser responsável por seus atos, e ser responsável por seus atos é ser capaz de receber, por eles, retribuições positivas ou negativas. Se qualquer um desses três termos – liberdade, mérito e culpa – deixasse de existir, os outros dois cessariam de haver no mesmo exato instante. Ou os três existem, ou não existe nenhum. Por definição. Não dá para ser diferente.

Ora, qual a característica central da Criação de Deus no que concerne ao ser humano? É que Ele nos fez à Sua imagem e semelhança, i.e., fez-nos dotados de inteligência e de vontade, de livre-arbítrio, fez-nos capazes de mérito e culpa. E a liberdade é um bem: por isso que Deus a criou. E é um dom precioso, preciosíssimo: por isso é que foi por amor a nós que Ele no-lo concedeu. E o livre-arbítrio nos foi concedido para que optássemos por Deus. Se há homens que optam livremente por O rejeitar, aí já é uma coisa cuja possibilidade – pela própria natureza da liberdade humana – não pode ser afastada.

E quanto ao Inferno ser eterno? Ora, só há duas opções: ou a capacidade humana de ganhar méritos e acumular culpas – de ser premiado e castigado – cessa em algum momento, ou ela não cessa jamais, et tertium non datur. Se ela cessa em algum momento (v.g. com a morte – é a posição católica), então as pessoas que estão no Paraíso nele não podem mais pecar para o perder e, pela mesma razão, as que estão no Inferno não podem se arrepender para de lá sair. E, se ela não cessa em momento algum, então não deixará jamais de haver culpas a serem expiadas, posto que sempre haverá novos pecados em almas eternamente capazes de pecar. Em qualquer dos dois casos, portanto, o Inferno precisa ser eterno. A diferença é apenas se algumas pessoas ficarão lá de uma vez por todas ou se todas as pessoas ficarão eternamente entrando e saindo de lá. Olhadas as coisas por esse ângulo, não parece que a segunda hipótese seja melhor do que a primeira, não é verdade?

Vez por outra me perguntam por que raios Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do jardim do Éden, onde Adão poderia facilmente alcançar-lhe os frutos. Ora, os pais terrestres mantêm as facas de cozinha e os produtos químicos fora do alcance das suas crianças: por que motivo Deus, Pai Perfeitíssimo, fez exatamente o contrário disso com Adão e Eva? A resposta é que Adão e Eva não eram crianças sem uso da razão, e sim seres humanos inteligentíssimos e extremamente aptos, adultos capazes de auto-determinação. Eles não comeram do fruto proibido como uma criança que se machuca sem querer com uma tomada, mas exatamente ao contrário: o Pecado Original foi cometido livre e deliberadamente, com plena consciência e manifesta vontade. É exatamente por isso que é pecado.

E por quê, ainda, Deus permitiu que os nossos Primeiros Pais tivessem a possibilidade de cometer uma coisa tão horrenda como o Pecado? Por tudo o que já se disse até aqui, a resposta é imediata: porque Deus os amava e, amando-os, queria premiá-los com a participação na Sua Eterna Bem-Aventurança a título de mérito, e para que os homens merecessem (na medida contingente de sua natureza de criatura) a Vida Eterna era necessário que eles pudessem, ao mesmo tempo, rejeitar a oferta de Deus. Liberdade, mérito e culpa existem sempre e necessariamente os três juntos, lembremo-nos. Eis aqui, pois, nascidos ao mesmo tempo, de um mesmo gesto de liberalidade divina, o livre-arbítrio, o Céu e o Inferno.

Num dos primeiros cantos (o terceiro, se a memória não me falha) da Comédia de Dante, o poeta coloca no frontispício da porta que conduz às profundezas do Hades uma inscrição que diz ter sido o Amor Supremo quem criou o Inferno. E foi exatamente isso o que aconteceu: foi por Amor que Deus criou os homens livres, e é da liberdade humana que decorre a possibilidade de amar a Deus ou de O rejeitar, de ir ao Céu ou ao Inferno. O verso do poeta é perfeito, e não significa que um sadismo divino criou, para próprio capricho, arbitrariamente, um lugar para torturar os homens: não, nada disso. Significa, isso sim!, que o Amor queria premiar os homens com a Vida Eterna – e, para que tal fosse possível, por uma necessidade imperiosa daquilo mesmo que essas palavras significam, era necessária esta porta pela qual se pode chegar à morada das dores. Uma vez que se entenda isso, aquelas objeções iniciais deixam de fazer sentido; e, em contrapartida, sem que se compreenda a história completa, nenhuma explicação parcial da justiça do Inferno é capaz de convencer.

“Ó, vós, ministros de Deus!” – Valdeci Silva

[Recebi o texto abaixo de um leitor do Deus lo Vult!, que publico para meditação. É curioso; ainda um dia desses eu via no Facebook um vídeo amador de um rapaz que lançava também invectivas contra os bispos – especificamente contra a CNBB – por conta da má doutrina e da Liturgia porcamente celebrada às quais estão sujeitos os católicos brasileiros na média das paróquias que freqüentam.

O sentimento de insatisfação é crescente e a ele eu faço coro: não seria a hora das nossas autoridades eclesiásticas olharem com um pouco mais de atenção para este enorme contingente de almas que não desejam senão receber das mãos dos seus pastores os tesouros legítimos da Igreja de Cristo? No Evangelho, Nosso Senhor perguntou certa feita aos que O ouviam: «Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião?» (Lc XI, 11-12). Nos dias de hoje, talvez essa comparação não possuísse a eloqüência que teve há dois mil anos; nos dias de hoje, são muitos os pais que distribuem pedras e animais peçonhentos aos que lhes batem à porta suplicando por comida.

Deus levará em conta a pequenez dos Seus filhos, sem dúvidas; mas quanto mais eles não poderiam crescer e glorificar a Deus, se estivessem em um ambiente mais propício…? As portas do Inferno nunca prevalecerão sobre a Igreja, disso podemos estar certos. Mas isso vale para a Igreja Universal; nada foi dito com relação às Igrejas Particulares. Quantas hoje já não se encontram in partibus infidelium? Quantas já não cumprem de facto o papel dos inimigos de Deus, embora ostentem ainda o título de Igrejas Católicas? E quantas almas já não se perderam, perdem-se e haverão de se perder, por culpa dos «maus pastores» que não cuidam do rebanho que a Divina Providência lhes confiou? Mais catolicismo, por favor! De mundanidades o mundo já está repleto.

Somos pobres e temos fome. Pobres das coisas do Alto, e famintos da palavra de Deus. Até quando isso nos será negado?]

Ó, vós, ministros de Deus!

Valdeci Silva I. Junior

Ó, vós, que deveríeis ser pastor de almas e vos convertestes em dispersadores do rebanho.

Recebestes a altíssima e distinta vocação, não fostes chamados para aparência superior; fostes chamados à santidade e a serdes ministro da santificação de vossos filhos.

Ó, quão grave a culpa do ministro de Deus que perde as almas que lhe foram confiadas!

Quão infeliz e miserável se as perde em nome de Deus!

Se descuidar-se das almas postas sob seu cuidado já é um mal grave, mal superior é descuidar-se em Nome de Deus.

Sacerdotes do Altíssimo, recebestes em ordem grau superior às ovelhas; fazê-las perderem-se é tornar-vos, em culpa, merecedores da sorte dos demônios.

Ó ministro de Deus que, tendo nascido para o corpo, fazeis com que as ovelhas do redil do Senhor, não nasçam para vida eterna: seria melhor não terdes nascido, ó miserável e infeliz!

Pois, tendo nascido, havereis de pagar por tamanha culpa, por tamanho mal, por tamanho genocídio espiritual.

Se deixar que as almas se percam já é um mal grave, incomensurável é a gravidade de fazê-las se perderem em Nome de Deus.

Se não cumprirdes o que prometestes e, por ordem, sois obrigados, pelo ministério terrível que exerceis, quão grande é a culpa de negligenciardes em Nome de Deus.

Torna-se pior que um verme, o infeliz, que cai em tamanha desgraça de perder os que lhe foram confiados a salvar.

Pois, podendo salvar a si próprio e aos outros, atrai para si a condenação eterna e conduz as almas para o abismo infernal.

Infeliz é o ministro de Deus que, mutilando a Doutrina dos Apóstolos, deturpando-a, cega os olhos dos filhos de Deus. Desgraçado e culpado mais gravemente será, se estes fiéis se perderem, desviando-se do caminho de Deus.

Ó desgraçado e infeliz se trilhais este caminho! Fostes chamado a ser ministro de Deus e vos tornastes ministro de Satanás.

Anunciais vossa mentira e de vosso pai, rejeitais o Sangue do Cordeiro que redime as almas, e injetais nelas o veneno da serpente infernal, fazendo com que se percam.

Fostes chamados para ministrar a vida no Batismo, fazê-la firme na Eucaristia e restituí-la na Confissão; no entanto, tendes matado a Vida da Graça, roubado o auxílio divino e destruído as vias de salvação.

Quão miserável sois vós, ministro de Deus, que estais a colaborar com o inimigo de Deus e do gênero humano, que sendo condenado ao inferno, quer condenar, primeiro, a vós e, depois, aos que vos foram confiados.

Ouvi isto, sacerdotes do Altíssimo: tendes ainda a benevolência de Deus, podeis retornar ao vosso chamado inicial, podeis salvar vossa própria alma e as que estão sob vosso cuidado.

Aquela que é Auxilium Christianorum é também vossa última tábua de salvação, Seu Coração Imaculado é vossa chance de conversão, sua bondade segura a mão de Deus que há de pesar sobre vós.

Ó miserável e infeliz, gritai a Deus, mas gritai com auxílio da Sempre Virgem Maria, e não tenhais tempo para o vosso orgulho: corre risco a vossa alma e a do vosso rebanho.

Ó epíscopo, ó sacerdote, vós que sois ministros de Deus, lembrai-vos que se recusais a salvação, se descuidais das almas, Deus enviará ministros fieis para salvá-las e sobre vós pesará Sua mão misericordiosa e justa.

Tendes o ministério sublime para colaborar na economia da salvação. Traindo tal vocação, traindo-a em nome dos deuses da modernidade, recebereis o que vós mereceis: a condenação eterna, e Deus haverá de salvar as almas fiéis.

Felizes são os ministros de Deus que, pela graça, salvam suas almas e as dos que lhes foram confiados, pois estes receberão o prêmio de Deus e a eterna gratidão dos que consigo se salvaram.

Lembrai, vós todos, que Deus não abandona Sua Igreja e que, apesar de vossa infidelidade, Ele suscitará nela sacerdotes santos: et portæ inferi non prævalebunt adversum eam.

Eis o futuro do Brasil

Eis o que nos espera ao final do mês. Eis os dois monstros, lado-a-lado: a face de ambos em desarmoniosa sintonia, em uma horrorosa complementaridade que, olhando o todo, faz lembrar o próprio Satanás [agradecimentos ao Carlos Ramalhete, na lista tradicao-catolica, pela foto e sua descrição].

Eis quem está disputando o cargo máximo da nossa Pátria! Como já era esperado, Alien vs. Predador, Satanás vs. Belzebu. Não sei se o responsável por esta foto – publicação original n’O Dia – tinha a intenção de pôr às claras o monstro parido do conluio entre o PT e o PSDB, mas ele o conseguiu perfeitamente. No Dia das Bruxas, será blasfemamente sacramentada a grande farsa de impôr ao povo brasileiro a opção por um dos dois lados da mesma face. Por um dos dois lados do rosto de Satanás.

Eis, portanto, evidente e com redobrada clareza, a premente necessidade de rezarmos e rezarmos e rezarmos mais pela salvação do Brasil. Na completa e absoluta ausência de perspectivas no horizonte, na total incapacidade de ações meramente humanas, precisamos confiar na Divina Providência e, de olhos elevados ao Céu, esperar que do Altíssimo nos venha a Salvação – contra todos os prognósticos e para além de qualquer coisa que podemos até mesmo imaginar. Das mãos da Virgem Santíssima, Senhora terrível ut castrorum acies ordinata, é que nos poderá vir o socorro neste momento terrível, no qual Satanás – com metade do rosto da Dilma e, a outra metade, do Serra – já se ri e zomba do povo brasileiro.

Rezemos! Esta aqui é a Terra de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. E o Dia das Bruxas é também a véspera da solenidade de Todos os Santos. Que todos os justos no Céu, diante do Trono do Altíssimo, possam interceder pelo Brasil. Que seja em nosso favor a Virgem Soberana; que Ela, com o Seu valor, possa nos livrar do inimigo que arremete furiosamente contra nós.

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A porca retorna ao lamaçal

“[O Ecumenismo é], na verdade, uma traição a Jesus Cristo. Dar esperanças de que há salvação por qualquer outro caminho que não seja Jesus Cristo. Então tudo isso foi me afastando [da Igreja]. A princípio eu pensei que estes erros e outros (…) eram em razão do Concílio Vaticano II. Eu disse (…) estes papas chamados ‘conciliares’, a partir de João XXIII até Bento XVI não são papas. Eles são falsos papas. E eles é que trouxeram isso. Mas, para a minha surpresa, estudando a história da Igreja, eu descobri que esses erros que nós vivemos hoje, eles já estavam de alguma maneira desde o início do catolicismo, por volta do século IV, a partir de Constantino”.

– Diácono Francisco Almeida Araújo.

Foi “pastor” batista. Deixou a Igreja Evangélica, voltou para a Igreja Católica onde foi ordenado diácono e, hoje, arrepende-se profundamente disso. Está empenhado em divulgar publicamente a sua apostasia. Retornou ao lamaçal de onde, com a graça de Deus, saíra. É lamentável.

Escreveu uma confissão pública, no fim da vida. Gravou um testemunho em vídeo. A porca retorna ao lamaçal (cf. IIPd 2, 22) – é lamentável! É como fala a passagem dos Evangelhos:

Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa (Mt 12, 43-45).

E as “razões” dadas pelo neo-herege são totalmente desarrazoadas. Falou em “ecumenismo”, confundindo-o com a “ecumania” irenista tantas vezes condenadas pela Igreja. Não explicou os motivos que o levaram do sedevacantismo para o protestantismo; para quem assiste ao vídeo, a impressão que fica é somente a de que um abismo atrai outro abismo. Mentiu, dizendo que a infalibilidade papal era desconhecida até o século XIX. Distorceu, para variar, a Doutrina Católica referente à mediação única de Nosso Senhor e à intercessão dos santos. Defendeu a noção estúpida e anti-bíblica de que Deus não recompensa as boas obras dos cristãos, chegando inclusive ao cúmulo de afirmar o nonsense (frontalmente contrário à realidade, aliás) de que nós fazemos boas obras porque esta é a nossa natureza. É lamentável.

A Cruz de Nosso Senhor foi “suficiente”? Sem dúvidas que o foi, mas o que significa isso? Que Ela é a fonte da qual brotam todos os méritos, o instrumento da nossa redenção somente em união ao qual podemos também nós merecer sobrenaturalmente o que quer que seja? Se for isso, então em nada se distingue esta concepção da Doutrina Católica, estando o sr. Francisco a atacar espantalhos. Agora, se ele quiser dizer que ninguém precisa fazer nada e ninguém é capaz de merecer nada, bastando “sozinha” a Cruz de Cristo sem nenhuma cooperação humana, então esta doutrina é diabólica e anti-bíblica. Porque é o Apóstolo quem diz, para calar a boca do herege:

O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja (Cl 1, 24).

Repito novamente: é lamentável! Que a Virgem Santíssima, que já intercedeu uma vez pelo diácono Francisco livrando-o da boca do leão, possa socorrer-lhe novamente neste momento em que ele cospe n’Aquela que o ajudou em suas necessidades. E que cada um examine a si mesmo, sempre! Quem julga estar de pé, cuide para que não caia (cf. 1Cor 10, 12) – é o ensino escriturístico cristalino, contra a doutrina anti-bíblica da “certeza da salvação”. E do qual a cada dia encontramos mais e mais exemplos, como a própria história do diácono Francisco nos mostra.

Sobre o mesmo assunto, ler também:

Comentários em um testemunho de apostasia

Algumas considerações sobre o caso do ex-diácono Francisco Araújo

P.S.: Ao que consta, morreu reconciliado com a Igreja. Deo Gratias.

Podcast II – Por que ser católico?

Trago a segunda edição do (ainda sem nome – aberto a sugestões!) podcast do Deus lo Vult!, onde falo um pouco sobre o porquê de, hoje em dia, algumas pessoas insistirem em serem católicas apostólicas romanas, seguido de algumas considerações sobre o dogma “Fora da Igreja não há Salvação”.

Ainda está profundamente amador. Desta vez, ponho também um link para baixar o arquivo .mp3, conforme foi pedido da outra vez.

[podcast]https://www.deuslovult.org//wp-content/uploads/podcast/podcast-002-extra-ecclesiam.mp3[/podcast]

Clique aqui para baixar.

Os dois chifres do Diabo

Devido ao emprego de um humor por vezes grosseiro demais, não posso recomendar sem restrições o (não obstante, genial) blog do Frei Clemente Rojão. Mas este post sobre o padre à moda antiga merece ser lido e divulgado. Descontem as grosserias. Em particular, o seguinte trecho foi muito bem dito:

O Diabo tem dois chifres. Com um chifre, ele ataca a Igreja pelas novidades. Com o outro, ele ataca pelas velharias. Satã não tem preferência, desde que te atire no inferno… Para uns, ele deseja a desobediência pela novidade. Para outros, ele deseja a desobediência pela resistência às ordens de mudança.

E as alfinetadas, ao longo de todo o texto, são muito boas. O bom frei se refere a “quem se acha no direito de declarar estado de necessidade por conta própria”, ao “[p]aradoxo supremo da obediência, tão obedientes que desobedecem”, à “desobediência luciferina [que] renega a bela teologia que trazem nos lábios”.

Lembro-me de ter escrito, há algum tempo, algo sobre a desobediência de Lúcifer aqui. E, o que eu disse então, repito-o tranqüilamente agora:

O pecado de Satanás, seguido por Adão e Eva, apresenta-se sob muitas formas nos nossos dias. “Obediência co-responsável” é desculpa furada de quem não quer obedecer; condenar a “obediência cega” é a semente do orgulho começando a desabrochar. Sempre é possível inventar exemplos e mais exemplos de situações hipotéticas nas quais o homem estaria realmente dispensado da obediência e ainda nas quais obedecer cegamente seria um pecado; mas quando esta hipótese é aplicada amiúde em situações concretas que não guardam com os exemplos aventados senão uma vaga e forçada semelhança, então nós temos um sério problema: nós temos a repetição do non serviam primordial sob uma nova roupagem. Afinal, aquele que é capaz de “se transfigura[r] em anjo de luz” (IICor 11, 14) também é capaz de dar ao seu brado rebelde uma aparência de virtude.

E é muito fácil perceber que não há sombra de legalismo nisso – ao contrário, rejeitar a rebeldia dos que se arvoram “mais católicos do que o Papa” é uma mera questão de bom senso. Vejamos: todos concordam que a obediência é uma virtude e, para ser quebrada, é necessário haver graves motivos. Ora, para justificar uma desobediência pública, explícita e reiterada à Suprema Autoridade de Governo da Igreja, para que haja a supressão do munus regendi eclesiástico, para que seja lícito recusar-se à jurisdição da Igreja, o único motivo grave a este ponto seria algum “estado de necessidade” em que a salvação da própria alma estivesse em risco. Por menos do que isso, não há justificativa para se desobedecer. Até aqui, imagino que também todos concordem.

Mas, ora, se a desobediência fosse a única solução (afinal, para ela ser lícita, ter-se-iam que haver esgotados os outros meios…) para salvar a própria alma, seguir-se-ia necessariamente daí que, quem obedecesse à Igreja, estaria a caminho do Inferno. Ou seja, a Igreja visível de Nosso Senhor, a Cidade situada sobre o monte, o Farol que ilumina os homens e lhes ensina o caminho da Salvação, ter-se-ia convertido em seu perfeito contrário: em um vórtex negro que atrai as almas para o Inferno e do qual precisa fugir quem desejar ser salvo. Não creio ser preciso demonstrar que esta posição é blasfema. Portanto, não há justificativa para a desobediência.

Em suma: a desobediência à Igreja só se justificaria se ela – a desobediência – fosse necessária à salvação. Mas aqui chegamos a uma situação irredutível: porque afirmar que tal obediência é necessária é transformar a Igreja na Sinagoga de Satanás (onde se condenam todos os que A seguem), e negar a necessidade dessa obediência é reconhecer que não é lícito desobedecer. Et tertium non datur.

É difícil obedecer. Às vezes, é particularmente doloroso. É extremamente tentador fazer as coisas por conta própria, “do nosso jeito” – isto é tão tentador que derrubou até mesmo Lúcifer do alto dos Céus, quando o pecado nem havia entrado no mundo ainda e não havia ninguém rondando por aí “para perder as almas”! Acaso a tentação que fez cair Lúcifer não poderá também derrubar a mim?

Afastemo-nos com vigor de tão diabólica tentação. Que a Virgem Santíssima seja em nosso favor, e nos ajude, e não nos deixe jamais entregues a nós mesmos – pois, por nós mesmos, fatalmente iremos cair miseravelmente. Que o factus oboediens de Nosso Senhor possa ser sempre imitado por nós. E que São Miguel Arcanjo nos defenda do combate, precipitando no Inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas.

http://freirojao.blogspot.com/2010/05/um-padre-moda-antiga-obediencia-e-muito.html

Deus quer que todos se salvem

Certa feita, em confissão, após me acusar de falta de empenho em batalhar pela minha própria santificação, o sacerdote que me confessava disse-me uma frase profundamente verdadeira e que acho que nunca vou esquecer. Ele me disse “meu filho, Deus oferece sempre os meios necessários para que nos santifiquemos; agora, precisamos fazer a nossa parte. Não se esforçar para a própria santificação até deixar a alma morrer é a mesma coisa que um sujeito morrer de fome tendo um prato de comida à sua frente, pelo simples fato de que tem preguiça de pegar os talheres, levar o alimento à boca e o mastigar”.

Verdadeira comparação – Deus nos oferece sempre os meios dos quais necessitamos para que sejamos salvos. Eis que Ele está à porta e bate – é necessário somente que abramos à porta. As graças que o Onipotente nos concede são tantas e tão abundantes… só precisamos aceitá-las, colaborar com este Deus amoroso, oferecer o obséquio de nossa inteligência e vontade ao Deus que nos ama e quer a nossa salvação.

Eu precisaria pesquisar melhor para ter as referências completas (coisa que não posso fazer agora), mas é de fide que Deus oferece a todas as pessoas graças suficientes para que elas sejam salvas. Ao contrário da predestinação inexorável calvinista, a Doutrina Católica contempla o livre-arbítrio humano – esta característica integrante (e parte constituinte) do homem. Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade, como está nas Escrituras Sagradas.

Isto, obviamente, inclui os ateus. Trouxe à baila o assunto porque me lembrei de que, certa feita, vi um ateu dizendo “não ter culpa” de não acreditar, uma vez que ele simplesmente não conseguia fazê-lo – da mesma forma como (e aí entram as comparações descabidas) ninguém poderia ser culpado de não acreditar no Papai Noel ou no Coelhinho da Páscoa. Ele, ateu, simplesmente não conseguia – disse até querer! – acreditar em Deus. E até se queixava: se a Fé é um dom, por que Deus não a concedeu a ele?

O argumento não procede. São Paulo já o dizia: “Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar” (Rm 1, 20). A auto-mutilação intelectual que o ateu se impõe é a verdadeira responsável por ele “não conseguir” acreditar. Na analogia do sacerdote que contei acima, seria como amarrar as próprias mãos às costas e depois se queixar de que não consegue manusear os talheres para comer. Não é justificativa – e o sujeito que morre de fome e o ateu que morre sem fé são eles próprios os culpados do seu infortúnio.

A soteriologia e o apostolado

Um dos mais graves sintomas da crise que assola a Igreja nos dias de hoje é, no meu parecer, a relativização com a qual é tratado o dogma Extra Ecclesiam Nulla Salus. Como eu comentei aqui bem en passant, há a possibilidade do Batismo de Desejo e da Ignorância Invencível para a salvação dos não-católicos; mas possibilidade não é presunção nem certeza e – eu diria ainda – não é nem esperança no mesmo sentido em que o termo é aplicado a um falecido católico.

Do jeito que algumas pessoas colocam as coisas, chega a parecer até que é mais fácil salvar-se fora da Igreja do que dentro d’Ela! Despreza-se, por um lado, a necessidade absoluta da Graça para a salvação (isso vale inclusive para os que pertencem in voto à Igreja) e, por outro, a natureza humana decaída e a inclinação para o mal que todos os homens possuem. Como se o homem pudesse obter a Graça sozinho (o que é heresia), ou como se Deus conferisse de ordinário a Graça por meios que não os que Ele instituiu para este fim (o que não sei se é heresia, mas é no mínimo uma proposição muitíssimo estranha ao ensino tradicional da Igreja, à qual não se pode aderir levianamente).

Este tipo de mentalidade encontra-se também no otimismo com o qual as pessoas vêem às vezes os não-católicos. Ora, nem mesmo o católico que vive de ordinário em estado de graça, que freqüenta os Sacramentos, que reza, nem este está imune à fragilidade humana e sempre pode cair – e muitas vezes cai! – em desgraça e em pecado mortal; quanto mais não cairão aqueles que não têm os meios ordinários instituídos por Nosso Senhor para a manutenção da vida espiritual, e vivem sujeitos (por melhores que sejam as suas intenções) às vicissitudes da natureza decaída! Têm os não-católicos uma natureza humana melhor do que a dos católicos? Pecam eles menos do que os católicos? Obtêm eles mais facilmente do que os católicos uma contrição perfeita para serem perdoados pelo Altíssimo quando pecam? Por qual motivo, então, são tratados como se estivessem muito bem do jeito que estão, e como se não precisassem urgentemente de tudo aquilo que a Igreja tem para lhes oferecer?

A Teologia nos ensina que é possível – registro e sublinho, possível – ao homem salvar-se pertencendo “à alma” da Igreja caso não seja culpado de estar fora do Seu grêmio visível. Isso é uma coisa. Mas existem duas outras coisas muito relevantes que não podem ser negligenciadas. Primeiro: será que Fulano, uma alma concreta por quem Nosso Senhor derramou o Seu Divino Sangue na Cruz do Calvário, não é culpado por estar fora da Igreja? Não sabemos; mas quem, em sã consciência, iria arriscar num assunto de tão grande gravidade? Segundo: Fulano tem maiores possibilidades de se salvar pertencendo à Igreja in voto ou sendo bom católico e usufruindo dos meios de santificação que a Igreja tem para oferecer?

O arcabouço intelectual não é suficiente – de modo algum! – para nos tranqüilizar quanto à salvação dos que não militam pela Igreja de Nosso Senhor. Não basta saber que existe a “possibilidade” de que se salvem; é necessário se esforçar para que eles se salvem concretamente. É necessário ter uma correta compreensão da Doutrina da Igreja e um verdadeiro amor pelas almas, a fim de que o apostolado seja profícuo. Não nos esqueçamos de que Nosso Senhor nos disse que o caminho era estreito. Não podemos concebê-lo tão largo a ponto de considerarmos de pouca monta a visibilidade da Igreja de Nosso Senhor.

Existe santidade no protestantismo?

Acompanhando o debate entre o pe. Joãozinho e a Montfort (a última novidade são os versos do professor Orlando), sinto vontade de dizer algumas palavras para evitar os extremismos (aos quais parece estar fadada a interminável discussão).

Não recordo agora a fonte, mas lembro-me da frase: a Igreja Católica e Apostólica é aquela “fora da qual não existe nem salvação nem santidade”. Não sei se o pe. Joãozinho entende isso de modo católico, mas eu sempre estive convencido de que o prof. Orlando o entendia, sim. No entanto, no seu último desafio lançado ao padre Joãozinho, a Montfort omitiu uma parte do dogma que eu tenho certeza de que ela conhece, pois já falou sobre isso antes.

Trata-se da possibilidade de salvação para os não-católicos pela ignorância invencível. Em resumo bem resumido, diz-se que a ignorância de uma pessoa é invencível se ela, com todos os meios dos quais dispõe, busca sinceramente a Verdade e não A consegue encontrar. Diz-se de tal pessoa que “pertence à alma da Igreja”, ou que é “católica sem o saber”, ou outras expressões similares.

O problema óbvio com isso é que, como ninguém sonda as consciências, não dá para dizer quem está em ignorância invencível e quem não está. A solução mais óbvia para o problema é logicamente fazer apostolado com todo mundo e deixar que o próprio Deus julgue, dentre os que não aderiram à Igreja em vida, quais o fizeram culposamente e quais o fizeram sem culpa própria.

Voltando, portanto, à frase sem referência que citei acima: não há santidade fora da Igreja Católica como também fora d’Ela não há salvação; contudo, caso a pessoa seja salva por ignorância invencível, nesta pessoa há sem sombra de dúvidas santidade. O protestantismo em si considerado evidentemente não salva ninguém, mas um protestante que esteja em ignorância invencível pode ser salvo. E, se ele pode ser salvo, logicamente pode também ser santo. Acho importante repetir: não sei se é isso que o pe. Joãozinho está dizendo! Mas é isso que diz a boa Doutrina Católica. É uma pena que o reverendíssimo sacerdote prefira – aliás, de novo! – citar os documentos sem os explicar.

Não há santidade própria no protestantismo, mas  há santidade “na alma da Igreja” à qual pertencem os que, sem culpa própria, ignoram a plenitude da Revelação de Cristo. E nada impede que estes sejam protestantes, posto que “quem será tão arrogante que seja capaz de assinalar os limites desta ignorância, conforme a razão e a variedade de povos, regiões, caracteres e de tantas outras e tão numerosas circunstâncias?” (Pio IX, Alocução Singulari Quadam, 1854, Denzinger, 1647 apud Montfort).