São Justino, Mártir: por Bento XVI, por ele próprio

Na sua totalidade, a figura e a obra de Justino marcam a opção decidida da Igreja antiga pela filosofia, mais pela razão do que pela religião dos pagãos. Com a religião pagã, de facto, os primeiros cristãos rejeitaram corajosamente qualquer compromisso. Consideravam-na idolatria, à custa de serem acusados por isso de “impiedade” e de “ateísmo”. Em particular Justino, especialmente na sua primeira Apologia, fez uma crítia implacável em relação à religião pagã e aos seus mitos, por ele considerados diabólicas “despistagens” no caminho da verdade. A filosofia representou ao contrário a área privilegiada do encontro entre paganismo, judaísmo e cristianismo precisamente no plano da crítica à religião pagã e aos seus falsos mitos. “A nossa filosofia…”: assim, do modo mais explícito, definiu a nova religião outro apologista contemporâneo de Justino, o Bispo Melitão de Sardes (ap. Hist. Eccl. 4, 26, 7).

De facto, a religião pagã não percorria os caminhos do Logos, mas obstinava-se pelas do mito, até a filosofia grega o considerava privado de consistência na verdade. Por isso o ocaso da religião pagã era inevitável: fluía como consequência lógica do afastamento da religião reduzida a um conjunto artificial de cerimónias, convenções e hábitos da verdade do ser. Justino, e com ele os outros apologistas, selaram a tomada de posição clara da fé cristã pelo Deus dos filósofos contra os falsos deuses da religião pagã. Era a opção pela verdade do ser contra o mito do costume.

Bento XVI
Audiência-Geral de 21 de março de 2007

* * *

A carne é preciosa aos olhos de Deus, que a prefere entre todas as Suas obras; é, pois, razoável que a salve. […] Não seria absurdo que aquilo que foi criado com tantos cuidados, aquilo que o Criador considera mais precioso que tudo o resto, que isso voltasse ao nada?

Quando um escultor ou um pintor querem que as imagens que criaram permaneçam, para servirem à sua glória, restauram-nas quando são danificadas. E Deus estaria disposto a ver o Seu bem, a Sua obra, regressar ao nada, deixar de existir? Chamaríamos «obreiro da inutilidade» àquele que construísse uma casa para em seguida a destruir, ou que a deixasse danificar quando pudesse reconstruí-la. Da mesma maneira, não acusaríamos Deus de criar a carne inutilmente? Mas não, o Imortal não é assim; aquele que é, por natureza, o Espírito do universo não pode ser insensato! […] Na verdade, Deus chamou a carne a renascer e prometeu-lhe a vida eterna.

Porque, onde quer que se anuncie a boa nova da salvação do homem, anuncia-se essa boa nova também para a carne. Com efeito, o que é o homem, senão um ser vivo dotado de inteligência, composto por uma alma e um corpo? O homem é composto apenas pela alma? Não, trata-se da alma de um homem. Chamaríamos «homem» ao corpo? Não, dizemos que se trata de um corpo de homem. Assim, pois, se nenhum destes elementos isolados é o homem, é à união entre os dois que chamamos «homem». Ora, foi o homem todo que Deus chamou à vida e à ressurreição; não chamou apenas uma parte dele, chamou todo o homem, ou seja, a alma e o corpo. Não seria, pois, absurdo, tendo em consideração que ambos existem segundo a mesma realidade e na mesma realidade, que um deles fosse salvo e o outro não?

São Justino (c. 100-160), filósofo, mártir
Tratado sobre a Ressurreição, 8
Fonte: Evangelho Cotidiano
apud Ecclesia Sophia

Deus lo Vult! Ano III

O tempo passa depressa… hoje, o Deus lo Vult! entra no seu Ano III. Projeto que iniciei há dois anos, despretensioso e sem lá muita convicção de que fosse dar certo. O Altíssimo foi misericordioso comigo. Deu muito mais certo do que eu esperava quando levantei âncoras.

Estatísticas atuais do blog: 1292 posts, 18.000 comentários. Atualmente, possui cerca de 1200 page views diárias. Dependendo do dia, um pouco mais. Do ano passado para cá (quando fiz a migração para o wordpress.org), tivemos 395.000 views. Se formos considerar todo o tempo de vida do blog (o Sitemeter eu me recordo de ter posto logo no comecinho), já ultrapassamos o meio milhão de page views – estamos com 578.000. É um bocado de coisa. Agradeço aos meus leitores, sem os quais nada disso teria sido possível. Muito obrigado.

Muitas coisas que eu gostaria de ter feito no último ano ficaram pendentes. Em particular, gostaria de ter dado prosseguimento à área Aux Armes do site, e gostaria de ter iniciado um podcast com um mínimo de preparação e periodicidade. Gostaria de ter criado sub-domínios do Deus lo Vult! para coisas diversas (como a Campanha para uma Quaresma Católica, ou uma área tipo “faça-te ouvir” onde seria possível enviar protestos sobre temas católicos atuais para políticos, bispos, jornais, etc.). E gostaria de ter tido mais idéias ao longo do ano. Se valem para alguma coisa as “promessas de ano novo”, o Ano Novo do site é agora. E prometo melhorá-lo neste Ano III que hoje se inicia.

Dia 26 de maio, a propósito – não o sabia -, é, segundo o calendário antigo, o dia em que a Igreja celebra a festa de São Filipe Néri. Na alma deste santo, ardia um amor ilimitado a Deus mas também uma contagiante e viva alegria. Aliás, se não me falha a memória, foi precisamente S. Filipe Néri que apareceu durante o seu próprio processo de canonização – quando o “advogado do Diabo” dizia que ele era muito brincalhão e, por isso, não poderia ser canonizado – para dizer que, canonizado ou não, ele já estava no Paraíso.

Que São Filipe Néri interceda, pois, por esta arena virtual. E à Virgem Santíssima eu refaço, pela terceira vez, o oferecimento: que o Deus lo Vult! possa servir para cantar os Vossos louvores, ó Virgem Gloriosa; dignai-Vos, o Janua Coeli, derramar todas as graças e bênçãos dos Céus sobre este espaço e os que nele se encontrarem. E lembrai-Vos de, na presença de Deus, falar-Lhe coisas boas de nós, pecadores miseráveis. Dai-nos forças para continuar – entre trancos e barrancos, a despeito das quedas e dos desânimos – a lutar o Bom Combate.

E continuemos alerta. Pois, a despeito da passagem do tempo, continuamos ainda com muita coisa para fazer. Ao combate, pois – Deus lo Vult!

Viva Jesus Cristo! Viva a Sua Cruz!

Salve a Santíssima Virgem, Mãe de Deus e nossa também!

Viva a Igreja de Jesus Cristo, Católica e Apostólica!

Longa vida ao Papa, Doce Cristo na Terra!

Na Ascensão do Senhor

Hoje é a solenidade da Ascensão do Senhor Jesus aos Céus. Após a leitura do Evangelho, o Círio Pascal – que desde o Sábado de Aleluia ardia em nossas igrejas – é apagado. Isto significa (conforme explicou o reverendíssimo sacerdote na Missa que assisti pela manhã) que a Santíssima Humanidade de Nosso Senhor agora Se esconde aos nossos olhos. O Senhor subiu ao toque da trombeta, e encerrou aquela particular página da História iniciada na Encarnação. Hoje se celebra o último Mistério do Verbo Encarnado.

Volta ao Pai, mas permanece conosco: na Graça Santificante semeada nas almas dos que n’Ele creram, na força do Espírito Santo cuja vinda celebraremos na próxima semana, e de um modo especialíssimo na Sagrada Eucaristia – onde está com Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Mas a Sua Humanidade agora está escondida, até mesmo na presença real do Santíssimo Sacramento do altar. Como cantamos no Adoro Te Devote: “In cruce latebat sola Deitas / At hic latet simul et humanitas”. Na versão brasileira mais conhecida: “lá na Cruz Se escondia a Tua Divindade, / mas aqui também Se esconde Tua Humanidade”. Na festa de hoje, celebramos a ocultação aos nossos olhos da Santíssima Humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Está escondida a nós, acessível somente pela Fé, até o dia da Sua Segunda Vinda Gloriosa.

Mas a festa de hoje não faz as vezes de uma “Revelação às avessas”, como se poderia pensar à primeira vista. A Ascensão de Nosso Senhor não é para torná-Lo inacessível a nós. Ao contrário; Ele subiu aos Céus – como disse expressamente nos Evangelhos – para preparar-nos um lugar. Subiu aos Céus para, na expressão clássica, entronizar a nossa humanidade no seio da Trindade Santa. Na festa de hoje, a natureza humana é exaltada de uma maneira tal que seria inconcebível fora da Revelação Cristã: Nosso Senhor, que é Deus, participa da mesma humanidade da qual nós participamos.

E a leva conSigo aos Céus, quer dizer: a humanidade de Nosso Senhor não se trata meramente de um “instrumento” temporário do qual Deus fez uso em algum momento da História, para algum propósito, e depois descartou. Não; na Encarnação, é como se a natureza humana se tornasse parte constituinte de Deus. Ao voltar aos Céus, o Verbo não volta “como veio”, i.e., puro espírito: volta com o Seu Corpo e Sua Alma. Volta 100% homem.

Volta aos Céus com a nossa natureza! Além de nos inflamar com um profundo desejo do Céu – afinal de contas, a nossa natureza humana, elevada à esfera sobrenatural graças à Encarnação do Verbo, tende agora para o infinito, tende agora para a Vida Eterna -, a consideração destas verdades deve também provocar em nós um profundo senso de respeito para com a nossa humanidade. Afinal, é um corpo como este, são olhos como estes, são mãos como estas, pés como estes, enfim, é uma natureza humana como a minha que está hoje sentada à direita de Deus Pai. E, como corruptio optimi pessima est, o mau uso da nossa humanidade é hoje abissalmente mais degradante e mais grave do que o era, p.ex., para os pagãos que viviam antes da Encarnação do Verbo. Cuidemos com atenção e zelo daquilo que compartilhamos com o Deus Todo-Poderoso!

E que a Virgem Santíssima nos ajude neste Vale de Lágrimas. Que Ela – ainda estamos no mês de Maio a esta Boa Senhora dedicado – possa ser em nosso favor, e que por Seus méritos e preces mereçamos um dia alcançar o lugar que Nosso Senhor foi aos Céus preparar para nós.

A 13 de Maio, na Cova da Iria…

“A 13 de maio, / na Cova da Iria / no Céu aparece / a Virgem Maria”. Lembro-me desta canção que aprendi quando era pequeno. E me lembro, hoje, qual não foi a surpresa quando, em Fátima pela primeira vez, descobri que os sinos da Basílica dobram com esta música. Música da minha infância. Mesmo estando separado de Recife por um oceano inteiro, eu me sentia em casa. Eu estava em casa.

Hoje é treze de maio, hoje é dia de Nossa Senhora de Fátima. Bem queria estar acompanhando a visita do Vigário de Cristo à terra onde apareceu a Virgem Mãe de Deus! Quereria estar em Fátima, hoje, mas o Atlântico se interpõe entre mim e o objeto da minha vontade. Daqui, rezo uma ave-maria; cantando a música que aprendi quando criança e que ouvi quando estava longe da terra natal, aos pés da Virgem.

Que a Virgem de Fátima possa proteger Portugal – esta terra onde, como Ela própria disse, “sempre se conservará o dogma da Fé”. Portugal ameaçado pelo secularismo; ontem mesmo, comentei aqui sobre a campanha da Associação Ateísta Portuguesa, segundo a qual somente 18% dos portugueses eram católicos praticantes e, por isso, nada justificava as “benesses” estatais concedidas por ocasião da visita do Vigário de Cristo a Portugal. Pois bem, eis a resposta: meio milhão de pessoas na missa do Papa em Fátima, quase a população de Lisboa inteira.

Que a Virgem de Fátima possa proteger o Papa! No segredo confiado aos três pastorinhos, esta Boa Senhora mostrou-lhes o Santo Padre, que “atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho”. Não consigo deixar de ver esta cidade em ruínas como sendo uma figura da sociedade atual; e o “martírio” que, na minha opinião, mais se aproxima da linguagem empregada em Fátima é o martírio atual de Bento XVI.

E que a Virgem de Fátima possa proteger a Igreja; Aquela que prometeu que, no final, Seu Imaculado Coração triunfaria, possa sustentar a esperança de tantos quanto hoje sofrem, vendo a triste situação do mundo e da Igreja. Eu queria estar em Fátima hoje; mas, cantando a música que aprendi quando criança, percebo de repente – como percebi no além-mar – que o Atlântico é pequeno e não me pode impôr limites. Posso entrar em uma igreja, em qualquer lugar, e rezar à Virgem de Fátima pelas intenções do Sumo Pontífice – e, então, graças ao mistério da comunhão dos santos e aos liames que unem sobrenaturalmente todos os membros da Igreja, estou aos pés de Cristo, estou aos pés da Virgem, estou aos pés do Papa.

Rezemos pelo Papa, pela Igreja, pelo mundo. Que os méritos da Virgem de Fátima possam vir em nosso socorro. Que Aquela que venceu sozinha as heresias do mundo inteiro possa nos proteger. Que triunfe – depressa – o Imaculado Coração da Virgem.

Angelus Domini nuntiavit Mariae

Hoje é o dia em que, por excelência, podemos rezar o Angelus Domini nuntiavit Mariae. A festa da Anunciação, quando o Anjo fez saber à Virgem Santíssima que Ela seria Mãe do Salvador. Um anjo que possui uma natureza superior à humana, saudando a uma Mulher. Ave, gratia plena! – disse São Gabriel. Ave Maria, cheia de graça! – até hoje nós repetimos. Porque todas as gerações chamarão a Virgem Santíssima de bem-aventurada.

Lembro-me agora de uma música de Anjos de Resgate. Chama-se “Maria e o Anjo”, e reproduz um hipotético diálogo entre a Virgem Santíssima e o Arcanjo Gabriel no momento da Anunciação. Lembro-me de uns versos que são particularmente felizes, quando a Virgem pergunta ao anjo: “Por que teus lábios tremem tanto assim? / Por que não tiras teus olhos de mim?”. E este, por sua vez, responde: “Há tanta graça em estar diante de ti / e o Céu inteiro espera por teu sim!”.

E gosto de imaginar as glórias da Virgem Santíssima assim, de tal maneira que até mesmo um Arcanjo treme diante d’Ela. Criatura, sim, mas Mãe do Criador, e de tal modo que foi feita Rainha dos Anjos, Regina Angelorum. Naquele instante terrível em que a Virgem Santíssima ainda não havia concebido do Espírito Santo, mas já era cheia de Graça. Aquele instante no qual “o Céu inteiro” aguardava, ansioso, que Ela dissesse “sim”. Maravilhoso prodígio da co-redenção: a Virgem Maria já inicia a salvação do mundo antes mesmo do Verbo fazer-Se carne. E São Gabriel, mensageiro do Altíssimo, embaixador das hostes celestes, treme diante de uma Virgem, esperando-lhe a resposta.

Fiat mihi secundum verbum tuum – Ela responde. Lá no Gênesis, Deus inicia a criação do mundo com um fiatfiat lux. Agora, nos Evangelhos, a Virgem Santíssima inicia a redenção do mundo também com um fiat: só que, dessa vez, é fiat voluntas tua. O poder de Deus cria o mundo, mas é por meio da cooperação livre de uma criatura que se inicia a salvação do mundo. Faça-se, diz a criatura ao Criador; e deste segundo fiat brota uma obra ainda maior do que do primeiro. “Sorri e vai ao Céu anunciar: / sim, eu serei a Mãe do Salvador”, como canta a música à qual me referia antes. E gosto de imaginar o extremo júbilo desta hora. “Sorri” é uma das melhores coisas que se pode dizer de São Gabriel neste momento.

Et Verbum caro factum est. E vimos a Sua Glória. E, por Seu Santíssimo Sangue derramado, tivemos os nossos pecados perdoados. E, por meio d’Ele, fomos feitos filhos de Deus. Maravilhosa obra da graça, a que jamais poderemos agradecer o suficiente e cujas dimensões nunca seremos capazes de abarcar! Mas tudo isto se inicia no dia de hoje, quando a Virgem Santíssima diz “sim” ao plano de Deus, e fiat à vontade do Altíssimo. O milagre da nossa redenção inicia-se na solidão de um quarto, onde uma Virgem encontra-se com um Arcanjo, o qual foi encarregado pelo Onipotente de anunciar-Lhe que Ela conceberia e daria à luz o Filho de Deus.

O Anjo do Senhor anunciou à Virgem Santíssima. E Ela disse “sim”. E concebeu do Espírito Santo. E o Verbo de Deus Se fez carne, e habitou entre nós. Todos os dias somos convidados a relembrar esta história; mas a sua grandeza muitas vezes se esconde na rapidez com a qual repetimos as palavras da oração. Que, hoje, rezemos o Angelus com mais vagar. Que a Anunciação possa nos servir de profícuo objeto de meditação. E que a Virgem Santíssima interceda por nós, a fim de que também – à semelhança d’Ela – possamos dizer ao Deus Altíssimo fiat voluntas tua. Em cada pequeno detalhe de nossas vidas.

São José e Brasil Sem Aborto

Faço questão de republicar o soneto que pus aqui, ano passado, na festa de São José. Festa que a Igreja hoje comemora; o castíssimo esposo da Virgem Maria, o pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Este ano, na véspera da Grande Marcha da Cidadania pela Vida. Que São José interceda por nós, e providencie; para que o sangue de inocentes não manche esta Terra de Santa Cruz. Que a Virgem Santíssima livre o Brasil da maldição do aborto.

* * *

Os dois abraços
(Antônio Carlos Santini)

Inda se vê no céu a estrela matutina
A despedir seus raios sobre Nazaré
E já trabalha e sua o bom José:
Um tanto ferreiro, um tanto carapina

Inda é bem cedo: o galo da manhã clarina,
Convida o burgo pobre a se postar de pé.
Fina fumaça esfuma o céu, da chaminé
Da casa de Maria, aos fundos da oficina.

Entra o menino e abraça o pai devagarinho…
E a túnica do pai recende a cedro e pinho,
O cheiro da floresta quando a chuva cai…

Se um dia, no calvário, ele abraçou a cruz,
Por certo há de se lembrar, o salvador Jesus,
Que tinha esse perfume a túnica do pai…

Que soy era Immaculada Councepciou

Hoje é 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes. Uma das mais importantes aparições da Virgem Santíssima. Em Lourdes, Maria Santíssima apresentou-se a Santa Bernadette como sendo “a Imaculada Conceição” – e este, a propósito, foi um dos critérios importantes para o reconhecimento da autenticidade das aparições, uma vez que o dogma era recém-proclamado.

Falou-lhe no dialeto local – que soy era Immaculada Councepciou -, e isso é interessante. Lembro-me de ter lido, infelizmente não lembro onde, algum texto sobre os interrogatórios aos quais foi submetida a jovem Bernadette. Quando questionada sobre se a Virgem Santíssima havia lhe falado em francês, a garota retrucou com uma simplicidade celeste: “claro que não! Por acaso eu entendo francês?”.

A Virgem Santíssima falou em dialeto! Falou mistérios teológicos da mais alta importância a uma garota simples e sem cultura, mas falou-lhe na língua dela. Como não se admirar diante desta Mulher para a qual as barreiras culturais e sociais não significam absolutamente nada? É nossa Mãe, e fala-nos na língua materna. N’Ela, podemos confiar.

Mas falou em dialeto sobre o dogma recém-proclamado. Falando em Lourdes, apontava para Roma. Não Se preocupou com o fato de que Santa Bernadette não entenderia nada; falou-lhe, mesmo assim. Ao contrário do que apregoam muitos dos nossos dias, Ela não Se limitou aos estreitos horizontes da vila no sul da França na qual vivia uma pobre garota. Foi até Bernadette, mas não para mantê-la no mundo; ao contrário, para afastá-la do mundo. Revelou-lhe mistérios profundos. Ordenou penitências rigorosas. Transformou a jovem em uma santa.

Descer até o mundo para elevá-lo – como não pensar no Mistério da Encarnação diante disso? Tornar-Se humano para tornar-nos partícipes da natureza divina, é o que fez Nosso Senhor. E gosto de ver uma paráfrase disso, em Lourdes, como se a própria aparição fosse uma figura do mistério da Redenção, onde o dialeto vulgar usado como “receptáculo” para a expressão do dogma faz as vezes do mundo decaído que recebe a graça do Onipotente.

E é isso o que Ele faz todos os dias com nossas fraquezas: vem até elas, vem-nos apesar delas, mas não para manter-nos nelas. O mundo que foi visitado pelo Onipotente não continuou o mesmo; a jovem de Lourdes que foi visitada pela Virgem não continuou a mesma. Que Ela nos visite também a nós. Falando-nos em dialeto, falando-nos com nossas limitações e apesar delas, mas conduzindo-nos para além delas. Para o alto, para o dogma, para a Fé, sem a qual é impossível agradar a Deus. Que a Virgem Imaculada, particularmente na Sua festa hoje comemorada em toda a Igreja, possa interceder por nós.

* * *

Ver também:

Lourdes Medical Bureau, a equipe médica oficial do Santuário de Lourdes responsável por averiguar as curas miraculosas que lá acontecem.

El mensaje de Lourdes, um texto em espanhol com um resumo das aparições.

– A história de todas as aparições no site da Associação Devotos de Fátima.

As aparições de Lourdes e a mediação universal de Nossa Senhora, por Plínio Corrêa de Oliveira.

Baptismo do Senhor – pe. Antoine

Agora, depois de ter estudado um pouco mais a questão, vejo que quem negasse a necessidade do Baptismo e o quisesse suplantar por uma espécie de acto mental de adesão, mostraria não ter entendido um aspecto absolutamente essencial do cristianismo. Não esqueçamos nunca que o Amor de Deus se encarnou. Contemplávamos isso há bem pouco tempo no Natal. Deus fez-se homem e, por isso, amou-nos de forma humana, sorrindo-nos, servindo-nos até ao esgotamento físico quase, caminhando connosco e, por fim, sofrendo realmente o suplício da cruz, com as dores que todo homem teria tido no seu lugar.

Se Deus quis amar-nos humanamente, é porque ele valoriza o amor humano e espera de nós este amor. Por isso, a nossa adesão a Ele não pode expressar-se de uma forma puramente espiritual, angélica, mas de uma forma sensível, corporal, com gestos, palavras e símbolos do mundo material. E porque a nossa adesão reveste-se destes elementos, ela torna-se realmente comprometedora. Por isso, também, nunca poderá ser a mesma coisa confessar-se espiritualmente a Deus e confessar-se a um homem de carne e osso.

Além disso, aderir a Deus é entrar na Igreja. O nosso acto de entrada na Igreja não poderia ser real ou comprometedor, se fosse puramente interior. Necessita uma forma sensível pública.

[…]

Este acontecimento terá sido magnífico. A Stma. Trindade manifesta-se sensivelmente e entra claramente na história dos homens. É o amor entre as três Pessoas divinas a entrar no nosso mundo; é essa força infinita que quer transformar as nossas vidas e levar-nos a transformar a dos outros. Com efeito, este acontecimento, de alguma forma, reproduz-se em cada Baptismo. Em cada Baptismo, desce sobre o baptizado o Espírito Santo, ou seja, a força viva e pessoal do amor divino e, ao mesmo tempo, o Pai eterno olha para o seu novo filho e diz: “tu és o meu filhinho, em Ti pus toda a minha complacência”. “Toda a minha complacência”, diz Deus, e não simplesmente “algo da minha complacência”.

Pe. Antoine Coelho, LC
Homilia do Baptismo do Senhor

Virgem de Guadalupe

“Mãe de misericórdia, Mestra do sacrifício escondido e silencioso,
a Vós, que vindes ao encontro de nós todos, pecadores,
consagramos, neste dia, todo o nosso ser e todo o nosso amor”.

João Paulo II, 1979

“Santa Maria, que com o nome de Nossa Senhora de Guadalupe és invocada como Mãe pelos homens e pelas mulheres do povo Mexicano e da América Latina, encorajados pelo amor que nos inspiras, colocamos novamente nas tuas mãos maternas a nossa vida”.

Bento XVI, 2005

Dia de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas. Dia da Mãe de Deus aparecida a um índio mexicano. Dia da Moreninha do Tepeyac. Que a Virgem Santíssima rogue por todos nós.

Ver no Exsurge, Domine!: vídeo sobre os olhos da Virgem.

E vale a pena também lembrar as palavras de João Paulo II na cerimônia de canonização de Juan Diego Cuauhtlatoatzin: “Como acabámos de escutar, o livro do Eclesiástico ensina-nos que somente ‘Deus é todo-poderoso e apenas os humildes o glorificam’ (cf. 3, 19-20). Inclusivamente as palavras de São Paulo, também proclamadas durante esta celebração, iluminam esta maneira divina de realizar a salvação:  ‘Deus escolheu aquilo que o mundo despreza [e que é insignificante]. Deste modo, nenhuma criatura se pode orgulhar na presença de Deus’ (cf. 1 Cor 1, 28-29)”.

Gaudens gaudebo in Domino – na Festa da Imaculada Conceição da Virgem Santíssima

Gaudens gaudebo in Domino, et exsultabit anima mea in Deo meo: quia induit me vestimentis salutis: et indumento justitiae circumdedit me, quasi sponsam ornatam monilibus suis. Ps. Exaltabo te, Domine, quoniam suscepisti me: nec delectasti inimicos meos super me. Gloria Patri.

INTROITO da Missa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

Celebramos hoje com alegria a festa da Virgem Imaculada; d’Aquela Mulher que desfez, pela obediência, o que Eva havia feito pela desobediência. Daquela Mulher que é a Nova Eva, a Mãe dos Remidos, como a primeira foi a mãe dos viventes: Maria é a mãe da Vida Sobrenatural.

São Luís de Montfort nos ensina que não há filho de Deus que não o seja também da Virgem Santíssima. Não há cristão verdadeiro, membro da Igreja, que não seja filho de Maria Santíssima, posto que a Igreja é o Corpo de Cristo, do qual Cristo é a Cabeça, e a Mãe da Cabeça – a Virgem Santíssima – é logicamente também a Mãe do Corpo; caso contrário, estaríamos diante de uma aberração. A devoção à Virgem Santíssima, como ensina a Igreja, não é “acessória” à vida cristã, como uma devoção particular opcional. Não; a devoção à Virgem Santíssima é essencial ao Cristianismo. Se somos cristãos, se somos imitadores de Nosso Senhor, devemos imitá-Lo também na filiação amorosa à Sua Mãe Santíssima. Ele escolheu ser Filho da Virgem Maria; quem somos nós para nos negarmos a sê-lo?

A melhor de todas as mães – alegremo-nos! Porque é Imaculada, desde a Sua concepção. Porque trouxe ao mundo a Salvação – Jesus Cristo. Porque venceu sozinha todas as heresias do mundo inteiro. Porque jamais se ouviu dizer que tivesse desamparado quem se Lhe achegasse com confiança. Porque é a Medianeira de Todas as Graças, sempre atenta às nossas necessidades, sempre liberal em Seus favores, rogando a Deus por nós mais do que ousaríamos pedir.

Imaculada! Aquela que jamais teve parte com o pecado. Sem mácula alguma, única Filha da estirpe humana sobre a qual Satanás nunca conseguiu lançar as suas garras. Celebramos hoje, com gáudio, a vitória da Virgem Santíssima: vitória que, por desígnio de Deus, iniciou antes mesmo do nascimento d’Ela. Antes que Nosso Senhor viesse ao mundo, já neste mundo estava a Virgem Santíssima. Cantando a vitória do Sol da Justiça que estava às portas. Impondo terror às hostes infernais, antes mesmo de que o Filho de Deus Se fizesse Carne.

Celebramos hoje este insondável mistério de Deus: a plenitude de todas as graças, reunidas em uma só criatura humana; a antecipação da Vitória da Cruz em Maria Santíssima (pois sabemos que a Virgem foi preservada do Pecado Original em antecipação dos méritos do Sacrifício de Cristo do Calvário); e a entrega de uma tão preciosa obra-prima para nós. Para que seja nosso modelo, no dia-a-dia. Para que seja o nosso refúgio, quando pecarmos. Para que seja a nossa consoladora, quando estivermos aflitos. Para que seja a nossa saúde, quando estivermos enfermos. Para que seja o nosso auxílio, se somos cristãos. Para que seja a causa da nossa alegria!

Roguemos aos pés da Virgem Imaculada, que Ela nos leve a Deus; Aquela que um dia trouxe Deus até nós, pode também realizar o grande milagre de nos levar até Ele. Prodigioso milagre, realizado em favor de nós, que somos pecadores: levar-nos até o Deus Altíssimo! Mas nada é impossível à Virgem Santíssima, Maria Imaculada, Senhora Nossa e Nossa Mãe. Mãe, que deseja o bem aos Seus filhos; Mãe, que tudo faz por eles. Conseguimos conceber o que significa a Virgem Imaculada, Onipotência Suplicante, tudo fazer em nosso favor? Somos felizes, e não o sabemos; infinitamente agraciados, e não o damos valor.

Que Ela nos leve a Deus: outro milagre nós não pedimos. Que os Seus louvores cantados por nós aqui na terra possam nos fazer merecer, um dia, cantá-los no Céu. Junto à Virgem Santíssima, à Virgem Imaculada, à Mãe de Deus e nossa Mãe também. Tota pulchra es, Maria, et macula originalis non est in Te: Deus vos salve, Maria Puríssima, cheia de Graça!