Um grande amigo meu, o Gustavo Souza, que já é provavelmente conhecido de alguns por ter alguns textos aqui publicados e por ter o seu blog relacionado na coluna lateral do Deus lo Vult, escreveu há algum tempo um interessante texto sobre o respeito ao ser humano, a cuja leitura eu remeto. Gostaria de seguir os passos do meu conterrâneo e tecer mais algumas considerações sobre o assunto, já que o mesmo aparenta ser bastante mal compreendido nos nossos dias. Mas começo sob uma outra perspectiva: pretendo falar primeiramente um pouco sobre o respeito a Deus.
Inicio com um parágrafo do Catecismo da Igreja Católica:
Feito membro da Igreja, o baptizado já não se pertence a si próprio mas Aquele que morreu e ressuscitou por nós. A partir daí, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser «obediente e dócil» aos chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o Baptismo é fonte de responsabilidade e deveres, assim também o baptizado goza de direitos no seio da Igreja: direito a receber os sacramentos, a ser alimentado com a Palavra de Deus e a ser apoiado com outras ajudas espirituais da Igreja.
[CIC 1269]
Saliento a seguinte frase: o Batismo é fonte de responsabilidade e deveres. Já manifestei aqui por diversas vezes o meu mais veemente descontentamento para com os “católicos de IBGE”, “católicos self-service”, “Católicos com Doutrina Diferente da Igreja” (CDDI’s – excelente contributo de um leitor no espaço de comments!) e outras espécies estranhas que, infelizmente, pululam como micróbios em água suja nos nossos dias. Por que essas pessoas são fontes de escândalo e provocam justa indignação naqueles que se esforçam para serem católicos fiéis? Oras, porque elas esvaziam o catolicismo daquilo que lhe é fundamental e apresentam ao mundo, com a sua vida, uma caricatura do Evangelho, uma deformação da Igreja Católica.
Para ser católico não é suficiente dizer-se católico. O Batismo não é uma mera cerimônia social. É – nos dizeres do Catecismo – fonte de responsabilidades e deveres. “Católicos” que não levam a sua vida de acordo com as exigências do seu Batismo são péssimos católicos, são traidores das promessas que fizeram um dia (ou que fizeram por eles, mas eles aceitaram livremente depois), são anti-evangelizadores na medida em que impedem a Igreja Católica de ser conhecida na plenitude de Seu esplendor de Esposa de Cristo sem ruga e sem mácula. Disse o Apóstolo que de Deus não se zomba (cf. Gl 6, 7); os católicos que não querem assumir as “responsabilidades e deveres” decorrentes do seu Batismo e se insistem em se dizer católicos mesmo assim estão faltando ao respeito devido ao Deus Todo-Poderoso.
Devemos respeito a Deus – eis uma verdade tão óbvia quanto negligenciada nos nossos dias! O “temor de Deus”, este dom do Espírito Santo tão esquecido, é o princípio da sabedoria (cf. Pr 1, 7) e é o dom “que nos faz reverenciar a Deus, e ter receio de ofender a sua Divina Majestade, e que nos afasta do mal, incitando-nos ao bem” (Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã, q. 921). Enquanto estas coisas não forem devidamente relembradas, dificilmente haverá respeito a Deus.
Hoje em dia “temor” é uma palavra à qual está associada um rótulo odioso, capaz de evocar imagens obscurantistas das quais queremos nos emancipar. Ninguém quer ter medo; dizem-nos que isto é coisa de crianças, e que foi usado como instrumento de dominação pela Igreja Católica, e outras besteiras mais. Dizem-nos ainda que Deus é um amigo ao qual devemos amar e não temer; dizem até que “temor” é para ser traduzido por “ter amor”… é verdade que Deus é nosso amigo a quem devemos amar, e é sem dúvidas verdade que devemos ter amor a Deus. Mas dizer somente isso não é dizer toda a verdade, porque Deus também é a Majestade Suprema infinitamente digna de respeito e veneração. Deus é Pai, mas também é Deus; as duas coisas não são de modo algum excludentes. Precisamos respeitar a Deus (como, aliás, precisamos respeitar os nossos pais – o respeito aos pais está radicado justamente no temor de Deus, como diz o Catecismo (cf. CIC 2217)), precisamos reverenciá-Lo, precisamos ter receio de O ofender. Isso não é um medo irracional nem uma fonte de traumas e frustrações; é, ao contrário, o princípio da Sabedoria.
Respeitar a Deus é também respeitar a Igreja, respeitar os compromissos assumidos no Batismo; respeitar a Deus é esforçar-se para ser, tanto quanto possível, um católico bom e fiel. E, aqui, nós chegamos no respeito ao próximo, que pode ser visto como um caso particular do respeito devido a Deus. A caridade – que nos manda amar ao próximo como a nós mesmos – leva-nos naturalmente a respeitar ao próximo, por amor a Deus (claro, dentro dos limites do que é verdadeiramente respeito, que o Gustavo sinalizou muito bem no texto acima linkado). É por isso que todos os problemas do mundo se resolvem com a Doutrina Católica, e é por isso que são descabidas as críticas daqueles que julgam ser “farisaísmo” (ou coisa parecida) a importância dada àquilo que a Igreja ensina. O conhecimento e a prática do Evangelho de Jesus Cristo são o único caminho seguro para a verdadeira paz nesta terra, são a única resposta às inquietudes dos seres humanos, são a única força capaz de transformar o mundo.
Spiritus sancti timoris,
miserere nobis!