– Chego à Praça Oswaldo Cruz bem cedo, pouco antes das 09h00 da manhã para a qual estava marcada a concentração.
– Só há um punhado de gatos pingados. Todos ou quase todos de vermelho. Bandeiras do MST; vejo dois ônibus, que – imagino – devem ter sido utilizados para transportar os militantes. Aguardo.
– Dois mini-trios e um carro de som. Ao lado do maior daqueles, umas meninas tocando alfaias cantam versões próprias de músicas populares. Por exemplo, «ô Eduardo, Eduardo ó! / Não é só por dez centavos, / nossa luta é maior!» (ao som de “Cirandeiro”).
– Vejo uma senhora de hábito. Encontro o pe. Reginaldo Veloso. Vejo outro sacerdote, à paisana, que desaparece e durante a marcha não o torno a encontrar. Um ou dois padres de clergyman (ou coisa parecida com isso). Não vejo religiosos de hábito.
– Panfletos são distribuídos, e continuarão sendo ao longo de todo o percurso d’O Grito. Um se diz contra o Estatuto do Nascituro; outro, alardeia «[t]odo apoio às ocupações dos terrenos urbanos no Recife por parte dos Trabalhadores Sem-Teto». Entre outras coisas afins.
– Chega o pessoal da ONG Gay Leões do Norte. O imenso bandeirão multi-colorido é estendido numa das pontas da praça.
– Encontro os ciclistas nus. São só meia dúzia, e não estão propriamente nus: vestem roupas de banho. Preparam-se para sair à frente d’O Grito.
– Procuro o Arcebispo e não o encontro. Dou graças a Deus.
– Em um dos mini-trios, o rapaz que estava em cima pede que as pessoas que vão falar pelos movimentos sociais se aproximem. Pela “juventude”, fulana, pela “saúde”, sicrano, pela Arquidiocese de Olinda e Recife, Fernando. Estremeço. Penso com os meus botões quem raios é Fernando.
– Neste mesmo mini-trio, em baixo, perto das escadas, está afixado um cartaz. Leio-o. O Fernando é, sim, Dom Fernando Saburido. Ele é chamado por diversas vezes ao longo da caminhada. Não aparece.
– Em respeito à diversidade de gênero, agora o nome do evento mudou. É “Grito dos/as Excluídos/as”. Nos trios, por diversas vezes, é citado o seu nome completo: “Grito dos Excluídos e das Excluídas”.
– A marcha sai às ruas. Começa a chover. À frente, o carro de som, seguido pelo pessoal do Levante Popular da Juventude. Mais algumas pessoas, e o enorme bandeirão gay. Depois, o pessoal do MST com outras diversas bandeiras vermelhas, por “direito à saúde”, “respeito à diversidade sexual” e outras coisas do tipo. Em seguida o mini-trio, atrás o pessoal da Frente de Luta pelo Transporte Público, e o segundo mini-trio no fim. A chuva dá uma trégua.
– Duas bandeiras se destacam n’O Grito. Em número, as bandeiras vermelhas do MST. Em tamanho, a bandeira de arco-íris da Leões do Norte. Há outras menores: CUT, PCB, PSTU. Algumas pessoas protestavam por melhores salários, contra a corrupção, contra Eduardo Campos, contra um sem-número de coisas.
– Penso em ir pra casa. Mas tomo a sério o espírito penitencial: vou até o fim.
– Já no final da Conde da Boa Vista, um dos mini-trios quebra. Olho para o pequeno cartaz, que se transformara num checklist: Dom Fernando ainda não aparecera. Seguem o carro de som e o segundo mini-trio para a grande apoteose no Carmo.
– Chego no Carmo. Mais uma vez, o Festival das Flores montado defronte à Basílica – Deo Gratias – impede que o espaço seja usado para desfraldar a bandeira de Baal, como aconteceu em 2010.
– O pessoal da Leões do Norte esconde a bandeira e some. Não os vejo mais.
– O Arcebispo, Dom Fernando, está no Pátio do Carmo. Sorri e cumprimenta os presentes. Bate fotos.
– Chamam Dom Fernando para falar. Ele fala. Parabeniza os participantes. Fala sobre o dia de jejum e oração que o Papa Francisco convocou. Disse que planejou chegar ao Grito justamente na sua conclusão, e que o tema do Grito era muito «necessário» e muito «profético». Disse que o Grito dos Excluídos só vinha «reforçar este apelo» do Papa, e que era «bonito essa unidade», com «todos voltados para o mesmo objetivo, a mesma meta». O vídeo está abaixo:
– Depois que ele fala, o rapaz diz que vai haver um momento de “mística”. Penso que é alguma oração, ou coisa do tipo.
– Ele chama o pessoal das pastorais da Juventude. A “mística”, na verdade, é uma encenação. Uma menina começa a gritar as palavras de ordem que estavam nas bandeiras vermelhas (neste momento abertas no chão). Fala, no microfone, em alto e bom som: «nós, juventude popular, gritamos pelo respeito à diversidade sexual». O Arcebispo saíra de fininho pouco antes, e estava por detrás do carro de som, falando com alguém.
– Começa uma ciranda. Começa a chuviscar. Volto pra casa. Abaixo, algumas fotos do evento, na ordem em que eu as tirei (e, por conseguinte, na ordem do desenrolar do próprio evento, da praça Oswaldo Cruz ao pátio do Carmo).
Comento: O Grito dos Excluídos não é um evento popular em prol do povo sofredor. É um evento revolucionário e elitista (como o são todos os eventos revolucionários), onde militantes enganados ou comprados, munidos de uma ideologia fracassada, vão às ruas lutar pelas mesmas velhas carcomidas bandeiras do Príncipe deste mundo: o comunismo, a sexualidade livre, a luta de classes, o homossexualismo e toda uma caterva de imoralidades que escravizam e em tudo são contrárias ao Evangelho da Liberdade. O Papa Francisco certamente jamais apoiou e nem apoiaria uma passeata pró-comunismo ou a favor do vício contra a natureza, e portanto não é correto que se diga que este evento veio ao encontro dos pedidos do Romano Pontífice – aliás, “não ser correto” é pouco: trata-se de um escândalo e de uma blasfêmia. Não precisamos de mais pessoas para aplaudir os pecados e louvar a defesa dos vícios – essas, nós já temos de sobra. O verdadeiro profetismo sempre consistiu em denunciar as mazelas do mundo; mazelas que contavam com fervorosos sequazes nas ruas da cidade do Recife esta manhã, sem ninguém que as contradissesse – muito pelo contrário, aliás. Há algo de muito errado em nossa Arquidiocese. Não me consta que ser profeta tenha jamais significado fazer um conluio espúrio com inimigos declarados de Deus Nosso Senhor.